Olá, querido doutor e doutora! A síndrome de Leriche é uma manifestação avançada da aterosclerose que compromete a circulação na aorta abdominal infrarrenal e nas artérias ilíacas. Embora sua apresentação clássica seja bem definida, o diagnóstico pode ser desafiador, especialmente em fases iniciais ou quando se apresenta de forma atípica.
A tríade clássica da síndrome de Leriche inclui claudicação em membros inferiores, pulsos ausentes e disfunção erétil.
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Conceito
A síndrome de Leriche é uma condição obstrutiva crônica que acomete a porção terminal da aorta abdominal e as artérias ilíacas comuns, resultando em redução do fluxo sanguíneo para os membros inferiores e região pélvica. Esse quadro caracteriza uma forma de doença arterial periférica de localização aortoilíaca, frequentemente associada a manifestações clínicas como claudicação intermitente, ausência de pulsos distais e disfunção erétil em homens.
Trata-se de uma consequência da aterosclerose extensa, que leva à formação de placas e eventual oclusão do lúmen arterial. Essa obstrução progressiva compromete não apenas a circulação dos membros inferiores, mas também pode impactar a perfusão renal, contribuindo para quadros de hipertensão renovascular de difícil controle.
Fisiopatologia
A síndrome de Leriche resulta da obstrução crônica da aorta abdominal infrarrenal e/ou das artérias ilíacas, causada predominantemente por processo aterosclerótico. A formação de placas ricas em lipídios e fibrose promove o estreitamento do lúmen arterial, reduzindo progressivamente o fluxo sanguíneo até a completa oclusão.
Essa interrupção na circulação compromete a perfusão dos membros inferiores e da pelve, podendo afetar também os rins. Quando há envolvimento das artérias renais, ocorre ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona, contribuindo para o surgimento de hipertensão renovascular. A depender da extensão e localização da obstrução, o corpo pode desenvolver uma rede de colaterais para tentar suprir a irrigação distal, mas essa compensação tende a ser limitada nos estágios avançados da doença.
Epidemiologia e fatores de risco
A síndrome de Leriche é mais frequente em homens acima dos 50 anos, sendo rara em mulheres. A doença está inserida no espectro da aterosclerose, e por isso compartilha com outras doenças arteriais periféricas uma prevalência crescente com o envelhecimento e com o acúmulo de comorbidades vasculares.
Diversos fatores aumentam a probabilidade de seu desenvolvimento, com destaque para:
- Tabagismo (principal fator associado);
- Hipertensão arterial sistêmica;
- Dislipidemia;
- Diabetes mellitus;
- Histórico familiar de doença arterial periférica;
- Sedentarismo;
- Obesidade.
Avaliação clínica
A síndrome de Leriche pode permanecer assintomática por longos períodos, sendo descoberta apenas em fases avançadas. Quando sintomática, costuma manifestar-se por uma tríade característica:
- Claudicação intermitente envolvendo nádegas, coxas ou panturrilhas, geralmente bilateral, indicando isquemia muscular durante o esforço;
- Redução ou ausência de pulsos periféricos nos membros inferiores, especialmente em artérias femorais, poplíteas e tibiais;
- Disfunção erétil, resultante da diminuição do fluxo sanguíneo na pelve, principalmente em homens com obstrução proximal.
Além desses achados clássicos, alguns pacientes também relatam fraqueza nas pernas, sensação de peso ou dormência ao caminhar e, em estágios mais avançados, dor em repouso, atrofia muscular ou até lesões isquêmicas nos membros inferiores. A gravidade e a localização dos sintomas variam conforme o grau de obstrução e o desenvolvimento da circulação colateral.
Diagnóstico
O diagnóstico da síndrome de Leriche baseia-se na correlação clínica com exames de imagem vascular que evidenciam a obstrução aortoilíaca. A avaliação inicial deve incluir:
- Exame físico detalhado, com palpação dos pulsos femorais, poplíteos e distais, ausculta de sopros abdominais e avaliação de sinais de isquemia.
- Índice tornozelo-braço (ITB) reduzido, geralmente < 0,9, sugerindo doença arterial periférica.
Os métodos de imagem mais utilizados incluem:
- Ultrassonografia com Doppler: identifica fluxo reduzido ou ausente nos segmentos comprometidos e pode revelar padrões sugestivos de estenose significativa, como o tardus parvus.
- Angiotomografia computadorizada (angio-TC): exame de escolha para caracterizar a extensão da oclusão, o envolvimento de ramos ilíacos e renais e o mapeamento da circulação colateral.
- Arteriografia digital (cateterismo): considerada o padrão-ouro para planejamento cirúrgico, permite visualização direta da lesão e possibilidade de intervenção durante o exame.
Diagnóstico diferencial
A síndrome de Leriche deve ser diferenciada de outras condições que cursam com claudicação, dor em membros inferiores e ausência de pulsos. Os principais diagnósticos diferenciais incluem:
- Coarctação da aorta;
- Estenose de artérias femorais ou poplíteas;
- Dissecção de artérias ilíacas;
- Síndrome da cauda equina;
- Claudicação neurogênica.
Tratamento
O tratamento da síndrome de Leriche depende da gravidade clínica, do grau de obstrução arterial e das condições gerais do paciente. Ele pode ser dividido em abordagens clínicas, endovasculares e cirúrgicas.
Tratamento clínico
É indicado para casos leves, assintomáticos ou quando há contraindicação cirúrgica. Envolve:
- Controle rigoroso dos fatores de risco cardiovascular (hipertensão, diabetes, dislipidemia, cessação do tabagismo);
- Uso de antiagregantes plaquetários;
- Estatinas e vasodilatadores, quando indicados;
- Medidas de reabilitação vascular, como exercícios supervisionados
Tratamento endovascular
Preferido em casos com anatomia favorável e risco cirúrgico elevado. Inclui:
- Angioplastia com balão;
- Colocação de stents nos segmentos estenosados.
Esse método oferece menor tempo de recuperação, mas pode ter taxas de reestenose mais altas dependendo da extensão da obstrução.
Cirurgia aberta
Indicada em pacientes com sintomas graves, claudicação incapacitante, disfunção erétil significativa ou isquemia crítica. As opções incluem:
- Revascularização aortoilíaca com enxerto aortobifemoral;
- Enxerto axilo-femoral em casos com contraindicação para abordagem abdominal;
- Revascularização renal, quando há envolvimento das artérias renais e hipertensão renovascular.
Nos casos em que há rim atrófico com secreção autônoma de renina, pode ser considerada nefrectomia como estratégia de controle pressórico.
Complicações
Sem tratamento adequado, a síndrome de Leriche pode evoluir com complicações potencialmente graves, como:
- Isquemia crítica dos membros inferiores, com dor em repouso, úlceras e risco de amputação;
- Hipertensão renovascular refratária, com risco de lesão renal progressiva;
- Insuficiência cardíaca, decorrente da sobrecarga imposta pela hipertensão persistente;
- Infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral, devido à aterosclerose sistêmica;
- Disfunção erétil irreversível, por isquemia pélvica prolongada;
- Morte súbita, em casos de descompensação cardiovascular aguda.
O prognóstico está diretamente relacionado ao controle dos fatores de risco e à escolha terapêutica oportuna.
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Referências Bibliográficas
- BRAGA, Juarez et al. Síndrome de Leriche como causa de hipertensão renovascular. Revista Brasileira de Hipertensão, v. 13, n. 1, p. 75–78, 2006.
- MARAK, James R. et al. Leriche syndrome: Clinical and diagnostic approach of a rare infrarenal aortoiliac occlusive disease. Radiology Case Reports, v. 19, p. 540–546, 2024.