Resumo sobre Enterobíase: manifestações clínicas, diagnóstico e mais!
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Resumo sobre Enterobíase: manifestações clínicas, diagnóstico e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a enterobíase, uma infecção parasitária causada pelo Enterobius vermicularis, conhecido como oxiúro. 

O Estratégia MED está aqui para simplificar esse tema e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma abordagem clínica ainda mais eficiente.

Vamos nessa!

Definição de Enterobíase

A enterobíase, também conhecida como enterobiose ou oxiurose, é uma verminose intestinal causada pelo nematódeo Enterobius vermicularis, popularmente chamado de oxiúro. 

Esse parasito é exclusivo do ser humano e apresenta ampla distribuição geográfica, sendo altamente prevalente, especialmente em regiões de clima temperado, como na Europa e na América do Norte, incluindo países desenvolvidos com altos padrões de saneamento básico.

Embora a enterobíase seja frequentemente considerada uma infecção benigna, ela pode causar desconforto significativo, sobretudo em crianças, devido ao prurido anal intenso, que é o principal sintoma da doença. 

Em alguns casos, a infecção pode levar a complicações locais ou sistêmicas. Por sua alta frequência e impacto na qualidade de vida, é uma das endemias parasitárias mais comuns em todo o mundo, disputando com a ascaridíase o primeiro lugar em prevalência.

Ciclo de vida do parasita

O ciclo de vida do Enterobius vermicularis é simples e envolve etapas que garantem sua alta transmissibilidade. O ciclo inicia-se quando as fêmeas adultas grávidas migram para as dobras perianais, onde depositam ovos. Esses ovos podem causar prurido intenso, levando à autoinfecção, que ocorre ao coçar a região perianal e transferir os ovos para a boca por meio de mãos contaminadas. 

A transmissão de pessoa para pessoa ocorre pela ingestão de alimentos ou água manipulados por mãos contaminadas, bem como pelo contato com roupas, lençóis ou superfícies ambientais, como cortinas e carpetes, que estejam impregnados com os ovos. Além disso, os ovos podem ser dispersos no ar, sendo inalados e engolidos.

Após a ingestão, os ovos eclodem no intestino delgado, liberando larvas que migram para o trato gastrointestinal, onde os vermes adultos se estabelecem, principalmente no ceco e no apêndice. O intervalo entre a ingestão dos ovos e a oviposição pelas fêmeas adultas é de aproximadamente um mês. Cada fêmea pode produzir mais de 10.000 ovos, e os vermes adultos têm uma vida útil de dois a três meses. 

A carga parasitária varia significativamente entre os indivíduos. Enquanto a maioria apresenta algumas dezenas a centenas de vermes, cerca de 25% da população infectada concentra mais de 90% da carga total, o que evidencia a variabilidade na gravidade da infecção.

Ciclo de vida do enterobius vermicularis
Fonte: UpToDate

Manifestações clínicas da Enterobíase

A enterobíase é frequentemente assintomática, especialmente em infecções leves. No entanto, o sintoma mais comum é o prurido anal, que ocorre devido à resposta inflamatória à presença de ovos e vermes adultos na região perianal. Esse prurido é mais intenso durante a noite, quando as fêmeas depositam os ovos. 

A coceira pode levar à escoriação da pele e facilitar a autoinfecção, ao transferir ovos para a boca por meio das mãos contaminadas, além de aumentar o risco de transmissão entre pessoas. Em casos graves, as lesões causadas pela coceira podem ser complicadas por infecções bacterianas secundárias.

Quando há uma alta carga parasitária, podem surgir sintomas gastrointestinais mais intensos, como dor abdominal, náuseas e vômitos. Há relatos da presença de vermes adultos em apêndices normais ou inflamados após cirurgias, embora ainda não esteja completamente esclarecido se esses parasitos contribuem diretamente para a apendicite. Além disso, casos raros de enterocolite eosinofílica associada à enterobíase foram descritos, embora a eosinofilia periférica seja geralmente ausente.

Os vermes adultos podem migrar para regiões extraintestinais, como o trato geniturinário, causando infecções como vulvovaginite. Essa condição pode aumentar a susceptibilidade a infecções urinárias e, em casos mais raros, levar a complicações como salpingite, ooforite e granulomas em órgãos próximos. 

Há relatos de vermes encontrados em locais incomuns, como mucosa nasal, olhos e até inflamações peritoneais, embora esses casos sejam extremamente raros. Essas manifestações clínicas enfatizam a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para prevenir complicações.

Diagnóstico de Enterobíase

Os exames tradicionais de fezes, mesmo com técnicas de enriquecimento, apresentam baixa sensibilidade, detectando apenas 5% a 10% dos casos. Por isso, métodos direcionados são necessários para identificar os ovos ou os vermes adultos.

A técnica mais eficiente é o método da fita adesiva. Nesse procedimento, uma fita adesiva transparente é aplicada na região perianal, preferencialmente pela manhã, antes de o paciente realizar a higiene corporal. Isso ocorre porque os ovos depositados pelas fêmeas adultas permanecem aderidos à pele por um tempo limitado. Após a aplicação, a fita é fixada em uma lâmina de vidro e examinada ao microscópio, permitindo a identificação dos ovos e, ocasionalmente, dos vermes adultos. 

Nos casos em que o exame inicial é negativo, recomenda-se repetir o procedimento por cinco a seis dias consecutivos, pois a taxa de detecção pode variar. O primeiro teste geralmente revela 88% dos casos graves e 55% dos casos moderados, destacando a importância de exames sequenciais para maior precisão diagnóstica.

Além disso, sinais clínicos como prurido anal intenso, especialmente à noite, irritação cutânea perianal ou perineal e eosinofilia leve sem causa aparente podem levantar a suspeita de enterobíase. Em crianças, o diagnóstico pode ser facilitado pela observação direta dos vermes na roupa íntima ou na roupa de cama, embora o pequeno tamanho dos parasitos possa dificultar sua visualização.

Tratamento de Enterobíase

O tratamento da enterobíase deve ser abrangente, visando não apenas a eliminação do parasita no paciente, mas também a prevenção da transmissão e reinfecção.

  • Adultos e crianças não grávidas:
    • Albendazol: 400 mg por via oral em dose única, com repetição após duas semanas.
    • Mebendazol: 100 mg por via oral em dose única, com repetição após duas semanas.
    • Pamoato de pirantel: 11 mg/kg (máximo de 1 g) em dose única, com repetição após duas semanas. Disponível sem receita médica em alguns países.
    • Esses medicamentos apresentam taxas de cura entre 90% e 100%.
  • Mulheres grávidas:
    • O tratamento é indicado apenas para pacientes com sintomas significativos.
    • O pamoato de pirantel é preferido por ser mais seguro durante a gravidez.
    • Mebendazol e albendazol são opções, mas devem ser usados com cautela, especialmente no primeiro trimestre.

Prevenção da transmissão

  • Higiene pessoal:
    • Lavar as mãos frequentemente, especialmente antes das refeições e após usar o banheiro.
    • Manter as unhas curtas e limpas.
  • Medidas no ambiente:
    • Não repetir roupas de cama, roupas íntimas e toalhas com frequência.
    • Evitar o banho de imersão, preferindo o banho de chuveiro para evitar a dispersão dos ovos.

Todos os membros da família devem ser tratados simultaneamente, mesmo que estejam assintomáticos, devido à alta transmissibilidade. 

Veja também!

Referências

Karin Leder, MBBS, FRACP, PhD, MPH, DTMHDr. Peter F. Weller, MACP. Enterobiasis (pinworm) and trichuriasis (whipworm). UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate

REY, Luís. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos ocidentais. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

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