O estrogênio, reconhecido como um dos hormônios mais importantes do corpo humano, desempenha papéis cruciais para a saúde e o equilíbrio do organismo: participa no ciclo menstrual, no desenvolvimento sexual feminino, na maturação dos óvulos, e protege a saúde óssea feminina, além de influenciar diretamente a aparência da pele e a distribuição de gordura no corpo. Neste artigo, detalharemos os efeitos deste hormônio!
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Principais funções do estrogênio no organismo
O estrogênio é um hormônio de ampla significância para o bom funcionamento do organismo, especialmente nas mulheres, mas também com funções importantes no corpo masculino. Sua atuação vai muito além do ciclo menstrual, influenciando processos que afetam diversos sistemas do corpo humano.
Desenvolvimento e saúde reprodutiva
- Regulação do ciclo menstrual: O estrogênio é fundamental para o desenvolvimento e manutenção do ciclo reprodutivo feminino. Ele estimula o crescimento do revestimento uterino (endométrio) durante a fase folicular, preparando o útero para uma possível implantação de um embrião. Essa regulação é essencial para a fertilidade.
- Amadurecimento dos óvulos: Durante o ciclo menstrual, o estrogênio contribui para o crescimento e amadurecimento dos folículos nos ovários, que contêm os óvulos, preparando-os para a ovulação.
- Desenvolvimento sexual e características femininas: Ele desempenha um papel central no desenvolvimento das mamas, órgãos sexuais internos e outras características sexuais secundárias durante a puberdade.
Saúde óssea e metabolismo
- Preservação da densidade óssea: O estrogênio protege a saúde dos ossos ao promover a deposição de cálcio e inibir a reabsorção óssea, um processo que reduz a densidade mineral dos ossos. Isso é especialmente importante em mulheres, uma vez que sua redução pós-menopausa está associada ao aumento do risco de osteoporose.
- Distribuição de gordura corporal: O estrogênio é o principal responsável pelo padrão de distribuição de gordura mais comum nas mulheres, na região dos glúteos, quadris e coxas.
No corpo masculino
Embora encontrado em níveis muito mais baixos nos homens, o estrogênio exerce funções importantes, como:
- Manutenção da densidade óssea: Semelhante às mulheres, ele contribui para a saúde óssea, prevenindo a perda de massa.
- Regulação da libido e função reprodutiva: Colabora para a regulação da libido e auxilia na produção saudável de espermatozoides.
As funções do estrogênio destacam sua relevância como um regulador complexo e multifuncional no organismo, sendo essencial para a manutenção de sistemas corporais saudáveis, tanto em homens quanto em mulheres. Seu impacto vai além da saúde reprodutiva, abrangendo aspectos como a saúde emocional, a estrutura óssea e o equilíbrio metabólico.
Onde o estrogênio é produzido no homem e na mulher
A origem do estrogênio no organismo varia de acordo com o sexo, sendo produzido em diferentes órgãos e tecidos, embora desempenhe funções essenciais em ambos. Este hormônio é fundamental para o equilíbrio hormonal e metabólico, estando diretamente associado a processos como a reprodução, saúde óssea e regulação de características sexuais.
Produção de estrogênio no corpo feminino
No organismo feminino, o estrogênio é predominantemente fabricado pelos ovários durante a fase fértil da vida. No entanto, também existem outras glândulas e tecidos que contribuem com produções menores desse hormônio, como as glândulas suprarrenais e o tecido adiposo.
- Ovários: A principal fonte de estrogênios, especialmente do estradiol, o tipo mais ativo deste hormônio em mulheres em idade reprodutiva. Os ovários o produzem por meio da interação entre o hormônio luteinizante (LH) e o hormônio folículo-estimulante (FSH), que regulam a síntese durante o ciclo menstrual.
- Glândulas suprarrenais: Localizadas acima dos rins, essas glândulas produzem estrogênios em menor quantidade, sendo especialmente importantes para períodos em que os ovários diminuem sua função, como na menopausa.
- Tecido adiposo: Apresenta um papel relevante, uma vez que converte andrógenos em estrogênios. Esta produção é contínua, mas ocorre em níveis reduzidos quando comparada aos ovários. Com o advento da menopausa, torna-se uma das principais fontes de estrogênio no corpo feminino.
- Placenta: Durante a gravidez, a placenta assume a produção do estriol, um tipo de estrogênio essencial para o desenvolvimento saudável do feto e para preparar o corpo feminino para o parto e o aleitamento.
Produção de estrogênio no corpo masculino
Embora com níveis inferiores aos observados em mulheres, o homem também conta com a produção de estrogênio, que é crucial para funções como a modulação da libido, a saúde dos ossos e a espermatogênese. Suas principais fontes incluem:
- Testículos: Principal produtor de pequena quantidade de estrogênio, é responsável pela conversão de testosterona em estradiol por meio da enzima aromatase. Apesar do baixo volume, desempenha funções importantes no equilíbrio hormonal masculino.
- Tecido adiposo: Assim como nas mulheres, o tecido adiposo masculino possui a capacidade de converter andrógenos em estrogênios, o que pode gerar um aumento desse hormônio em indivíduos com excesso de peso.
- Glândulas suprarrenais: Também colaboram com a síntese, embora em valores reduzidos, auxiliando no equilíbrio de diferentes hormônios esteroides no organismo.
Diferenças nas fontes de produção ao longo da vida
Na mulher, os ovários são as estruturas centrais para a produção de estrogênio durante a fase reprodutiva. Contudo, na menopausa, quando a função ovariana declina, o tecido adiposo e as glândulas suprarrenais assumem o papel principal. Já no homem, a produção hormonal é caracterizada por ser menos dependente da idade, mas pode variar em certas condições, como obesidade ou doenças específicas que afetam órgãos produtores.
Fatores que modificam a produção de estrogênio
Algumas circunstâncias podem alterar os níveis do hormônio, como variações no tecido adiposo, medicamentos e condições fisiológicas, como obesidade, menopausa ou puberdade. Nessas situações, as fontes secundárias de estrogênio, como tecido adiposo, tornam-se mais proeminentes, tanto em homens quanto em mulheres. Monitorar essas alterações é essencial para manter a saúde hormonal em equilíbrio.
Relação entre estrogênio e progesterona no ciclo menstrual
A interação entre estrogênio e progesterona desempenha papel crucial no equilíbrio do ciclo menstrual feminino. Esses dois hormônios regulam as diversas etapas do ciclo, preparando o organismo da mulher para uma possível gravidez a cada mês. Muito mais do que agentes isolados, eles atuam de forma interdependente, garantindo a alternância harmoniosa das fases do ciclo menstrual e, consequentemente, a saúde reprodutiva.
O papel do estrogênio na fase folicular
Durante a fase folicular, que marca o início do ciclo menstrual, os níveis de estrogênio começam a subir gradualmente, estimulados pela liberação do hormônio folículo-estimulante (FSH) pela hipófise. O aumento na concentração de estrogênio atua diretamente no desenvolvimento dos folículos ovarianos, sendo responsável pelo crescimento do óvulo que será liberado na ovulação.
Além disso, o estrogênio estimula o espessamento do endométrio — camada interna do útero responsável por acolher um possível embrião. Em outras palavras, ele prepara o “terreno” uterino para uma possível gestação, promovendo o aumento da vascularização e o acúmulo de nutrientes no tecido uterino. Essa fase é caracterizada por níveis baixos de progesterona, já que sua produção significativa só ocorre após a liberação do óvulo.
As mudanças no endométrio ao longo do ciclo menstrual ficam evidentes quando realizamos a chamada ultrassonografia transvaginal seriada – método padrão-ouro para avaliar o desenvolvimento dos folículos ovarianos e do endométrio durante as fases da ovulação, empregado, p.ex., na avaliação de pacientes com queixa de infertilidade.
Veja, na imagem a seguir, as mudanças de aspecto do endométrio ao longo do ciclo: fino ao iniciar o ciclo, trilaminar no período periovulatório, e espessado e ecogênico na segunda fase do ciclo:
O pico de estrogênio e a ovulação
O ápice do estrogênio acontece no meio do ciclo menstrual, levando à liberação do hormônio luteinizante (LH). Esse pico hormonal é o responsável direto pela ovulação, momento em que o óvulo maduro é liberado pelo ovário para a tuba uterina. A sincronização entre o aumento do LH e do estrogênio é fundamental para a ocorrência desta fase.
Neste estágio, a progesterona ainda está em níveis baixos, mas essa combinação entre as concentrações elevadas de estrogênio e o estímulo do LH garante a preparação ideal para que o organismo feminino passe à próxima fase do ciclo. A queda brusca do estrogênio após a liberação do óvulo sinaliza a transição para a fase lútea, momento em que a progesterona assume um papel predominante.
O domínio da progesterona na fase lútea
Após a ovulação, começa a fase lútea. O corpo lúteo — estrutura formada a partir do folículo que liberou o óvulo — passa a ficar responsável pela produção de progesterona em níveis elevados. Este hormônio atua na estabilização do endométrio, mantendo as condições adequadas para uma possível implantação do embrião.
Embora o estrogênio continue sendo produzido, ele desempenha aqui uma função secundária. Sua principal atividade nesta fase é, junto com a progesterona, evitar a degradação do endométrio e garantir a continuidade do ciclo em caso de fecundação.
No entanto, se a fertilização não ocorrer, tanto os níveis de estrogênio quanto de progesterona declinam progressivamente. Essa queda hormonal provoca o desprendimento do endométrio, dando início a um novo ciclo menstrual: a menstruação.
O ciclo menstrual é um processo complexo, dependente de interações entre hipotálamo, hipófise e os ovários. As diferentes concentrações hormonais, como vimos acima, provocam efeitos diferentes sobre o desenvolvimento ovariano e do endométrio – observe o esquema a seguir, retirado do Extensivo do Estratégia MED, que sintetiza a histologia ovariana, a concentração hormonal de cada hormônio e a histologia endometrial durante cada fase do ciclo:
Relação hormonal: equilíbrio e saúde
O equilíbrio entre estrogênio e progesterona é essencial não apenas para a regulação do ciclo menstrual, mas também para a manutenção da saúde reprodutiva e geral da mulher. Desbalanços nesses hormônios podem levar a uma série de condições, como ciclos irregulares, infertilidade e sintomas relacionados à síndrome dos ovários policísticos (SOP).
Além disso, os níveis flutuantes de estrogênio e progesterona ao longo do ciclo podem influenciar no bem-estar emocional da mulher. As oscilações hormonais são frequentemente associadas aos sintomas da tensão pré-menstrual (TPM), incluindo mudanças de humor, irritabilidade e retenção de líquidos.
Uma observação interessante é que, durante a menopausa, a produção desses hormônios diminui significativamente. Como resultado, as flutuações hormonais que sincronizam o ciclo menstrual deixam de ocorrer, o que encerra a idade fértil da mulher. Nessa fase, muitas mulheres optam por tratamentos hormonais para aliviar os sintomas associados ao desequilíbrio dessas substâncias – as indicações e contraindicações a tal terapia devem ser avaliadas caso a caso pelos médicos.
Observe o esquema que resume as indicações principais de terapia hormonal e a chamada “janela de oportunidade” – período de maior segurança para seu uso no climatério:
As contraindicações à terapia hormonal devem ser avaliadas cuidadosamente, já que seu uso pode provocar efeitos deletérios à mulher, em algumas situações – observe as principais contraindicações elencadas pela Sociedade Brasileira de Climatério (SOBRAC):
Ciclo regulado e perspectivas reprodutivas
Portanto, a interação precisa entre estrogênio e progesterona, com níveis cuidadosamente controlados pelo corpo, é o que garante a regularidade do ciclo menstrual e a preparação do organismo para a reprodução. Qualquer alteração nessa dinâmica, como produção reduzida de estrogênio ou progesterona, pode impactar a capacidade de concepção e até mesmo a saúde geral, dado o papel multifuncional desses hormônios.
A importância do estrogênio para a saúde reprodutiva feminina pode ser observada em distúrbios como a síndrome dos ovários policísticos, que é comumente acompanhada pela queixa de infertilidade.
Durante a avaliação de pacientes com queixa de infertilidade, um dos principais pontos de atenção do ginecologista é a avaliação da chamada reserva ovariana da paciente. Observe, no gráfico a seguir, como o número de folículos ovarianos se reduz progressivamente com a idade:
Além da idade, outros fatores podem contribuir para redução da reserva ovariana feminina: tabagismo, quimioterapia ou radioterapia pélvica, cirurgia ovariana prévia, danos provocados por infecções como doença inflamatória pélvica, e alterações genéticas, como a síndrome de Turner.