Resumo de corrimento vaginal: diagnóstico, tratamento e mais!

Resumo de corrimento vaginal: diagnóstico, tratamento e mais!

O corrimento vaginal anormal é uma das queixas mais frequentes entre as mulheres, principalmente, nas que estão em idade reprodutiva. Muitas vezes antes de buscar atendimento médico realizam automedicação por constrangimento em buscar ajuda.  

Confira os principais aspectos referentes ao corrimento vaginal, que aparecem nos atendimentos e como são cobrados nas provas de residência médica! 

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Definição de corrimento vaginal

Corrimento vaginal fisiológico

A vulva e o canal vaginal apresentam uma secreção fisiológica em mulheres com idade reprodutiva, geralmente de coloração branca, transparente e fluida, sem odor fétido ou sintomas associados.

Estas secreções são originadas das glândulas sebáceas, de Bartholin e Skene, além de ser composta por transudato da parede vaginal, de células vaginais e cervicais descamadas, líquidos endometriais (muco cervical), leucócitos e dos microrganismos comensais e seus produtos metabólicos. 

Em relação aos microrganismos, predominam predomina a flora aeróbica em relação a anaeróbica numa proporção 10:1. Dos aeróbicos, predominam os lactobacilos (principalmente Bacilos de Döderlein), além do Streptococcus agalactiae e Staphylococcus epidermidis e E. coli. Dos anaeróbios, a Gardnerella vaginalis é a mais prevalente. 

#Ponto importante: Até 30% das mulheres saudáveis podem ter presentes nas secreções o fungo Candida sp., sem que isso represente candidíase. 

Uma das funções mais importantes do corrimento vaginal fisiológico é a produção de ácido lático pelos lactobacilos, que mantém o pH ácido, entre 4 e 4,5. Associado a produção de peróxido de hidrogênio, isso contribui para que ocorra menor proliferação de bactérias patogênicas. 

Corrimento vaginal anormal  

O corrimento vaginal patológico é a manifestação clínica principal das vulvovaginites, geralmente associados a outros sinais e sintomas, como desconforto, prurido, odores fétidos e pH vaginal anormal. 

As vulvovaginites e vaginoses são as causas mais comuns de corrimento vaginal patológico, afecções do epitélio estratificado da vulva ou vagina. É causado principalmente por crescimento anormal de fungos, bactérias anaeróbicas ou protozoários.

Principais causas de corrimento vaginal

Dos indivíduos que se apresentam corrimento vaginal, aproximadamente 70% serão diagnosticados com uma das três infecções vaginais: vaginose bacteriana (40 a 50 %), Candidíase (20 a 25%) ou tricomoníase (15 a 20%).  

Vaginose bacteriana

É a vulvovaginite mais comum, causada por um estado de desequilíbrio da flora vaginal caracterizado pela diminuição dos lactobacilos e aumento de bactérias anaeróbias. Não é considerada uma infecção sexualmente transmissível e acomete 30 a 40% das menacmes.

O anaeróbio mais envolvido nessa infecção é a Gardnerella. Outros incluem Mobiluncus, Ureaplasmas, Clostridium e Mycoplasma. A supressão dos lactobacillus contribuem para o aumento do pH vaginal. 

Os sintomas são corrimento vaginal de intensidade variável, acompanhado de odor vaginal fétido, tipicamente caracterizado como “odor de peixe”, ocasionado pela produção de aminas voláteis pelas bactérias anaeróbias. O corrimento e desconforto pioram com o intercurso sexual desprotegido e durante a menstruação. 

O odor fétido pode ser provocado durante exame especular, através do teste das aminas (whiff test), com adição de hidróxido de potássio a 10% sobre o corrimento vaginal. 

Os critérios de Amsel  são utilizados para diagnóstico da vaginose bacteriana. E quem gosta de critérios diagnósticos? Isso mesmo, as bancas de residência. Então preste bastante atenção neste tópico. Requerem três dos quatro itens a seguir: 

  1. Corrimento vaginal branco-acinzentado homogêneo aderente às paredes vaginais;
  2. Medida do pH vaginal maior do que 4,5; 
  3. Teste das aminas (whiff test) positivo: 
  4. Presença de “clue cells” (células epiteliais cobertas por bastonetes gram-negativos aderentes, observadas em esfregaços vaginais de mulheres com vaginose bacteriana)
A) Montagem úmida mostrando clue cells características. Observe que as células epiteliais são tão fortemente cobertas por bactérias que obscurecem as margens. B) A célula epitelial vaginal à direita tem bordas desgrenhadas obscurecidas por cocobacilos. Crédito: Uptodate

Candidíase

É um processo inflamatório vaginal causado pela proliferação de fungos no meio vaginal, sendo a Candida albicans a espécie encontrada entre 85% a 95% dos casos. Por fatores ainda pouco conhecidos, todavia, passa do estado de saprófita para o estado infeccioso, gerando processo inflamatório e o aparecimento de sintomas.

Os principais sintomas são prurido e corrimento esbranquiçado, grumoso e sem odor, mais intensos no período pré-menstrual. Outros sintomas incluem disúria externa e dispareunia. Ao exame especular, verificam-se hiperemia da mucosa vaginal e presença de conteúdo vaginal esbranquiçado ou amarelado, em quantidade variável, de aspecto fluido, espesso ou flocular. 

Corrimento esbranquiçado na Candidíase. Crédito: Febrasgo, 2010. 

Tricomoníase

É considerada uma DST, causada pelo parasita flagelado Trichomonas vaginalis. Após penetrar na vagina, este parasito adere fortemente às células epiteliais e fagocita bactérias, fungos e células do hospedeiro para sobreviver. Provoca resposta inflamatória intensa, aumenta pH vaginal e facilita a aquisição de outras infecções, inclusive a do HIV. 

Os sinais e sintomas incluem corrimento vaginal amarelo–esverdeado, malcheiroso e fino com queimação associada, prurido, disúria, frequência e/ou dispareunia. Ao exame especular, verifica-se aumento do conteúdo vaginal de coloração amarelada ou amarelo-esverdeada, por vezes, acompanhado de pequenas bolhas. O método mais utilizado para o diagnóstico é a bacterioscopia a fresco, pelo qual se observa o parasita com movimentos pendulares.   

Outros

As infecções cervicais, gonorréia e clamídia, também são comumente diagnosticadas como causas de corrimento em mulheres sexualmente ativas. Causas menos comuns incluem: 

  • Vaginite descamativa: vaginite purulenta crônica que ocorre de forma pouco frequente, mais comum no climatério. A etiologia é desconhecida, mas em alguns casos, têm sido identificados Streptococcus do grupo B e Escherichia coli. 
  • Vaginose citolítica: causada pela excessiva proliferação de Lactobacillus, pela redução do pH vaginal e pela citólise, levando ao aparecimento de sintomas.
  • Vaginite atrófica: mulheres hiperestrogênicas podem apresentar atrofia vulvovaginal, causando sintomas.

Tratamento do corrimento vaginal

  • Vaginose Bacteriana: O tratamento da VB visa a cobertura de anaeróbios. O esquema mais utilizado é o metronidazol 500 mg por via oral, duas vezes ao dia, durante sete dias. Pode ser feito o uso alternativo Tinidazol ou clindamicina via oral ou uso tópico de gel intravaginal a base de Metronidazol ou clindamicina ao deitar. 
  • Candidíase: necessita de tratamento medicamentoso e geralmente há remissão logo após o término do tratamento. A candidíase vaginal pode ser tratada com cremes vaginais, de 3 a 7 dias, ou comprimidos orais de dose única. 

As opções sistêmicas via oral incluem Fluconazol 150 mg, dose única ou Itraconazol 200 mg, 12/12h apenas 1 dia ou cetoconazol 200mg, 12/12h, por 5 dias. Opções tópicas incluem  clotrimazol, miconazol, isoconazol, fenticonazol, terconazol e até mesmo a Nistatina (tempo de tratamento mais longo). 

  • Tricomoníase: Os esquemas de tratamento recomendados são metronidazol 2g por VO em dose única ou tinidazol 2g por VO em dose única. Alternativamente, pode ser utilizado metronidazol 500 mg a cada 12 horas, durante sete dias.

#Ponto importante: No caso da tricomoníase, o parceiro também deve realizar o tratamento. 

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Veja também:

Referências bibliográficas:

  • Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetricia – FEBRASGO. Manual de orientação em trato genital inferior e colposcopia / Guidelines Manual in the lower genital tract and colposcopy. Cap 06.  São Paulo; FEBRASGO, 2010.
  • SOBEL, Jack D. Vaginal discharge (vaginitis): Initial evaluation. Uptodate
  • Linhares IM, Amaral RL, Robial R, Eleutério Junior J. Vaginites e vaginoses. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), 2018. Disponível em: Link
  • Crédito da imagem em destaque: Pexels
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