E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a ejaculação retardada, uma disfunção sexual masculina caracterizada pela dificuldade ou incapacidade de atingir o orgasmo e a ejaculação, mesmo com estímulo adequado.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprimorar seus conhecimentos, garantindo uma prática clínica cada vez mais eficaz.
Vamos nessa!
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Definição de Ejaculação Retardada
Ejaculação retardada é caracterizada por um atraso acentuado ou incapacidade de atingir a ejaculação, mesmo na presença de estimulação sexual adequada e desejo de ejacular.
Geralmente identificada a partir do relato do indivíduo, essa condição pode envolver tentativas prolongadas de atingir o orgasmo, muitas vezes resultando em exaustão ou desconforto.
Os critérios diagnósticos consideram fatores como questões relacionadas ao parceiro, ao relacionamento, vulnerabilidades individuais, influências culturais ou religiosas e condições médicas ou psiquiátricas.
Esses elementos podem interferir na etiologia, prognóstico e tratamento do transtorno, que afeta significativamente a vida sexual e emocional do paciente e de seu parceiro.
Mecanismos fisiológicos da ejaculação
A ejaculação consiste em três fases principais:
- Emissão: transferência de fluido seminal para a uretra posterior, controlada por nervos simpáticos (T10-L2).
- Fechamento do colo vesical: evita a ejaculação retrógrada.
- Expulsão: contração rítmica dos músculos bulbocavernosos e do assoalho pélvico, mediada por inervação somática (S2-S4).
Esses mecanismos dependem de neurotransmissores como serotonina, dopamina, noradrenalina e óxido nítrico. A serotonina, particularmente, regula a latência ejaculatória, sendo hiperativa em indivíduos com ER, enquanto a dopamina promove a facilitação da ejaculação.
Fisiopatologia da Ejaculação Retardada
A ejaculação retardada (ER) pode ser influenciada por diversas condições neurológicas que comprometem o controle do reflexo ejaculatório. Neuropatias, como a neuropatia autonômica diabética, são causas comuns devido à lesão de nervos simpáticos responsáveis pela emissão e fechamento do colo vesical.
Lesões na medula espinhal, particularmente acima do segmento T10, também estão associadas à disfunção ejaculatório, afetando tanto a emissão quanto a expulsão do sêmen. Além disso, cirurgias pélvicas, como a prostatectomia radical, podem lesar fibras nervosas simpáticas ou somáticas, levando à dificuldade ou incapacidade de ejacular.
Os fatores hormonais desempenham um papel central na fisiopatologia da ejaculação retardada. O hipogonadismo, caracterizado por baixos níveis de testosterona, pode interferir no reflexo ejaculatório ao comprometer a libido e a função erétil, elementos essenciais para o ciclo sexual masculino.
Da mesma forma, o hipotireoidismo é frequentemente associado a um aumento no tempo de latência ejaculatório, enquanto o hipertireoidismo está relacionado a uma diminuição desse tempo, destacando o papel dos hormônios tireoidianos na regulação do reflexo ejaculatório.
Já a hiperprolactinemia, que resulta em elevação dos níveis de prolactina, reduz a libido e prejudica o controle central da ejaculação, contribuindo para o atraso ou ausência do reflexo.
Processos inflamatórios e infecciosos no trato geniturinário também estão implicados na etiologia da ejaculação retardada. Condições como prostatite, orquite e outras infecções geniturinárias podem causar alterações anatômicas ou funcionais que comprometem o fluxo normal do sêmen.
Essas condições podem resultar em dor, obstrução ou cicatrização das estruturas envolvidas na ejaculação, agravando ainda mais a dificuldade de atingir o clímax. Essas alterações, quando crônicas, podem interagir com fatores neurológicos e hormonais, contribuindo para um quadro multifatorial.
Desenvolvimento e curso
O desenvolvimento da ejaculação retardada pode ocorrer de duas formas: como subtipo ao longo da vida ou adquirido. O subtipo ao longo da vida se caracteriza pelo início da condição nas primeiras experiências sexuais, persistindo ao longo da vida. Já o subtipo adquirido começa após um período de função sexual normal, sem uma causa definida, sendo menos estudado em termos de curso.
Em relação ao curso da ejaculação retardada, a prevalência desse transtorno tende a ser constante até os 50 anos de idade, quando a incidência começa a aumentar significativamente. Homens com 80 anos ou mais relatam duas vezes mais dificuldades para ejacular em comparação aos homens com menos de 59 anos, indicando que a condição se torna mais comum com o envelhecimento.
Critérios diagnósticos para a Ejaculação Retardada
Os critérios diagnósticos para a ejaculação retardada (Código 302.74, F52.32) incluem:
A. Sintomas: Qualquer um dos seguintes sintomas deve ocorrer em quase todas ou em todas as ocasiões (aproximadamente 75 a 100%) durante a atividade sexual com a parceiria (em contextos situacionais ou, se generalizada, em todos os contextos), sem que o indivíduo deseje o retardo:
- Retardo acentuado na ejaculação.
- Baixa frequência ou ausência de ejaculação.
B. Persistência: Os sintomas descritos no Critério A devem persistir por pelo menos seis meses.
C. Sofrimento significativo: Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ao indivíduo.
D. Exclusões: A disfunção sexual não é explicada por um transtorno mental não sexual, por problemas graves no relacionamento, outros estressores importantes, nem atribuível aos efeitos de substâncias/medicamentos ou outra condição médica.
Subtipos:
- Ao longo da vida: A perturbação esteve presente desde que o indivíduo se tornou sexualmente ativo.
- Adquirida: A perturbação iniciou após um período de função sexual relativamente normal.
Subtipos situacionais:
- Generalizada: Não se limita a tipos específicos de estimulação, situações ou parceiros.
- Situacional: Ocorre apenas com determinados tipos de estimulação, situações ou parceiros.
Gravidade:
- Leve: Evidência de sofrimento leve relacionado aos sintomas.
- Moderada: Evidência de sofrimento moderado relacionado aos sintomas.
- Grave: Evidência de sofrimento grave ou extremo relacionado aos sintomas.
Tratamento de Ejaculação Retardada
O tratamento da ejaculação retardada (ER) deve ser individualizado e focado nas causas subjacentes, considerando fatores orgânicos, psicossociais e preferências do paciente. Apesar da complexidade e da heterogeneidade dessa condição, várias abordagens terapêuticas têm sido propostas.
Intervenções psicológicas
As terapias psicológicas são essenciais, especialmente nos casos em que fatores psicogênicos desempenham um papel importante. Abordagens como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) podem ajudar a identificar e modificar pensamentos disfuncionais relacionados ao desempenho sexual.
Técnicas de dessensibilização progressiva, redução da ansiedade sexual e exercícios de foco sensorial são frequentemente utilizadas para melhorar a conexão emocional e física com o parceiro. Além disso, a terapia de casais pode abordar questões de relacionamento que contribuam para a disfunção.
Farmacoterapia
Embora nenhum medicamento específico seja aprovado para o tratamento da ejaculação retardada, várias opções são utilizadas off-label para manejar a condição. Entre os medicamentos disponíveis, destacam-se:
- Dopaminérgicos: Cabergolina e bupropiona são utilizados para aumentar a dopamina, neurotransmissor que facilita o reflexo ejaculatório.
- Antisserotoninérgicos: Substâncias como ciproeptadina e amantadina podem antagonizar os efeitos da serotonina, que inibe a ejaculação.
- Agonistas adrenérgicos: Fármacos como midodrina e pseudoefedrina estimulam os receptores alfa-adrenérgicos, melhorando a contração dos músculos envolvidos na ejaculação.
- Testosterona: Em casos de hipogonadismo, a reposição hormonal pode restaurar os níveis normais de testosterona e facilitar a ejaculação.
O uso dessas medicações deve ser cuidadosamente avaliado, considerando os potenciais efeitos colaterais e a resposta individual do paciente.
Intervenções para infertilidade
Para pacientes em que a ejaculação retardada está associada à infertilidade, técnicas de reprodução assistida podem ser empregadas. Métodos como a estimulação vibratória peniana, eletroejaculação com sonda retal e coleta de espermatozoides por aspiração microcirúrgica são opções viáveis para a obtenção de gametas. Essas estratégias são particularmente úteis em casos de anejaculação neurogênica ou idiopática.
Tratamento multidisciplinar
O manejo da ejaculação retardada frequentemente requer a colaboração de especialistas de diferentes áreas, incluindo urologistas, endocrinologistas, psicólogos e terapeutas sexuais. Um plano de tratamento abrangente deve considerar os fatores médicos e psicossociais do paciente, bem como suas expectativas e objetivos terapêuticos. A abordagem personalizada aumenta as chances de sucesso no tratamento dessa condição desafiadora.
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Referências
Raymond C Rosen, PhDMohit Khera, MD, MBA, MPH. Epidemiology and etiologies of male sexual dysfunction. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate
American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014
ABDEL-HAMID, Ibrahim A.; ALI, Omar I. Delayed ejaculation: pathophysiology, diagnosis, and treatment. World Journal of Men’s Health, v. 36, n. 1, p. 22-40, jan. 2018. DOI: 10.5534/wjmh.17051.