Olá, querido doutor e doutora! O globo rompido representa uma das formas mais graves de trauma ocular, associada à perda da integridade da parede do olho e alto risco de dano visual permanente. O reconhecimento precoce, aliado a condutas iniciais adequadas, influencia diretamente o desfecho anatômico e funcional.
O atraso no fechamento cirúrgico do globo está associado a maior risco de infecção intraocular e piores desfechos visuais.
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O que é Globo Rompido
O globo rompido é caracterizado por uma descontinuidade de espessura total da parede ocular, envolvendo córnea, limbo ou esclera, decorrente de trauma contuso ou penetrante. Trata-se de uma emergência oftalmológica, associada à perda da integridade estrutural do olho e ao risco elevado de extrusão de conteúdos intraoculares, como íris, cristalino, vítreo ou retina. A condição pode resultar em comprometimento visual significativo, exigindo reconhecimento imediato e manejo especializado para reduzir agravamento anatômico e funcional.
Anatomia ocular relevante para o trauma
Camadas estruturais do globo ocular
O globo ocular é formado por três camadas principais. A camada fibrosa externa, composta por córnea e esclera, garante resistência mecânica e proteção do conteúdo intraocular, sendo a mais diretamente envolvida no globo rompido. A camada vascular média, constituída por íris, corpo ciliar e coroide, pode exteriorizar-se após a ruptura, originando prolapso uveal. A camada interna, representada pela retina, pode sofrer deslocamento, hemorragia ou lesão secundária ao colapso da parede ocular.
Limbo corneoescleral
O limbo é a região de transição entre córnea e esclera e apresenta relevância anatômica por concentrar áreas de menor resistência estrutural. Lesões nessa região estão associadas a alterações da câmara anterior e maior risco de extrusão de tecidos intraoculares.
Regiões de maior vulnerabilidade
Algumas áreas do globo apresentam menor espessura escleral, como os pontos de inserção dos músculos retos, a região próxima ao nervo óptico e locais de cirurgias oculares prévias. Essas zonas são frequentemente envolvidas em rupturas após trauma contuso.
Compartimentos anterior e posterior
As estruturas anteriores (córnea, câmara anterior, íris e cristalino) e posteriores (vítreo, retina e coroide) são separadas pelo cristalino. A ruptura dessa organização anatômica pode resultar em alterações da pressão intraocular, desorganização do eixo visual e maior risco de complicações intraoculares.
Classificação do globo rompido
A classificação do globo rompido baseia-se no mecanismo do trauma, no grau de comprometimento visual e na localização anatômica da lesão, permitindo padronização da avaliação clínica e melhor comunicação entre equipes.
Classificação quanto ao mecanismo
O trauma pode ser decorrente de impacto contuso, resultando em ruptura por aumento súbito da pressão intraocular, geralmente em áreas estruturalmente mais frágeis. Também pode ocorrer por trauma penetrante, no qual um objeto perfura a parede ocular, podendo gerar ferida de entrada isolada, feridas de entrada e saída ou estar associado à presença de corpo estranho intraocular.
Classificação quanto à acuidade visual inicial
A gravidade funcional pode ser estratificada conforme a acuidade visual na apresentação, variando desde visão preservada até ausência de percepção luminosa, parâmetro utilizado para estimar o potencial de recuperação visual.
Classificação quanto ao defeito pupilar aferente
A presença de defeito pupilar aferente indica maior comprometimento neurossensorial e está associada a desfechos visuais menos favoráveis quando comparada aos casos sem essa alteração.
Classificação por zonas anatômicas
As lesões são divididas em zonas, conforme a extensão posterior da ruptura. A zona I envolve córnea e limbo, a zona II estende-se até 5 mm posteriormente ao limbo na esclera e a zona III compreende lesões localizadas além desse limite, frequentemente associadas a maior complexidade anatômica e funcional.
Etiologia e epidemiologia
Etiologia
O globo rompido resulta de trauma ocular de alta energia, podendo ocorrer por impacto contuso ou mecanismo penetrante. Entre as causas mais frequentes estão acidentes de trabalho, colisões automobilísticas, quedas, agressões, ferimentos por arma branca ou de fogo e lesões esportivas.
Objetos de alta velocidade, materiais metálicos e fragmentos orgânicos aumentam o risco de lesões extensas e contaminação intraocular. Olhos previamente submetidos a cirurgias oculares apresentam maior vulnerabilidade estrutural, favorecendo ruptura mesmo após traumas de menor intensidade.
Epidemiologia
As lesões com globo rompido ocorrem predominantemente em indivíduos do sexo masculino, especialmente adultos jovens, frequentemente em ambientes ocupacionais ou recreativos. Em idosos, a ruptura está mais associada a quedas, geralmente após trauma contuso.
Estima-se elevada incidência global, sendo uma das principais causas de cegueira monocular relacionada ao trauma. Em crianças, embora menos comum, o quadro está frequentemente ligado a acidentes domésticos, fogos de artifício e atividades recreativas sem proteção ocular adequada.
Avaliação clínica
Sintomas referidos
Pacientes com globo rompido geralmente apresentam dor ocular intensa, redução súbita da acuidade visual ou perda visual completa. Podem ocorrer visão borrada, escotomas, fotofobia e diplopia, esta última relacionada a alteração do posicionamento do cristalino ou disfunção dos músculos extraoculares. Náuseas e vômitos podem estar presentes em decorrência da dor e do estímulo vagal.
Achados ao exame físico
O exame pode revelar deformidade do globo, com perda de volume e alteração do contorno ocular. São frequentes hipotonia ocular, câmara anterior rasa ou assimétrica, hipema e hemorragia subconjuntival difusa, especialmente quando circunferencial. A pupila irregular ou em formato pontiagudo, frequentemente orientada em direção ao local da ruptura, é um achado sugestivo.
Sinais oftalmológicos sugestivos
A presença de tecido uveal exteriorizado, com coloração acastanhada ou azul-escura, é altamente indicativa de ruptura da parede ocular. Pode haver extrusão de vítreo, opacificação do reflexo vermelho por hemorragia vítrea e deslocamento ou ausência do cristalino. A identificação de defeito pupilar aferente sugere maior comprometimento neurossensorial e pior prognóstico visual.

Avaliação inicial e condutas de emergência
Prioridades na abordagem inicial
Diante de trauma ocular significativo, deve-se considerar globo rompido até prova em contrário. A avaliação inicial busca identificar rapidamente sinais clínicos de lesão aberta, definir o mecanismo do trauma e reconhecer condições associadas, incluindo fraturas orbitárias e outras lesões traumáticas sistêmicas.
A avaliação da acuidade visual, quando viável, e a pesquisa de defeito pupilar aferente ajudam na estratificação inicial, sempre evitando qualquer manobra que comprima o olho.
Condutas imediatas para evitar piora
A primeira medida é instalar proteção rígida ocular sobre o olho acometido, reduzindo risco de extrusão adicional. Deve-se manter o paciente com cabeceira elevada, orientar não manipular o olho e minimizar movimentos oculares.
Episódios de vômito e esforço aumentam risco de agravamento por elevação de pressão intraocular, portanto é indicado uso de antiemético e analgesia adequada.
Medicações e cuidados gerais
Recomenda-se analgesia com opioides quando necessário e antieméticos por via intravenosa. Em geral, evita-se uso de fármacos com potencial de aumentar sangramento em cenários selecionados. Deve-se revisar e atualizar profilaxia antitetânica conforme o tipo de ferimento e histórico vacinal.
A profilaxia antibiótica sistêmica deve ser iniciada precocemente, com esquema de amplo espectro visando reduzir risco de endoftalmite, sobretudo quando há contaminação, atraso no fechamento ou suspeita de corpo estranho intraocular.
O que não fazer na suspeita de globo rompido
Não realizar tonometria. Evitar colírios e manobras diagnósticas quando a lesão é evidente, incluindo instilação desnecessária de anestésico, fluoresceína ou cicloplégicos. Não remover corpo estranho protruso, pois pode estar funcionando como tamponamento local, devendo ser abordado em ambiente cirúrgico.
Encaminhamento e tempo para cirurgia
Deve-se solicitar avaliação oftalmológica imediata para planejamento de reparo operatório. A conduta recomendada é internação para manejo cirúrgico, com tentativa de correção o mais precocemente possível, idealmente dentro de 24 horas.
Se não houver especialista disponível, está indicada transferência para serviço com capacidade cirúrgica oftalmológica.
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Referências Bibliográficas
- ZHOU, Yujia et al. Open globe injuries: review of evaluation, management, and surgical pearls. Clinical Ophthalmology, v. 16, p. 2545–2559, 2022.
- DYNAMED. Ruptured globe: emergency management. Ipswich: EBSCO Information Services, 2025.



