Uma pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que mais de 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos de saúde mental em todo o mundo. Os dados divulgados no dia 2 de setembro de 2025 revelam que condições como ansiedade e depressão continuam sendo um dos principais desafios globais de saúde pública, com impactos profundos tanto para indivíduos e famílias quanto para a economia.
Apesar dos recentes avanços em políticas e programas de saúde mental, a OMS alerta que os investimentos ainda são insuficientes e cobra ações urgentes para ampliar o acesso a serviços e reduzir desigualdades entre países.
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Impacto humano e econômico
De acordo com o relatório World Mental Health Today, transtornos mentais são a segunda principal causa de incapacidade prolongada no mundo, resultando em perda de anos de vida saudável.
O suicídio é um dos maiores problemas de saúde pública apontados no relatório. Em 2021, foram 727 mil mortes, número que representa mais de 1 a cada 100 óbitos registrados no mundo. Para cada morte, estima-se que ocorram 20 tentativas. Entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio está entre as principais causas de morte.
O custo econômico também é expressivo. A OMS estima que ansiedade e depressão causem a perda de 12 bilhões de dias de trabalho por ano, gerando prejuízos próximos de US$ 1 trilhão em produtividade.
Transtornos atingem todas as idades
O levantamento mostra que os transtornos mentais são comuns em todas as faixas etárias, mas se manifestam de formas distintas ao longo da vida:
- Crianças e adolescentes: 7% das crianças de 5 a 9 anos e 14% dos adolescentes de 10 a 19 anos viviam com algum transtorno em 2021. Um terço de todos os transtornos que se manifestam em adultos começa antes dos 14 anos.
- Jovens adultos (15–29 anos): depressão e ansiedade estão entre as principais causas de incapacidade prolongada.
- Idosos (70+ anos): cerca de 14% conviviam com transtornos, sobretudo depressão e ansiedade.
Mulheres são mais afetadas
A OMS destaca que as mulheres são mais afetadas por transtornos de saúde mental, com taxas mais altas de depressão, ansiedade e transtornos alimentares em comparação aos homens. A pandemia de COVID-19 intensificou essa desigualdade: em 2020, os casos de depressão cresceram 29,8% entre mulheres, contra 24% entre homens, e a ansiedade aumentou 27,9% entre elas, frente a 21,7% entre eles.
Além disso, experiências de violência doméstica e sexual elevam significativamente o risco de desenvolver problemas como depressão, estresse pós-traumático e ideação suicida, tornando a saúde mental feminina um desafio urgente para políticas públicas.
Desigualdades no acesso
O Mental Health Atlas 2024, também divulgado neste mês, expõe disparidades profundas entre países ricos e pobres. Enquanto nações de alta renda investem até US$ 65 (por volta de R$365) por pessoa em saúde mental, países de baixa renda aplicam apenas US$ 0,04 (por volta de R$0,22). Em média, os governos destinam apenas 2% de seus orçamentos de saúde ao setor – proporção que não se alterou desde 2017.
A desigualdade na força de trabalho em saúde mental é uma das disparidades mais marcantes. Em países de alta renda, a média é de 61 profissionais de saúde mental para cada 100 mil habitantes. Esse número inclui diferentes categorias: cerca de 15 psiquiatras, 30 enfermeiros especializados, 12 psicólogos e quatro assistentes sociais.
Nos países de baixa renda, o contraste é dramático: existe em média apenas 1,2 trabalhador de saúde mental para cada 100 mil pessoas, sendo menos de 0,1 psiquiatra e 0,4 enfermeiro especializado. Além disso, em dois terços dos países do mundo há somente um psiquiatra para cada 200 mil habitantes.
Essa escassez compromete tanto a prevenção quanto o tratamento, já que a maior parte da população em países de baixa e média renda permanece sem acesso a cuidados básicos em saúde mental.
Serviços ainda limitados
O relatório mostra que menos de 10% dos países fizeram a transição completa para modelos de cuidado comunitário. A maioria ainda depende de hospitais psiquiátricos, com quase metade das internações ocorrendo de forma involuntária e 20% durando mais de um ano.
Apesar da alta prevalência da depressão, apenas 9% dos pacientes recebem um tratamento considerado minimamente adequado. Isso significa que a imensa maioria não tem acesso nem a medicamentos essenciais, nem a intervenções psicológicas baseadas em evidências.
A desigualdade é ainda maior quando se compara países de diferentes níveis de renda. Em nações ricas, mais de 50% das pessoas com psicose, por exemplo, conseguem algum tipo de atendimento, enquanto em países de baixa renda essa cobertura não chega a 10%. O mesmo vale para a depressão: quanto mais vulnerável a população, menor a chance de receber um diagnóstico correto e um acompanhamento clínico de qualidade.
Por outro lado, houve avanços em programas de prevenção e promoção da saúde mental, como ações em escolas, apoio psicossocial em emergências e ampliação do uso de teleatendimento. Mais de 80% dos países já incluem suporte psicológico em respostas a crises. Esse número mais que dobrou desde 2020.
Um direito básico
Para o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, transformar os serviços de saúde mental é “um dos desafios mais urgentes da saúde pública”.
“Investir em saúde mental significa investir em pessoas, comunidades e economias – um investimento que nenhum país pode se dar ao luxo de negligenciar. Todo governo e toda liderança têm a responsabilidade de agir com urgência e garantir que o cuidado em saúde mental não seja um privilégio, mas um direito básico para todos”, afirmou.
Para ver a pesquisa completa, incluindo os dados na íntegra, a metodologia utilizada e as referências detalhadas, acesse os relatórios World Mental Health Today e Mental Health Atlas 2024 clicando nos botões abaixo:
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