Olá, querido doutor e doutora! O tracoma é uma infecção ocular que continua sendo um desafio de saúde pública em várias regiões do mundo. Mesmo com os avanços no controle da doença, ela permanece associada a condições de pobreza e acesso limitado a saneamento. A infecção, causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, pode resultar em complicações oculares severas se não for reconhecida e tratada de forma adequada.
O tratamento do tracoma envolve antibióticos, cirurgia e ações de higiene para interromper a cadeia de transmissão.
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Conceito
O tracoma é uma infecção ocular crônica provocada pela bactéria Chlamydia trachomatis, caracterizada por episódios repetidos de inflamação da conjuntiva, que evoluem com o tempo para formação de cicatrizes e deformidades palpebrais. Essa sequência de eventos pode levar ao comprometimento da córnea e à cegueira irreversível, especialmente em populações com condições sanitárias precárias. O tracoma é considerado uma doença tropical negligenciada e continua sendo uma causa relevante de deficiência visual em diversas regiões do mundo.
Fisiopatologia
O tracoma se desenvolve a partir da infecção da conjuntiva pela Chlamydia trachomatis, que possui a capacidade de invadir células epiteliais e se multiplicar em seu interior. Esse processo provoca uma resposta inflamatória local, envolvendo a liberação de citocinas e a infiltração de células do sistema imune, como neutrófilos, macrófagos e linfócitos.
A inflamação repetitiva, desencadeada por episódios sucessivos de infecção, induz alterações estruturais no tecido conjuntival, como a formação de folículos e a deposição progressiva de fibras de colágeno, resultando em fibrose. Com o tempo, essas alterações favorecem o surgimento de entrópio e triquíase, que expõem a córnea a traumas mecânicos constantes, culminando em opacificação e perda visual.
Epidemiologia e fatores de risco
O tracoma permanece como uma das principais causas infecciosas de cegueira evitável no mundo, com maior prevalência em regiões da África, Sudeste Asiático, Oriente Médio e América do Sul. Embora a incidência tenha diminuído em muitos países, ainda afeta milhões de pessoas, especialmente em comunidades rurais e de baixa renda. Estima-se que crianças de até 10 anos de idade constituam o grupo etário mais acometido, sendo frequente a infecção desde a infância, com progressão para complicações ao longo dos anos.
Entre os fatores que favorecem a propagação da doença, destacam-se:
- Aglomeração domiciliar Falta de acesso a água limpa;
- Condições sanitárias inadequadas;
- Presença abundante de moscas;
- Higiene facial deficiente;
- Exposição prolongada a ambientes de pobreza extrema; e
- Maior contato interpessoal em ambientes escolares ou familiares.
A doença também apresenta distribuição desigual entre os gêneros, com maior acometimento em mulheres, o que se associa à maior responsabilidade feminina em atividades de cuidado infantil e doméstico em ambientes de risco.
Sintomas
O tracoma se manifesta inicialmente com sinais de inflamação ocular discreta, mas que se tornam progressivamente mais intensos conforme a doença avança. Entre os primeiros sintomas estão a vermelhidão ocular, sensação de corpo estranho, lacrimejamento excessivo, secreção mucopurulenta e desconforto nas pálpebras. Com a evolução da infecção, podem surgir alterações como edema palpebral, fotofobia e dor ocular.
Nos estágios mais avançados, o paciente pode apresentar triquíase, onde os cílios passam a raspar a superfície da córnea, provocando abrasões dolorosas, cicatrizes e, eventualmente, opacificação da córnea. Esse dano progressivo compromete a acuidade visual, podendo resultar em cegueira se não houver intervenção adequada. A cronicidade da infecção também leva à formação de cicatrizes na conjuntiva, ressecamento ocular e deformidades palpebrais.
Diagnóstico
O diagnóstico do tracoma é feito principalmente com base na avaliação clínica, utilizando exame oftalmológico detalhado da conjuntiva e das pálpebras. A inspeção com lâmpada de fenda permite identificar folículos conjuntivais, inflamação, sinais de cicatrização e presença de triquíase, características que ajudam na definição do estágio da doença.
Para padronizar a identificação dos casos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs um sistema de classificação simplificada que inclui cinco categorias: inflamação folicular, inflamação intensa, cicatrização, triquíase e opacificação corneana. Em alguns casos, testes laboratoriais podem ser realizados para confirmação, como a coloração de Giemsa em amostras da conjuntiva ou métodos moleculares, como PCR, embora seu uso rotineiro seja limitado em áreas endêmicas devido ao custo e à complexidade técnica.
Tratamento
O tratamento do tracoma baseia-se na abordagem conhecida como estratégia SAFE, que inclui cirurgia, uso de antibióticos, promoção da higiene facial e melhorias ambientais. Para os casos ativos, o antibiótico de escolha é a azitromicina administrada em dose única oral, tanto para o paciente quanto para os contatos domiciliares, com o objetivo de interromper a transmissão. Alternativamente, a tetraciclina oftálmica pode ser utilizada, embora com regime de aplicação mais prolongado.
Nos estágios avançados, especialmente quando há triquíase ou entrópio, a correção cirúrgica é necessária para reposicionar a borda palpebral e evitar a progressão do dano corneano. Procedimentos como a rotação tarsal e técnicas de reposicionamento de cílios ajudam a preservar a integridade visual.
Medidas não farmacológicas são igualmente importantes, incluindo campanhas de educação em saúde para estimular a higiene do rosto, melhorias no acesso à água potável e no saneamento básico, além do controle de vetores, como as moscas, para reduzir a incidência de novas infecções.
Complicações
- Triquíase;
- Entrópio;
- Opacificação corneana;
- Síndrome do olho seco;
- Infecções bacterianas secundárias;
- Distiquíase; e
- Cegueira irreversível.
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Referências Bibliográficas
- AHMAD, Bilal; ZEPPIERI, Marco; PATEL, Bhupendra C. Trachoma. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025.