Olá, querido doutor e doutora! A Síndrome de Creutzfeldt-Jakob é uma doença neurodegenerativa rara e fatal, que representa uma das principais causas de demência de rápida progressão. Caracteriza-se por um quadro clínico grave, com deterioração cognitiva acelerada e sinais neurológicos multifocais. O reconhecimento precoce e a exclusão de causas tratáveis são etapas decisivas na condução do caso.
Apesar de diferentes formas clínicas, todas culminam em uma destruição acelerada e irreversível do tecido cerebral.
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Conceito
A Síndrome de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) é uma condição rara e devastadora que compromete de maneira progressiva o sistema nervoso central. Trata-se de uma encefalopatia priônica humana, caracterizada por uma rápida perda das funções cognitivas, distúrbios motores e deterioração neurológica multifocal. O agente envolvido é o príon, uma proteína com estrutura anormal, que provoca uma cadeia de transformações patológicas em proteínas semelhantes, levando à degeneração cerebral com aspecto espongiforme.
Etiologia e tipos
A origem da Síndrome de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) está relacionada à presença de príons, proteínas mal conformadas que, ao entrarem em contato com proteínas normais do sistema nervoso, induzem sua conversão para a forma patológica. Essas proteínas anormais se acumulam no tecido cerebral, provocando destruição neuronal e vacuolização do parênquima encefálico, resultando em uma encefalopatia de padrão espongiforme.
A doença pode se manifestar em diferentes formas clínicas, que refletem mecanismos distintos de origem:
DCJ esporádica
É a apresentação mais frequente, responsável por cerca de 85% dos casos. Surge de maneira imprevisível, sem vínculo genético ou exposição conhecida. Acredita-se que mutações espontâneas ou falhas no controle celular da conformação proteica possam estar envolvidas nesse processo.
DCJ hereditária
Resulta de mutações no gene PRNP, que codifica a proteína priônica. Corresponde a aproximadamente 10 a 15% dos casos e segue padrão autossômico dominante. A idade de início costuma ser mais precoce do que na forma esporádica, e o curso clínico pode ser mais lento.
DCJ iatrogênica
É uma forma rara, associada à transmissão acidental do príon em procedimentos médicos. Pode ocorrer por meio de enxertos contaminados (como córnea ou dura-máter), uso de instrumentos neurocirúrgicos mal esterilizados, ou administração de hormônios derivados de hipófise humana contaminada.
Variante da DCJ (vDCJ)
Relacionada à ingestão de carne contaminada com príons bovinos, especialmente durante epidemias de encefalopatia espongiforme bovina (popularmente chamada de “mal da vaca louca”). Essa forma atinge pacientes mais jovens e apresenta sintomas iniciais psiquiátricos mais proeminentes.
Cada uma dessas formas compartilha a mesma via final comum: o acúmulo de príons no sistema nervoso central e a destruição progressiva do tecido cerebral, com manifestações clínicas neurológicas e cognitivas severas.
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Fisiopatologia
A fisiopatologia da Síndrome de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) gira em torno da conversão de uma proteína celular normal, a PrPC (proteína priônica celular), em sua forma anormal e patogênica, a PrPSc (scrapie-like). Essa alteração estrutural não envolve mutações genéticas no momento da conversão, mas sim uma mudança conformacional que torna a proteína resistente à degradação proteolítica.
Uma vez presente no sistema nervoso, a PrPC induz a transformação de outras proteínas normais em cópias anormais, perpetuando um ciclo de replicação patológica. Essas proteínas acumulam-se nos neurônios e no espaço extracelular, levando à morte celular, vacuolização do tecido cerebral e glioses. Com o tempo, o encéfalo adquire um aspecto esponjoso ao microscópio, daí o nome “encefalopatia espongiforme”.
As áreas mais frequentemente afetadas incluem o córtex cerebral, os gânglios da base, o tálamo e o cerebelo. A lesão nessas regiões explica o aparecimento de sintomas como demência rápida, mioclonias, distúrbios motores, ataxia e alterações comportamentais. O padrão de acometimento pode variar conforme a forma clínica da doença, mas a neurodegeneração é invariável.
A resposta inflamatória no sistema nervoso central é discreta ou ausente, o que diferencia a DCJ de outras causas infecciosas ou autoimunes de encefalopatia. A toxicidade da PrPSc parece estar ligada à sua agregação e interferência nas funções celulares básicas, como o transporte axonal e a homeostase iônica, contribuindo para a rápida deterioração neurológica observada na doença.
Epidemiologia e fatores de risco
A Síndrome de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) apresenta baixa frequência populacional, sendo considerada uma condição rara. A incidência estimada é de aproximadamente 1 a 2 casos por milhão de habitantes ao ano, com predominância da forma esporádica, que representa cerca de 85% dos diagnósticos ao redor do mundo. No Brasil, entre 2005 e 2021, foram notificados mais de 1.500 casos suspeitos, com maior concentração nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste.
A forma hereditária é observada em 10% a 15% dos casos e está associada a mutações no gene PRNP, enquanto a forma iatrogênica corresponde a menos de 1% das ocorrências, geralmente vinculada a procedimentos médicos com risco de contaminação por tecidos neurológicos infectados.
Em termos demográficos, a doença afeta mais comumente adultos entre 55 e 74 anos, embora possa surgir em faixas etárias mais precoces, principalmente nas formas hereditária e variante. Não há predominância significativa entre os sexos, embora alguns registros apontem leve predominância feminina.
Do ponto de vista dos fatores de risco, destacam-se:
- Idade avançada, especialmente acima dos 60 anos;
- Histórico familiar de DCJ ou mutações conhecidas no PRNP;
- Procedimentos neurocirúrgicos prévios com instrumentos não adequadamente esterilizados (forma iatrogênica);
- Exposição alimentar a tecidos contaminados por príons, como ocorreu em surtos de encefalopatia bovina (forma variante).
Avaliação clínica
A Síndrome de Creutzfeldt-Jakob (DCJ) se manifesta por um conjunto de sinais e sintomas neurológicos que evoluem de forma rápida e progressiva, tornando-se uma das causas mais agressivas de demência. A apresentação inicial pode ser discreta, com alterações cognitivas e comportamentais inespecíficas, mas em poucas semanas o paciente já apresenta comprometimento funcional severo.
Entre as principais manifestações clínicas, destacam-se:
- Déficit cognitivo de início súbito, com perda de memória recente, dificuldade de raciocínio e desorientação.
- Alterações psiquiátricas precoces, como ansiedade, depressão, apatia, delírios e alterações de humor.
- Mioclonias, que são contrações musculares involuntárias, muitas vezes desencadeadas por estímulos visuais ou sonoros.
- Ataxia e distúrbios da marcha, levando a quedas frequentes e instabilidade postural.
- Afasia, apraxia e agnosia, dependendo das áreas corticais afetadas.
- Distúrbios visuais e alucinações, particularmente na forma variante.
- Síndrome extrapiramidal, com rigidez, bradicinesia e tremores.
- Evolução para mutismo acinético, estado no qual o paciente permanece imóvel e sem comunicação verbal, apesar de estar acordado.
- Convulsões ou crises epilépticas podem ocorrer nos estágios finais.
A progressão clínica é rápida: em poucos meses, o paciente evolui para estado vegetativo e óbito, geralmente dentro de 6 a 12 meses após o início dos sintomas
Diagnóstico
O diagnóstico da DCJ exige uma abordagem combinada entre avaliação clínica e exames complementares, já que os sintomas iniciais podem simular outras condições neurológicas. A apresentação típica envolve declínio cognitivo abrupto, associado a sinais neurológicos como mioclonias, ataxia e distúrbios comportamentais. A ressonância magnética do encéfalo é um dos exames mais sensíveis, com achados sugestivos como hipersinal em difusão cortical e nos núcleos da base. O eletroencefalograma pode mostrar descargas periódicas trifásicas, embora esse padrão seja mais comum em fases avançadas. Na análise do líquor, a detecção da proteína 14-3-3 serve como um marcador indireto de lesão cerebral aguda, e o teste RT-QuIC, quando disponível, oferece alta especificidade para a presença de príons.
Nos casos de suspeita de forma hereditária, recomenda-se a pesquisa de mutações no gene PRNP. Já a confirmação definitiva do diagnóstico exige a análise histopatológica do tecido cerebral obtido por biópsia (rara em vida) ou necropsia. Essas análises identificam a forma anormal da proteína priônica (PrPSc) e o padrão espongiforme do tecido cerebral. O diagnóstico diferencial deve excluir outras causas de demência rapidamente progressiva, como encefalites autoimunes, infecções do sistema nervoso central e doenças metabólicas. Diante de uma apresentação clínica sugestiva e exames compatíveis, o diagnóstico de DCJ provável já é suficiente para orientar a conduta e os cuidados clínicos.
Tratamento
Atualmente, não existe tratamento capaz de interromper ou reverter a progressão da Síndrome de Creutzfeldt-Jakob (DCJ). Diante da natureza neurodegenerativa e da rápida evolução da doença, a abordagem terapêutica é focada em cuidados paliativos, com o objetivo de aliviar sintomas e oferecer conforto ao paciente e à família.
A conduta médica inclui o uso de medicamentos para controlar mioclonias, agitação, insônia e convulsões, além de suporte nutricional, fisioterapia e manejo de complicações clínicas, como infecções respiratórias e distúrbios da deglutição. Em fases avançadas, muitos pacientes requerem suporte enteral e cuidados em domicílio ou em instituições especializadas. O acompanhamento deve ser multidisciplinar, envolvendo profissionais de neurologia, cuidados paliativos, enfermagem, nutrição, psicologia e serviço social, a fim de garantir um plano de cuidados abrangente e humanizado.
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Referências Bibliográficas
- MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil). Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ).
- TAVARES-JÚNIOR, J. W. L. et al. Diagnostic approach in Creutzfeldt-Jakob disease. Dementia & Neuropsychologia, v. 16, n. 3, p. 361–364, 2022.
- NATIONAL INSTITUTE OF NEUROLOGICAL DISORDERS AND STROKE (NINDS). Creutzfeldt-Jakob Disease. 2025.