Suicídio entre médicos: 10% relatam ideação suicida, o dobro da população geral; confira dados
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Suicídio entre médicos: 10% relatam ideação suicida, o dobro da população geral; confira dados

Setembro Amarelo chama atenção à saúde mental dos médicos

Este mês é dedicado à conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o movimento conhecido como Setembro Amarelo. No dia 10 foi lembrado o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio, uma data que reforça a importância de falar sobre saúde mental de forma aberta e responsável. Mais do que nunca, é preciso ampliar esse debate dentro da própria medicina, onde os profissionais que cuidam da vida dos outros muitas vezes enfrentam em silêncio seu próprio sofrimento.

Essa mudança de narrativa é especialmente importante na área da saúde, já que o suicídio entre os profissionais é um problema preocupante. Segundo dados do Medscape, aproximadamente 10% dos médicos relataram ideação suicida recentemente — uma taxa duas vezes maior que a da população geral. Médicas têm risco 47% maior de suicídio do que mulheres fora da área da saúde, e profissionais de especialidades como urgência e emergência apresentam uma das maiores prevalências de ideação suicida. O acesso facilitado a meios letais aumenta ainda mais esse risco.

Fatores de risco

Diversos fatores contribuem para essa realidade: esgotamento profissional, carga de trabalho excessiva, ambientes competitivos, estresse financeiro, demandas irrealistas, falta de apoio e estratégias inadequadas de autocuidado. Além disso, o “estigma profissional” de ser diagnosticado com uma doença mental impede que muitos busquem ajuda. Esses fatores já estão presentes na formação acadêmica e se intensificam durante a residência médica, quando os desafios podem ser ainda maiores.

Residentes médicos

Entre os médicos em formação, os residentes médicos também enfrentam desafios significativos relacionados à saúde mental. Nos Estados Unidos, o suicídio continua sendo a principal causa de morte entre residentes, segundo um estudo publicado no JAMA Network Open e liderado pelo pesquisador Nicholas A. Yaghmour, do Accreditation Council for Graduate Medical Education (ACGME).

Entre 2015 e 2021, a taxa de suicídio entre residentes foi de 4,89 por 100 mil pessoas-ano (47 casos), valor semelhante ao registrado entre 2000 e 2014, indicando estabilidade apesar do aumento da atenção à saúde mental desses profissionais.

Embora o suicídio entre residentes seja muito raro e significativamente menor do que na população não médica da mesma faixa etária, cada caso representa um impacto devastador, atingindo pacientes, colegas e o corpo clínico. Entre os 161 óbitos registrados durante o período de estudo, 29,2% foram decorrentes de suicídio, seguido por câncer, intoxicação acidental e acidentes.

Os dados do estudo mostram também que o risco de suicídio é maior nos primeiros meses de residência, com nove dos 43 suicídios ocorrendo nos primeiros três meses e outros seis durante o último trimestre do segundo ano. Esses números refletem o estresse intenso e as longas jornadas de trabalho enfrentadas pelos residentes, além de fatores como pressão acadêmica, assédio e falta de suporte adequado.

Apesar de o risco absoluto ser menor em comparação com a população geral, esses dados reforçam a importância de políticas e programas de prevenção específicos, com monitoramento da saúde mental, detecção precoce de sinais de risco e ambientes de trabalho que ofereçam apoio e segurança aos médicos em formação.

O Medscape aponta algumas estratégias importantes para reduzir esses riscos:

  • Melhoria das condições de trabalho: limitar a jornada de trabalho, garantir espaços de descanso e acompanhar denúncias de assédio.
  • Detecção precoce e acompanhamento: avaliações regulares de saúde mental e tratamento adequado para casos de risco.
  • Redução do estigma: incentivar profissionais a buscarem apoio psicológico sem medo de repercussões profissionais.
  • Protocolos institucionais: desenvolver guias de ação e recursos para prevenção, gestão e acompanhamento de casos de suicídio.

Além disso, é essencial que instituições, hospitais, autoridades e governo trabalhem juntos para criar ambientes mais seguros e saudáveis, cumprindo limites de jornada, prevenindo o esgotamento e oferecendo espaços livres de violência.

Confira também: OMS revela que mais de 1 bilhão de pessoas vivem com transtornos mentais

O Setembro Amarelo é um lembrete da importância de cuidar da saúde mental de todos, inclusive daqueles que dedicam suas vidas a cuidar dos outros. Para os médicos, essa atenção é ainda mais urgente: mudar a narrativa sobre saúde mental no campo da medicina pode salvar vidas.

Para mais informações, consulte os dados e referências compilados pelo Medscape, que reúne pesquisas sobre saúde mental e suicídio entre profissionais de saúde.

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