Olá, querido doutor e doutora! A mastalgia é uma das queixas mais comuns em consultas ginecológicas e clínicas, afetando grande parte das mulheres ao longo da vida. Embora costume gerar preocupação pela associação com câncer de mama, trata-se na maioria das vezes de um sintoma benigno. Sua caracterização em formas cíclica, não cíclica e extramamária permite uma avaliação clínica mais direcionada.
Em até 70% das mulheres, a mastalgia pode ocorrer em algum momento da vida, impactando variavelmente a qualidade de vida.
Navegue pelo conteúdo
Conceito
A mastalgia é definida como dor mamária de intensidade variável, que pode se manifestar como peso, ardor, sensação de pressão ou dor localizada. É um sintoma frequente em mulheres em idade reprodutiva, mas também pode ocorrer no período perimenopausa e, menos comumente, após a menopausa.
Classificação
A mastalgia é classificada em três categorias principais, de acordo com sua relação com o ciclo menstrual e a origem da dor:
Mastalgia cíclica
Caracteriza-se por dor bilateral e difusa, predominando no quadrante superior externo das mamas, com irradiação para axilas e braços. Surge na fase lútea, intensifica-se antes da menstruação e tende a regredir após o início do fluxo. Frequentemente acompanha sintomas da síndrome pré-menstrual.
Mastalgia não cíclica
A dor não guarda relação com o ciclo menstrual, costuma ser unilateral, localizada e persistente. Pode estar associada a cistos, inflamações, traumas, cirurgias prévias, tumores benignos ou malignos, além de alterações ligamentares da mama.
Mastalgia extramamária
Ocorre quando a dor é percebida na mama, mas tem origem em estruturas vizinhas ou sistêmicas, como parede torácica, costocondrite, refluxo gastroesofágico, doenças cardíacas ou distúrbios musculoesqueléticos. Nesses casos, a investigação deve direcionar-se à fonte não mamária da dor.
Epidemiologia
A mastalgia é uma queixa extremamente comum, relatada por 60% a 70% das mulheres ao longo da vida, sendo que 10% a 20% descrevem dor intensa a ponto de interferir nas atividades diárias. Aproximadamente 30% das pacientes procuram atendimento médico em razão desse sintoma.
A forma cíclica é a mais frequente, predominando em mulheres entre 20 e 30 anos, enquanto a não cíclica aparece com maior prevalência entre 30 e 50 anos. Após a menopausa, os episódios tornam-se menos comuns, exceto em usuárias de terapia hormonal.
Estudos mostram impacto negativo na qualidade de vida: até 40% das mulheres relatam prejuízo na atividade sexual, cerca de 30% referem limitação física e 10% mencionam comprometimento do desempenho social ou profissional. A mastalgia em homens é rara, mas pode ocorrer, sobretudo em casos de ginecomastia ou alterações hormonais.
Etiologia e fatores de risco
Mastalgia cíclica
A forma cíclica está diretamente relacionada às flutuações hormonais do ciclo menstrual. O aumento de estrogênio, a queda relativa de progesterona e a elevação da prolactina provocam edema do estroma e maior sensibilidade glandular, o que gera dor e sensação de ingurgitamento.
Outros fatores como gravidez, lactação, perimenopausa e uso de contraceptivos orais ou terapia hormonal também podem intensificar os sintomas. Há ainda a possibilidade de agravamento com cafeína, tabagismo e dietas ricas em gordura, embora a associação não seja totalmente comprovada.
Mastalgia não cíclica
A etiologia não cíclica está mais vinculada a alterações estruturais da mama. Entre as causas mais comuns encontram-se cistos, fibroadenomas, ectasia ductal, mastite, abscessos e traumas locais. Pacientes com mamas volumosas podem apresentar dor devido à tração dos ligamentos de Cooper.
Procedimentos cirúrgicos ou radioterapia também podem desencadear dor persistente. Em menor proporção, a mastalgia não cíclica pode estar associada a neoplasias mamárias e a condições vasculares, como a doença de Mondor.
Mastalgia extramamária
Na forma extramamária, a dor percebida na mama tem origem em estruturas vizinhas ou sistêmicas. Entre os exemplos estão costocondrite, doenças da coluna cervical, refluxo gastroesofágico, angina, colelitíase e até processos infecciosos como herpes zoster.
Além disso, o uso de determinados medicamentos (antidepressivos, anti-histamínicos, anticoncepcionais e terapias hormonais) pode estar envolvido. Fatores emocionais e psicossomáticos, como ansiedade e depressão, também desempenham papel na intensificação dos sintomas.
Fatores de risco gerais
Alguns elementos aumentam a probabilidade de ocorrência de mastalgia, independentemente da classificação: faixa etária entre 20 e 50 anos, uso de hormônios exógenos, dieta rica em gordura, história familiar de doenças mamárias e presença de distúrbios emocionais.
Avaliação clínica
Mastalgia cíclica
O quadro manifesta-se como dor bilateral, difusa e mal delimitada, geralmente descrita como peso, queimação ou sensação de ingurgitamento. A dor predomina no quadrante superior externo, com possível irradiação para axilas e braços. Costuma aparecer na fase lútea do ciclo, piora nos dias que antecedem a menstruação e melhora com o início do fluxo. Muitas pacientes relatam ainda edema mamário, nódulos palpáveis de consistência fibroelástica e associação com sintomas de tensão pré-menstrual.
Mastalgia não cíclica
Caracteriza-se por dor unilateral, localizada e persistente, que não guarda relação temporal com o ciclo menstrual. A intensidade pode variar de moderada a intensa, sendo descrita como pontada ou dor contínua em região específica da mama. Em alguns casos está associada a cistos, fibroadenomas, abscessos ou processos inflamatórios, podendo ser exacerbada por palpação ou movimentos.
Mastalgia extramamária
Apresenta-se como dor referida para a mama, mas cuja origem está fora do tecido mamário. Pode ser desencadeada por movimentos, posturas ou palpação da parede torácica, simulando dor mamária verdadeira. Frequentemente é unilateral e bem localizada nas regiões medial ou lateral da mama. A anamnese cuidadosa pode revelar associação com sintomas digestivos, osteomusculares ou cardiovasculares, sugerindo a origem extramamária da dor.
Diagnóstico
Anamnese
Durante a entrevista, deve-se investigar a caracterização da dor (localização, intensidade, duração, periodicidade, fatores de melhora ou piora), além da relação com o ciclo menstrual. É útil recomendar o registro em um diário da dor, que auxilia a identificar se o padrão é cíclico ou não. A história clínica deve incluir uso de medicamentos, hábitos de vida, antecedentes pessoais e história familiar de câncer de mama.
Exame físico
A avaliação física deve abranger toda a mama e a parede torácica adjacente, incluindo palpação dos quatro quadrantes, aréola, mamilos e linfonodos regionais (axilares, supraclaviculares e infraclaviculares). É importante observar alterações cutâneas, retrações, secreção mamilar e nódulos palpáveis. A palpação da parede torácica e dos músculos peitorais ajuda a diferenciar mastalgia extramamária.
Exames complementares
Na ausência de achados suspeitos ao exame físico, exames de imagem não são necessários em pacientes jovens com dor cíclica difusa. Contudo, estão indicados quando há:
- Mastalgia focal não cíclica;
- Achados suspeitos no exame clínico (nódulo, retração, secreção sanguinolenta, alterações cutâneas);
- Pacientes de maior risco para câncer de mama.
As modalidades mais utilizadas são:
- Ultrassonografia: preferida em mulheres com menos de 30 anos e gestantes;
- Mamografia: indicada a partir dos 40 anos ou em casos suspeitos;
- Ressonância magnética: reservada para situações específicas, não sendo exame de rotina para mastalgia isolada.
Biópsia
Em casos de achados de imagem ou clínicos suspeitos de malignidade, pode ser necessária a realização de punção aspirativa por agulha fina (PAAF) ou biópsia com agulha grossa (core biopsy) para esclarecimento diagnóstico.
Tratamento
O manejo da mastalgia deve ser individualizado, levando em conta a intensidade dos sintomas, o impacto na qualidade de vida e a exclusão de causas malignas. A abordagem segue um modelo escalonado, iniciando por medidas conservadoras e avançando para terapias farmacológicas e hormonais nos casos refratários.
Medidas não farmacológicas
Incluem estratégias simples, que podem aliviar os sintomas na maioria das pacientes:
- Educação e orientação: explicar a natureza benigna da maioria dos casos reduz a ansiedade, o que por si só pode melhorar a dor.
- Apoio físico adequado: uso de sutiãs bem ajustados ou esportivos, que reduzem a mobilidade das mamas.
- Mudanças no estilo de vida: prática regular de atividade física, técnicas de relaxamento, redução da cafeína e de alimentos ricos em gordura saturada.
- Suplementos nutricionais: óleo de prímula e vitamina E são frequentemente utilizados, embora com evidências limitadas de eficácia.
Terapia farmacológica
Indicada quando as medidas conservadoras não são suficientes ou quando a dor impacta atividades diárias:
- Analgésicos e anti-inflamatórios: paracetamol, ibuprofeno ou uso tópico de diclofenaco, com boa resposta em até 80% dos casos.
- Opções tópicas: géis ou adesivos de anti-inflamatórios, preferidos pela menor taxa de efeitos colaterais gastrointestinais.
Terapia hormonal
Utilizada em casos mais graves e refratários:
- Tamoxifeno: considerado o mais eficaz, especialmente na mastalgia cíclica, mas restrito a curto prazo devido ao risco de efeitos adversos (trombose, sintomas vasomotores, alterações endometriais).
- Danazol: único aprovado pelo FDA para mastalgia, porém, associado a efeitos colaterais androgênicos como ganho de peso e alterações menstruais.
- Goserelina: agonista de GnRH reservado para casos extremos, limitado a uso de até seis meses devido à intensidade dos efeitos adversos.
Venha fazer parte da maior plataforma de Medicina do Brasil! O Estratégia MED possui os materiais mais atualizados e cursos ministrados por especialistas na área. Não perca a oportunidade de elevar seus estudos, inscreva-se agora e comece a construir um caminho de excelência na medicina!
Curso Extensivo de Residência Médica
Curso Extensivo Residência Médica - 12 meses
Curso Extensivo Residência Médica - 18 meses
Curso Extensivo Residência Médica - 24 meses
Curso Extensivo Residência Médica - 30 meses
Curso Extensivo Residência Médica - 36 meses
Veja Também
- Resumo de Exame Físico das Mamas: semiologia e mais!
- Resumo de Exame Físico do Pescoço: semiologia e mais!
- Resumo de Exame Físico Abdominal: semiologia e mais!
- Resumo de Sinais Vitais: semiologia, valores de referência e mais!
- Semiologia e Sutura do Zero: conheça o novo curso do Estratégia MED
- Resumo de Ausculta Pulmonar: técnica, sons e muito mais!
- Resumo de estetoscópio: componentes, indicações de uso e mais!
- Resumo de sopros cardíacos: tipos, causas e mais!
Canal do YouTube
Referências Bibliográficas
- TAHIR, Muhammad T.; VADAKEKUT, Elsa S.; SHAMSUDEEN, Shafeek. Mastalgia. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK562195/. Acesso em: 28 set. 2025.
- DynaMed. Mastalgia. EBSCO Information Services, 2025. Disponível em: https://www.dynamed.com. Acesso em: 28 set. 2025.