E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Silicose, uma pneumoconiose causada pela inalação prolongada de partículas de sílica cristalina, comum em trabalhadores da mineração, construção civil e outras atividades industriais.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
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Definição de Silicose
A silicose é uma doença pulmonar ocupacional crônica, irreversível e progressiva, causada pela inalação de sílica cristalina respirável (RCS), uma forma biologicamente ativa da sílica com partículas menores que 5 μm de diâmetro.
Essas partículas alcançam os bronquíolos terminais e os alvéolos, onde não podem ser eliminadas pelos mecanismos de defesa do organismo, desencadeando um processo inflamatório persistente que resulta em fibrose do parênquima pulmonar.
Classificada como a pneumoconiose mais prevalente no mundo, a silicose está associada a significativa morbimortalidade e não possui tratamento curativo. A exposição ocupacional ocorre em diversas atividades industriais, como mineração, construção civil, corte de pedra, cerâmica e fabricação de jeans.
A doença aumenta a vulnerabilidade a infecções por micobactérias, doenças autoimunes e câncer de pulmão. Diante disso, a prevenção, o diagnóstico precoce, o controle de fatores agravantes e a abordagem multidisciplinar são fundamentais no manejo dos pacientes afetados.
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Etiologia da Silicose
A etiologia da silicose está diretamente relacionada à inalação de partículas de sílica cristalina respirável (RCS), liberadas durante atividades que envolvem o corte, moagem ou perfuração de materiais que contenham sílica.
A exposição ocupacional é a principal causa, sendo comum em indústrias como mineração, construção civil, fabricação de cerâmica, corte de pedras e, mais recentemente, na produção de jeans desgastado por jateamento com areia e em bancadas de pedra artificial, materiais que podem conter mais de 90% de sílica cristalina.
Essas partículas, por serem extremamente pequenas (menores que 5 μm), alcançam as regiões mais profundas dos pulmões, onde desencadeiam um processo inflamatório crônico que leva à fibrose pulmonar.
Embora formas amorfas da sílica, como as utilizadas na indústria de cosméticos e alimentos, sejam consideradas seguras quando em partículas maiores e não respiráveis, a exposição prolongada e intensa à sílica cristalina é a responsável pelo desenvolvimento da doença.
A reintrodução de métodos industriais que utilizam sílica em alta concentração, como no caso das bancadas de quartzo, tem contribuído para o ressurgimento da silicose em diversos países.
Fisiopatologia da Silicose
A fisiopatologia da silicose envolve um processo inflamatório crônico e progressivo desencadeado pela inalação de partículas de sílica cristalina respirável (RCS), que são suficientemente pequenas para ultrapassar os mecanismos de defesa mucociliares das vias aéreas superiores e alcançar os bronquíolos terminais e alvéolos.
Ao chegarem aos alvéolos, essas partículas são inicialmente revestidas por surfactante pulmonar, o que temporariamente reduz sua toxicidade. No entanto, esse efeito protetor dura apenas cerca de três dias, após os quais o surfactante sofre digestão enzimática, gerando acúmulo de detritos proteicos nos alvéolos, caracterizando a silicoproteinose, uma manifestação aguda da exposição.
Os macrófagos alveolares tentam fagocitar as partículas de sílica para eliminá-las, mas, por serem altamente resistentes à degradação, essas partículas promovem a formação de espécies reativas de oxigênio dentro dos lisossomos. Isso leva à ruptura lisossomal, liberação de enzimas digestivas no citoplasma e morte celular. A destruição dos macrófagos contribui para o acúmulo de material nos alvéolos e perda da homeostase do surfactante.
Como consequência, ocorre o recrutamento contínuo de novos macrófagos e ativação de fibroblastos, o que leva à formação de nódulos silicóticos, fibrose pulmonar difusa e redução da capacidade de troca gasosa. A morte dos macrófagos também libera novas partículas de sílica, perpetuando o ciclo de dano, inflamação e fibrose.
Além disso, a drenagem linfática dessas células pode explicar manifestações extrapulmonares, como linfadenopatia. Esse processo patológico é típico da forma crônica da doença, diferindo do curso abrupto da silicoproteinose em exposições intensas e agudas.
Manifestações clínicas da Silicose
As manifestações clínicas da silicose variam conforme a forma da doença, aguda, acelerada ou crônica, e estão diretamente relacionadas ao tempo e à intensidade da exposição à sílica cristalina respirável (RCS). Em todos os casos, o histórico ocupacional é fundamental para o diagnóstico, mesmo quando o paciente é assintomático.
Silicose aguda (Silicoproteinose)
- Período de latência: Semanas a até 5 anos após exposição intensa.
- Grupos de risco: Trabalhadores de jateamento abrasivo e escavações em túneis.
- Sintomas:
- Dispneia;
- Tosse;
- Dor pleurítica;
- Febre;
- Fadiga;
- Perda de peso.
- Achados no exame físico: Hipoxemia.
- Aspecto patológico: Alveolite intensa e acúmulo de proteína nos alvéolos (proteinose alveolar).
Silicose acelerada
- Período de latência: 5 a 10 anos após exposição a níveis moderados a altos.
- Características clínicas:
- Combina elementos da forma aguda e da crônica.
- Pode apresentar silicoproteinose e nódulos típicos da silicose crônica.
- Progressão mais rápida das lesões pulmonares.
- Sintomas: Semelhantes aos da forma crônica, porém com evolução mais agressiva.
Silicose crônica
- Período de latência: 10 a 30 anos após exposição prolongada a baixas concentrações.
- Formas clínicas:
- Simples (Nodular):
- Nódulos pulmonares < 10 mm.
- Geralmente assintomática.
- Pode haver tosse seca e dispneia aos esforços.
- Complicada (Fibrose Maciça Progressiva – PMF):
- Formação de massas > 10 mm por fusão de nódulos.
- Destruição do parênquima pulmonar.
- Sintomas: Dispneia severa, limitação funcional, insuficiência respiratória.
- Complicações: Hipertensão pulmonar e cor pulmonale.
- Simples (Nodular):
Diagnóstico de Silicose
Diagnóstico da Silicose
O diagnóstico da silicose é essencialmente clínico-radiológico, baseado em histórico de exposição ocupacional à sílica cristalina respirável (RCS) e achados de imagem compatíveis. Não existem exames laboratoriais específicos para confirmar a doença.
A radiografia de tórax é geralmente o primeiro exame solicitado por ser acessível, de baixo custo e com baixa dose de radiação. Ela pode revelar múltiplos nódulos bilaterais, predominantemente nos lobos superiores e médios, além de linfadenomegalias hilares e mediastinais. No entanto, a radiografia possui sensibilidade limitada nas fases iniciais da doença e pode não detectar alterações precoces.
A tomografia computadorizada de alta resolução (TCAR) é mais sensível e permite maior confiança diagnóstica, principalmente em estágios iniciais.
- Na silicose crônica simples, observa-se nódulos bem definidos (< 10 mm) nos lobos superiores, com possível distribuição perilinfática e linfadenopatia mediastinal e hilar.
- Na silicose crônica complicada (fibrose maciça progressiva), há massas conglomeradas (> 10 mm) nos ápices pulmonares posteriores, que podem migrar em direção ao hilo e causar distorções mediastinais ou traqueais.
- Na silicose aguda, os achados são menos bem documentados, mas a TCAR pode mostrar opacidades em vidro fosco, nódulos centrolobulares bilaterais e padrão em crazy-paving, indicativo de preenchimento alveolar e espessamento septal.
Os testes de função pulmonar podem ser normais em fases iniciais, mas tendem a mostrar restrição ventilatória com redução dos volumes pulmonares, da capacidade vital forçada (CVF), do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) e da capacidade de difusão nos estágios mais avançados.
Em muitos países, existem programas de vigilância para trabalhadores expostos à sílica, com foco na detecção precoce da doença. Esses programas incluem avaliação médica periódica, exame físico, exames de imagem e provas de função pulmonar. Diante de qualquer alteração sugestiva de silicose, o paciente deve ser encaminhado a um pneumologista ou especialista em saúde ocupacional.
Tratamento da Silicose
O tratamento da silicose é predominantemente suporte clínico, uma vez que não há terapia curativa disponível atualmente. As principais medidas incluem a administração de oxigênio suplementar em casos de hipóxia, a vacinação preventiva, o tratamento precoce de infecções respiratórias e a indicação de reabilitação pulmonar para melhora da qualidade de vida.
Nos casos mais graves e avançados, especialmente quando ocorre falência respiratória, a opção terapêutica viável é o transplante pulmonar. No entanto, esse procedimento apresenta alto custo, riscos significativos e disponibilidade limitada, além de oferecer uma sobrevida média de 6 a 7 anos após a cirurgia.
Apesar da ausência de cura, a silicose é uma doença prevenível. A prevenção primária é baseada no controle da exposição à sílica cristalina respirável (SCR). O diagnóstico precoce é fundamental, assim como o aconselhamento ao paciente para cessar a exposição ao agente causal e parar de fumar, medidas que ajudam a evitar a progressão da doença.
Embora novas abordagens estejam sendo estudadas, como terapias antifibróticas e agentes anti-citocinas, ainda não existem ensaios clínicos randomizados de grande escala que comprovem a eficácia e a segurança dessas intervenções.
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A silicose é uma pneumoconiose causada por exposição à sílica livre. Entre as patologias do aparelho respiratório, citadas a seguir, assinale aquela que pode estar associada à silicose.
A) Pneumonite química.
B) Asma ocupacional.
C) Tuberculose.
D) DPOC.
E) Derrame pleural com infiltrado eosinofílico.
Comentário da questão:
GABARITO: ALTERNATIVA C
A silicose é causada pela exposição à poeira de sílica (dióxido de silício – SiO2) e por sua inalação, representando uma doença pulmonar que reduz a elasticidade do órgão, podendo progredir para a fibrose. As áreas profissionais de risco envolvem principalmente a construção civil, a mineração, indústrias de cerâmica, agricultura e a metalurgia.
Importante ressaltar que a silicose aumenta o risco de câncer de pulmão e também de tuberculose.
Para enriquecer nossa discussão sobre a silicose, ela é conhecida por determinar radiologicamente pequenos nódulos no pulmão, chamados de “micronódulos silicóticos”, além de linfonodos calcificados (“casca de ovo”) no mediastino e nos hilos. A radiografia de tórax (e não a tomografia, nem a ressonância) é o exame indicado para a avaliação periódica de trabalhadores expostos à sílica. Veja um exemplo radiográfico (à esquerda) e outro tomográfico (à direita) dos micronódulos da silicose:
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Referências
Cecile Rose, MD, MPH. Silicosis. UpToDate, 2025. Disponível em: UpToDate
Baum L, Arnold TC. Silicosis. [Updated 2023 Aug 6]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www-ncbi-nlm-nih-gov.translate.goog/books/NBK594245/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc