Função do pâncreas: digestão, sua importância e mais!

Função do pâncreas: digestão, sua importância e mais!

O pâncreas desempenha papel crucial na digestão e no controle da glicemia, produzindo insulina e enzimas que ajudam na absorção de nutrientes.

O pâncreas é uma glândula essencial para o funcionamento do organismo, atuando diretamente na digestão e no controle do metabolismo. Responsável pela produção de enzimas como amilase, lipase e tripsina, ele garante que os alimentos sejam decompostos em nutrientes fundamentais para a absorção pelo corpo. Além disso, sua função endócrina, ao produzir insulina e glucagon, é crucial para a regulação dos níveis de açúcar no sangue.

Neste texto, exploraremos a fisiologia pancreática e como a desregulação de tal órgão ocorre na gênese de diversas doenças.

O papel das enzimas pancreáticas na digestão

O pâncreas é uma glândula que desempenha um papel crucial no processo digestivo, destacando-se por sua capacidade de produzir enzimas que facilitam a quebra de macronutrientes, como carboidratos, gorduras e proteínas. Essas enzimas pancreáticas são secretadas na forma inativa e ativadas no duodeno, a primeira porção do intestino delgado, onde começam a atuar diretamente sobre os alimentos que consumimos.

As principais enzimas produzidas pelo pâncreas

O pâncreas é responsável pela produção de três enzimas digestivas primordiais: amilase, lipase e tripsina, cada uma com uma função específica na digestão:

  • Amilase: é a enzima que facilita a digestão de carboidratos. Age diretamente sobre o amido, quebrando-o em moléculas menores de maltose e, posteriormente, convertendo-o em glicose, que é absorvida pelas células intestinais. Sem essa ação, a digestão de alimentos ricos em carboidratos, como pães, massas e arroz, seria muito ineficiente.
  • Lipase: responsável pela digestão e absorção de gorduras. Esta enzima atua especificamente sobre os triglicérides, dividindo-os em ácidos graxos e monoglicerídeos, que são mais facilmente absorvidos pelo organismo. A lipase age em conjunto com a bile, uma substância produzida pelo fígado que emulsifica a gordura, tornando-a acessível à ação da enzima.
  • Tripsina: desempenha um papel importante na degradação de proteínas. Liberada inicialmente na forma de tripsinogênio (inativo), sua ativação no intestino delgado permite que as proteínas consumidas sejam degradadas em moléculas menores, conhecidas como peptídeos e aminoácidos, que são essenciais para diversas funções metabólicas.

O mecanismo de liberação e ativação das enzimas pancreáticas

As enzimas produzidas pelo pâncreas não são liberadas diretamente no estado ativo. Isso ocorre como um mecanismo de proteção, para evitar que o órgão seja “digerido” por suas próprias enzimas. Durante o processo digestivo, quando os alimentos chegam ao estômago e depois ao duodeno, o pâncreas libera essas substâncias na forma inativa através de pequenos ductos que desembocam no intestino delgado.

No duodeno, ocorre a ativação das enzimas, mediada por outras substâncias presentes no ambiente intestinal. Por exemplo, o tripsinogênio é convertido em tripsina pela ação de uma enzima chamada enteroquinase, produzida pelas células da parede intestinal. Essa ativação em etapas garante que as enzimas só atuem no local apropriado.

Além disso, o pâncreas também secreta íons bicarbonato, que ajudam a neutralizar a acidez do quimo (nome dado ao bolo alimentar misturado ao suco gástrico do estômago). Este ambiente alcalino é essencial para o funcionamento adequado das enzimas pancreáticas.

Consequências da deficiência de enzimas pancreáticas

Quando há um comprometimento na produção ou liberação dessas enzimas pelo pâncreas, como ocorre em casos de doenças como pancreatite crônica, fibrose cística ou câncer de pâncreas, o processo digestivo sofre alterações significativas. Entre os problemas mais comuns estão a má digestão e a má absorção de nutrientes, que podem levar a sintomas como:

  • Perda de peso inexplicável;
  • Diarreia crônica ou esteatorreia (fezes excessivamente gordurosas);
  • Deficiência de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K);
  • Fraqueza devido à má absorção de proteínas e carboidratos.

Nestes casos, a suplementação enzimática prescrita por médicos pode ajudar a restaurar uma digestão normal, permitindo que o organismo absorva os nutrientes de maneira eficiente.

A pancreatite crônica é uma das causas típicas de insuficiência pancreática exócrina, nome dado à deficiência de produção das enzimas pancreáticas, que leva, com isso, à má absorção de diversos nutrientes. Clinicamente, a insuficiência pancreática exócrina pode ser diagnosticada por diversos testes funcionais, que avaliam, em resumo, a má absorção dos nutrientes de modo não invasivo.

Como curiosidade, observe a tabela retirada do material do Extensivo do Estratégia MED, que resume tais testes:

Estratégia MED

De modo resumido, observe que todos os testes/relações/níveis estão “diminuídos” na pancreatite crônica, exceto a detecção de gordura nas fezes, que se encontra “aumentada”, e o teste da D-xilose, que está normal.

A interação do pâncreas com outros órgãos

O funcionamento do pâncreas está intimamente ligado a outros órgãos do sistema digestivo. Por exemplo, o estímulo para a produção de enzimas pancreáticas é acionado pelo início da digestão no estômago, que libera um hormônio chamado secretina. Este hormônio sinaliza o pâncreas a secretar suas enzimas e bicarbonato no duodeno.

Além disso, o fígado e a vesícula biliar trabalham em sinergia com o pâncreas no processo de digestão. A bile, produzida no fígado e armazenada na vesícula, emulsifica as gorduras, facilitando a ação da lipase pancreática. Juntos, esses órgãos formam uma cadeia de processos coordenados que garantem a digestão eficiente dos alimentos.

Relação entre o pâncreas e o controle do açúcar no sangue

O pâncreas é uma das glândulas mais multifuncionais do nosso organismo, essencial tanto para a digestão quanto para o controle dos níveis de glicose no sangue. Em sua função endócrina, ele age como um regulador metabólico, garantindo que nosso corpo tenha energia disponível e que os níveis de glicemia permaneçam dentro dos limites normais.

Uma das principais funções realizadas pelo pâncreas nessa área é a produção dos hormônios insulina e glucagon, ambos sintetizados nas chamadas ilhotas de Langerhans, que consistem em pequenos agrupamentos de células especializadas dentro da glândula. Enquanto a insulina é produzida pelas células beta, o glucagon é resultado da ação das células alfa.

Função da insulina e sua importância

A insulina é indispensável para a manutenção do equilíbrio glicêmico do corpo, exercendo sua ação principalmente após a ingestão de alimentos. Quando comemos, os carboidratos presentes são convertidos em glicose, que entra na corrente sanguínea e eleva temporariamente os níveis de açúcar no sangue. O pâncreas, em resposta a esse aumento, libera insulina, que tem como função principal facilitar a entrada da glicose nas células.

Entre as principais ações da insulina estão:

  • Transporte de glicose para as células: a insulina funciona como uma “chave” que permite que as células do corpo absorvam a glicose do sangue e a utilizem como fonte de energia. Isso é essencial para tecidos como os músculos e o cérebro.
  • Armazenamento de glicose: quando há um excesso de glicose, a insulina promove sua conversão em glicogênio, que é estocado principalmente no fígado e nos músculos, permitindo o uso posterior.
  • Regulação do metabolismo lipídico: ao reduzir a utilização de gorduras como fonte de energia em momentos em que há glicose suficiente, a insulina contribui para o equilíbrio metabólico.

Quando a produção ou função da insulina encontra-se prejudicada, como ocorre no diabetes mellitus, as células não conseguem absorver glicose eficazmente, resultando em hiperglicemia (altos níveis de açúcar no sangue). O tratamento precoce é essencial para evitar complicações, como danos nos nervos, rins e na visão.

Ação do glucagon no controle glicêmico

Em momentos de jejum ou práticas intensas de atividade física, quando a concentração de glicose no sangue está baixa, o pâncreas passa a liberar glucagon. Esse hormônio tem uma função antagônica à insulina, atuando para elevar os níveis de glicose e garantir energia ao corpo.

O glucagon atua principalmente no fígado, estimulando a quebra do glicogênio em glicose por meio de um processo denominado glicogenólise. Além disso, ele promove a gliconeogênese, que é a produção de glicose a partir de compostos não carboidratos, como aminoácidos e gorduras.

Esse mecanismo protege o corpo contra episódios de hipoglicemia (baixos níveis de glicose no sangue), especialmente em situações em que as demandas energéticas são altas ou há longos períodos sem ingestão de alimentos. Dessa forma, os hormônios insulina e glucagon trabalham em conjunto para manter a glicemia em equilíbrio, adaptando o fornecimento energético às necessidades metabólicas do organismo.

A importância do equilíbrio hormonal

Para que o metabolismo funcione adequadamente, é essencial que os níveis de insulina e glucagon sejam ajustados de forma precisa. Um desequilíbrio nesses hormônios pode levar a condições metabólicas graves, como:

  • Diabetes tipo 1: caracterizado pela incapacidade do pâncreas de produzir insulina, geralmente por destruição autoimune das células beta.
  • Diabetes tipo 2: associado à resistência à insulina e/ou à produção insuficiente do hormônio, decorrente em parte de fatores genéticos, porém também muito associado a aspectos do estilo de vida e à obesidade.
  • Hipoglicemia: geralmente resultante de uma produção excessiva de insulina ou ações inadequadas para reduzir o nível de glicose no sangue.

O Diabetes Mellitus tipo 2 tem uma fisiopatologia complexa, atualizada constantemente por novos estudos e evidências. Atualmente, sabe-se que uma série de fatores estão implicados no desenvolvimento de tal doença – predisposição genética a desenvolver resistência à insulina; consumo excessivo de açúcares e carboidratos simples, que provoca secreção aumentada de insulina e resistência ao hormônio; aumento de gordura visceral; dentre outros.

Observe o esquema ilustrativo dos vários mecanismos da hiperglicemia em tal doença:

Estratégia MED

Clinicamente, o diabetes mellitus tipo 1 costuma se apresentar na infância e na adolescência – o quadro clássico consiste no paciente jovem que desenvolve a temida cetoacidose diabética. Atualmente, sabe-se, porém, que muitos casos de diabetes mellitus tipo 2 podem se iniciar na infância e na adolescência. Algumas pistas clínicas auxiliam a diferenciar o diagnóstico em tais casos – observe o esquema do Extensivo do Estratégia MED que resume tais pistas:

Estratégia MED

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