E aí, doc! Vamos falar sobre mais um assunto? Agora vamos comentar sobre as carótidas, uma das principais fontes de carreamento de sangue para o encéfalo.
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Anatomia das carótidas
A artéria carótida comum direita se origina na bifurcação do tronco braquiocefálico, sendo o outro ramo principal dessa estrutura a artéria subclávia direita. A partir do arco da aorta, a artéria carótida comum esquerda ascende diretamente até o pescoço, com um trajeto inicial de aproximadamente 2 cm no mediastino superior antes de entrar no pescoço.
Na altura da margem superior da cartilagem tireoidea, as artérias carótidas comuns se dividem em dois ramos principais: a artéria carótida interna e a artéria carótida externa. As artérias carótidas internas são continuações diretas das carótidas comuns e não dão origem a nenhum ramo nomeado no pescoço. Essas artérias entram no crânio através dos canais caróticos localizados nas partes petrosas dos ossos temporais, tornando-se as principais artérias que suprem o encéfalo e as estruturas orbitárias.
Por outro lado, as artérias carótidas externas, que também surgem da bifurcação das carótidas comuns, têm a função de suprir a maioria das estruturas externas ao crânio. Exceções incluem a órbita e parte da fronte e do couro cabeludo, supridas pela artéria supraorbital.
As artérias carótidas externas seguem um trajeto em sentido posterossuperior até a região entre o colo da mandíbula e o lóbulo da orelha. Nessa área, elas penetram na glândula parótida e se dividem em dois ramos terminais: a artéria maxilar e a artéria temporal superficial.
Etiologias que podem acometer as carótidas
A carótida, sendo uma das principais artérias responsáveis por levar sangue ao cérebro, pode ser afetada por uma série de condições que comprometem sua função e, consequentemente, a saúde cerebral. Os principais problemas que podem acometer a carótida incluem:
Estenose da Artéria Carótida
A estenose da artéria carótida é o estreitamento desse vaso sanguíneo, geralmente causado por aterosclerose. A aterosclerose é o acúmulo de placas de gordura, colesterol e outros elementos na parede arterial, que reduz o fluxo sanguíneo para o cérebro. Esse estreitamento pode ser assintomático, mas em casos severos, pode levar a complicações graves como ataques isquêmicos transitórios (AIT) e acidentes vasculares cerebrais (AVC).
Aterosclerose Carotídea
A aterosclerose carotídea refere-se à formação de placas nas artérias carótidas, que pode não só causar estenose, mas também levar à embolização, onde fragmentos das placas se desprendem e viajam até o cérebro, bloqueando pequenas artérias e causando isquemia. Isso pode resultar em AITs ou AVCs, dependendo da gravidade e localização do bloqueio.
Aneurisma da Carótida
O aneurisma da carótida é uma dilatação anormal de uma parte da artéria carótida, que pode ocorrer devido a fraquezas na parede arterial. Embora menos comum que a estenose, o aneurisma pode ser perigoso, pois existe o risco de ruptura, levando a uma hemorragia grave que pode ser fatal.
Dissecção da Artéria Carótida
A dissecção da artéria carótida ocorre quando há uma ruptura na camada interna da artéria, permitindo que o sangue entre e se acumule entre as camadas da parede arterial. Isso pode causar dor no pescoço, dor de cabeça e, em casos mais graves, levar a um AVC, pois o sangue pode acabar bloqueando o fluxo normal na artéria.
Trombose da Artéria Carótida
A trombose da artéria carótida é a formação de um coágulo de sangue dentro da artéria, que pode obstruir o fluxo sanguíneo. Esse coágulo pode resultar de aterosclerose ou outras condições que afetem a coagulação sanguínea. A trombose pode levar a uma redução significativa do fluxo sanguíneo para o cérebro e, consequentemente, a um AVC.
Síndrome do Desfiladeiro Torácico
Embora menos comum, a síndrome do desfiladeiro torácico pode afetar a artéria carótida. Essa condição ocorre quando há compressão dos vasos sanguíneos ou nervos que passam pelo desfiladeiro torácico, uma passagem entre a clavícula e a primeira costela. Essa compressão pode afetar o fluxo sanguíneo nas artérias carótidas e subclávias, causando sintomas neurológicos semelhantes aos de um AVC.
Avaliação das carótidas
A avaliação das artérias carótidas pode ser feita através de diversos exames que permitem identificar a presença de estenoses, placas de aterosclerose, ou outras anormalidades. Os principais exames incluem:
- Doppler de Carótidas (Ultrassom Doppler): o Doppler de carótidas é um exame não invasivo amplamente utilizado para avaliar o fluxo sanguíneo nas artérias carótidas. Ele funciona através da emissão de ondas sonoras que são refletidas pelas células sanguíneas em movimento, permitindo a visualização do fluxo de sangue e a detecção de estenoses (estreitamentos) ou placas de aterosclerose. Esse exame é geralmente o primeiro método escolhido para investigar suspeitas de estenose carotídea, pois é seguro, rápido e não envolve radiação. Além disso, é útil para monitorar pacientes que já têm diagnóstico de aterosclerose, ajudando a avaliar a progressão da doença.
- Angiografia por Tomografia Computadorizada (Angio-TC): é um exame de imagem que combina a tecnologia da tomografia computadorizada com a administração de contraste intravenoso para fornecer imagens detalhadas das artérias carótidas.
- Angiografia por Ressonância Magnética (Angio-RM): semelhante à Angio-TC, a Angio-RM pode fornecer imagens precisas das artérias e é particularmente útil para pacientes que não podem receber contraste iodado, utilizado na tomografia computadorizada. Este exame é menos invasivo do que a angiografia convencional e não envolve exposição à radiação, sendo uma opção segura para a avaliação de estenoses carotídeas e outras condições vasculares.
- Cateterismo: durante este exame invasivo, um cateter é inserido através de uma artéria e guiado até as carótidas, onde um contraste é injetado para visualizar as artérias em tempo real através de raios X. Apesar de ser um exame altamente preciso, é invasivo e apresenta riscos, como hemorragias e infecções, sendo geralmente reservado para casos em que outros métodos não foram conclusivos ou quando uma intervenção é necessária.
- Tomografia Computadorizada (TC) de Crânio: esse exame é útil em pacientes que apresentam sintomas de AVC ou AIT (ataque isquêmico transitório), ajudando a identificar áreas do cérebro que foram afetadas pela redução do fluxo sanguíneo.
De olho na prova!
Não pense que esse assunto fica fora das provas de residência, concursos públicos ou avaliações da graduação. Veja a seguir um exemplo:
GO – Secretaria de Estado da Saúde de Goiás – SES GO – 2024- Residência (Acesso Direto)
Leia o caso clínico a seguir.
Mulher de 68 anos, hipertensa, diabética e dislipidêmica, apresentou quadro de perda da consciência e hemiplegia à direita. Foi encaminhada ao pronto-socorro onde foi levantada a hipótese de doença carotídea aterosclerótica.
Qual dos seguintes exames deverá ser solicitado para iniciar o rastreamento da doença em questão?
A) Angiografia das carótidas.
B) Ecodoppler de carótidas.
C) Angiorressonância de carótidas.
D) Angiotomografia das carótidas.
Opção correta: Alternativa “B”
Comentário da questão:
A estenose carotídea é um tema que aparece com alguma frequência nas provas de Residência. Felizmente, é um tema curto e as perguntas que caem são sempre as mesmas. E o que cai? Basicamente, a confirmação diagnóstica e as indicações de endarterectomia.
A apresentação clínica da aterosclerose das carótidas manifesta-se, basicamente, através de três tipos de episódios:
• Amaurose fugaz: a amaurose fugaz é representada pela perda de visão de início abrupto que geralmente perdura por alguns segundos a minutos. Esse quadro decorre da oclusão temporária da artéria central da retina, ramo da artéria oftálmica que, por sua vez, é ramo da artéria carótida interna.
• Ataque isquêmico transitório: o ataque isquêmico transitório (AIT) é definido como um episódio transitório de disfunção neurológica causada por isquemia cerebral, medular ou retiniana focal, sem que haja dano tecidual permanente. Geralmente, tem início abrupto e duração de poucos minutos.
• Acidente vascular encefálico isquêmico: o acidente vascular encefálico (AVE) isquêmico é uma condição em que há dano permanente ao tecido nervoso, secundário a um processo isquêmico, resultando em disfunções neurológicas permanentes.
Qualquer paciente que apresente um dos três episódios listados acima deve ser submetido a uma investigação diagnóstica das carótidas e o método de escolha para isso é o ultrassom com doppler colorido (duplex scan). A angioressonância, angiotomografia e a arteriografia costumam ser realizadas em contextos pré-operatórios, assim como é feito nos casos de oclusão arterial crônica dos membros inferiores.
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Referências
MOORE, Keith L.; DALLEY, Arthur F.; AGUR, Anne M. R.. Anatomia orientada para a clínica. 8 Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019.
DRAKE, Richard L.; VOGL, A. Wayne; MITCHELL, Adam W. M. Gray’s anatomia clínica para estudantes. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
Brett L Cucchiara, MD. Evaluation of carotid artery stenosis. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate
Michael T Mullen, MDJeffrey Jim, MD, MPHS, FACS. Management of symptomatic carotid atherosclerotic disease. UpToDate, 2023. Disponível em: UpToDate