Resumo sobre Asbestose: definição, manifestações clínicas e mais!
Fonte: Freepik

Resumo sobre Asbestose: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Asbestose, uma pneumoconiose causada pela inalação prolongada de fibras de amianto, que leva a um processo inflamatório crônico e fibrose pulmonar progressiva. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Asbestose

A asbestose é uma doença pulmonar intersticial crônica e progressiva causada pela inalação de fibras de amianto, um conjunto de silicatos minerais historicamente utilizados em setores como construção civil, mineração, transporte marítimo e indústria aeroespacial devido à sua durabilidade, resistência ao calor e baixo custo. 

Essas fibras, classificadas em dois grupos principais, serpentinas (curvas e mais solúveis, como a crisotila) e anfibólios (rígidos, retos e menos solúveis, como crocidolita, amosita e tremolita), podem se depositar no tecido pulmonar, provocando inflamação e cicatrização progressiva.

O acúmulo dessas fibras no pulmão resulta em fibrose intersticial, levando a manifestações clínicas como dispneia, tosse persistente e dor torácica. Além disso, a exposição prolongada ao amianto está associada a complicações graves, como fibrose pulmonar avançada, câncer de pulmão e mesotelioma. 

Etiologia da Asbestose

A asbestose ocorre pela inalação de fibras de amianto, em intensidade proporcional ao tempo e grau de exposição. Existem três formas principais: ocupacional direta, comum em trabalhadores de estaleiros, mineração e indústrias aeroespaciais; ocupacional indireta, que afeta profissionais como eletricistas, pedreiros e pintores; e comunitária, relacionada ao uso do amianto em estradas, áreas de lazer, aterros e tintas. 

O risco da doença é dose-dependente, sendo maior na exposição direta. Entre as fibras, as anfibólias apresentam maior potencial patogênico que as serpentinas, como a crisotila, devido à sua rigidez e baixa solubilidade.

Epidemiologia da Asbestose no Brasil

Entre 1996 e 2017, foram registrados 3.057 óbitos por doenças relacionadas ao asbesto típicas (DRA-T) em adultos brasileiros com 30 anos ou mais. Desse total, 76,4% (2.405 casos) foram por mesotelioma maligno (MM), câncer diretamente associado ao amianto, com maior ocorrência na pleura.

 A mortalidade masculina por MM aumentou de 0,98 para 2,26 por milhão de habitantes no período (crescimento de 131,1%), enquanto entre mulheres passou de 1,04 para 1,25 (aumento de 20,2%).

As razões entre homens e mulheres (M:F) variaram conforme a doença: 1,4:1 para MM, 3,5:1 para asbestose e 2,4:1 para placas pleurais, refletindo maior exposição ocupacional masculina. Homens apresentaram predominância de óbitos por MM após os 64 anos, enquanto mulheres tiveram maior proporção de MM peritoneal (22,9% contra 13,2% nos homens).

Apesar da proibição do amianto no Brasil em 2017, a longa latência e a exposição ambiental e ocupacional passada indicam que casos de DRA-T continuarão a ocorrer nas próximas décadas, havendo ainda desafios como subdiagnóstico e subnotificação.

Fisiopatologia da Asbestose

A asbestose decorre principalmente da fibrose intersticial induzida pela deposição de fibras de amianto no pulmão. Os macrófagos, ao tentar fagocitar essas fibras, liberam espécies reativas de oxigênio (ROS) e mediadores inflamatórios como TNF, interleucinas e ativadores da via da fosfolipase C. Esses fatores danificam os pneumócitos tipo I e estimulam fibroblastos e miofibroblastos, favorecendo a proliferação celular e o acúmulo de matriz extracelular.

As células epiteliais lesadas produzem FGF-β, e os macrófagos secretam fatores como PDGF e IGF, que intensificam a fibrose. Além disso, a ativação do complemento C5a aumenta o recrutamento inflamatório. 

Fibras recobertas por metais, especialmente ferro, geram radicais livres tóxicos, ampliando o dano oxidativo. O comprimento das fibras é determinante, sendo as longas mais patogênicas por ativarem o NF-κB e alterações genéticas.

Além da fibrose progressiva, o amianto pode atuar como promotor tumoral, com as fibras anfibólias apresentando maior potencial carcinogênico, sobretudo na pleura. A severidade da doença está ligada à dose cumulativa de exposição.

Manifestações clínicas da Asbestose

A asbestose geralmente apresenta histórico de exposição ocupacional ao amianto por 10 a 20 anos, associado a dispneia progressiva como sintoma principal. Tosse seca é comum, enquanto tosse produtiva, chiado e escarro ocorrem mais em fumantes. 

Pode haver desconforto torácico relacionado à hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca direita. Sintomas como perda de apetite, emagrecimento e hemoptise sugerem neoplasia associada. Na presença de comprometimento pleural, pode ocorrer dor torácica localizada ou dispneia irradiada para o ombro.

No exame físico, observam-se baqueteamento digital (32% a 42%), verrugas de amianto, redução da expansibilidade torácica e estertores bibasais, mais audíveis em regiões laterais inferiores. 

Em estágios avançados, podem surgir sinais de cor pulmonale, como edema de membros inferiores, distensão jugular, impulso ventricular direito, refluxo hepatojugular e cianose, decorrentes de remodelamento vascular pulmonar e insuficiência cardíaca direita.

Diagnóstico de Asbestose

O diagnóstico da asbestose é essencialmente clínico, baseado em histórico detalhado de exposição ao amianto, associado a quadro de doença pulmonar restritiva progressiva e fibrose intersticial em exames de imagem. Trata-se de um diagnóstico de exclusão, sendo importante diferenciá-lo de outras doenças intersticiais, como a fibrose pulmonar idiopática (FPI).

Testes de Função Pulmonar

  • Espirometria e volumes pulmonares: reduções em capacidade vital forçada (CVF), volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), capacidade pulmonar total, capacidade residual funcional e volume residual. A relação VEF1/CVF permanece normal ou aumentada.
  • Capacidade de difusão (DLCO): geralmente reduzida precocemente, refletindo distúrbio de ventilação-perfusão.
  • Gasometria arterial: pode mostrar hipoxemia e alcalose respiratória. Retenção de CO₂ é rara e indica doença em estágio avançado.

Exames de imagem

  • Radiografia de tórax: infiltrados reticulonodulares difusos em bases pulmonares, com bordas cardíacas desfocadas.
  • TC de alta resolução (TCAR): mostra opacidades em vidro fosco e fibrose intersticial difusa. Achados típicos incluem espessamento pleural e placas pleurais calcificadas. A asbestose costuma iniciar no centro e progredir para periferia (padrão centrífugo), ao contrário da FPI, que segue padrão centrípeto.

Biópsia Pulmonar

  • Demonstra fibrose intersticial peribrônquica e presença de corpos de asbesto (fibras revestidas por proteínas com ferro).
  • Na asbestose, a fibrose é difusa, enquanto na FPI é irregular e com heterogeneidade temporal.
  • Pode ser obtida por broncoscopia com biópsia transbrônquica, mas o método mais sensível e específico é a videotoracoscopia assistida (VAT), menos invasiva que a toracotomia.

Lavado Broncoalveolar

Tem papel limitado, mas pode identificar corpos de asbesto e células inflamatórias. Entretanto, a ausência de corpos não exclui a doença, sobretudo em exposição a fibras do tipo crisotila, que têm menor tempo de permanência no pulmão.

Exames Laboratoriais

Podem revelar marcadores inflamatórios inespecíficos elevados, como PCR, VHS, além de autoanticorpos como fator reumatoide e anticorpos antinucleares.

Tratamento de Asbestose

O tratamento da asbestose não é específico, sendo voltado principalmente para o suporte clínico e a prevenção da progressão da doença. A medida mais eficaz é a prevenção da exposição ocupacional ao amianto, já que não há cura estabelecida para a fibrose pulmonar causada.

Terapia medicamentosa

  • Corticosteroides: usados para reduzir a inflamação, embora a eficácia em sobrevida seja limitada e sem protocolos padronizados.
  • Imunossupressores (ex.: azatioprina): opção em casos específicos; uso limitado devido a efeitos adversos.
  • Colchicina: efeito antifibrótico discreto.
  • Broncodilatadores e corticosteroides inalatórios: indicados quando há DPOC associada.
  • Antibióticos: em casos de infecção respiratória sobreposta.

Suporte respiratório

  • Oxigenoterapia: indicada quando PaO₂ < 55 mmHg em repouso ou esforço.
  • Reabilitação pulmonar: melhora a capacidade funcional e qualidade de vida.
  • Manejo do cor pulmonale: tratamento sintomático para complicações cardíacas secundárias.

Intervenções cirúrgicas

  • Decorticação subpleural ou pleurectomia: melhora atelectasias em casos de fibrose pleural.
  • Drenagem pleural paliativa: indicada quando há acúmulo rápido de líquido pleural com dispneia.

Transplante Pulmonar

Representa a opção final em casos graves e irreversíveis, quando não há resposta às demais formas de tratamento.

De olho na prova!

Não pense que esse assunto fica de fora das provas de residência, concursos públicos e até das avaliações da graduação. Veja!

SP – Secretaria Municipal de Saúde de Piracicaba – SMS – 2023 – Residência (Acesso Direto)

A asbestose é uma pneumoconiose devido à exposição ocupacional a poeiras de asbesto ou amianto. A medida viável mais eficiente para sua prevenção é:

A) substituir o amianto por outra substância não tóxica.

B) diminuir o tempo de exposição.

C) obrigar o uso de equipamentos de proteção individual.

D) selecionar apenas trabalhadores não tabagistas.

E) realizar exames médicos periódicos para diagnóstico precoce da doença.

Comentário da questão:

Observe que a questão solicita a medida de prevenção MAIS EFICIENTE para impedirmos a pneumoconiose oriunda da exposição ao amianto, a asbestose.

De fato, o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI´s), como máscaras especiais, poderá reduzir a exposição ao particulado, diminuindo o risco de adoecimento respiratório….

Porém, substituir ao zero o uso de amianto seria ainda mais efetivo, já que não haveria mais risco de adoecimento por essa condição.

Portanto, entre proteger o trabalhador da exposição e cessar por completo esta, a segunda medida mostra maior efetividade.

É importante salientar que por mais que EPI´s possam proteger o trabalhador durante a atividade laboral, as partículas do mineral anfibólio (asbesto ou amianto), tendem a se depositar em suas vestes e, de forma indireta, acabam tanto por contaminá-lo quanto por contaminar os seus familiares que entrem em contato com suas roupas.

É por isso que a melhor resposta está localizada na alternativa A.

A eliminação do uso do amianto é a medida mais importante a ser tomada!

Compreendido?

Alternativa correta: Letra “A

Veja também!

Referências

Bhandari J, Thada PK, Sedhai YR. Asbestosis. [Updated 2022 Sep 19]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK555985/

Talmadge E King, Jr, MD. Asbestos-related pleuropulmonary disease. UpToDate, 2024. Disponível: UpToDate

Você pode gostar também