Resumo de sofrimento fetal agudo: diagnóstico, tratamento e mais!

Resumo de sofrimento fetal agudo: diagnóstico, tratamento e mais!

A presença de sofrimento fetal agudo é uma das causas mais comuns de interrupção da gestação precocemente. Nesse sentido, a avaliação da vitalidade fetal tem por objetivo compreender se há possibilidade de continuar a gestação, se a interrupção se faz necessária, além de guiar a necessidade de intervenções específicas durante a gestação.  

Definição de sofrimento fetal agudo

O primeiro passo é saber diferenciar a avaliação do sofrimento fetal agudo e crônico. O sofrimento agudo, discutido neste artigo, representa que o feto está sofrendo por hipóxia naquele momento, com alto risco de acidose e óbito e é demonstrado a partir de parâmetros indiretos, como batimentos cardíacos fetais (BCF), perfil biofísico fetal e cardiotocografia. 

Por outro lado, o sofrimento fetal crônico demonstra um processo mais insidioso e crônico de adaptação do feto às condições de hipoxemia, avaliados a partir do volume de líquido amniótico, crescimento fetal adequado e dopplervelocimetria.  

Então, estrategista, vamos compreender agora como avaliar e tomar as condutas adequadas mediante a suspeita de sofrimento fetal agudo, tema muito cobrado nas provas de residência médica

Inscreva-se em nossa newsletter!

Receba notícias sobre residência médica e revalidação de diplomas, além de materiais de estudo gratuitos e informações relevantes do mundo da Medicina.

Fisiopatologia do sofrimento fetal 

Várias podem ser a causa de hipóxia fetal, desde doenças maternas, fetais e intercorrências da gestação:

  • Doenças maternas: Hipertensão crônica e gestacional, Diabetes mellitus prévio e gestacional, pré-eclâmpsia, trombofilias.
  • Intercorrências da gestação: Infecções com transmissão vertical, pós-datismo, insuficiência placentária, poli ou oligodramnia.
  • Doenças fetais: malformações cardíacas, cromossomopatias, restrição de crescimento, macrossomia. 

A teoria da hipoxemia gradual diz que as alterações nos parâmetros de vitalidade fetal irão se alterar na ordem inversa de desenvolvimento embrionário. A ordem de desenvolvimento no embrião dos parâmetros utilizados são:  

  1. Tônus fetal
  2. Movimentos corporais
  3. Movimentos respiratórios 
  4. Frequência cardíaca 

#Ponto importante: Logo, o primeiro parâmetro a alterar na hipoxemia aguda seria o BCF e, por último, o tônus fetal. 

Como resposta à hipoxemia fetal, ocorre aumento do fluxo ao cérebro fetal, por mecanismos de autorregulação da circulação e redistribuição de fluxo fetal. Por outro lado, a perfusão renal prejudicada propicia redução no volume de líquido amniótico pela menor diurese fetal. A movimentação fetal se reduz, como mecanismo de conservação da energia pelo feto.

Avaliação do sofrimento fetal agudo

É possível avaliar a vitalidade fetal (VF) a partir de vários métodos. A presença de movimentos fetais e frequência cardíaca fetal (BCF) visto no exame físico e resposta da FCF ao aumento do tônus fetal são exames básicos e indicados para avaliar a vitalidade fetal de todas as gestantes.

Nas gestações de alto risco, seja por doenças maternas, malformações fetais ou intercorrências da gestação, deve-se proceder com uma avaliação mais avançada. Os métodos mais disponíveis e cobrados em provas são cardiotocografia (CTG), perfil biofísico fetal (PBF) e dopplervelocimetria. 

Quais avaliam sofrimento fetal agudo?

A maior parte dos parâmetros avaliados no PBF e a cardiotocografia são os exames adicionais para confirmar o SFA, porque avaliam como a hipoxemia naquele momento está afetando o BCF e movimentos fetais. 

Quais avaliam sofrimento fetal crônico? 

A USG com dopplervelocimetria, pois avalia a função placentária e a resposta adaptativa do feto na presença de hipoxemia, como redistribuição placentária, além da quantificação de líquido amniótico.    

Sofrimento fetal no PBF

O PBF é o método da propedêutica do bem-estar fetal que estuda conjuntamente as atividades biofísicas e o líquido amniótico. Os parâmetros utilizados são movimentos respiratórios, corporais, tônus fetal e líquido amniótico na USG e avaliação da frequência cardíaca fetal na CTG. 

  • FCF: parâmetros iguais aos de uma cardiotocografia normal. 
  • Movimentos respiratórios: tem que haver pelo menos 1 movimento respiratório em 30 minutos de exame. 
  • Movimentos corporais: Em 30 minutos deve haver pelo menos 1 movimento rápido e amplo, como chute e estirar o braço, ou 3 movimentos lentos e curtos. 
  • Tônus fetal: teoricamente o último parâmetro a se alterar no PBF. Um exame normal é marcado por tônus em flexão ou movimentos corporais ativos, como sugar, movimento das mãos e movimento palpebral.
  • Líquido amniótico: O principal parâmetro avaliado aqui a oligodramânia, marcado por maior bolsão menor que 2 ou ILA < 5. 

Cada item desse recebe uma pontuação de 0 (se alterado) a 2 (se normal), totalizando 10 pontos com avaliação de líquido amniótico, como descrito abaixo:

Crédito: Melo ASO, Souza ASR, Amorim MMR. FEMINA | Junho 2011 | vol 39 | nº 6. 

#Ponto importante: Enquanto a cardiotocografia e os parâmetros de movimentação e tônus fetal demonstram sofrimento agudo, o líquido amniótico é um parâmetro de avaliação de sofrimento fetal crônico. Quando se utiliza apenas os parâmetros de BCF até tônus fetal, é chamado de PBF simplificado. 

Sofrimento fetal na cardiotocografia

A cardiotocografia avalia a frequência dos batimentos cardíacos fetais e sua relação com as contrações uterinas. Os seguintes parâmetros são avaliados:

  • FCF de base: Normal de 110 a 160 bpm.
  • Variabilidade: Representam as oscilações da FCF e demonstram um feto saudável quando classificadas como moderadas. 
    • Indetectável = ausente
    • menor 5 bpm = mínima
    • entre 6 a 25 bpm = moderada
    • maior que 25 = acentuada
    • O padrão sinusoidal de variabilidade é um padrão ondulatório que mimetiza ondas senoidais com variabilidade de 3-5 batimentos por minuto que persiste por 20 minutos ou mais, percebido em fetos gravemente anêmicos.
  • Acelerações: São aumentos periódicos da FCF induzidos por atividade motora do concepto ou por contrações uterinas, com parâmetros normais se a amplitude > 15 bpm, duração > 15 segundos. 

#Ponto importante: O desaparecimento das acelerações é a primeira ocorrência observada à CTG quando da hipóxia fetal, indicando acidose em aproximadamente

50% dos casos. No entanto, pode ser fisiológica no período  de sono do bebê ou ação de droga sedativa administrada à mãe. 

  • Desacelerações: Representa os momentos de desacelerações bruscas da FCF mediante contrações ou outras condições. É classificada em dois tipo:
    • DIP I ou precoce: o pico da desaceleração acompanha o nadir do pico de contração uterina e são benignas.  
    • DIP II ou tardia: altamente sugestivas de hipóxia fetal, o pico da desaceleração é tardia, ocorre após o nadir do pico de contração uterina e estão associados a sofrimento fetal agudo. 
    • DIP III: os picos de desaceleração são variáveis e estão associados a posições específicas onde há compressão do cordão umbilical. Desacelerações variáveis são consideradas patológicas se ocorrerem de maneira recorrente, atingirem valores abaixo de 70 bpm com duração superior a 60 segundos ou desaceleração bifásica (em W). 

A classificação atualizada da cardiotocografia é realizada levando em consideração esses parâmetros, conforme descrito na tabela abaixo. Uma dica para memorizar é decorar apenas o que é CTG normal ou anormal. Sendo assim, tudo que fugir desses parâmetros está dentro de CTG atípica. 

Crédito: PROTOCOLOS FEBRASGO cardiotocografia anteparto.pdf

Condutas na presença de sofrimento fetal agudo 

Se PBF < 6, principalmente se maior que 34 semanas, e cardiotocografia classificada como DIP II, na maioria das vezes requer interrupção da gestação. Na presença de CTG anormal, é necessário realizar perfil biofísico fetal ou outra avaliação adicional. 

Avaliação do resultado do PBF é uma das principais ferramentas para decisão: 

  • PBF Normal: 10/10 e 8/10 com LA normal e o insulto agudo e imprevisível.
  • Duvidoso: 6/10 com LA normal. O teste deve ser repetido dentro de 24 horas ou, se a paciente está próxima ao termo, o parto é uma opção razoável.
  • Anormal: 
    • 6/10 ou 8/10 com 0 pontos para LA. O risco de asfixia fetal em uma semana é de 89/1000 com conduta expectante. Deve-se avaliar os riscos fetais e neonatais da conduta expectante versus o parto, considerando a idade gestacional e os fatores maternos e obstétricos.
    • 0 a 4/10 : o risco de asfixia fetal em uma semana é de 91 a 600/1000 se não houver intervenção. O parto geralmente está indicado.

Curso Extensivo Residência Médica

Veja também:

Referências bibliográficas:

Você pode gostar também
Psoríase
Leia mais

Psoríase: causa, tipos e muito mais!

Quer descobrir tudo sobre a psoríase? O Estratégia MED separou para você as principais informações sobre o assunto.…