Resumo de Controle da Temperatura Perioperatória
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Resumo de Controle da Temperatura Perioperatória

Olá, querido doutor e doutora! O controle da temperatura perioperatória constitui um componente relevante do cuidado ao paciente cirúrgico, influenciando diretamente a segurança anestésica e a evolução pós-operatória. Alterações térmicas podem ocorrer desde a indução anestésica até a recuperação, exigindo avaliação sistemática, monitorização contínua e intervenções adequadas. 

Na ausência de medidas ativas de aquecimento, a hipotermia perioperatória pode ocorrer mesmo em procedimentos de curta duração.

O que é o controle da temperatura perioperatória 

O controle da temperatura perioperatória refere-se ao conjunto de medidas adotadas para monitorar e manter a temperatura corporal dentro de valores adequados durante os períodos pré-operatório, intraoperatório e pós-operatório. O objetivo é evitar variações térmicas não intencionais, principalmente a hipotermia perioperatória, definida como temperatura corporal central inferior a 36 °C, assim como episódios de hipertermia associados ao cuidado cirúrgico.

Fisiopatologia da hipotermia perioperatória 

Alterações da termorregulação induzidas pela anestesia

A hipotermia perioperatória decorre principalmente da interferência da anestesia nos mecanismos centrais de controle térmico. Anestésicos gerais e técnicas neuraxiais reduzem os limiares de ativação da vasoconstrição e do tremor, diminuindo a capacidade do organismo de conservar e produzir calor diante da exposição ao frio.

Redistribuição inicial do calor corporal

Após a indução anestésica, ocorre uma queda rápida da temperatura central relacionada à redistribuição do calor do compartimento central para os tecidos periféricos. Esse fenômeno é mais intenso na primeira hora do intraoperatório e explica a redução precoce da temperatura, mesmo antes de perdas significativas para o ambiente.

Perda progressiva de calor para o ambiente

Na fase subsequente, a temperatura corporal reduz-se de forma gradual devido à perda contínua de calor por radiação, convecção, condução e evaporação. A exposição de grandes áreas corporais, o preparo da pele, a ventilação com gases frios e a baixa temperatura da sala operatória contribuem para esse processo.

Fase de platô térmico

Em estágios mais avançados, a temperatura corporal tende a estabilizar-se quando a produção metabólica de calor se equilibra com as perdas térmicas ou quando o limiar residual de vasoconstrição é alcançado. Essa fase ocorre mais tardiamente e é influenciada pelo tipo de anestesia e pelas condições clínicas do paciente.

Fatores iatrogênicos associados

A administração de fluidos intravenosos não aquecidos, transfusão de hemoderivados frios, uso de soluções de irrigação à temperatura ambiente e ventilação com gases não aquecidos intensificam o desequilíbrio térmico. A soma desses fatores explica a elevada frequência de hipotermia perioperatória na ausência de medidas ativas de aquecimento.

Fatores de risco para hipotermia perioperatória 

Fatores relacionados ao paciente

Pacientes com idade avançada, baixo índice de massa corporal e comorbidades cardiovasculares apresentam maior suscetibilidade à hipotermia perioperatória. Temperatura corporal pré-operatória reduzida e limitação da resposta autonômica também favorecem maior perda térmica durante o procedimento.

Fatores relacionados à anestesia

O uso de anestesia geral, especialmente quando associada à anestesia regional, aumenta a interferência nos mecanismos de termorregulação. Fármacos sedativos e analgésicos, como benzodiazepínicos e opioides, reduzem a capacidade de resposta ao frio, ampliando a redistribuição térmica e a perda de calor.

Fatores relacionados ao procedimento cirúrgico

Cirurgias de maior duração e maior complexidade estão associadas a maior exposição corporal e maior tempo de perda térmica. Procedimentos de grande porte, cirurgias cavitárias e intervenções com extensa manipulação tecidual aumentam o risco de redução da temperatura corporal.

Fatores ambientais e operacionais

Temperatura baixa da sala operatória, uso de fluidos intravenosos e soluções de irrigação não aquecidos, ventilação com gases frios e preparo antisséptico prolongado contribuem para o desequilíbrio térmico. A ausência de medidas ativas de aquecimento potencializa esses fatores.

Fatores farmacológicos associados

O uso pré-operatório de benzodiazepínicos, opioides e outros depressores do sistema nervoso central está associado a maior risco de hipotermia, devido à redução da percepção térmica e da resposta vasoconstritora ao frio.

Avaliação e monitorização da temperatura corporal

Importância da monitorização contínua

A monitorização da temperatura corporal ao longo de todo o período peroperatório permite detecção precoce de desvios térmicos e direciona intervenções oportunas. Em pacientes submetidos a anestesia geral ou procedimentos prolongados, a monitorização contínua é recomendada desde a indução anestésica até a recuperação pós-anestésica.

Locais e métodos de aferição

A temperatura corporal central representa a medida mais fidedigna do estado térmico do paciente. Os locais mais utilizados incluem esôfago distal, nasofaringe, membrana timpânica e bexiga, desde que haja débito urinário adequado. Métodos periféricos, como axilar ou cutâneo, apresentam maior variabilidade e devem ser interpretados com cautela.

Frequência das medições

Durante o intraoperatório, a temperatura deve ser registrada antes da indução anestésica e reavaliada periodicamente ao longo do procedimento. No pós-operatório imediato, a monitorização deve ser mantida até a estabilização térmica, especialmente em pacientes com temperatura inferior a 36 °C.

Estratégias de prevenção da hipotermia 

Medidas no período pré-operatório

A prevenção da hipotermia inicia-se com a identificação precoce de pacientes em risco e a aferição da temperatura corporal antes da anestesia. A manutenção do paciente adequadamente coberto, a redução do tempo de exposição corporal e o início de aquecimento ativo pré-operatório em pacientes com temperatura reduzida ou submetidos a procedimentos de maior porte contribuem para minimizar a queda térmica inicial.

Estratégias durante o intraoperatório

No intraoperatório, a prevenção baseia-se na monitorização contínua da temperatura e na aplicação sistemática de métodos de aquecimento. O uso de aquecimento ativo desde a indução anestésica, a limitação da exposição corporal ao campo cirúrgico necessário e o controle da temperatura ambiente da sala operatória reduzem as perdas de calor por radiação e convecção.

Manejo de fluidos e soluções

A administração de fluidos intravenosos aquecidos, hemoderivados aquecidos e soluções de irrigação em temperatura adequada reduz a perda térmica associada à infusão de grandes volumes. Essa estratégia é especialmente relevante em cirurgias prolongadas ou com reposição volêmica significativa.

Cuidados no período pós-operatório

No pós-operatório imediato, deve-se manter a monitorização térmica e continuar as medidas de aquecimento até a normalização da temperatura corporal. Pacientes com temperatura inferior a 36 °C devem receber aquecimento ativo contínuo, associado a isolamento térmico adequado, até estabilização clínica.

Manejo da hipotermia no pós-operatório

Reconhecimento e confirmação diagnóstica

No pós operatório imediato, a hipotermia deve ser identificada por mensuração da temperatura corporal, preferencialmente com método que estime temperatura central. Considera-se hipotermia quando a temperatura é inferior a 36 °C. Além do valor numérico, é útil correlacionar com sinais clínicos como tremores, desconforto térmico, vasoconstrição periférica e instabilidade hemodinâmica.

Aquecimento ativo como conduta de primeira linha

O manejo baseia-se em aquecimento ativo cutâneo para acelerar o retorno à normotermia e melhorar conforto. Métodos como aquecimento por ar forçado ou dispositivos condutivos devem ser mantidos de forma contínua, com ajustes conforme resposta clínica e temperatura medida, evitando interrupções desnecessárias durante a permanência na sala de recuperação.

Suporte clínico e correção de fatores associados

Deve-se revisar fatores que perpetuam perda térmica, como exposição corporal, administração de fluidos não aquecidos e ambiente frio. Quando houver tremores intensos, é importante avaliar repercussões como aumento de consumo de oxigênio, taquicardia e piora da dor, além de tratar causas concomitantes que possam aumentar a demanda metabólica.

Monitorização seriada e critérios de estabilidade

A temperatura deve ser reavaliada em intervalos regulares durante o reaquecimento, com registro do método e local de medida. A transferência para enfermaria deve ocorrer após estabilização térmica com temperatura igual ou superior a 36 °C, associada a parâmetros hemodinâmicos e respiratórios estáveis, além de adequada analgesia e recuperação anestésica.

Hipertermia perioperatória

Principais mecanismos envolvidos

A hipertermia pode ocorrer por excesso de aquecimento externo, aumento da produção metabólica de calor ou redução da dissipação térmica. Situações como uso prolongado de dispositivos de aquecimento, ambiente operatório aquecido e isolamento térmico excessivo favorecem esse cenário. Em alguns casos, há elevação do ponto de ajuste térmico relacionada a processos inflamatórios ou infecciosos.

Hipertermia maligna

A hipertermia maligna é uma condição farmacogenética associada ao uso de anestésicos inalados e bloqueadores neuromusculares despolarizantes. Caracteriza-se por hipermetabolismo muscular, elevação rápida da temperatura, rigidez muscular, acidose metabólica e alterações hemodinâmicas. Trata-se de situação aguda com potencial de rápida deterioração clínica, exigindo reconhecimento imediato e intervenção específica.

Avaliação diagnóstica

A avaliação deve incluir monitorização contínua da temperatura, análise do contexto anestésico e cirúrgico e investigação de sinais associados, como rigidez muscular, aumento do dióxido de carbono expirado, taquicardia e instabilidade hemodinâmica. A diferenciação entre hipertermia por aquecimento excessivo, febre e hipertermia maligna orienta a conduta adequada.

Condutas iniciais

O manejo inicial envolve a interrupção imediata de fontes de aquecimento e a promoção da perda de calor por meios físicos quando indicado. Na suspeita de hipertermia maligna, deve-se suspender agentes desencadeantes, iniciar medidas de suporte clínico intensivo e acionar protocolos específicos para tratamento, incluindo terapia medicamentosa apropriada e monitorização em ambiente de alta complexidade.

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Referências bibliográficas 

  1. EBSCO INFORMATION SERVICES. Perioperative Temperature Management. DynaMed. Atualizado em 2025.

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