A Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) divulgou, em novembro de 2024, o Panorama da Residência Médica, um estudo vinculado à Demografia Médica do Brasil que analisa a oferta, evolução e distribuição de vagas de residência médica entre 2018 e 2024. Siga no texto e confira os principais destaques do estudo!
Navegue pelo conteúdo
47,7 mil médicos cursavam residência médica em 2024
Em 2024, o Brasil atingiu a marca de 47.718 médicos cursando Residência Médica, o que representa cerca de 8% do total de médicos do país. Deste número, 19.551 médicos estavam matriculados no primeiro ano de seus respectivos programas (R1).
De 2018 a 2024, o número de médicos realizando residência aumentou cerca de 26%, sendo 37.742 residentes em 2018 e 47.718 em 2024. Confira abaixo:
Defasagem entre oferta de graduação e de RM aumentou
Ao comparar a oferta nacional de vagas de R1, por ano, com o número de concluintes de cursos de Medicina do ano anterior, o estudo atestou uma defasagem entre a oferta de vagas de graduação e de residência médica.
Considerando as vagas em especialidades de acesso direto, em 2023/2024, as 16.189 vagas de R1 não foram suficientes para formar especialistas em quantidade equivalente à estimativa de recém-graduados de 2023, que foi de 27.263 profissionais.
Ainda, esta defasagem aumentou nos anos analisados, passando de 3.886 vagas a menos do que o necessário em 2018, para 11.074 vagas em 2024. De acordo com o estudo, o déficit tende a crescer, pois, em curto prazo, serão formados mais de 42 mil novos médicos por ano no Brasil, considerando as novas escolas médicas abertas e o total de vagas já autorizadas pelo MEC.
14 especialidades de RM tiveram redução de vagas
O estudo também aponta quais especialidades tiveram maior aumento de vagas para R1 em sete anos. Em números absolutos, as especialidades foram:
- Medicina de Família e Comunidade (751 vagas a mais);
- Clínica Médica (679 vagas);
- Medicina Intensiva (432 vagas); e
- Ginecologia e Obstetrícia (213 vagas).
Enquanto isso, as especialidades com maior crescimento proporcional foram:
- Medicina Intensiva (242,7%);
- Medicina de Emergência (191,3%);
- Nutrologia (83,3%); e
- Genética Médica (80%).
O panorama aponta que, no caso da Medicina Intensiva e da Cirurgia Cardiovascular, o aumento a partir de 2022 se deu por conta de mudanças em suas matrizes de competências, já que as especialidades passaram a ser de acesso direto e tiveram o tempo de duração alterado.
Por outro lado, 14 especialidades apresentaram decréscimo de vagas no mesmo período, sendo destaque as cirúrgicas:
- Cirurgia Geral;
- Cirurgia Oncológica;
- Cirurgia Plástica;
- Cirurgia Torácica;
- Cirurgia do Aparelho Digestivo;
- Cirurgia de Cabeça e Pescoço; e
- Urologia.
O estudo aponta que a diminuição de vagas pode ter relação com o já extinto Programa de Pré-Requisito em Área Cirúrgica Básica.
Cerca de 20% das vagas de RM estão ociosas no Brasil
De 2018 a 2024, o número de instituições que ofertam programas de residência médica cresceu cerca de 20%, passando de 846 em 2018 para 1.011 em 2024. Enquanto isso, nos anos analisados, o número de programas cresceu cerca de 14%, sendo 4.925 em 2018 e 5.631 em 2024. Confira, no gráfico abaixo, as oscilações na oferta de programas e instituições ao longo dos anos:
No entanto, dentre os números, foram identificados 386 programas e 55 instituições que, embora credenciados pela CNRM, não possuíam, em 2024, nenhuma vaga ocupada e, por consequência, nenhum médico cursando seus programas. Essa ociosidade é de aproximadamente 20%, o que atesta o aproveitamento do total das vagas credenciadas. Para o estudo, a solução deve passar, entre outras medidas, pelo maior financiamento, formação de preceptores e melhor compreensão dos motivos de baixa procura ou desistências em determinados programas e especialidades.
Em contrapartida, durante os seis anos averiguados no estudo, a FMUSP categorizou como “notável” o aumento da oferta privada e desregulada dos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Medicina, fenômeno acompanhado de pressões pela flexibilização da formação médica especializada. Vale ressaltar que a residência médica é reconhecida internacionalmente como a modalidade mais adequada para formar especialistas.
São Paulo concentra quase um terço dos médicos residentes
Embora em 2024 o Decreto Presidencial nº 11.999/2024 tenha ressaltado que a oferta de programas de RM “deve considerar a necessidade de médicos especialistas indicada pelo perfil demográfico, social e epidemiológico da população brasileira, em consonância com os princípios, as diretrizes e as políticas públicas do Sistema Único de Saúde (SUS)”, os médicos residentes e as instituições que ofertam programas de residência médica continuam desigualmente distribuídos no território brasileiro.
De acordo com dados de 2024, a região Sudeste apresenta a maior proporção de programas de RM (49,5%), seguida pelo Sul (19,4%) e pelo Nordeste (18,5%). Somente no estado de São Paulo concentram-se 23,8% dos programas, equivalente a quase um quarto da totalidade de vagas ofertadas. Entre as 27 unidades da Federação, 11 delas possuem, cada uma, menos de 1% do total de residentes do país. Confira a distribuição abaixo:
Região/UF | Instituições | Programas | Médicos Residentes (R1)*** | Médicos Residentes (total) | População | Razão de médicos residentes por 100.000 habitantes | |||||
N | % | N | % | N | %* | N | %** | N | % | ||
Região Norte | 53 | 5,2 | 237 | 4,2 | 752 | 3,8 | 1.794 | 3,8 | 18.669.345 | 8,8 | 9,61 |
Rondônia | 10 | 1,0 | 23 | 0,4 | 70 | 0,4 | 175 | 0,4 | 1.746.227 | 0,8 | 10,02 |
Acre | 5 | 0,5 | 15 | 0,3 | 48 | 0,2 | 112 | 0,2 | 880.631 | 0,4 | 12,72 |
Amazonas | 15 | 1,5 | 63 | 1,1 | 183 | 0,9 | 438 | 0,9 | 4.281.209 | 2,0 | 10,23 |
Roraima | 1 | 0,1 | 10 | 0,2 | 31 | 0,2 | 70 | 0,1 | 716.793 | 0,3 | 9,77 |
Pará | 14 | 1,4 | 90 | 1,6 | 303 | 1,5 | 726 | 1,5 | 8.664.306 | 4,1 | 8,38 |
Amapá | 2 | 0,2 | 6 | 0,1 | 25 | 0,1 | 64 | 0,1 | 802.837 | 0,4 | 7,97 |
Tocantins | 6 | 0,6 | 30 | 0,5 | 92 | 0,5 | 209 | 0,4 | 1.577.342 | 0,7 | 13,25 |
Região Nordeste | 227 | 22,5 | 1.041 | 18,5 | 3.503 | 17,9 | 8.356 | 17,5 | 57.112.096 | 26,9 | 14,63 |
Maranhão | 13 | 1,3 | 54 | 1,0 | 153 | 0,8 | 378 | 0,8 | 7.010.960 | 3,3 | 5,39 |
Piauí | 11 | 1,1 | 49 | 0,9 | 125 | 0,6 | 317 | 0,7 | 3.375.646 | 1,6 | 9,39 |
Ceará | 30 | 3,0 | 162 | 2,9 | 556 | 2,8 | 1.417 | 3,0 | 9.233.656 | 4,3 | 15,35 |
Rio Grande do Norte | 12 | 1,2 | 47 | 0,8 | 174 | 0,9 | 427 | 0,9 | 3.446.071 | 1,6 | 12,39 |
Paraíba | 22 | 2,2 | 86 | 1,5 | 371 | 1,9 | 846 | 1,8 | 4.145.040 | 1,9 | 20,41 |
Pernambuco | 49 | 4,8 | 250 | 4,4 | 901 | 4,6 | 2.062 | 4,3 | 9.539.029 | 4,5 | 21,62 |
Alagoas | 19 | 1,9 | 94 | 1,7 | 223 | 1,1 | 507 | 1,1 | 3.220.104 | 1,5 | 15,74 |
Sergipe | 8 | 0,8 | 48 | 0,9 | 153 | 0,8 | 369 | 0,8 | 2.291.077 | 1,1 | 16,11 |
Bahia | 63 | 6,2 | 251 | 4,5 | 847 | 4,3 | 2.033 | 4,3 | 14.850.513 | 7,0 | 13,69 |
Região Sudeste | 451 | 44,6 | 2.786 | 49,5 | 10.432 | 53,4 | 25.911 | 54,3 | 88.617.693 | 41,7 | 29,24 |
Minas Gerais | 123 | 12,2 | 711 | 12,6 | 2.174 | 11,1 | 5.201 | 10,9 | 21.322.691 | 10,0 | 24,39 |
Espírito Santo | 23 | 2,3 | 118 | 2,1 | 328 | 1,7 | 808 | 1,7 | 4.102.129 | 1,9 | 19,70 |
Rio de Janeiro | 107 | 10,6 | 617 | 11,0 | 2.038 | 10,4 | 4.973 | 10,4 | 17.219.679 | 8,1 | 28,88 |
São Paulo | 198 | 19,6 | 1.340 | 23,8 | 5.892 | 30,1 | 14.929 | 31,3 | 45.973.194 | 21,6 | 32,47 |
Região Sul | 179 | 17,7 | 1.090 | 19,4 | 3.320 | 17,0 | 7.954 | 16,7 | 31.113.021 | 14,6 | 25,56 |
Paraná | 81 | 8,0 | 501 | 8,9 | 1.272 | 6,5 | 3.128 | 6,6 | 11.824.665 | 5,6 | 26,45 |
Santa Catarina | 44 | 4,4 | 181 | 3,2 | 656 | 3,4 | 1.523 | 3,2 | 8.058.441 | 3,8 | 18,90 |
Rio Grande do Sul | 54 | 5,3 | 408 | 7,2 | 1.392 | 7,1 | 3.303 | 6,9 | 11.229.915 | 5,3 | 29,41 |
Região Centro-Oeste | 101 | 10,0 | 477 | 8,5 | 1.544 | 7,9 | 3.703 | 7,8 | 17.071.595 | 8,0 | 21,69 |
Mato Grosso do Sul | 12 | 1,2 | 73 | 1,3 | 254 | 1,3 | 602 | 1,3 | 2.901.895 | 1,4 | 20,75 |
Mato Grosso | 22 | 2,2 | 72 | 1,3 | 172 | 0,9 | 412 | 0,9 | 3.836.399 | 1,8 | 10,74 |
Goiás | 42 | 4,2 | 169 | 3,0 | 476 | 2,4 | 1.092 | 2,3 | 7.350.483 | 3,5 | 14,86 |
Distrito Federal | 25 | 2,5 | 163 | 2,9 | 642 | 3,3 | 1.597 | 3,3 | 2.982.818 | 1,4 | 53,54 |
Brasil | 1.011 | 100,0 | 5.631 | 100,0 | 19.551 | 100,0 | 47.718 | 100,0 | 212.583.750 | 100,0 | 22,45 |
As desigualdades continuam comparando os municípios: cerca de 62% dos médicos residentes realizavam a sua residência médica nas capitais, enquanto 16% estavam em municípios com menos de 300.000 habitantes.
Se você quer ficar por dentro de mais conteúdos relevantes sobre a área médica, continue acompanhando o material preparado pelo Portal de Notícias do Estratégia MED. Aqui, você encontrará informações atualizadas sobre residências, carreira médica e muito mais.