E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Hidrossalpinge, uma condição caracterizada pelo acúmulo de líquido seroso nas tubas uterinas devido à obstrução da extremidade fimbrial.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
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Definição de Hidrossalpinge
A hidrossalpinge é uma condição caracterizada pelo acúmulo de líquido seroso no interior das tubas uterinas, resultante da obstrução de sua extremidade fimbrilar. Essa obstrução impede o fluxo normal do líquido produzido pelas células epiteliais ciliadas, levando ao acúmulo e consequente distensão da tuba.
O processo pode ocorrer de forma unilateral ou bilateral, sendo a principal causa a doença inflamatória pélvica, frequentemente associada às infecções por Chlamydia trachomatis ou Neisseria gonorrhoeae.
Outras causas incluem aderências decorrentes de cirurgias, endometriose e tumores tubários ou de órgãos adjacentes. A obstrução compromete o transporte do ovócito e dos espermatozoides, resultando em impacto significativo sobre a fertilidade feminina.
Etiologias da Hidrossalpinge
A hidrossalpinge tem origem em processos infecciosos, inflamatórios ou estruturais que provocam a obstrução da extremidade fimbrilar das tubas uterinas, levando ao acúmulo de líquido seroso e à distensão do tubo.
A principal causa é a doença inflamatória pélvica, geralmente decorrente de infecções por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae. Essas bactérias desencadeiam uma intensa reação inflamatória, responsável por fibrose e aderências que bloqueiam o lúmen tubário.
Além das infecções sexualmente transmissíveis, outras condições também podem levar à formação da hidrossalpinge, como endometriose, apendicite, cirurgias pélvicas ou abdominais prévias e tumores que comprimem ou invadem a tuba. Esses processos resultam em distorção anatômica, destruição do epitélio ciliado e comprometimento do transporte normal do fluido tubário.
O líquido que se acumula dentro da tuba é formado por secreções do epitélio e restos inflamatórios decorrentes da lesão crônica. Esse fluido é estéril e não funcional, podendo alterar o ambiente reprodutivo ao entrar em contato com o útero ou o embrião.
Manifestações clínicas da Hidrossalpinge
A hidrossalpinge apresenta, em grande parte dos casos, um curso silencioso. Muitas mulheres permanecem assintomáticas e têm o diagnóstico estabelecido apenas durante a investigação de infertilidade. Quando os sintomas se manifestam, costumam ser inespecíficos e de intensidade variável.
Infertilidade
A infertilidade é a principal manifestação clínica da hidrossalpinge. A obstrução das tubas impede a captação do ovócito liberado pelo ovário e o encontro com os espermatozoides, inviabilizando a fertilização natural.
Além disso, o líquido acumulado dentro da tuba pode refluir para a cavidade uterina, interferindo no ambiente endometrial e comprometendo a implantação do embrião, inclusive em técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro.
Dor pélvica
A dor pélvica é o sintoma mais relatado nas pacientes sintomáticas. Pode ser contínua ou recorrente e está relacionada ao processo inflamatório crônico ou às aderências formadas na pelve. Em alguns casos, essa dor se intensifica durante o período menstrual ou durante as relações sexuais (dispareunia).
Corrimento aquoso
Algumas pacientes apresentam corrimento ou fluxo vaginal aquoso, que ocorre quando o líquido acumulado na tuba reflui para a cavidade uterina e, posteriormente, para o canal vaginal. Esse sintoma, embora menos comum, pode ser um indicativo indireto de comunicação entre a tuba distendida e o útero.
Associação com infecção pélvica prévia
A hidrossalpinge pode estar associada a episódios anteriores de doença inflamatória pélvica, geralmente causados por infecções por Chlamydia trachomatis ou Neisseria gonorrhoeae. Nessas situações, o histórico clínico pode incluir dor pélvica crônica, febre leve e secreção genital anormal durante a infecção aguda.
Diagnóstico da Hidrossalpinge
O diagnóstico da hidrossalpinge é geralmente realizado durante a investigação de infertilidade feminina, uma vez que muitas pacientes são assintomáticas. A confirmação depende da avaliação clínica associada a exames de imagem capazes de identificar a obstrução e o acúmulo de líquido nas tubas uterinas.
Ultrassonografia pélvica
A ultrassonografia é o método diagnóstico mais acessível, rápido e não invasivo. Permite a visualização de tubas distendidas, com formato tubular e conteúdo anecoico (sem ecos internos), característico de acúmulo líquido.
Em alguns casos, observa-se o sinal de “cogumelo” ou “rosário”, que representa o aspecto alongado e tortuoso da tuba. Apesar de ser útil, sua sensibilidade é limitada em hidrossalpinges de pequeno volume, que não distendem significativamente o tubo.
Histerossalpingografia (HSG)
A histerossalpingografia é um exame radiológico que utiliza contraste iodado injetado no canal cervical. Permite a análise da cavidade uterina e das tubas, mostrando se há passagem do contraste até a cavidade peritoneal.
Na hidrossalpinge, observa-se dilatação da tuba e ausência de extravasamento do contraste pela extremidade distal, indicando obstrução. O exame pode causar desconforto pélvico e, raramente, infecções ou reações alérgicas ao contraste.
Laparoscopia
A laparoscopia é considerada o método diagnóstico mais preciso, pois permite a visualização direta das tubas, suas distensões, oclusões e possíveis aderências. Além de confirmar o diagnóstico, possibilita a realização de procedimentos terapêuticos, como salpingectomia ou correção de aderências.
No entanto, por ser um exame invasivo e de maior custo, é reservado para casos em que há dúvida diagnóstica ou quando há necessidade de intervenção cirúrgica.
Diagnóstico diferencial
A hidrossalpinge deve ser diferenciada de outras condições que também causam dor pélvica e infertilidade, como endometriose, cistos ovarianos e abscessos tubo-ovarianos. A combinação de exames de imagem e histórico clínico é essencial para o diagnóstico correto.
Tratamento da hidrossalpinge
O tratamento da hidrossalpinge depende da extensão do comprometimento tubário, da presença de sintomas e do desejo reprodutivo da paciente. O objetivo principal é restaurar ou otimizar a fertilidade, reduzir o risco de recorrência e evitar que o fluido acumulado prejudique a implantação embrionária, especialmente nos casos em que há indicação de fertilização in vitro (FIV).
Abordagem cirúrgica
Salpingectomia
A salpingectomia é a remoção completa da tuba afetada e representa a principal opção terapêutica em casos de hidrossalpinge bilateral grave ou quando a paciente pretende realizar FIV.
Esse procedimento impede o refluxo do fluido da tuba para o útero, o que melhora significativamente as taxas de implantação e gravidez em técnicas de reprodução assistida. É preferencialmente realizada por via laparoscópica e, além de aumentar a eficácia da FIV, reduz o risco de complicações como abscessos ou torção tubária.
Salpingostomia
A salpingostomia consiste na abertura cirúrgica da extremidade ocluída da tuba, permitindo o escoamento do líquido acumulado e a restauração do trajeto natural. Essa técnica busca preservar a função reprodutiva e possibilitar uma concepção natural.
No entanto, apresenta resultados limitados, pois o processo inflamatório geralmente compromete de forma irreversível a mucosa e os cílios tubários. Há ainda elevado risco de reoclusão e de gravidez ectópica, o que restringe seu uso a casos leves e em pacientes que desejam tentar engravidar espontaneamente.
Oclusão tubária proximal
Em situações em que a salpingectomia não é viável devido a aderências pélvicas extensas, pode-se optar pela oclusão tubária proximal, realizada por laparoscopia ou histeroscopia. O procedimento bloqueia a comunicação entre a tuba e o útero, evitando o refluxo do líquido e diminuindo o impacto negativo sobre a FIV.
Abordagens complementares
Aspiração do fluido hidrossalpíngeo
A aspiração do líquido acumulado na tuba pode ser indicada antes da fertilização in vitro como medida temporária para reduzir a distensão tubária. Contudo, é uma intervenção paliativa, pois o fluido tende a se acumular novamente, não oferecendo uma solução definitiva.
Tratamento clínico
Nos casos em que a hidrossalpinge está associada a infecção ativa, é necessário o uso de antibióticos para controlar o processo infeccioso e evitar danos adicionais às tubas.
Prevenção
A prevenção da hidrossalpinge está diretamente ligada ao controle das doenças sexualmente transmissíveis. O uso regular de preservativos, o diagnóstico e o tratamento precoce de infecções por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae são medidas fundamentais para evitar a evolução da doença inflamatória pélvica e a consequente obstrução tubária.
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Referências
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Jeffrey F Peipert, MD, PhDTessa Madden, MD, MPH. Pelvic inflammatory disease: Long-term complications. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate



