E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Sacroileíte, inflamação que acomete as articulações sacroilíacas e pode se manifestar com dor lombar baixa, rigidez matinal e limitação funcional, muitas vezes confundida com outras causas de lombalgia.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
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Definição de Sacroileíte
A sacroileíte é caracterizada pela inflamação da articulação sacroilíaca, que conecta o ílio ao sacro e desempenha papel essencial na estabilidade da pelve e na transmissão de cargas entre a coluna vertebral e os membros inferiores.
Trata-se de uma das maiores articulações do corpo humano e uma fonte comum de dor lombar baixa e glútea. O quadro clínico pode ser de difícil reconhecimento, já que os sintomas frequentemente se confundem com outras causas de dor lombar, o que torna o diagnóstico muitas vezes desafiador e subestimado.
A condição pode surgir por mecanismos degenerativos, como a osteoartrite, ou estar relacionada a fatores específicos, incluindo gravidez, traumas e diferentes espondiloartrites.
Além disso, há causas não degenerativas, como doenças reumáticas (a exemplo da espondilite anquilosante e da artrite psoriásica), condições metabólicas como o hiperparatireoidismo, processos infecciosos e até origens oncológicas.
Etiologia da Sacroileíte
A etiologia da sacroileíte é multifatorial e pode envolver tanto causas degenerativas quanto inflamatórias, infecciosas, hormonais e traumáticas. A osteoartrite representa um dos mecanismos mais comuns, promovendo degeneração da articulação sacroilíaca e resultando em alterações patológicas de sua mobilidade. As espondiloartrites também se destacam como importantes responsáveis pelo processo inflamatório direto da articulação.
No contexto da gestação, a produção do hormônio relaxina leva ao relaxamento, estiramento e até ao alargamento da articulação sacroilíaca, somando-se ao aumento do peso corporal e ao consequente estresse mecânico sobre a região, o que favorece o desenvolvimento da inflamação. Traumas, por sua vez, podem gerar sobrecarga direta ou indireta, ocasionando lesões e comprometimento da articulação.
Além dessas causas, destaca-se a sacroileíte piogênica como a forma infecciosa mais frequentemente descrita em quadros agudos, originando-se não apenas da própria articulação sinovial, mas também dos ligamentos sacrais posteriores, configurando uma manifestação clínica potencialmente grave.
Fisiopatologia da Sacroileíte
A fisiopatologia da sacroileíte envolve mecanismos inflamatórios, degenerativos e mecânicos que afetam a articulação sacroilíaca e suas estruturas adjacentes. O sacro articula-se com o ílio e desempenha papel fundamental na distribuição do peso corporal para a pelve.
A cápsula articular, relativamente delgada, pode apresentar defeitos que permitem o extravasamento de líquidos, como derrame articular ou pus, para os tecidos ao redor. Esse processo inflamatório pode comprometer músculos e ligamentos vizinhos, desencadeando diferentes padrões de dor devido à inervação variada desses tecidos.
A dor relacionada à sacroileíte costuma irradiar-se principalmente pelos dermátomos L4-L5, mas também pode envolver trajetos que variam desde L2 até S3. Alterações no movimento da pelve, especialmente quando assimétricas, favorecem disfunção mecânica, degeneração articular e intensificação do quadro doloroso.
A sobrecarga causada por desequilíbrios musculares, discrepâncias no comprimento dos membros inferiores, contraturas ou fraqueza da musculatura glútea e patologias associadas, como a osteoartrite do quadril, podem agravar a deterioração funcional da articulação sacroilíaca.
Manifestações clínicas da Sacroileíte
As manifestações clínicas da sacroileíte têm como sintoma mais frequente a dor lombar baixa, que pode variar em intensidade e localização. Essa dor pode se apresentar em uma ou ambas as nádegas, irradiar-se para quadris, coxas ou até para regiões mais distais.
Muitos pacientes relatam piora do quadro após longos períodos sentados ou durante movimentos rotacionais da pelve. A caracterização da dor também é variável, podendo ser descrita como aguda e em pontada ou como crônica, de caráter surdo e incômodo.
A avaliação clínica deve incluir a investigação de doenças inflamatórias associadas e sintomas sistêmicos como febre, calafrios, sudorese noturna e perda de peso, que sugerem processos sistêmicos mais graves.
Na inspeção, pode-se observar assimetrias pélvicas, discrepâncias no comprimento dos membros inferiores ou alterações na curvatura da coluna. Apesar disso, exames de amplitude de movimento, força e função neurológica costumam ser normais, embora a dor possa ser desencadeada durante a execução de alguns testes.
Testes provocativos
Os testes clínicos são importantes para confirmar a origem da dor. Entre os mais utilizados estão:
- Sinal de Fortin: dor reproduzida à palpação profunda na região da articulação sacroilíaca;
- Teste FABER: dor ao flexionar, abduzir e rotacionar externamente o quadril;
- Teste de distração sacral: dor ao aplicar pressão sobre as espinhas ilíacas ântero-superiores;
- Teste de compressão ilíaca: dor após pressão descendente sobre a crista ilíaca;
- Teste de Gaenslen: dor ao estender o quadril da perna afetada enquanto a outra é flexionada;
- Thigh thrust: dor após aplicar força de cisalhamento posterior sobre a articulação sacroilíaca;
- Sacral thrust: dor após pressão anterior exercida diretamente sobre o sacro.
A chance de que a dor seja mediada pela articulação sacroilíaca aumenta conforme cresce o número de testes positivos.
Diagnóstico de Sacroileíte
O diagnóstico da sacroileíte envolve a combinação de avaliação clínica, exames laboratoriais e métodos de imagem, além de procedimentos específicos que auxiliam na confirmação da origem da dor.
Exames laboratoriais
Quando há suspeita de condição inflamatória associada, podem ser solicitados: hemograma completo, velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa (PCR), fator antinuclear (FAN), antígeno HLA-B27 e fator reumatoide (FR).
- Hemograma: geralmente normal, mas pode mostrar leucocitose em casos infecciosos;
- VHS e PCR: costumam estar elevados em processos inflamatórios;
- HLA-B27: positivo em 50% a 92% dos pacientes com espondilite anquilosante;
- FR: geralmente negativo na espondilite anquilosante verdadeira;
Na suspeita de neoplasia, exames laboratoriais específicos podem ser solicitados para avaliação de malignidade.
Exames de imagem
A escolha do exame depende da suspeita clínica:
- Radiografia simples: não é obrigatória em casos sem trauma ou inflamação, mas quando indicada deve incluir incidência anteroposterior de pelve/coluna lombar ou incidências específicas da articulação sacroilíaca em ângulo de 25 a 30°. Pode mostrar esclerose e alterações degenerativas;
- Tomografia computadorizada (TC): revela esclerose, formação de osteófitos e subluxações, geralmente em fases mais avançadas;
- Ressonância magnética (RM): exame mais sensível para detectar sinais precoces, como edema subcondral;
- PET-CT: indicado em casos de suspeita de doença metastática óssea.
Teste diagnóstico intervencionista
O método mais informativo é a injeção intra-articular de anestésico e corticoide na articulação sacroilíaca.
- Alívio significativo da dor após o procedimento confirma a articulação como a fonte do quadro doloroso;
- Pode ser utilizado tanto como ferramenta diagnóstica quanto terapêutica;
- Recomenda-se não ultrapassar três infiltrações por ano;
- Em casos de resposta importante, ainda que temporária, pode-se considerar intervenção cirúrgica, visto que a dor foi corretamente localizada na articulação sacroilíaca.
Tratamento da Sacroileíte
O tratamento da sacroileíte pode variar conforme a causa, a gravidade dos sintomas e a resposta às terapias iniciais. Ele inclui medidas conservadoras, intervenções farmacológicas, procedimentos minimamente invasivos e, em casos mais graves, cirurgia.
Fisioterapia
A reabilitação fisioterapêutica é considerada uma das abordagens centrais:
- Nos casos de hipermobilidade, os exercícios têm como objetivo estabilizar e fortalecer a musculatura lombo-pélvica, reduzindo a sobrecarga articular.
- Nos casos de hipomobilidade, a fisioterapia busca melhorar a mobilidade da articulação sacroilíaca, promovendo maior amplitude funcional e alívio da dor.
Tratamento farmacológico
Durante a fase aguda, podem ser utilizados:
- Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), que ajudam a controlar dor e inflamação
- Relaxantes musculares, úteis para reduzir espasmos associados.
Essas medicações, no entanto, tendem a ser menos eficazes em quadros crônicos.
Intervenções minimamente invasivas
- Infiltração intra-articular com anestésico e corticoide, realizada com auxílio de imagem, pode ter tanto finalidade diagnóstica quanto terapêutica;
- Em casos de dor persistente, pode-se considerar a ablação por radiofrequência, que reduz a transmissão dos estímulos dolorosos.
Tratamento cirúrgico
A cirurgia é indicada apenas em situações refratárias, quando as medidas anteriores não oferecem alívio adequado. O procedimento mais utilizado é a fusão da articulação sacroilíaca com parafusos, com o objetivo de estabilizar a região e controlar a dor crônica.
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Referências
Buchanan BK, Varacallo MA. Sacroiliitis. [Updated 2023 Aug 8]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK448141/
Astrid van Tubergen, MD, PhD. Clinical manifestations of axial spondyloarthritis (ankylosing spondylitis and nonradiographic axial spondyloarthritis) in adults. UpToDate, 2024. Disponível em: UpToDate