Resumo de Cólica Infantil: causas, tratamento e mais!
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Resumo de Cólica Infantil: causas, tratamento e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A cólica infantil é um distúrbio funcional benigno e autolimitado, caracterizado por episódios recorrentes de choro intenso e irritabilidade em lactentes saudáveis e bem nutridos, sem causa orgânica identificável. O quadro é motivo frequente de preocupação para os pais e demanda avaliação clínica criteriosa e abordagem centrada no suporte familiar. Sua resolução espontânea geralmente ocorre até os 3 a 6 meses.

A cólica infantil atinge até 20% dos lactentes, iniciando-se nas primeiras semanas de vida e desaparecendo espontaneamente por volta do sexto mês.

O que é cólica infantil 

Cólica infantil é um distúrbio funcional autolimitado e benigno que se manifesta por episódios recorrentes e prolongados de choro, irritabilidade ou agitação, sem causa aparente, em lactentes saudáveis e com crescimento adequado

Diversos critérios diagnósticos clínicos têm sido propostos, entre eles:

  • Critérios de Wessel: choro por ≥ 3 horas por dia, em ≥ 3 dias por semana, durante ≥ 3 semanas consecutivas em lactentes com menos de 3 meses.
  • Critérios de Roma IV: requerem que o lactente tenha menos de 5 meses quando os sintomas iniciam e cessam, com episódios recorrentes e prolongados de choro, irritabilidade ou agitação sem causa identificável, não preveníveis ou resolvidos pelo cuidador, na ausência de febre, doença orgânica ou falha de crescimento.
  • Critérios da Classificação Internacional de Cefaleias (ICHD IIIb): episódios repetidos de choro ou irritabilidade por ≥ 3 horas/dia, em ≥ 3 dias/semana, por ≥ 3 semanas, em lactentes de 0 a 4 meses, sem outra causa detectável.

Epidemiologia  

Incidência e Prevalência

  • Estudos baseados nos critérios de Roma IV relatam prevalência entre 1,9% e 19,2% em lactentes de 0 a 12 meses, sendo de aproximadamente 15% em amostras de crianças de 0 a 6 meses.
  • Quando aplicados os critérios de Roma III, a prevalência observada situa-se entre 4,2% e 5,9%, podendo alcançar 10% em alguns grupos específicos.
  • Estima-se que um em cada cinco lactentes apresente quadro compatível com cólica em algum momento do início da vida.

Distribuição etária e evolução

  • O quadro inicia-se nas primeiras semanas após o nascimento, em geral, entre 2 e 6 semanas.
  • O pico de intensidade ocorre entre 6 e 8 semanas.
  • A resolução espontânea tende a acontecer entre os 3 e 6 meses de vida, acompanhada de maturação neurológica e gastrointestinal.

Fatores demográficos

  • Sexo, idade gestacional, tipo de alimentação (leite materno ou fórmula), condição socioeconômica e época do ano não demonstraram associação significativa com maior risco de cólica.
  • A condição é autolimitada e não afeta o crescimento ou o desenvolvimento neuropsicomotor dos lactentes.

Em síntese, a cólica infantil é um distúrbio comum, transitório e benigno, cuja frequência depende da definição adotada, mas que se resolve espontaneamente geralmente até o final do primeiro semestre de vida.

Fatores de risco 

Fatores parentais e familiares

  • História de enxaqueca nos pais:
    • Migrânea materna está associada a um aumento de 2,5 vezes no risco de cólica no lactente.
    • Migrânea paterna eleva o risco em cerca de duas vezes.
    • Essa associação sugere possível ligação neurogastroentérica entre cólica infantil e distúrbios de sensibilidade visceral, como a enxaqueca.
  • Primiparidade: lactentes primogênitos tendem a apresentar mais episódios de cólica, possivelmente por inexperiência parental e maior ansiedade dos cuidadores.
  • Fatores maternos:
    • Tabagismo durante a gestação ou no puerpério e uso de terapia de reposição de nicotina associa-se a maior incidência de cólica, possivelmente por alteração dos níveis de motilina intestinal.
    • Idade materna avançada, ansiedade, depressão pós-parto e estresse familiar são descritos como fatores relacionados à ocorrência ou agravamento dos sintomas.

Fatores não associados

Estudos consistentes não demonstraram correlação significativa entre cólica infantil e:

  • Sexo do lactente;
  • Idade gestacional (prematuro vs. termo);
  • Tipo de alimentação (leite materno ou fórmula);
  • Modo de alimentação (peito ou mamadeira);
  • Condição socioeconômica;
  • Época do ano;
  • História familiar de alergia alimentar ou atopia.

Avaliação clínica

História Clínica

A história deve explorar em detalhes o padrão de choro e as condições associadas à alimentação e ao comportamento do bebê.

  • O choro típico da cólica é intenso, agudo, difícil de consolar e pode ser acompanhado de flexão das pernas, punhos cerrados, arqueamento do dorso, rubor facial e abdome tenso.
  • Os episódios costumam iniciar entre a 2ª e a 6ª semana de vida, atingem o pico entre a 6ª e 8ª semana e resolvem-se espontaneamente até os 3 a 6 meses.
  • É comum ocorrerem em horários regulares, principalmente no final da tarde ou à noite, com duração ≥ 3 horas por dia, ≥ 3 dias por semana, por ≥ 3 semanas (critérios de Wessel).
  • Deve-se questionar o relacionamento do choro com as mamadas, a frequência e o volume das alimentações, tipo de leite ou fórmula utilizada, padrão de arrotos e regurgitações, além de eventuais dificuldades de pega ou recusa alimentar.
  • É importante investigar a presença de sintomas de alerta, como febre, letargia, distensão abdominal, sangue nas fezes, vômitos biliosos ou em jato, que sugerem causas diferentes da cólica funcional.
  • A anamnese deve incluir histórico familiar (migraine, alergias, atopia), hábitos maternos (tabagismo, dieta, uso de medicamentos) e aspectos psicossociais, como estresse parental, depressão pós-parto e rede de apoio familiar.

Exame físico

O exame físico deve confirmar o estado geral preservado do lactente, com crescimento e desenvolvimento adequados, e sem sinais de doença.

  • Avaliar sinais vitais, peso, estatura e perímetro cefálico, comparando com curvas de crescimento.
  • Observar estado de hidratação, vitalidade, tônus e reatividade.
  • Cabeça e pescoço: verificar fontanelas (tensões anormais podem indicar meningite ou trauma), ouvidos (otite média), mucosa oral (candidíase) e olhos (lacrimejamento, sinais de trauma).
  • Pele: procurar equimoses, queimaduras ou cicatrizes suspeitas, além de icterícia ou exantemas.
  • Tórax e coração: auscultar bulhas, identificar sopros ou sinais de insuficiência cardíaca.
  • Abdome: avaliar distensão, massas, hérnias, dor à palpação, e observar o padrão de evacuação.
  • Genitais e períneo: inspecionar em busca de fissura anal, torsão testicular, edema peniano ou sinais de infecção urinária.
  • Extremidades: examinar possíveis sinais de trauma ou síndrome do torniquete capilar.
  • Neurológico: observar nível de alerta, irritabilidade, hipoatividade ou letargia.

Sinais de alerta (red flags)

A presença de qualquer um dos achados abaixo descarta o diagnóstico de cólica funcional e exige investigação imediata:

  • Febre, letargia ou irritabilidade extrema;
  • Distensão abdominal importante;
  • Vômitos biliosos ou em jato;
  • Sangue ou muco nas fezes;
  • Falha de crescimento ou perda ponderal;
  • Fontanela abaulada ou sinais neurológicos anormais;
  • Lesões de pele suspeitas de abuso físico;
  • Alterações cardíacas, respiratórias ou urinárias.

Diagnóstico 

Diversos conjuntos de critérios são utilizados na prática clínica e em pesquisas para padronizar o diagnóstico:

  • Critérios de Wessel (clássicos)
    Definem cólica infantil como choro ou irritabilidade por ≥ 3 horas por dia, em ≥ 3 dias por semana, durante ≥ 3 semanas consecutivas, em lactente com menos de 3 meses e sem doença identificável.
  • Critérios de Roma IV (atuais e mais abrangentes)
    Consideram cólica em lactente com menos de 5 meses quando:
    • Os episódios de choro, agitação ou irritabilidade são recorrentes e prolongados, sem causa aparente e não preveníveis ou resolvidos pelo cuidador;
    • O lactente não apresenta febre, falha de crescimento ou doença aguda;
    • Para estudos clínicos, pode-se exigir registro de choro ≥ 3 horas por dia em ≥ 3 dias por semana, confirmado por diário comportamental de 24 horas.
  • Critérios da Classificação Internacional de Cefaleias (ICHD IIIb)
    Reconhecem a cólica como possível manifestação precoce de enxaqueca, com episódios de choro ≥ 3 horas/dia, em ≥ 3 dias/semana, durante ≥ 3 semanas, em lactentes de 0 a 4 meses, sem causa orgânica detectável e sem comprometimento do crescimento.

Exames Complementares

  • Não são necessários em lactentes com história e exame físico normais.
  • Devem ser solicitados somente quando há achados anormais ou suspeita de causa orgânica.
  • Um exame clínico anormal descarta o diagnóstico de cólica até que a etiologia subjacente seja esclarecida.

Tratamento

Abordagem geral

O tratamento da cólica infantil é predominantemente conservador e visa reduzir o desconforto do lactente e tranquilizar os cuidadores. Trata-se de uma condição benigna e autolimitada, com resolução espontânea até os 3 a 6 meses de vida. O ponto central é orientar a família de que o quadro não causa prejuízos à saúde ou ao desenvolvimento e o bebê voltará gradualmente ao padrão normal de sono e alimentação.

Medidas comportamentais e de conforto

As estratégias incluem reduzir estímulos durante os episódios, embalar suavemente o bebê, utilizar ruído branco ou banho morno, e manter ambiente calmo e pouco iluminado. Deve-se assegurar rotina regular de sono e momentos de descanso para os cuidadores. O aleitamento materno deve ser mantido, com verificação da pega e da técnica de amamentação. Em lactentes alimentados com fórmula, recomenda-se evitar superalimentação, ajustar o fluxo do bico, arrotar com frequência e manter o lactente semi-inclinado durante as mamadas.

Intervenções dietéticas

Em casos refratários, podem ser tentadas modificações alimentares. Em lactentes amamentados, a mãe pode adotar uma dieta de exclusão de alimentos potencialmente alergênicos, como leite de vaca, soja, ovos, trigo e castanhas, por duas semanas. Nos alimentados por fórmula, pode-se realizar um teste com fórmula extensamente hidrolisada ou com baixo teor de lactose por curto período. Se houver melhora, recomenda-se manter até 3 a 6 meses e depois reintroduzir gradualmente a fórmula original.

Probióticos e lactase

O uso de probióticos, especialmente Lactobacillus reuteri DSM 17938 e Bifidobacterium lactis BB-12, pode ser considerado em lactentes amamentados, com evidência de redução moderada do tempo de choro após três semanas de uso. Em bebês que recebem fórmula, a eficácia é incerta. A lactase em gotas pode ser testada por 48 horas para investigar deficiência transitória de lactase, embora os resultados sejam variáveis.

Terapias e medicamentos não recomendados

Substâncias como simeticona, sacarose oral e antiespasmódicos não mostraram benefício e podem causar efeitos adversos. Fitoterápicos, manipulações osteopáticas e acupuntura apresentam evidência limitada e inconsistente, devendo ser evitados como rotina.

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Referências Bibliográficas 

  1. DYNAMED. Infantile Colic. EBSCO Information Services, 2024. Disponível em: https://www.dynamed.com/condition/infantile-colic

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