Quando o valor da bolsa de residência médica irá aumentar? Confira projetos que visam reajustar o pagamento
Foto: Shutterstock

Quando o valor da bolsa de residência médica irá aumentar? Confira projetos que visam reajustar o pagamento

Desde 1º de janeiro de 2022, o valor da bolsa paga aos residentes médicos e aos residentes em área profissional da saúde é de R$ 4.106,09. O reajuste de 23,29%, oficializado por meio de portaria interministerial publicada no Diário Oficial da União em 13 de outubro de 2021, foi o último aumento concedido pelos Ministérios da Saúde e da Educação. Antes disso, a bolsa era de R$ 3.330,43.

Há mais de três anos, o valor da bolsa de residência médica permanece estagnado e essa defasagem tem sido motivo de mobilização entre residentes e entidades médicas, que defendem a necessidade de atualização dos valores diante do aumento do custo de vida e das jornadas intensas de trabalho.

Mas afinal, há previsão de mudança? Confira a seguir os projetos de lei e programas federais que podem alterar o cenário da remuneração dos residentes e entenda como é definida a bolsa e quais direitos são garantidos por lei. Siga no texto!

Como é definido o valor e os direitos do residente

A bolsa de residência médica tem o objetivo de auxiliar o residente a custear suas despesas pessoais e aquelas relacionadas ao programa. Essa é uma das principais vantagens da residência médica em relação às pós-graduações lato sensu, nas quais o estudante precisa arcar com mensalidades e não recebe apoio financeiro.

A Lei nº 6.932, de 7 de julho de 1981, conhecida como Lei da Residência Médica, estabelece as diretrizes dos programas, bem como os direitos e deveres dos residentes e das instituições de saúde. Entre os direitos garantidos estão:

  • bolsa com valor mínimo definido;
  • alimentação e moradia (conforme regulamentos);
  • condições adequadas de repouso e higiene pessoal durante plantões;
  • licença-maternidade e paternidade;
  • férias; e
  • filiação ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS).

Ao ingressar em um programa de residência, o médico é automaticamente vinculado ao RGPS, o que assegura acesso a benefícios como aposentadoria, auxílio-doença e licença-maternidade, pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Saiba mais em: Lei da Residência e direitos garantidos ao médico residente

Vale mencionar que, como todo médico residente é automaticamente filiado ao RGPS e, portanto, se enquadra como contribuinte individual — a mesma categoria de profissionais liberais, autônomos e empresários, há um desconto previdenciário de 11% ao mês na bolsa recebida, o que reduz o valor líquido para cerca de R$ 3.654,42.

Inscreva-se em nossa newsletter!

Receba notícias sobre residência médica, revalidação de diplomas e concursos médicos, além de materiais de estudo gratuitos e informações relevantes do mundo da Medicina.

O valor é suficiente?

Apesar de representar um apoio financeiro relevante, a bolsa pode não ser suficiente para cobrir todas as despesas, especialmente para quem deixa a cidade natal e precisa se estabelecer em grandes centros urbanos, onde o custo de vida é mais elevado. Por isso, muitos residentes recorrem a plantões externos ou outras atividades remuneradas para complementar a renda, o que pode gerar sobrecarga física e emocional.

Veja abaixo uma estimativa média de gastos mensais de um residente que mora sozinho em São Paulo:

DespesaEstimativa mensal
Moradia (aluguel + condomínio + contas)R$ 2.500 a R$ 3.500 (apartamento na área central da cidade) 
Alimentação (supermercado + refeições)R$ 800 a R$ 1.200 para compras + eventual refeição fora 
Transporte (ônibus/metrô + deslocamento interno)R$ 200 a R$ 400 dependendo da distância / uso de aplicativos
Outras contas (internet, celular, luz, água, lazer)R$ 300 a R$ 500 estimados

Como se vê, o valor líquido de R$ 3.654,42 da bolsa pode cobrir o básico em algumas situações, mas quando os valores de moradia ou deslocamento crescem, torna-se indispensável complementar a renda com plantões extras. 

Vale lembrar que a bolsa não inclui benefícios trabalhistas, como vale-refeição, vale-transporte ou décimo terceiro salário, uma vez que não há vínculo empregatício entre o residente e a instituição de saúde.

Entidades médicas se posicionam

Diversas sociedades e conselhos médicos já se manifestaram publicamente sobre a remuneração da residência médica e as condições de formação em serviço. O Conselho Federal de Medicina (CFM) posicionou-se em outubro de 2025 contra a limitação no auxílio-moradia dos médicos residentes e chamou atenção para o fato de que o valor da bolsa está sem reajuste há mais de três anos.

O presidente do CFM, José Hiran Gallo, considera urgente não apenas a revogação da indexação de 10% do auxílio-moradia, mas também a recomposição do valor da bolsa. Ele comparou ainda a situação dos residentes com a de outros programas federais, destacando que, enquanto esses profissionais recebem R$ 4.106,09 por 60 horas semanais, a bolsa do Programa Mais Médicos é de R$ 14.058 para 44 horas.

Em 31 de outubro de 2025, a Federação Nacional dos Médicos (FENAM) também se manifestou em defesa do reajuste da bolsa de residência médica, afirmando que o valor está congelado desde 2022. “Com carga horária de até 60 horas semanais, o residente dedica-se integralmente à formação e à assistência em saúde. O pagamento de uma bolsa justa é essencial para garantir dedicação plena e aprendizado adequado”, afirmou a federação. 

Ainda, a Associação Nacional de Médicos Residentes (ANMR) reforçou a reivindicação por um novo aumento no valor da bolsa, e o secretário-geral da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), Fernando Tallo, também se pronunciou, afirmando que “não há mais como adiar o reajuste da bolsa de residência médica”.

“Isso é extremamente justo. A inflação no período foi de 30%. O residente trabalha cerca de 60 horas por semana e ganha R$15 por hora no valor líquido. A Lei da Moradia muitas vezes não é cumprida, então eles têm que custear os alugueis em grandes cidades e isso é muito caro. Não há mais como adiar esse aumento, um reajuste justo aos médicos residentes do Brasil”

Fernando Tallo

Projetos de lei para aumento da bolsa de residência médica

Como já mostrado, o valor da bolsa de residência médica está defasado diante da realidade enfrentada por muitos residentes, que frequentemente precisam se mudar de cidade e arcar com custos de moradia e alimentação. No Congresso Nacional, há propostas que buscam reajustar o valor da bolsa e até mesmo equiparar o benefício a outras iniciativas financiadas pelo governo.

Projeto de lei prevê equiparação à bolsa do Mais Médicos

Apresentado em 9 de maio de 2019 pelo deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ), o Projeto de Lei nº 2.803/2019 propõe alterar o artigo 4º da Lei nº 6.932/1981 para elevar o valor da bolsa do médico-residente.

O texto sugere que o residente receba o mesmo valor pago aos médicos participantes do Programa Mais Médicos ou programa que venha a substituí-lo, com as devidas correções monetárias. O objetivo é equiparar a bolsa da residência médica à bolsa-formação do Mais Médicos, por entender que ambos são programas de capacitação voltados a médicos já graduados e que prestam serviços à comunidade.

Na época da apresentação do projeto, em 2019, a bolsa de residência médica era de R$ 3.330,43, enquanto o médico participante do Mais Médicos recebia cerca de R$ 11.865,60. O autor argumenta que não faz sentido manter valores tão diferentes em políticas públicas com finalidades semelhantes, especialmente considerando que o residente cumpre 60 horas semanais, enquanto o médico do Mais Médicos tem jornada de 40 horas.

O projeto foi aprovado em dezembro de 2021 pela Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) e atualmente tramita na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados, onde aguarda parecer.

Após análise da CFT, o texto ainda precisará passar pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) antes de seguir para o Plenário da Câmara.

Proposta similar é vista no PL 5465/2025, de autoria do Deputado Allan Garcês (PP/MA), que visa igualar a bolsa do médico residente à bolsa do Programa Mais Médicos, definida atualmente em R$ 14.058,00. A proposta foi apresentada em 28 de outubro de 2025 e ainda não avançou em sua tramitação. 

Reajuste anual da bolsa

Apresentado em 2010 pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), o Projeto de Lei nº 7.064/2010 propõe alterar a Lei nº 6.932/1981 para estabelecer reajustes anuais automáticos no valor das bolsas de residência médica.

O texto determina que a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) definiria, todo mês de janeiro, o percentual de correção, com a participação das entidades estaduais e municipais mantenedoras dos programas. O objetivo é evitar que a bolsa permaneça congelada por longos períodos, acumulando perdas inflacionárias.

O projeto argumenta que a atualização anual é uma medida de justiça e reconhecimento aos médicos residentes, responsáveis por parte expressiva da assistência nos serviços de saúde e que, muitas vezes, enfrentam condições financeiras limitadas durante o período de formação.

Tramitação mais recente

O PL 7.064/2010 tramita em conjunto com o PL 7.567/2010, de autoria do deputado Vilson Covatti, que também busca atualizar o valor da bolsa. Ambos estão sujeitos à apreciação conclusiva pelas comissões da Câmara — ou seja, podem ser aprovados sem passar pelo plenário, caso não haja recurso.

Em outubro de 2025, o projeto foi analisado pela Comissão de Finanças e Tributação (CFT), sob relatoria da deputada Ana Pimentel (PT-MG). O parecer reconheceu o mérito da proposta, mas destacou a necessidade de adequação orçamentária para evitar impacto direto nas contas públicas.

Como solução, foi apresentada uma subemenda de adequação, estabelecendo que o reajuste anual da bolsa deverá ser definido por ato do Poder Executivo, no mês de janeiro, compatível com a disponibilidade orçamentária e financeira da União, e ouvida a Comissão Nacional de Residência Médica.

Com essa modificação, a proposta passou a ter caráter normativo, sem implicar aumento imediato de despesa. O projeto segue em tramitação na CFT, e, após essa etapa, deverá ser encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) para análise final.

Incentivos aumentam o valor da bolsa

Na maioria dos casos, o valor da bolsa de residência médica é o mesmo, independentemente da instituição ou especialidade. No entanto, existem programas de incentivo criados para estimular a atuação em áreas estratégicas ou com baixa adesão, o que pode elevar consideravelmente o valor recebido pelos residentes.

A Medicina de Família e Comunidade (MFC) é uma das especialidades com maior dificuldade de preenchimento de vagas e de fixação de profissionais — e também a que concentra o maior número de programas de incentivo. Para enfrentar o cenário adverso, algumas residências oferecem incentivos financeiros adicionais, que são acumulados ao valor-base da bolsa.

Em determinados casos, a soma dos valores pode fazer com que a remuneração mensal do residente ultrapasse R$ 10 mil a fim de garantir a permanência dos médicos nos programas.

Saiba mais em: Incentivos à Residência em Medicina de Família e Comunidade fazem a bolsa ultrapassar 10 mil reais

Mais recentemente, o Governo Federal instituiu uma bolsa-formação complementar no âmbito do Programa Mais Residências, voltada a áreas com baixa oferta de especialistas. Segundo o Ministério da Saúde, o foco inicial será nas especialidades de Radioterapia e Patologia, com bolsas complementares de R$ 4.000,00 mensais para médicos residentes.

Essa bolsa poderá ser concedida a profissionais que participem de cursos de especialização, aperfeiçoamento ou aprimoramento promovidos no programa, além de ações voltadas à atenção à saúde, ensino, preceptoria, avaliação e gestão dos programas de residência, conforme previsto em editais específicos.

O valor é cumulativo com a bolsa tradicional da residência, representando um reforço financeiro significativo para os participantes. No entanto, o programa ainda é recente e, até o momento, não foram publicados editais nem detalhadas as regras de concessão ou critérios de participação.

Saiba mais sobre em: MS lança programa “Mais Residências” com bolsas de até R$ 4 mil para médicos e preceptores

Gostou de entender mais sobre o tema e ficou na expectativa por mudanças? Para acompanhar as próximas atualizações sobre o valor da bolsa de residência médica e outros assuntos relevantes da área, continue acompanhando o conteúdo do Portal de Notícias do Estratégia MED. Aqui, você encontra informações atualizadas sobre residências, carreira médica, políticas de saúde e muito mais!

Você pode gostar também