Resumo sobre Eritema Multiforme: definição, manifestações clínicas e mais!
Eritema polimorfo. Lesões eritemarosas formando placas, algumas das quais com centro purpúrico. Fonte: Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2024.

Resumo sobre Eritema Multiforme: definição, manifestações clínicas e mais!

Fala, doc! Que tal aprofundar seus conhecimentos em mais um tema importante? Hoje o foco é o Eritema Multiforme, uma condição inflamatória da pele que costuma surgir de forma abrupta e está relacionada, na maioria das vezes, a infecções virais ou ao uso de alguns medicamentos. 

O Estratégia MED está aqui para tornar esse conteúdo mais claro e direto, ajudando você a tomar decisões com mais confiança na prática médica.

Vamos juntos nessa!

Definição de Eritema Multiforme

O eritema multiforme é uma condição inflamatória de natureza imunomediada, classificada como uma reação de hipersensibilidade aguda. Caracteriza-se clinicamente por lesões cutâneas em forma de alvo (target lesions), que surgem principalmente nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas. 

Essas lesões podem ser maculares, papulares, bolhosas ou urticariformes, e costumam aparecer dentro de 48 a 72 horas após o desencadeante, com resolução espontânea entre 7 e 21 dias.

A doença pode envolver também mucosas, como a oral, ocular e genital. Quando há acometimento significativo dessas regiões, o quadro é denominado eritema multiforme maior; quando as lesões são predominantemente cutâneas e sem envolvimento relevante das mucosas, trata-se do eritema multiforme menor. Essa distinção é importante para o manejo e prognóstico do paciente.

Na maioria das vezes, o eritema multiforme apresenta curso benigno e autolimitado, com resolução completa sem complicações. O tratamento do episódio agudo foca no alívio dos sintomas, controle da dor e suporte à recuperação. 

Etiologia do Eritema Multiforme

A etiologia do eritema multiforme é multifatorial, envolvendo principalmente infecções, medicamentos e, em menor frequência, doenças sistêmicas, malignidades e outras exposições. 

A causa mais comum identificada é a infecção pelo herpes-vírus simples (HSV), sobretudo o tipo I, sendo responsável por aproximadamente metade dos casos. Nesses pacientes, o eritema multiforme costuma surgir de 3 a 14 dias após um episódio de herpes labial, embora possa haver variação temporal. 

Outras viroses também estão associadas, como a mononucleose infecciosa, infecções por HIV, ORF, varicela, hepatite B, sarampo, parotidite, parvovírus B19 e até mesmo após a vacinação com vírus vivos, como vaccínia. 

Entre as infecções bacterianas, o Mycoplasma pneumoniae é um importante agente etiológico, especialmente em crianças, com manifestações que surgem algumas semanas após o quadro respiratório. 

Outras bactérias envolvidas incluem estreptococos, agentes de pneumonia, febre tifoide, sífilis, tuberculose, e até o Mycobacterium leprae, relacionado ao estado reacional da hanseníase virchowiana.

Medicamentos também são importantes gatilhos, com destaque para analgésicos, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), antibióticos (particularmente sulfas) e barbitúricos. 

O eritema multiforme também pode estar ligado a micoses profundas, como histoplasmose e coccidioidomicose, além de doenças autoimunes como lúpus eritematoso sistêmico, dermatomiosite e poliarterite nodosa. 

Casos mais raros ocorrem após exposição a soros, proteínas estranhas, substâncias tóxicas ou alimentos deteriorados, e também no contexto de radioterapia, gravidez ou uso de anticoncepcionais orais. Em alguns indivíduos, especialmente jovens, nenhuma causa é identificada.

Fisiopatologia do Eritema Multiforme 

A fisiopatologia do eritema multiforme ainda não é completamente compreendida, mas os mecanismos mais bem estudados envolvem os casos associados ao vírus herpes simplex (HSV). 

Nesses casos, acredita-se que o eritema multiforme decorra de uma resposta imune mediada por células contra antígenos virais presentes na pele. A presença de DNA viral em biópsias de lesões cutâneas reforça essa hipótese.

No desenvolvimento das lesões mucocutâneas associadas ao HSV, observa-se uma interação complexa entre diversos elementos: células precursoras CD34+ de Langerhans, fragmentos de DNA viral, queratinócitos epidérmicos, células T auxiliares (CD4+) do subtipo Th1 específicas para HSV, interferon-gama (IFN-γ) e linfócitos T autorreativos. 

Esses elementos promovem dano ao epitélio e desencadeiam o processo inflamatório típico do eritema multiforme. A resposta imune celular, especialmente com a participação de macrófagos e linfócitos T CD8+, desempenha papel central na lesão tecidual, por meio da liberação de citocinas inflamatórias.

Nos casos induzidos por medicamentos, a fisiopatologia apresenta uma diferença: em vez do IFN-γ, destaca-se a presença do fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), o que leva à necrose dos queratinócitos como evento patológico inicial.

A susceptibilidade genética também influencia o desenvolvimento do eritema multiforme. Estudos indicam uma associação entre formas recorrentes da doença e certos alelos do sistema HLA, como HLA-A33, B35, DR4, DQB1*03:01, DQ3 e DR53. Especificamente, o HLA-DQ3 tem sido associado ao eritema multiforme pós-herpético, sendo sugerido como um possível marcador diagnóstico.

Manifestações clínicas do Eritema Multiforme

O eritema multiforme pode se manifestar com lesões cutâneas e mucosas, embora as mucosas frequentemente sejam poupadas. A história clínica deve investigar possíveis gatilhos, como infecções, uso de medicamentos e sintomas constitucionais.

Fase prodrômica

No eritema multiforme minor, os sintomas prodrômicos costumam ser ausentes, inespecíficos ou leves, incluindo fadiga, mal-estar e sintomas respiratórios altos. A erupção cutânea aparece geralmente em até três dias, com progressão centrípeta. 

Já no eritema multiforme major, os sintomas são mais intensos e incluem febre moderada, dores generalizadas, tosse, dor torácica, dor de garganta, vômitos e diarreia, podendo durar até duas semanas antes do surgimento das lesões cutâneas. Tosse e sintomas respiratórios são comuns em casos relacionados a Mycoplasma pneumoniae.

Manifestações cutâneas

A lesão típica é a em alvo (target), com três zonas concêntricas e bordas bem definidas. A periferia é eritematosa e pode conter microvesículas; a zona intermediária é edematosa e palpável; o centro pode ser eritematoso ou apresentar bolha. Essas zonas refletem diferentes estágios evolutivos da lesão. 

As lesões tendem a ser simétricas, acometendo preferencialmente superfícies extensoras, palmas das mãos, dorsos dos pés, face e orelhas. Têm menos de 3 cm e geralmente não são pruriginosas. Lesões atípicas podem coexistir, com margens mal definidas e menor variação de cores.

Manifestações mucosa

 As lesões mucosas são mais comuns na cavidade oral, mas podem acometer mucosas urogenitais e oculares. Iniciam como bolhas, evoluindo para erosões cobertas por pseudomembranas brancas. 

As lesões labiais podem apresentar crostas hemorrágicas espessas, e as erosões nas bochechas, palato e genitais podem ter revestimento fibrinoso esbranquiçado. São dolorosas e podem preceder, coincidir ou seguir as lesões cutâneas. Casos extensos podem causar desidratação ou perda de peso pela dificuldade alimentar.

Eritema polimorfo. Lesões eritemarosas formando placas, algumas das quais com centro purpúrico. Fonte: Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2024.
Eritema polimorfo. Lesões eritematopurúricas disseminadas. Fonte: Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2024.
Eritema purpúrico. lesões orais. Erosões e maceração resultantes da ruptura de bolhas. Fonte: Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2024.
Eritema purpúrico. Lesões em alvo na região palmar. Lesões eritematosas de bordas papulovesiculosas com centro purpúrico. Fonte: Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2024.

Tratamento do Eritema Multiforme

O tratamento do eritema multiforme varia conforme a gravidade do quadro e envolve medidas tópicas e sistêmicas.

Tratamento tópico

Nos casos leves, com poucas lesões erosivas, pode-se utilizar soluções antissépticas, como água boricada a 2% ou permanganato de potássio diluído (0,1 g em 3.000 mL de água). Cremes com corticosteroides, isoladamente ou associados a antibióticos, ajudam na redução da inflamação. 

Lesões orais podem ser tratadas com água oxigenada diluída (10% em proporção 1:15) e outros antissépticos bucais. Se houver suspeita de candidíase, associa-se nistatina. Para alívio da dor em formas dolorosas, utiliza-se xilocaína viscosa, especialmente antes das refeições.

Tratamento sistêmico

 Anti-histamínicos podem ser úteis nos casos com prurido. Quando há suspeita de etiologia herpética, utiliza-se aciclovir (1 g/dia, dividido em 5 doses), por 5 a 10 dias. Em formas graves, pode ser necessário aciclovir intravenoso. Casos recorrentes podem exigir tratamento profilático com aciclovir, valaciclovir ou fanciclovir, ajustando-se a dose mínima eficaz para prevenir surtos.

Se houver infecção bacteriana associada, como infecção de vias aéreas com febre e mal-estar, pode-se prescrever eritromicina ou cefalosporinas. Penicilinas, sulfas e certos anti-inflamatórios devem ser evitados devido ao risco de reações de hipersensibilidade.

O uso de corticosteroides é controverso, mas pode ser eficaz, começando por aplicação intramuscular e mantendo prednisona por via oral, com doses de 0,5 a 1 mg/kg/dia, ajustadas conforme a gravidade. Outras opções terapêuticas incluem talidomida (com ação imunomoduladora), ciclosporina, micofenolato de mofetila, dapsona, azatioprina e terapia com PUVA (ultravioleta A com psoraleno).

É essencial suspender qualquer medicamento suspeito de desencadear o quadro. Casos com comprometimento ocular requerem avaliação oftalmológica. Formas graves podem necessitar de internação hospitalar e manejo multidisciplinar.

De olho na prova!

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Estratégia MED – 2024 – Residência (Acesso Direto)

Assinale a alternativa correta sobre o eritema multiforme.

A) A apresentação clínica mais comum é marcada por nódulos eritematosos nos membros inferiores.

B) O que marca a forma major é a presença de grandes lesões maiores do que cinco centímetros.

C) O uso de analgésicos não esteroides é o principal fator desencadeante.

D) A profilaxia antiviral crônica é, frequentemente, prescrita empiricamente para a forma da doença induzida pelo herpes simples.

E) O tratamento consiste no uso de antibióticos.

Solução em texto

GABARITO: ALTERNATIVA D

O eritema multiforme (EM) é uma doença inflamatória da pele e mucosas caracterizada pela típica lesão em alvo.

O entendimento atual é que o EM seja uma manifestação mucocutânea de uma reação imunológica direcionada à pele que ocorre como consequência de uma infecção. O herpes vírus simples é claramente o agente infeccioso mais associado.

O início do quadro é agudo, com um completo desenvolvimento em até 72h! A lesão clínica característica do eritema multiforme é a lesão em alvo. Cada lesão mede aproximadamente 3 centímetros e possui 3 zonas distintas. Há uma parte central mais eritematosa, acinzentada ou bolhosa, circundada por dois anéis concêntricos. A borda é eritematosa e muito bem delimitada.

O eritema multiforme pode ser dividido em maior e menor. O EM maior é marcado por intenso acometimento das mucosas e proeminentes sintomas sistêmicos. Já no EM menor, o acometimento das mucosas é pequeno ou ausente e não há sintomas sistêmicos!

A) Incorreta a alternativa A. Como vimos, essa não é a apresentação do eritema multiforme. Essa descrição de nódulos eritematosos nos membros inferiores é mais característica do eritema nodoso.

B) Incorreta a alternativa B. O que marca o eritema multiforme na forma major (maior) é o intenso acometimento de mucosas e sintomas sistêmicos.

C) Incorreta a alternativa C. O principal fator associado é a infecção pelo herpes simples.

D) Correta a alternativa D. Como há forte relação com infecção por herpes simples, nos casos recidivantes, podemos realizar profilaxia com aciclovir para reduzir o número de crises.

E) Incorreta a alternativa E. O tratamento na fase aguda é realizado com corticoide sistêmico.

Veja também!

Referências

Hafsi W, Badri T. Erythema Multiforme. [Updated 2024 Oct 29]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470259/

RIVITTI, Evandro A. Manual de dermatologia clínica de Sampaio e Rivitti. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2024.

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