Olá, meu Doutor e minha Doutora! O termo “gastrite” é usado para denotar inflamação associada à lesão da mucosa gástrica. No caso clínico de hoje, abordaremos uma paciente que se apresenta com sintomas dispépticos há 3 meses. Posteriormente, veremos alguns conceitos-chave para chegar ao diagnóstico de gastrite!
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Apresentação do Caso Clínico
Jéssica, uma mulher de 45 anos, apresenta-se à clínica com queixas de desconforto abdominal, azia e sensação de queimação no epigástrio. Ela relata uma história de dor abdominal intermitente há aproximadamente 3 meses, que piora após as refeições e à noite. Além disso, Jéssica percebeu uma diminuição do apetite recentemente e teve perda de peso não intencional de cerca de 3 quilos nos últimos dois meses.
Identificação da paciente
Nome: Jessica Silva
Idade: 38 anos
Localidade: São Paulo, Brasil
Profissão: Professora de Ensino Fundamental
Estado Civil: Casada, mãe de dois filhos adolescentes
História Clínica Preexistente: Jessica possui um histórico de enxaquecas ocasionais e hipertensão arterial diagnosticada há três anos. Ela faz uso regular de medicamentos anti-hipertensivos e AINEs prescritos por seu médico.
Queixa principal (QP)
Jessica procura assistência médica devido ao desconforto abdominal persistente, azia e sensação de queimação no epigástrio.
Histórico da moléstia atual (HMA)
Há aproximadamente três meses, Jessica começou a notar desconforto abdominal intermitente, principalmente após as refeições e à noite. Descreve a sensação como uma queimação no estômago. Além disso, ela percebeu uma diminuição no apetite e perda de peso não intencional de cerca de 3 quilos nos últimos dois meses. O desconforto abdominal é acompanhado por episódios de azia, especialmente ao deitar após as refeições. Nega tabagismo e alcoolismo.
História familiar (HF)
Não há histórico de outras condições médicas significativas na família.
História social (HS)
Jessica relata um estilo de vida ativo, mas nos últimos meses tem enfrentado dificuldades para lidar com o estresse no trabalho e em casa.
Hipóteses diagnósticas
Considerando o quadro clínico de Jéssica, as hipóteses diagnósticas podem incluir:
- Gastrite aguda por uso crônico de AINEs;
- Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE); e
- Estresse relacionado ao trabalho;
Exames físicos
Sinais Vitais
Parâmetro | Resultado |
Pressão Arterial | 130/90 mmHg |
Frequência Cardíaca | 86 bpm |
Frequência Respiratória | 16 irpm |
Temperatura Corporal | 36,8°C |
Saturação de Oxigênio | 98% |
Avaliação respiratória: padrão respiratório regular, com frequência respiratória de 16 irpm. Durante a ausculta pulmonar, foram identificados murmúrios vesiculares normais, sem crepitações ou ruídos adventícios.
Avaliação cardiovascular: ritmo cardíaco regular, mantendo uma frequência cardíaca de 86 bpm. As bulhas cardíacas são normofonéticas, sem a presença de sopros audíveis. Os pulsos periféricos, como radial e pedioso, são palpáveis e simétricos.
Avaliação abdominal: abdome plano, sem evidências de lesões de pele ou cicatrizes visíveis. Durante a palpação abdominal, foi percebido um leve desconforto no epigástrio, especialmente próximo à região do antro gástrico. Os ruídos hidroaéreos (RHA) estão presentes e normais nos quatro quadrantes do abdome. O espaço de Traube não apresenta anormalidades.
Exames Complementares
Endoscopia digestiva alta: presença de lesões rasas, com profundidade < 5 mm restrito a mucosa.
Histopatologia: denso infiltrado de neutrófilos na mucosa.
Diagnóstico e Tratamento
Com base nos dados fornecidos, incluindo a história clínica, exame físico e avaliação dos exames, Jéssica apresenta uma condição compatível com gastrite aguda por uso crônico de AINEs. O tratamento inclui retirar os AINEs, controlar os sintomas e reduzir o processo inflamatório com um antiácido ou antissecretório, como um IBP ou bloqueador H2.
Definição de Gastrite
A gastrite caracteriza-se pela presença de infiltrado inflamatório na mucosa gástrica. Deve ser diferenciada de epigastralgia e dispepsia, conceitos diferentes que geram confusão entre os estudantes e pacientes.
Classificação da Gastrite
As classificações mais comumente utilizadas para gastrite são em relação às características histológicas da inflamação (aguda ou crônica), conforme a causa e as que ocorrem em cenários específicos ou têm mecanismo peculiar.
Quadro Clínico de Gastrite
O quadro clínico de gastrite pode variar dependendo da gravidade, do tipo (aguda ou crônica) e das causas subjacentes. A maioria dos pacientes são assintomáticos, e quando apresentam sintomas variam desde dor epigástrica, plenitude, empachamento, desconforto pós-prandial, até náuseas e vômitos. Essas queixas são referidas como sintomas dispépticos.
Diagnóstico de Gastrite
O diagnóstico de gastrite é eminentemente histopatológico, com a presença de um denso infiltrado de neutrófilos (gastrite aguda) ou linfócitos e plasmócitos (gastrite crônica). Pela endoscopia digestiva alta (EDA), observamos lesões limitadas à mucosa ou erosões com profundidade <5 mm.
A EDA está indicada nas seguintes situações:
1. persistência dos sintomas e refratariedade à terapia empírica com IBP. No caso de pacientes jovens (abaixo dos 40 anos), moradores de áreas com grande prevalência de H. pylori, em vez da EDA pode-se adotar como conduta a estratégia “teste e trate”, que consiste em fazer um teste não invasivo para a pesquisa dessa bactéria (como o teste respiratório da urease) e, caso venha positivo, fazer o tratamento do H. pylori;
2. pacientes com quaisquer sinais de alarme: emagrecimento, anemia, suspeita de sangramento digestivo, disfagia, impactação alimentar;
3. pacientes acima dos 40 anos, com sintomas dispépticos crônicos.
Tratamento de Gastrite
O tratamento inclui retirar o agente etiológico (seja infeccioso, medicamentoso ou tóxico), controlar os sintomas e reduzir o processo inflamatório com um antiácido ou antissecretório, como um IBP ou bloqueador H2.
Questões para orientar o caso clínico de Gastrite
- Quais os achados histopatológicos da gastrite aguda e crônica?
- Qual bactéria infecta o estômago de mais de 50% da população mundial e causa quadros de gastrite?
- Qual o quadro clínico da gastrite?
- Quais os sinais de alarme para indicação de endoscopia digestiva alta em pacientes com gastrite?
- Como é feito o tratamento da gastrite?
Respostas
- A gastrite aguda apresenta denso infiltrado de neutrófilos e a gastrite crônica apresenta infiltrado de linfócitos e plasmócitos.
- Helicobacter pylori.
- A maioria dos pacientes são assintomáticos, e quando apresentam sintomas variam desde dor epigástrica, plenitude, empachamento, desconforto pós-prandial, até náuseas e vômitos (sintomas dispépticos).
- Emagrecimento, anemia, suspeita de sangramento digestivo, disfagia, impactação alimentar.
- O tratamento inclui retirar o agente etiológico (seja infeccioso, medicamentoso ou tóxico), controlar os sintomas e reduzir o processo inflamatório com um antiácido ou antissecretório, como um IBP ou bloqueador H2.
Questão de prova sobre Gastrite
RJ – UNITEDHEALTH GROUP – UHG 2020 Homem, 34 anos, sem comorbidades, queixa-se em consulta de fraqueza e astenia há cerca de três meses e dor abdominal em queimação há anos, fazendo uso de omeprazol 20mg. Nega uso de drogas. Etilismo social (2 copos de cerveja no final de semana). Trouxe hemograma: Hb: 7,0; Ht: 20,9; VCM: 106; HCM: 35,7; Leucócitos 2500; Plaquetas 104.000. Ao exame: pressão arterial: 100 x 70 mmHg; frequência cardíaca: 99 batimentos/minuto; saturação arterial: 94; frequência respiratória: 20 movimentos/minuto; REG, alerta e orientado, hipocorado 2+, anictérico. Aparelho cardiopulmonar sem alterações. Abdome: desconforto abdominal em região epigástrica. Quais os diagnósticos?
A. Gastrite atrófica e anemia perniciosa
B. Úlcera péptica e anemia ferropriva
C. Dispepsia funcional e anemia mista
D. Tumor neuroendócrino e anemia hemolítica
Comentário:
Hipótese de gastrite autoimune, provocando atrofia do corpo gástrico e anemia perniciosa é bastante plausível. Esse diagnóstico pode se apresentar em paciente jovens, com história de outras doenças autoimunes, como doença celíaca, doenças tireoidianas (tireoide de Hashimoto), diabetes tipo 1, vitiligo, hepatite autoimune, entre outras. Ocorre destruição das glândulas oxínticas produtoras do fator intrínseco, com grande comprometimento da absorção da vitamina B12, o que ocasiona a anemia megaloblástica (hemácias grandes, com membrana instável, que se rompe com facilidade). Portanto, alternativa A.