Resumo de Aracnoidite: conceito, diagnóstico e mais!
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Resumo de Aracnoidite: conceito, diagnóstico e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A aracnoidite é uma inflamação crônica das meninges espinhais que desafia o diagnóstico e a condução terapêutica. Apesar de rara, pode causar dor intensa, limitações funcionais e profundo impacto emocional. O manejo clínico exige sensibilidade, pois o paciente frequentemente enfrenta uma jornada longa de sofrimento antes de receber um diagnóstico adequado.

Em muitos casos, o quadro permanece estável, mas a dor neuropática pode persistir e comprometer significativamente o cotidiano do paciente.

O que é Aracnoidite

A aracnoidite é uma inflamação crônica que afeta a aracnoide, uma das membranas que envolvem e protegem o sistema nervoso central, e o espaço subaracnoideo, onde circula o líquor. Essa inflamação provoca espessamento das meninges, formação de aderências e fibrose entre as raízes nervosas, o que pode comprometer o fluxo do líquor e a nutrição neural.

Aracnoidite ossificante. Esta imagem mostra calcificação na região intraespinhal posterior de L1 a L2.

Fisiopatologia

Na aracnoidite, uma agressão de origem mecânica, química, infecciosa ou inflamatória desencadeia uma reação inflamatória na aracnoide e no espaço subaracnoideo. Esse processo estimula a liberação de citocinas e o aumento da atividade dos fibroblastos, levando à formação de tecido fibroso ao redor das raízes nervosas.

Com a progressão da inflamação, surgem aderências entre as raízes e a dura-máter. Essas aderências reduzem a circulação do líquor, comprometem a oxigenação neural e a eliminação de metabólitos, o que gera sofrimento neuronal contínuo. A falta de nutrição adequada e a compressão prolongada das fibras nervosas explicam o aparecimento de dor neuropática, formigamentos, fraqueza e alterações esfincterianas.

Nos estágios avançados, a inflamação persistente pode causar ossificação da aracnoide e formação de cistos intratecais, ampliando o dano neurológico e dificultando o controle dos sintomas.

Epidemiologia e fatores de risco

A aracnoidite é uma condição rara, com número real de casos ainda incerto devido à dificuldade diagnóstica e à variedade de termos usados para descrevê-la. A literatura descreve menos de mil casos documentados desde o primeiro relato no início do século XX, embora o número real provavelmente seja maior. A doença tem sido observada com mais frequência nos últimos anos, acompanhando o aumento das cirurgias e procedimentos na coluna lombar.

A maioria dos casos envolve adultos de meia-idade, sem predileção clara por sexo, embora algumas séries indiquem discreto predomínio em mulheres. A localização lombar e lombo-sacra é a mais comum, seguida pela torácica.

Os fatores de risco podem ser agrupados em quatro categorias principais:

  • Mecânicos: manipulação cirúrgica da medula ou das meninges, traumas vertebrais, hérnias discais e cirurgias lombares prévias.
  • Químicos: exposição a anestésicos ou contrastes intratecais, injeções epidurais repetidas, derrame sanguíneo no líquor após hemorragia subaracnoidea e uso de substâncias neurotóxicas.
  • Infecciosos: infecções como tuberculose, sífilis, HIV, meningites bacterianas ou fúngicas, que podem alcançar o espaço subaracnoideo.
  • Inflamatórios e autoimunes: condições como espondilite anquilosante, vasculites e síndrome de Guillain-Barré.

Avaliação clínica

Início e evolução dos sintomas

A aracnoidite costuma se desenvolver de forma lenta e progressiva, embora existam casos de instalação mais rápida após um evento desencadeante, como cirurgia ou infecção. O paciente geralmente relata dor lombar persistente, que pode irradiar para os membros inferiores e não melhora com analgésicos convencionais. Essa dor tende a piorar com o tempo e interfere em atividades simples, como permanecer sentado ou de pé por longos períodos.

Dor e alterações sensitivas

A dor neuropática é o sintoma mais marcante. Ela pode ser descrita como queimação, fisgada, choque elétrico ou peso nas pernas. Além da dor, o paciente pode apresentar formigamentos, dormência, hipersensibilidade ao toque e alteração na percepção térmica. Esses sintomas seguem geralmente a distribuição das raízes nervosas comprometidas.

Comprometimento motor

Com a progressão da doença, alguns pacientes desenvolvem fraqueza muscular, principalmente em membros inferiores. A dificuldade para caminhar, a instabilidade e a sensação de rigidez são queixas comuns. Em casos mais graves, pode haver atrofia muscular e limitação funcional significativa.

Alterações autonômicas e esfincterianas

As aderências podem afetar fibras responsáveis por funções autonômicas. Por isso, não é incomum observar urgência urinária, aumento da frequência miccional, constipação ou, em estágios avançados, incontinência. Também podem ocorrer disfunções sexuais, como dor durante o ato ou perda de sensibilidade.

Diagnóstico

Avaliação clínica

O diagnóstico de aracnoidite começa com uma anamnese detalhada e um exame neurológico completo. O médico deve investigar a história de cirurgias ou procedimentos espinhais, episódios infecciosos ou traumas prévios. A dor lombar persistente, de padrão neuropático e frequentemente acompanhada por formigamento, fraqueza e distúrbios esfincterianos, deve levantar a suspeita. A evolução costuma ser gradual e variável, o que exige atenção a pequenas mudanças clínicas ao longo do tempo.

Exames de imagem

A ressonância magnética da coluna é o exame de escolha para confirmar o diagnóstico. Ela permite identificar aglomerados de raízes nervosas, espessamento meníngeo, formação de cistos intratecais, redução do espaço subaracnoideo e sinais de fibrose. Em casos avançados, pode haver siringomielia, atrofia medular ou ossificação da aracnoide.

Quando a ressonância não fornece respostas conclusivas, a tomografia computadorizada com mielografia pode ser utilizada para demonstrar aderências ou bloqueios do fluxo liquórico. A visualização direta por tecaloscopia é um recurso reservado a situações específicas, como suspeita de cistos não evidenciados por outros métodos.

Exames complementares e diferenciais

Testes laboratoriais, eletroneuromiografia e estudos de condução nervosa não são específicos e geralmente têm papel limitado, servindo apenas para descartar outras causas de dor neuropática.

O diagnóstico diferencial inclui hérnia de disco, síndrome pós-laminectomia, mielopatias inflamatórias, tumores espinhais e infecções epidurais. A correlação entre o quadro clínico e os achados de imagem é essencial, já que nem sempre a gravidade dos sintomas corresponde à extensão das alterações radiológicas.

Tratamento e prognóstico

Abordagem terapêutica

A aracnoidite não tem cura definitiva, e o tratamento concentra-se em aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. O plano terapêutico deve ser individualizado, respeitando a intensidade da dor, o grau de limitação funcional e o impacto emocional do quadro.

O controle da dor é o ponto central. O tratamento pode incluir anti-inflamatórios não esteroides, analgésicos opioides em casos selecionados e medicações adjuvantes, como gabapentina, pregabalina e duloxetina, que auxiliam no manejo da dor neuropática. Relaxantes musculares, como o baclofeno, podem ajudar nos espasmos e na rigidez.

Fisioterapia e reabilitação são fundamentais para manter a mobilidade, fortalecer a musculatura e reduzir o impacto funcional da dor. Técnicas de biofeedback, terapia cognitivo-comportamental e treinamento de enfrentamento da dor ajudam o paciente a reconhecer seus limites e adaptar suas atividades de forma segura.

Procedimentos invasivos, como bloqueios nervosos ou neuroestimulação medular, podem ser considerados em casos refratários, sempre com avaliação cuidadosa. As opções cirúrgicas, como adesiolise ou duraplastia, apresentam benefício limitado e risco de recorrência, sendo indicadas apenas em situações muito específicas.

Acompanhamento interdisciplinar

O cuidado com o paciente deve envolver uma equipe multidisciplinar, composta por neurologista, especialista em dor, fisioterapeuta, psicólogo e, quando necessário, urologista e fisiatra. Essa abordagem integrada contribui para uma visão mais ampla do sofrimento físico e emocional do paciente, permitindo intervenções coordenadas e mais eficazes.

Prognóstico

O curso clínico da aracnoidite é bastante variável. Em parte dos pacientes, a doença tende a estabilizar-se, mantendo sintomas crônicos, mas sem piora significativa. Em outros, há progressão lenta, com aumento da dor e perda funcional. Casos graves podem evoluir com déficits motores permanentes, disfunções esfincterianas e comprometimento da autonomia.

A condição ameaça raramente a vida, mas pode reduzir a expectativa e a qualidade de vida por conta da dor contínua e do impacto psicológico. O acompanhamento a longo prazo, com suporte físico, emocional e social, é essencial para minimizar limitações e promover bem-estar.

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Referências Bibliográficas 

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