Resumo de Parassonias: classificação, avaliação e mais!
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Resumo de Parassonias: classificação, avaliação e mais!

Olá, querido doutor e doutora! As parassonias representam manifestações comportamentais que surgem durante o sono, podendo gerar confusão diagnóstica e impacto na rotina do paciente. Embora muitas vezes transitórias e benignas, algumas formas exigem atenção clínica e, em certos casos, investigação especializada. Este texto aborda, de forma objetiva, os principais aspectos clínicos, classificações e condutas frente às parassonias na prática médica.

Durante o episódio, a criança aparenta estar em pânico, com expressão facial de medo e sem reconhecer os pais ou cuidadores.

Conceito de parassonias 

Parassonias são manifestações comportamentais ou perceptivas que ocorrem durante o sono ou em seus momentos de transição. Esses episódios envolvem uma ativação inadequada de sistemas neurológicos enquanto o cérebro deveria estar em repouso, resultando em condutas automáticas, vocalizações, alterações autonômicas ou experiências vívidas, muitas vezes desconectadas da consciência plena.

Esses eventos não indicam um distúrbio estrutural do sono em si, mas refletem uma falha na integração entre os estados de vigília e sono, podendo ocorrer em diferentes fases do ciclo, como no sono NREM, no sono REM ou nas passagens entre sono e vigília. A depender do tipo, o indivíduo pode agir como se estivesse acordado, mesmo permanecendo parcial ou totalmente inconsciente do que está fazendo.

Classificação das parassonias 

As parassonias podem ser organizadas em três grandes grupos, com base no estágio do sono em que ocorrem: durante o sono NREM, durante o sono REM ou em transições e situações que não se encaixam nos dois primeiros grupos. Essa categorização auxilia na compreensão da fisiopatologia envolvida e direciona a abordagem clínica. A seguir, uma tabela com os principais tipos de parassonias:

CategoriaParassonias incluídas
Sono NREMDespertar confusional
Sonambulismo
Terror noturno
Distúrbio alimentar relacionado ao sono
Sono REMTranstorno comportamental do sono REM
Pesadelos
Paralisia do sono
OutrasEnurese noturna
Alucinações relacionadas ao sono
Síndrome da cabeça explosiva
Parassonias induzidas por doenças ou medicamentos

Parassonias do sono REM   

Transtorno comportamental do sono REM (TCSR) 

No TCSR, o bloqueio motor característico da fase REM é perdido, permitindo que o indivíduo execute fisicamente os conteúdos dos sonhos. Esses episódios costumam ocorrer na segunda metade da noite e envolvem vocalizações, movimentos bruscos ou complexos e, em casos mais graves, agressões ao cônjuge ou a si mesmo. A recordação do sonho, frequentemente vívido e com temática ameaçadora, é comum ao despertar. Em adultos, esse distúrbio pode estar associado a doenças neurodegenerativas, como Parkinson e demência com corpos de Lewy.

Pesadelos 

Pesadelos são experiências oníricas vívidas e angustiantes, geralmente relacionadas a ameaças físicas ou emocionais. Ao contrário dos terrores noturnos, o despertar é fácil e há lembrança detalhada do conteúdo. São mais prevalentes em crianças, mas também podem ocorrer em adultos, especialmente em contextos de estresse, trauma ou uso de substâncias que interferem na arquitetura do sono REM, como antidepressivos tricíclicos e inibidores da monoamina oxidase.

Paralisia do sono 

Caracteriza-se pela incapacidade temporária de se mover ou falar ao adormecer ou ao despertar. O episódio, embora breve, pode causar intensa sensação de angústia e, muitas vezes, é acompanhado por alucinações táteis, auditivas ou visuais. A paralisia do sono isolada não está relacionada a distúrbios neurológicos, mas sua recorrência pode ocorrer em indivíduos com privação de sono, ritmo de sono irregular ou narcolepsia.

Parassonias do sono NREM 

Despertar confusional 

Esse tipo de parassonia costuma se manifestar nos primeiros anos de vida, sendo mais frequente entre os dois e cinco anos de idade. Durante o episódio, a criança desperta parcialmente do sono profundo (fase N3), senta-se na cama, observa o ambiente de maneira confusa e apresenta baixa responsividade. Não há interação significativa com o meio, e é comum a amnésia do evento ao despertar completo. A duração costuma ser curta, e não há comportamento motor complexo envolvido, o que ajuda a diferenciá-lo de outras parassonias.

Sonambulismo 

No sonambulismo, o indivíduo se levanta da cama e caminha ou realiza outras atividades motoras com os olhos abertos, porém sem consciência do que está fazendo. As ações podem variar desde andar pela casa até comportamentos mais elaborados, como tentar sair do ambiente ou manipular objetos. O paciente geralmente não responde a tentativas de comunicação e, ao ser acordado, pode apresentar confusão e desorientação temporária. Em crianças, a condição tende a ser transitória, mas em adultos pode persistir ou surgir de forma secundária a outras condições clínicas.

Terror noturno 

Caracterizado por uma ativação abrupta a partir do sono profundo, o terror noturno é marcado por gritos, choro inconsolável e sinais autonômicos intensos, como taquicardia, diaforese e respiração ofegante. Durante o episódio, a criança aparenta estar em pânico, com expressão facial de medo e sem reconhecer os pais ou cuidadores. Diferentemente dos pesadelos, não há recordação do episódio e o despertar completo costuma ser difícil. O quadro tende a desaparecer com o crescimento, mas pode demandar investigação caso persista ou cause repercussões significativas.

Outras parassonias 

Enurese noturna 

A enurese do sono é caracterizada pela perda involuntária de urina durante a noite, em crianças com mais de cinco anos de idade. Ela pode ser classificada como primária, quando nunca houve controle urinário noturno, ou secundária, quando há recidiva após um período de continência. Os episódios geralmente estão relacionados à dificuldade de despertar diante da necessidade de micção, aumento do volume urinário noturno e alterações na função da bexiga. Fatores genéticos, estresse emocional e fragmentação do sono são frequentemente associados. A abordagem inclui medidas comportamentais, controle da ingestão hídrica noturna e, em casos selecionados, uso de alarmes ou desmopressina.

Alucinações relacionadas ao sono 

Essas manifestações sensoriais ocorrem na transição entre vigília e sono (hipnagógicas) ou entre sono e vigília (hipnopômpicas). Podem ser visuais, auditivas ou táteis e, apesar de realistas, não têm base na realidade. São mais comuns em adolescentes e adultos jovens, e, quando isoladas, não indicam doença psiquiátrica ou neurológica. Podem estar associadas à privação de sono, jet lag ou alterações no ciclo circadiano. A orientação ao paciente e medidas de higiene do sono costumam ser suficientes.

Síndrome da cabeça explosiva 

Trata-se da percepção repentina de um som intenso, semelhante a uma explosão, que ocorre no momento de adormecer ou despertar, sem que haja qualquer estímulo externo. Apesar de inofensiva, essa experiência pode gerar ansiedade significativa. Não há associação com cefaleia ou perda auditiva. A fisiopatologia ainda não é totalmente compreendida, e, na maioria dos casos, o simples esclarecimento sobre a natureza benigna do fenômeno já é suficiente para aliviar o desconforto.

Parassonias induzidas por medicações ou doenças 

Certos fármacos, especialmente antidepressivos, inibidores da recaptação de serotonina e substâncias que afetam o sono REM, podem desencadear parassonias. Da mesma forma, algumas condições neurológicas, como epilepsia, doenças degenerativas e traumas encefálicos, também podem gerar manifestações compatíveis. Nesses casos, é fundamental revisar o histórico medicamentoso e investigar com exames complementares, como polissonografia e neuroimagem, para definir a causa e direcionar o tratamento.

Avaliação 

A investigação das parassonias começa com uma anamnese detalhada, explorando as características dos episódios: horário de ocorrência, duração, comportamentos observados, nível de responsividade, fatores desencadeantes e presença ou não de recordação após o evento. Entrevistar um familiar ou parceiro que presencie os episódios é altamente recomendado, pois o paciente nem sempre tem consciência do que acontece durante o sono.

A utilização de um diário do sono por uma ou duas semanas pode ajudar a mapear padrões de sono-vigília. Em casos atípicos, como episódios muito frequentes, violentos, estereotipados ou com risco à integridade física, está indicada a polissonografia com vídeo. Esse exame permite registrar eventos motores, alterações da arquitetura do sono e possíveis diagnósticos diferenciais, como epilepsia noturna ou distúrbios respiratórios.

Por fim, exames complementares podem ser necessários em situações específicas, como suspeita de distúrbios neurológicos, infecções urinárias (no caso de enurese) ou alterações metabólicas. O objetivo da avaliação é definir se o quadro é benigno, transitório ou se há necessidade de investigação e conduta mais aprofundadas.

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Referências Bibliográficas 

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Departamento Científico de Medicina do Sono. Parassonias. Documento Científico nº 2. Dezembro de 2017. 
  1. NEVES, Gisele S. Moura L. et al. Transtornos do Sono: atualização (Parte 2/2). Revista Brasileira de Neurologia, v. 54, n. 1, p. 32-38, jan./mar. 2018. 
  1. FARIBA, Kamron A.; TADI, Prasanna. Parasomnias. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025. 
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