Resumo sobre Neuroma de Morton: definição, manifestações clínicas e mais!
Neuroma de Morton Fonte: UpToDate

Resumo sobre Neuroma de Morton: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é o Neuroma de Morton, uma condição benigna causada pelo espessamento do nervo interdigital plantar, geralmente entre o terceiro e o quarto metatarsos. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Neuroma de Morton

O neuroma de Morton é uma neuropatia compressiva que acomete o nervo interdigital do antepé. Essa condição ocorre principalmente devido à compressão e irritação contínua do nervo na região plantar, sob o ligamento intermetatarsal transverso. Essa pressão repetitiva leva a alterações degenerativas no nervo, resultando em dor e desconforto na parte anterior do pé, especialmente ao caminhar ou usar calçados apertados.

Apesar de ser chamado de “neuroma”, o neuroma de Morton não é um tumor verdadeiro, pois o processo envolvido é degenerativo, e não neoplásico. Por isso, a designação “neuroma” refere-se ao espessamento e fibrose do tecido nervoso decorrentes da irritação crônica, e não ao crescimento anormal de células nervosas.

A condição é também conhecida por outros nomes, como metatarsalgia de Morton, neurite interdigital, neuralgia interdigital ou síndrome de compressão do nervo interdigital. O local mais frequentemente acometido é o espaço entre o terceiro e o quarto metatarsos, onde ocorre o aprisionamento do nervo interdigital comum, provocando sintomas característicos como dor, queimação e sensação de formigamento nos dedos adjacentes.

Neuroma de Morton
Neuroma de Morton Fonte: UpToDate

Etiologia do Neuroma de Morton

A etiologia do neuroma de Morton ainda não é totalmente compreendida, mas existem quatro principais hipóteses que buscam explicar o desenvolvimento da condição.

A teoria do trauma crônico, considerada a mais aceita, propõe que os efeitos mecânicos da caminhada causam microtraumas repetitivos nos nervos digitais plantares intermetatarsais. Esses nervos acabam sendo comprimidos entre as cabeças dos metatarsos e as articulações metatarsofalângicas, o que leva à degeneração e espessamento do tecido nervoso.

A segunda hipótese é a teoria do aprisionamento, uma das mais antigas, que sugere que o neuroma interdigital ocorre devido à compressão direta do nervo interdigital contra a extremidade anterior do ligamento metatarsal transverso profundo e contra as estruturas moles plantares, provocando irritação e inflamação local.

Já a teoria da bursa intermetatarsal afirma que a bursite nessa região pode causar compressão e inflamação do nervo plantar digital comum, levando posteriormente à fibrose. Observa-se que as bursas estão próximas ao feixe neurovascular nos espaços intermetatarsais segundo e terceiro, locais onde o neuroma de Morton é mais comum, enquanto são raras no quarto espaço intermetatarsal, o que explicaria a menor incidência nesse local.

A teoria isquêmica propõe que o neuroma se desenvolve a partir de alterações degenerativas nas artérias digitais plantares comuns, que comprometem o suprimento sanguíneo do nervo antes do espessamento fibroso.

Além dessas hipóteses, alguns fatores predisponentes são reconhecidos, como o uso de calçados de ponta estreita ou saltos altos (que causam hiperextensão dos dedos), desvios dos artelhos, bursite intermetatarsal, espessamento do ligamento metatarsal transverso, traumas repetitivos do antepé, atividades esportivas de alto impacto, alterações articulares metatarsofalângicas e presença de lipomas.

Manifestações clínicas do Neuroma de Morton

São caracterizadas principalmente por dor plantar localizada entre as cabeças dos metatarsos, geralmente entre o terceiro e o quarto espaços intermetatarsais. Essa dor tende a piorar durante a caminhada ou ao usar calçados apertados e de salto alto, e melhora com o repouso e a retirada dos sapatos.

Os pacientes costumam descrever a dor como uma sensação de queimação, pontada ou formigamento, podendo ser acompanhada de sensações elétricas nos dedos adjacentes. Em alguns casos, o desconforto é descrito como a impressão de estar pisando em uma pedra ou mármore, o que reflete a compressão nervosa característica da doença.

A dormência entre os dedos pode ocorrer, mas está presente em menos da metade dos pacientes. Quando a caminhada é prolongada, a dor pode irradiar para o retropé ou para a perna, provocando câimbras e aumentando o desconforto. 

Diagnóstico do Neuroma de Morton

O diagnóstico do neuroma de Morton é, em grande parte, clínico, sendo baseado na história do paciente e no exame físico. A palpação do espaço intermetatarsal afetado pode reproduzir a dor característica da condição. Um achado clínico típico é o chamado “click de Mulder”, que ocorre quando o antepé é comprimido lateralmente (no sentido médio-lateral) enquanto se palpa a região afetada, resultando em uma sensação ou som de estalido acompanhado de dor. Esse sinal é considerado fortemente sugestivo do neuroma.

Em alguns casos, pode-se realizar uma injeção diagnóstica de lidocaína no espaço interdigital afetado. A melhora imediata da dor após a aplicação de 1 a 2 ml do anestésico local reforça o diagnóstico de neuroma de Morton.

Os exames de imagem são utilizados principalmente para excluir outras causas de dor no antepé, como deformidades ósseas, subluxações, luxações ou artrite. Radiografias simples em carga (com o paciente em pé) podem revelar alterações como o afastamento do espaço intermetatarsal distal ou a divergência dos dedos adjacentes, conhecidos como sinal de Sullivan.

O ultrassom, quando realizado por um radiologista experiente, é uma ferramenta útil para confirmar o diagnóstico, mostrando uma lesão de partes moles, não compressível, com formato de halter e hipoecogênica no espaço intermetatarsal. Além disso, o exame pode ser aproveitado para realizar injeções terapêuticas de corticoide guiadas por imagem.

A ressonância magnética (RM) também pode ser empregada, especialmente quando há dúvida diagnóstica ou necessidade de excluir outras patologias. Na RM, o neuroma aparece como uma lesão de partes moles em forma de halter, com sinal baixo em T1, baixo a intermediário em T2, e realce variável após contraste.

Neuroma de Morton
Paciente de 43 anos com dor e massa no pé há 1 ano. (A, B) Imagens de ressonância magnética ponderadas em T1 axial transversal, (C) coronal e (D) sagital ponderadas em T2, e (E) sagital com saturação de gordura, ponderadas em T1 pós-contraste, demonstram uma massa com discreto realce (setas) no terceiro espaço intermetatarsiano. O exame anatomopatológico revelou um neuroma de Morton. Fonte: UpToDate

Tratamento do Neuroma de Morton

O tratamento inicial é geralmente conservador, com o objetivo de reduzir a pressão mecânica sobre o nervo afetado. Recomenda-se o uso de calçados largos, com solado macio, cadarças e salto baixo, o que ajuda a aliviar a compressão no antepé. Alguns especialistas, no entanto, preferem solados firmes para dar maior estabilidade.

O uso de suportes plantares também é benéfico. As almofadas metatarsais (ou “metatarsal pads”), posicionadas logo atrás das cabeças dos metatarsos, ajudam a separar as cabeças metatarsais, reduzindo a pressão sobre o neuroma. Quando há sinovite, instabilidade ou deformidade dos artelhos, dispositivos como a órtese tipo Budin ou faixas de correção digital (canopy toe strapping) podem diminuir a dor neural associada.

Medicamentos como anti-inflamatórios, antidepressivos tricíclicos (ex.: amitriptilina) e anticonvulsivantes (ex.: gabapentina) podem ser usados para aliviar os sintomas neuropáticos. Injeções de corticosteroides, aplicadas de forma cega ou com guia ultrassonográfica, também podem reduzir a inflamação local, embora seus efeitos sejam geralmente temporários. Possíveis complicações dessas injeções incluem atrofia da gordura plantar, alteração da coloração da pele e deformidade articular.

Outras alternativas minimamente invasivas incluem ablação por radiofrequência, criocirurgia (crioterapia) e injeções de álcool no nervo, que têm se mostrado opções conservadoras para casos refratários.

Tratamento cirúrgico

Quando o tratamento conservador não proporciona alívio adequado, indica-se a cirurgia. O procedimento consiste na exérese (remoção) do neuroma e pode ser realizado por duas vias principais: dorsal ou plantar.

A abordagem dorsal é a mais utilizada, pois tende a ser melhor tolerada e evita cicatrizes dolorosas na planta do pé. Nela, faz-se uma incisão de aproximadamente 3 a 4 cm na região proximal ao espaço intermetatarsal afetado. 

Após a secção do ligamento metatarsal transverso, o nervo digital comum é identificado e dissecado até sua bifurcação. Pode-se realizar apenas a descompressão (neuroseção parcial), que já proporciona bons resultados em alguns casos, ou proceder à neurectomia completa, cortando o nervo proximalmente às cabeças metatarsais e suas ramificações. Para prevenir a formação de um neuroma residual doloroso, alguns cirurgiões fixam as extremidades do nervo seccionado aos músculos intrínsecos ou ao osso metatarsal.

O pós-operatório envolve o uso de um calçado especial até a retirada dos pontos (entre 7 e 14 dias) e bandagem compressiva por cerca de 2 a 6 semanas.

A abordagem plantar é reservada para casos recorrentes ou quando há um ponto de dor focal mais proximal. Essa via permite melhor visualização e preservação dos vasos e uma ressecção mais completa do nervo, mas pode resultar em cicatrizes dolorosas ou queratose plantar em até 5% dos casos.

De olho na prova!

Não pense que esse assunto fica de fora das provas de residência, concursos públicos e até das avaliações da graduação. Veja abaixo:

PR – Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu – PMFI – 2023 – Residência (Acesso Direto)

O Neuroma de Morton é causa comum de dor, desencadeada frequentemente pela compressão mecânica dos ramos de nervos de que região do corpo?

A) Face

B) Boca

C) Cerebelo

D) Pé

Comentário da questão:

Resposta correta: Alternativa “D

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Referências

Karl B Fields, MDBrian Atkinson, MD, CAQSM, DipABLM. Forefoot pain in adults: Evaluation, diagnosis, and select management of common causes. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate

Munir U, Tafti D, Morgan S. Morton Neuroma. [Updated 2023 May 22]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470249/

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