Olá, querido doutor e doutora! A intoxicação por cromo representa um desafio relevante na prática médica moderna, especialmente entre trabalhadores expostos a compostos industriais e populações que vivem próximas a áreas contaminadas. A forma hexavalente (Cr⁶⁺) é altamente reativa e pode gerar danos celulares extensos, enquanto a forma trivalente (Cr³⁺), embora menos tóxica, também se acumula em tecidos sob certas condições.
O cromo hexavalente é até cem vezes mais tóxico que o trivalente, sendo capaz de penetrar nas células e induzir intensa produção de radicais livres.
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O que é Intoxicação por Cromo
A intoxicação por cromo ocorre quando há acúmulo desse metal em níveis capazes de provocar estresse oxidativo e danos celulares, comprometendo múltiplos órgãos e sistemas. A exposição pode ser aguda ou crônica, afetando principalmente trabalhadores de setores como metalurgia, curtumes, soldagem, fabricação de pigmentos e cimento. Além da via ocupacional, a contaminação ambiental por solo ou água poluída também representa uma fonte relevante de risco à saúde humana.
Fontes de exposição e etiologia
A exposição ao cromo pode ocorrer por diferentes vias, como inalação, ingestão, contato cutâneo ou mucoso, e está intimamente relacionada a contextos industriais e ambientais. O metal é amplamente utilizado pela sua resistência à corrosão e brilho metálico, sendo empregado em processos de fabricação de aço inoxidável, galvanoplastia, soldagem, curtimento de couro, produção de pigmentos, cimento, fertilizantes e preservação de madeira. Nesses ambientes, o cromo hexavalente (Cr⁶⁺) é o principal agente tóxico, liberado em forma de poeira, vapor ou solução química.
Entre as fontes não ocupacionais, inclui-se o consumo de alimentos e água contaminados, principalmente em regiões próximas a áreas industriais ou aterros que contenham compostos cromados. A inalação da fumaça do tabaco também contribui para a absorção do metal, pois a pirólise libera traços de cromo.
O uso crescente de suplementos à base de cromo trivalente (Cr³⁺), divulgados para controle de peso ou regulação da glicose, é outra forma de exposição. Apesar de o Cr³⁺ ter menor toxicidade, o uso prolongado e sem acompanhamento pode gerar acúmulo tecidual e conversão para formas mais reativas e tóxicas.
Mecanismos fisiopatológicos
Entrada celular e reações de redução
O cromo hexavalente (Cr⁶⁺) é a forma mais tóxica e consegue atravessar a membrana celular devido à sua semelhança com íons como o sulfato e o fosfato. Após penetrar nas células, sofre reduções sucessivas até atingir o estado trivalente (Cr³⁺). Durante esse processo, surgem intermediários altamente reativos, como o Cr⁵⁺ e o Cr⁴⁺, que participam de reações de oxirredução intensas no meio intracelular.
Formação de espécies reativas e dano celular
Essas reações de redução geram espécies reativas de oxigênio, incluindo superóxido, peróxido de hidrogênio e radicais hidroxila. O acúmulo dessas moléculas leva ao estresse oxidativo, provocando lesão de membranas, proteínas e DNA. O resultado é a indução de ruptura de fitas de DNA, apoptose e mutações genéticas, fenômenos associados ao potencial carcinogênico e mutagênico do cromo.
Papel do cromo trivalente e reoxidação
Embora o cromo trivalente (Cr³⁺) tenha menor toxicidade e participe de processos metabólicos relacionados à ação da insulina e metabolismo da glicose, ele pode tornar-se prejudicial quando acumulado. Em condições oxidativas, parte do Cr³⁺ pode se converter novamente em formas mais reativas, gerando inflamação crônica e disfunção mitocondrial.
Avaliação clínica
Sistema respiratório
A inalação de compostos contendo cromo hexavalente (Cr⁶⁺) é a principal causa de manifestações respiratórias. A exposição aguda pode provocar tosse, irritação das vias aéreas, dispneia, rinorreia, sibilância e broncoespasmo. Em exposições repetidas, surgem ulcerações nasais, perfuração do septo, rinite e epistaxe, além de asma ocupacional por mecanismos imunológicos mediados por IgE. A exposição crônica está associada a fibrose pulmonar e aumento do risco de carcinoma epidermoide de pulmão.
Sistema cutâneo
O contato direto com soluções ou partículas contendo Cr⁶⁺ provoca dermatite de contato, irritação, ulceração e necrose. A reação ocorre por hipersensibilidade tardia tipo IV, em que o cromo se liga a proteínas da pele e estimula resposta linfocitária. Lesões recorrentes podem evoluir para espessamento cutâneo, eczema e ulcerações profundas. Mesmo pequenas quantidades, em pele lesada, podem causar dor e inflamação persistente.
Sistema gastrointestinal
A ingestão acidental de compostos de cromo gera queimaduras na mucosa, náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia. Em casos graves, há sangramento digestivo, gastrite corrosiva e perfuração. O dano oxidativo também pode afetar o fígado, provocando elevação de transaminases, icterícia e necrose hepatocelular.
Sistema nervoso
O Cr⁶⁺ possui capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica e acumular-se no tecido nervoso. A exposição prolongada pode causar fadiga, cefaleia, tontura, alteração de memória e neuropatia periférica. Estudos sugerem associação com distúrbios cognitivos e de humor, especialmente em populações expostas cronicamente.
Sistema renal
O rim é um dos principais órgãos de excreção do cromo, e por isso é especialmente vulnerável. Doses elevadas podem causar necrose tubular aguda, proteinúria, hematúria e insuficiência renal. A exposição contínua está ligada à progressão para doença renal crônica, agravada pelo estresse oxidativo local.
Sistema reprodutivo e gestacional
O Cr⁶⁺ atravessa a barreira placentária, podendo afetar o desenvolvimento fetal. Em modelos experimentais, observa-se retardo de crescimento, alterações na placenta e aumento de apoptose em tecidos embrionários. No homem, a exposição ocupacional prolongada foi associada à redução da contagem e da motilidade espermática.
Diagnóstico
Exames laboratoriais
A dosagem de cromo em sangue, plasma ou urina confirma a exposição, embora não reflita com precisão a gravidade clínica. Os valores de referência situam-se entre 0,10 e 0,16 µg/L no sangue e aproximadamente 0,22 µg/L na urina. Em casos de exposição recente, níveis urinários elevados indicam absorção significativa, enquanto exposições prolongadas podem ser evidenciadas por níveis aumentados em sangue total, devido ao acúmulo em eritrócitos.
Exames complementares
Dependendo do quadro clínico, podem ser solicitados função hepática e renal, hemograma, radiografia ou tomografia de tórax, além de provas de função pulmonar em casos de suspeita respiratória. A biópsia de pele pode ser útil para avaliar lesões ulceradas ou reações alérgicas persistentes. O diagnóstico definitivo resulta da correlação entre histórico de exposição, achados clínicos compatíveis e confirmação laboratorial da presença de cromo no organismo.
Tratamento
Medidas iniciais e estabilização
O manejo da intoxicação por cromo deve começar com a retirada imediata da fonte de exposição e a estabilização clínica do paciente. Nos casos de inalação, recomenda-se remover o indivíduo para um ambiente ventilado, administrar oxigênio umidificado e, se necessário, realizar suporte ventilatório. Em exposições dérmicas, é fundamental lavar abundantemente a área afetada com água corrente e sabão neutro, evitando o uso de substâncias neutralizantes que possam agravar a lesão. Queimaduras químicas exigem descontaminação mecânica e, em alguns casos, desbridamento.
Tratamento da ingestão acidental
Quando ocorre ingestão, não se deve induzir o vômito nem administrar antiácidos ou bicarbonato, pois podem potencializar a absorção. Em situações de ingestão recente, pode-se realizar lavagem gástrica com proteção das vias aéreas. O uso de ácido ascórbico oral auxilia na redução do cromo hexavalente (Cr⁶⁺) a sua forma trivalente (Cr³⁺), menos tóxica e de menor absorção gastrointestinal.
Terapias específicas e agentes quelantes
Nos casos graves, especialmente com comprometimento sistêmico, podem ser utilizados agentes quelantes para favorecer a eliminação do metal. O edetato de cálcio dissódico (CaNa₂EDTA) é a principal opção, administrado sob supervisão médica e com monitorização renal rigorosa. Em pacientes com insuficiência renal aguda ou exposição maciça, a hemodiálise pode ser indicada para acelerar a depuração do cromo circulante.
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Referências Bibliográficas
- REIF, Brandon M.; MURRAY, Brian P. Chromium Toxicity. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK599502/.