Olá, querido doutor e doutora! O seroma de ferida operatória é uma complicação pós-cirúrgica frequente em procedimentos com ampla dissecção tecidual, podendo impactar a evolução da cicatrização e o seguimento do paciente. Seu reconhecimento adequado permite diferenciar quadros benignos de situações que exigem intervenção.
O seroma resulta da associação entre lesão vascular e linfática, resposta inflamatória local e persistência do espaço morto cirúrgico.
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O que é o seroma de ferida operatória
O seroma de ferida operatória corresponde a uma coleção de líquido seroso que se forma no espaço morto cirúrgico após procedimentos com ampla dissecção tecidual. É observado com maior frequência em cirurgias como mastectomia, linfadenectomia e ressecções de tumores de partes moles.
O conteúdo do seroma é composto predominantemente por plasma extravasado e linfa, com pequena quantidade de células inflamatórias, decorrente de lesão vascular e linfática local durante o ato operatório.
Fisiopatologia do seroma
A fisiopatologia do seroma está relacionada ao acúmulo de líquido seroso em espaços mortos criados após a dissecção cirúrgica. Esse fluido resulta do ultrafiltrado plasmático e linfático, proveniente de vasos linfáticos e sanguíneos lesionados, especialmente quando há retirada de linfonodos ou grande descolamento de tecidos.
A interrupção dos vasos linfáticos aferentes leva ao extravasamento contínuo de linfa até que ocorra reanastomose linfática ou cicatrização local. Paralelamente, há participação de mecanismos inflamatórios, com infiltração de linfócitos T e macrófagos, modulando a resposta local e influenciando o volume e a persistência da coleção.
Achados histopatológicos demonstram neovascularização com endotélio instável, o que facilita a saída de fluido para o espaço morto.
O seroma, portanto, resulta da associação entre lesão vascular e linfática, resposta inflamatória local e falha na obliteração do espaço morto cirúrgico.
Epidemiologia e fatores de risco
O seroma de ferida operatória é uma complicação relativamente frequente em cirurgias com amplo descolamento tecidual, como mastectomia, linfadenectomia, abdominoplastia e reparos herniários. A incidência varia conforme o procedimento e a população avaliada, podendo atingir valores próximos a 25%, especialmente em cirurgias mamárias.
Principais fatores de risco:
- Idade avançada, sobretudo acima de 70 anos;
- Índice de massa corporal elevado, incluindo sobrepeso e obesidade;
- Diabetes mellitus;
- Tabagismo;
- Pior estado geral, refletido por escore ASA mais elevado;
- Uso de anticoagulantes, principalmente em cirurgias de hérnia;
- Desnutrição ou baixo índice nutricional;
- Grande volume de tecido ressecado;
- Localização cirúrgica, com maior risco em regiões como a inguinal;
- Reconstrução com implantes, especialmente mamários;
- Técnica cirúrgica inadequada, com persistência de espaço morto, uso excessivo de eletrocautério ou ausência de suturas de fixação.
Outros fatores associados incluem sexo masculino, inflamação sistêmica, radioterapia prévia e infecção do sítio cirúrgico.
Quadro clínico
O quadro clínico caracteriza-se pela presença de tumefação flutuante ou abaulamento na região operada, geralmente indolor, mas podendo causar desconforto, dor leve ou sensação de pressão local. À palpação, observa-se coleção líquida móvel sob a pele.
Os sinais mais comuns são edema localizado e abaulamento, com hiperemia discreta em alguns casos. Seromas volumosos podem gerar limitação funcional, especialmente em regiões como axila ou membros inferiores.
As complicações possíveis incluem infecção secundária, deiscência da ferida, atraso da cicatrização, formação de pseudobursa, rejeição de próteses ou telas cirúrgicas e necessidade de intervenções repetidas.
A maioria dos seromas apresenta evolução benigna, com resolução espontânea ou após medidas simples.

Diagnóstico
O diagnóstico do seroma baseia-se principalmente em avaliação clínica, com identificação de coleção líquida flutuante na área operada. A inspeção e palpação evidenciam abaulamento subcutâneo, geralmente sem sinais inflamatórios intensos, exceto quando há complicações infecciosas.
A ultrassonografia é o exame de escolha para confirmar a presença, quantificar o volume e diferenciar seroma de hematoma ou abscesso, além de auxiliar na punção guiada quando indicada.
Em situações específicas, como após ressecções oncológicas extensas, ressonância magnética ou tomografia computadorizada podem ser utilizadas para esclarecimento diagnóstico.
Tratamento e prognóstico
Abordagem inicial
Seromas pequenos e assintomáticos podem ser apenas observados, pois tendem à resolução espontânea. Coleções sintomáticas ou volumosas devem ser manejadas com aspiração percutânea, preferencialmente guiada por ultrassonografia, podendo ser repetida conforme necessidade.
Manejo do espaço morto
A obliteração do espaço morto é a principal estratégia preventiva e terapêutica. Suturas de fixação e de tensão progressiva reduzem a incidência de seroma, especialmente em cirurgias de mama e contorno corporal. Casos crônicos podem exigir capsulectomia associada à drenagem cirúrgica.
Uso de drenos
Os drenos de sucção fechada são amplamente utilizados, devendo ser mantidos até redução significativa do débito. A retirada precoce está associada a maior risco de seroma.
Terapias adjuvantes
Selantes de fibrina, colas cirúrgicas e agentes esclerosantes apresentam resultados inconsistentes e não são recomendáveis forma rotineira. A terapia por pressão negativa pode ser útil em casos refratários, promovendo granulação e redução do espaço morto.
Seroma infectado
Na presença de infecção, a incisão e drenagem cirúrgica apresentam melhor resposta clínica que aspiração isolada ou antibióticos sem drenagem.
Prognóstico
O prognóstico é favorável geralmente, com resolução após manejo conservador. Situações crônicas ou infectadas podem demandar intervenção cirúrgica, mas a recorrência é incomum quando a abordagem é adequada.
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Referências bibliográficas
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