Resumo de Morte Súbita: conceito, causas, tratamento e mais!
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Resumo de Morte Súbita: conceito, causas, tratamento e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A morte súbita é um evento inesperado e devastador que, geralmente, resulta de causas cardíacas, como arritmias ventriculares fatais e infarto agudo do miocárdio. Ela representa uma das principais causas de mortalidade cardiovascular globalmente, ocorrendo frequentemente sem sinais prévios e, em muitos casos, sendo a primeira manifestação de uma doença cardíaca subjacente. Este texto explora a fisiopatologia, os fatores de risco, o quadro clínico e diagnóstico e as abordagens terapêuticas da morte súbita.

A morte súbita pode ser o primeiro e único sintoma de uma doença cardíaca subjacente, tornando sua prevenção um desafio fundamental na cardiologia moderna.

Conceito de Morte Súbita 

A morte súbita (MS) é definida como um evento inesperado de origem cardíaca ou indeterminada que ocorre em um curto intervalo de tempo, geralmente até uma hora após o início dos sintomas. Em muitos casos, a morte súbita ocorre sem sintomas prévios, tornando-se a primeira manifestação de uma condição cardiovascular subjacente. Este fenômeno é uma das principais causas de mortalidade em todo o mundo, especialmente em indivíduos com doenças cardíacas.

Epidemiologia de Morte Súbita

A morte súbita, especialmente a de origem cardíaca, é um problema significativo de saúde pública em todo o mundo. Estima-se que ela seja responsável por 10% a 20% de todas as mortes em países desenvolvidos, sendo a principal causa de mortalidade cardiovascular. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre 300.000 e 400.000 pessoas sofrem morte súbita cardíaca (MSC) por ano. A incidência varia de 0,04% a 0,1% ao ano em populações gerais.

A idade e o sexo são fatores importantes na distribuição da morte súbita. A incidência de MSC aumenta com a idade, sendo particularmente elevada a partir da sexta década de vida. Em indivíduos mais velhos, a principal causa é a doença arterial coronariana (DAC), enquanto em pessoas mais jovens, incluindo atletas, as causas mais comuns estão relacionadas a doenças genéticas e estruturais, como cardiomiopatias e arritmias hereditárias.

O sexo masculino apresenta maior risco de morte súbita em comparação ao feminino, especialmente em adultos com doenças cardíacas. Em jovens atletas, a morte súbita relacionada ao esporte ocorre com maior frequência em homens, com uma incidência anual estimada de 1 a cada 5.200 atletas masculinos, particularmente no basquete e no futebol americano.

Diferenças étnicas também influenciam a incidência de MSC. Estudos indicam que indivíduos negros têm um risco mais elevado de morte súbita em comparação a indivíduos brancos, mesmo após ajuste para fatores socioeconômicos e de saúde, como hipertensão e diabete. Essa diferença é mais acentuada entre mulheres negras.

Além disso, a morte súbita apresenta variações circadianas, com picos de ocorrência durante as primeiras horas da manhã e uma elevação menor no final da tarde, provavelmente relacionada ao aumento dos níveis de adrenalina e atividade simpática nesses períodos.

Etiologia de Morte Súbita

Doença arterial coronariana (DAC): a DAC é a principal causa de morte súbita, especialmente em pessoas acima dos 35 anos. Cerca de 75% dos casos de morte súbita são atribuídos à DAC. A obstrução das artérias coronárias por placas de aterosclerose pode levar à isquemia miocárdica, infarto agudo do miocárdio (IAM) e subsequentes arritmias fatais, como a fibrilação ventricular. Em muitos pacientes, a MS pode ser a primeira manifestação clínica da DAC, ocorrendo antes mesmo de um diagnóstico prévio de doença cardíaca.

Arritmias cardíacas: as arritmias ventriculares malignas, incluindo fibrilação ventricular e taquicardia ventricular, são as causas imediatas mais comuns de morte súbita. Essas arritmias podem ocorrer em várias condições cardíacas, como após um infarto do miocárdio ou em cardiomiopatias. A fibrilação ventricular é uma arritmia particularmente grave, na qual o coração perde sua capacidade de bombear sangue de maneira eficaz, resultando em colapso circulatório.

Cardiomiopatia hipertrófica (CMH): a CMH é uma causa comum de morte súbita em jovens, incluindo atletas. Esta condição é caracterizada por um espessamento anormal do músculo cardíaco, que pode gerar arritmias fatais.

Síndrome do QT longo (LQTS): distúrbio que afeta a repolarização do coração, aumentando o risco de arritmias ventriculares.

Anomalias coronarianas congênitas: em jovens, anomalias das artérias coronárias, como origem anômala ou compressão durante o exercício, podem levar à isquemia miocárdica e morte súbita. Muitas dessas anomalias podem ser assintomáticas até que ocorra um evento fatal.

Valvulopatias: condições como a estenose aórtica severa e o prolapso da válvula mitral também estão associadas à morte súbita, devido ao impacto hemodinâmico e ao risco de arritmias em indivíduos com essas doenças.

Outras causas: além das causas cardíacas, a morte súbita pode ser desencadeada por embolia pulmonar, dissecção da aorta, ruptura de aneurisma aórtico ou tamponamento cardíaco, todas as condições que podem resultar em colapso hemodinâmico e falência circulatória abrupta.

Fisiopatologia da Morte Súbita

A fisiopatologia da morte súbita, especialmente de origem cardíaca, está fortemente associada a arritmias ventriculares graves, como fibrilação ventricular (FV) e taquicardia ventricular (TV) sustentada. Essas arritmias resultam em contrações desorganizadas dos ventrículos, comprometendo a capacidade do coração de bombear sangue de maneira eficiente, levando à rápida cessação do fluxo sanguíneo para órgãos vitais. Sem intervenção imediata, como desfibrilação, ocorre colapso hemodinâmico, perda de consciência e morte em minutos. A FV é considerada a causa imediata mais comum da morte súbita cardíaca, com a TV muitas vezes precedendo sua ocorrência.

Além das arritmias, a isquemia miocárdica, resultante da obstrução das artérias coronárias, é outro fator fisiopatológico chave. A falta de oxigênio no tecido cardíaco gera instabilidade elétrica no miocárdio, aumentando a predisposição para arritmias fatais. Em pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM), a morte súbita pode ocorrer devido à interrupção do fluxo sanguíneo coronariano e subsequente necrose do músculo cardíaco. Outros fatores desencadeantes incluem alterações metabólicas e distúrbios eletrolíticos, como hipocalemia e acidose, que contribuem para a vulnerabilidade do coração a arritmias letais.

Quadro Clínico de Morte Súbita 

A morte súbita, na maioria das vezes, ocorre de forma abrupta e inesperada, muitas vezes sendo o primeiro evento clínico de uma condição cardíaca subjacente. Em aproximadamente metade dos casos, a morte súbita é precedida por sintomas inespecíficos, como palpitações, dor torácica, dispneia, ou fadiga extrema. Esses sintomas podem surgir de minutos a horas antes do evento, mas muitas vezes são ignorados ou subvalorizados. Em alguns pacientes, episódios de síncope ou pré-síncope podem ocorrer, indicando uma breve interrupção do fluxo sanguíneo cerebral devido a arritmias transitórias. Apesar disso, em um número significativo de casos, não há sinais clínicos prévios evidentes.

No momento do evento, o indivíduo geralmente colapsa rapidamente, apresentando perda de consciência e ausência de pulso palpável, devido à falência súbita da função de bombeamento do coração. A respiração pode ser agonal ou estar completamente ausente. A pele do paciente geralmente se torna pálida ou cianótica, com extremidades frias ao toque. O diagnóstico clínico de morte súbita é feito quando a pessoa entra em parada cardíaca e, sem uma intervenção rápida, como desfibrilação e reanimação cardiopulmonar, o óbito ocorre em poucos minutos. Nos casos em que há testemunhas, o quadro clínico pode ser interrompido com sucesso se o atendimento de emergência for rapidamente implementado.

Diagnóstico de Morte Súbita 

O diagnóstico de morte súbita é, em sua essência, clínico e baseia-se no colapso abrupto de um indivíduo, seguido pela ausência de pulso, respiração e perda de consciência. Quando a morte súbita ocorre em ambiente hospitalar ou em locais com acesso a serviços de emergência, a confirmação diagnóstica é realizada por meio da detecção de parada cardíaca. O eletrocardiograma (ECG) é a ferramenta primária utilizada nesses casos, revelando frequentemente arritmias letais, como fibrilação ventricular, taquicardia ventricular ou assistolia. Em muitos casos, a morte súbita representa o primeiro evento clínico de uma doença cardíaca não diagnosticada previamente.

Exames de imagem, como ecocardiograma, são úteis para detectar cardiomiopatias ou anomalias estruturais cardíacas. A angiografia coronariana é indicada em pacientes com suspeita de doença arterial coronariana. Em casos selecionados, testes genéticos e estudos eletrofisiológicos podem ser necessários para investigar distúrbios hereditários, como síndrome do QT longo e síndrome de Brugada, que podem predispor a arritmias fatais.

Tratamento da Morte Súbita 

O tratamento da morte súbita cardíaca é uma emergência médica que requer intervenção imediata para restaurar a função cardíaca e prevenir danos irreversíveis. A primeira e mais importante medida é a reanimação cardiopulmonar (RCP), que deve ser iniciada o mais rapidamente possível para manter a perfusão cerebral e cardíaca até que uma desfibrilação possa ser realizada. O uso de desfibriladores automáticos externos (DEA) é essencial nos casos de fibrilação ventricular ou taquicardia ventricular sem pulso, pois esses dispositivos podem restabelecer o ritmo cardíaco normal. Nos casos de parada cardíaca testemunhada, a desfibrilação precoce é o fator mais importante para a sobrevivência. A administração de medicamentos, como epinefrina e amiodarona, pode ser indicada durante a reanimação para aumentar a eficácia das manobras e controlar arritmias refratárias.

Complicações e Prognóstico da Morte Súbita

As complicações associadas à morte súbita são predominantemente relacionadas à parada cardíaca prolongada e aos danos consequentes à falta de perfusão dos órgãos vitais, especialmente o cérebro. Quando o paciente sobrevive ao episódio de parada cardíaca, a complicação mais comum e grave é a lesão cerebral hipóxica, resultante da interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro. A gravidade da lesão cerebral depende da duração da parada e da efetividade das manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Outros órgãos, como os rins e o fígado, também podem sofrer danos por hipoperfusão prolongada, resultando em insuficiência renal ou falência múltipla de órgãos. Além das complicações físicas, muitos sobreviventes de parada cardíaca apresentam distúrbios neuropsiquiátricos, como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

O prognóstico após um episódio de morte súbita depende principalmente da rapidez e da eficácia da intervenção. A desfibrilação precoce e a realização imediata de RCP por testemunhas estão fortemente associadas à melhora da sobrevida e recuperação neurológica. Infelizmente, a taxa de sobrevivência a eventos de parada cardíaca extra-hospitalar é baixa, com menos de 10% dos pacientes sobrevivendo até a alta hospitalar em muitos países. No entanto, em contextos hospitalares ou onde o atendimento de emergência é rapidamente disponibilizado, as taxas de sobrevivência são consideravelmente melhores. O prognóstico a longo prazo também depende da causa subjacente do evento e do manejo adequado dos fatores de risco e de possíveis doenças cardíacas. A colocação de dispositivos como desfibriladores implantáveis (CDI) em pacientes de alto risco tem demonstrado reduzir a mortalidade e melhorar a sobrevida a longo prazo.

Cai na Prova 

Acompanhe comigo uma questão sobre o tema (disponível no banco de questões do Estratégia MED): 

RJ – Hospital Casa de Portugal HCP RJ 2018 Qual a causa mais comum de morte súbita cardíaca nos atletas com menos de 35 anos? 

A. síndrome de Brugada 

B. síndrome do QT longo

C. cardiomiopatia hipertrófica

D. origem anômala da artéria coronariana esquerda

Comentário da Equipe EMED: A alternativa “c” está correta. A cardiomiopatia hipertrófica é a forma mais comum de doença cardiovascular de origem genética, tendo prevalência estimada em torno de 0,2%. É uma doença congênita autossômica dominante na qual são conhecidos até o presente momento 12 genes envolvidos, que resultam em mais de 400 mutações genéticas relacionadas com as proteínas contráteis do miocárdio. Caracteriza-se por hipertrofia não-dilatada do ventrículo, que ocorre com mais freqüência no ventrículo esquerdo (VE), na forma assimétrica e com acometimento do septo interventricular, podendo ou não ter obstrução no trato de saída do VE e movimento sistólico anterior da válvula mitral. Isso acarreta uma importante desorganização miofibrilar, hipercontratilidade e hipodiastolia. Geralmente para suspeitarmos do diagnóstico de cardiomiopatia hipertrófica devemos encontrar uma espessura do septo interventricular acima de 15mm ao ecocardiograma, na ausência de causa identificável (por exemplo hipertensão arterial, estenose aórtica grave). Como a maioria dos pacientes portadores de cardiomiopatia hipertrófica é assintomática, a primeira apresentação da doença pode ser com morte súbita cardíaca durante atividade física.

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Veja Também

Referências Bibliográficas 

  1. YOW, Allison G.; RAJASURYA, Venkat; AHMED, Intisar; SHARMA, Sandeep. Sudden cardiac death. StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2024. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK507854/. Acesso em: 13 out. 2024.
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