Resumo sobre Síndrome da Hiperventilação: definição, manifestações clínicas e mais!
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Resumo sobre Síndrome da Hiperventilação: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Síndrome da Hiperventilação, uma condição caracterizada pela respiração rápida e superficial que pode causar sintomas como tontura, formigamento e sensação de falta de ar. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprimorar seus conhecimentos, garantindo uma prática clínica cada vez mais eficaz.

Vamos nessa!

Definição de Síndrome da Hiperventilação

A síndrome de hiperventilação é uma condição caracterizada por um aumento inadequado na ventilação minuto, que excede as necessidades metabólicas do organismo. Esse excesso de ventilação, desproporcional à produção de dióxido de carbono (CO₂), resulta em alcalose respiratória e está associado a uma ampla gama de sintomas. 

Contudo, não há um precipitante orgânico claro, o que torna a etiologia, o diagnóstico e o tratamento dessa síndrome objetos de controvérsia. Embora episódios de hiperventilação sejam frequentemente relacionados ao transtorno de pânico, outros fatores precipitantes também podem desempenhar papel relevante.

A prevalência da síndrome de hiperventilação é difícil de determinar com precisão devido a variações nos critérios diagnósticos, tamanhos de amostra limitados e sua estreita relação com sintomas psicológicos. Estudos indicam uma sobreposição substancial entre essa síndrome, o transtorno de pânico e o transtorno de ansiedade, com estimativas variando de 25% a 83% de prevalência em pacientes com transtornos de ansiedade. 

Além disso, dados epidemiológicos sugerem maior frequência dessa condição em mulheres, conforme demonstrado em um estudo com 616 pacientes diagnosticados em serviços de emergência, onde 55% eram mulheres, com idade média de 36,5 anos. 

Pacientes com sintomas prolongados de COVID-19 ou síndrome pós-COVID-19 também podem apresentar a síndrome de hiperventilação, ampliando a relevância desse tema para a prática clínica.

Fisiopatologia da Síndrome da Hiperventilação

A fisiopatologia da síndrome de hiperventilação envolve mecanismos complexos que interligam aspectos psicológicos, neurológicos e respiratórios. A condição caracteriza-se por um aumento inadequado na ventilação minuto em relação às necessidades metabólicas, resultando em alcalose respiratória e sintomas variados.

Psicopatologia

Há uma forte associação entre a síndrome de hiperventilação e transtornos psicológicos, como o transtorno de pânico e a ansiedade. Em muitos casos, a condição psicológica pode ser primária ou secundária à hiperventilação. 

Pacientes frequentemente relatam sintomas como sensação de sufocamento, “suspiros profundos” ou pressão torácica. Ansiedade e estresse podem amplificar esses sintomas, enquanto alterações nos padrões respiratórios podem atuar como gatilhos para a hiperventilação.

Anormalidades nos sistemas regulatórios

Alterações no controle ventilatório são fundamentais para o desenvolvimento dos sintomas. O sistema de ativação reticular no tronco encefálico, responsável por regular os padrões respiratórios, pode apresentar hiperatividade. Além disso, pacientes com síndrome de hiperventilação demonstram maior sensibilidade ao dióxido de carbono (CO₂), o que pode intensificar o impulso respiratório. Redes neurais relacionadas ao medo, como o hipocampo e a amígdala, também podem estar hiperativadas, contribuindo para o quadro.

Sintomas neurológicos

A hiperventilação pode causar redução do fluxo sanguíneo cerebral devido à vasoconstrição cerebral provocada pela diminuição da PaCO₂. Esse mecanismo explica sintomas como parestesias, tontura, cefaleia e até tetania. Alterações no cálcio ionizado em resposta à alcalose respiratória e hipofosfatemia também podem agravar esses sintomas.

Patologias respiratórias e pulmonares

Distorções entre sinais sensoriais e motores, conhecidas como dissociação eferente-aferente, podem explicar a sensação de dispneia percebida. Além disso, obstruções pulmonares leves e intermitentes, como as observadas na asma não diagnosticada, podem contribuir para o quadro. A disfunção das pregas vocais, incluindo paralisia do nervo laríngeo recorrente, é outro fator potencial.

Distúrbios vestibulares

Patologias do sistema vestibular podem exacerbar a hiperventilação por meio de respostas exageradas dos músculos respiratórios às alterações posturais. Esses distúrbios são capazes de induzir sintomas de tontura e aumentar a ventilação de forma inadequada.

Associação com COVID-19

Dados recentes sugerem que a síndrome de hiperventilação pode ocorrer em pacientes com sintomas persistentes após infecção por COVID-19. Embora os mecanismos exatos não estejam claros, a infecção pode amplificar anormalidades no controle respiratório e exacerbar sintomas característicos da síndrome.

Esses mecanismos interligados reforçam a necessidade de um diagnóstico cuidadoso e de abordagens terapêuticas que considerem tanto fatores psicológicos quanto fisiológicos para o manejo eficaz da síndrome.

Manifestações clínicas da Síndrome da Hiperventilação

As manifestações clínicas da síndrome da hiperventilação são variadas e podem incluir sintomas somáticos, psicológicos e achados no exame físico. A característica principal é o aumento transitório da ventilação minuto, desproporcional às necessidades metabólicas, que geralmente se resolve espontaneamente.

Sintomas somáticos

  • Dispneia: Relatada por 60% dos pacientes, frequentemente ocorre em repouso e acompanha sensação de dificuldade para inalar uma respiração completa.
  • Tontura ou sensação de cabeça leve: Presente em 13% a 50% dos casos.
  • Dor ou aperto no peito: Relatada por 43% dos pacientes, podendo ser acompanhada de desconforto torácico vago.
  • Parestesias: Acometem entre 35% a 60% dos pacientes e incluem sensações bilaterais e simétricas.
  • Palpitações: Ocorrendo em 13% dos casos.
  • Espasmo carpopedal: Presente em 9% dos pacientes, associado a alterações metabólicas induzidas pela hiperventilação.

Adicionalmente, os pacientes podem apresentar respirações profundas e lentas, com frequência pontuadas por suspiros. Muitos relatam “fome de ar” ou sensação de respiração insatisfatória, o que diferencia esta síndrome de doenças cardiopulmonares, onde a dispneia geralmente surge com o esforço.

Sintomas psicológicos

A síndrome de hiperventilação está fortemente associada à ansiedade e ao pânico. Os pacientes frequentemente relatam:

  • Sensação de destruição iminente.
  • Medo e ansiedade exacerbada, presentes em mais de 95% dos casos em estudos realizados em emergências.
  • Muitas vezes, os sintomas psicológicos refletem uma patologia subjacente, como transtorno de pânico ou ansiedade generalizada, mas também podem ser secundários às alterações metabólicas e sistêmicas induzidas pela hiperventilação.

Os episódios podem ser desencadeados por estressores psicológicos ou físicos, mas também ocorrem sem um fator precipitante claro.

Achados no exame físico

  • Taquicardia e taquipneia: São comuns durante os episódios.
  • Respiração profunda: Frequentemente associada a suspiros.
  • Diaforese e espasmo carpopedal: Podem estar presentes.
  • O exame cardiopulmonar é geralmente normal, exceto em casos onde a hiperventilação está sobreposta a condições como asma ou DPOC.

Diagnóstico de Síndrome da Hiperventilação

A síndrome de hiperventilação é um diagnóstico de exclusão caracterizado por episódios recorrentes de respiração rápida e profunda, sem associação com doenças cardiopulmonares subjacentes. 

Apesar de não haver critérios diagnósticos universalmente aceitos, é comum em pacientes jovens (<40 anos), de aparência saudável, e com ausência de alterações significativas em exames iniciais. O diagnóstico exige a exclusão de causas respiratórias, cardíacas, metabólicas e infecciosas, através de uma análise clínica detalhada e exames complementares, quando necessário.

O histórico do paciente é essencial para avaliar a frequência, duração e características dos episódios, além de identificar possíveis gatilhos e fatores de alívio. Sintomas como taquipneia, taquicardia e ansiedade são frequentes, associados à ativação do sistema nervoso simpático. 

Exames físicos devem investigar sinais de dificuldade respiratória, uso de músculos acessórios, distensão jugular e outros achados que possam indicar diagnósticos alternativos, como insuficiência cardíaca ou doenças metabólicas.

O uso de oximetria de pulso e capnografia auxilia no diagnóstico diferencial. Pacientes com saturação de oxigênio abaixo de 95% ou dióxido de carbono expirado normal devem ser avaliados para outras condições. Em casos mais complexos, podem ser realizados exames laboratoriais, gasometria arterial, radiografia de tórax, espirometria ou eletrocardiograma, dependendo da suspeita clínica.

Condições como transtorno do pânico e ansiedade frequentemente se sobrepõem à síndrome, e ferramentas como o Perfil de Dispneia Multidimensional ajudam a identificar causas emocionais associadas. A prática de fazer o paciente respirar em um saco de papel, embora conhecida, é desaconselhada devido aos riscos, especialmente em indivíduos com doenças metabólicas ou cardiopulmonares subjacentes.

Tratamento da Síndrome da Hiperventilação

No tratamento agudo, o foco inicial deve ser na tranquilização do paciente, explicando os sintomas apresentados e reduzindo possíveis estressores. O retreinamento respiratório é essencial nesse momento, incentivando o paciente a realizar a respiração diafragmática. 

Orienta-se que o paciente inspire lentamente por quatro segundos, pause por alguns segundos e expire por oito segundos, repetindo o ciclo por 5 a 10 vezes. Essa técnica costuma proporcionar uma sensação de calma e melhora na hiperventilação. 

Para casos graves em que os sintomas persistem, pode-se administrar benzodiazepínicos de ação curta, como lorazepam (0,5-1 mg por via oral ou intravenosa). Contudo, a reinalação de dióxido de carbono (CO₂) por meio de sacos de papel deve ser evitada devido ao risco de hipotermia e complicações associadas.

Para prevenir episódios recorrentes, recomenda-se iniciar um programa de retreinamento respiratório. O paciente deve praticar exercícios respiratórios regularmente, no mínimo duas vezes ao dia, com suporte de profissionais como terapeutas respiratórios ou fisioterapeutas. 

Quando o retreinamento respiratório não é suficiente, é indicado o encaminhamento para terapia cognitivo-comportamental (TCC), que ajuda a reduzir a ansiedade e prevenir novos episódios.

Nos casos em que os sintomas são refratários ao retreinamento respiratório e à TCC, o uso de inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS), como escitalopram, citalopram ou sertralina, é recomendado. Esses medicamentos têm eficácia comprovada no tratamento de transtornos de ansiedade e pânico. 

Já o uso de benzodiazepínicos deve ser restrito a pacientes com resistência ao tratamento, sob supervisão de um psiquiatra. O uso de betabloqueadores apresenta resultados mistos, com algumas evidências de redução de episódios no curto prazo, mas sem eficácia consistente para transtornos de ansiedade.

Adicionalmente, pacientes com condições psiquiátricas significativas que contribuam para a hiperventilação devem ser encaminhados para avaliação psiquiátrica imediata, considerando a gravidade dos sintomas e a preferência do paciente. 

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Referências

Richard M Schwartzstein, MDJeremy B Richards, MD, MAJonathan A Edlow, MD, FACEPPeter P Roy-Byrne, MD. Hyperventilation syndrome in adults. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate

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