Resumo sobre Síndrome do intestino curto: definição, manifestações clínicas e mais!
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Resumo sobre Síndrome do intestino curto: definição, manifestações clínicas e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Síndrome do Intestino Curto, uma condição caracterizada pela redução significativa da área funcional do intestino delgado, geralmente decorrente de ressecções extensas ou perda congênita do segmento intestinal. 

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Síndrome do intestino curto

A síndrome do intestino curto é uma condição decorrente da perda anatômica ou funcional significativa do intestino delgado, levando à redução da superfície absortiva necessária para a adequada assimilação de nutrientes, água e eletrólitos. 

Essa condição ocorre, na maioria das vezes, como consequência de ressecções intestinais extensas, mas também pode estar associada a alterações congênitas, doenças inflamatórias, isquêmicas ou outras situações que comprometam a integridade do intestino delgado.

A gravidade da síndrome está diretamente relacionada ao comprimento intestinal remanescente, ao segmento afetado, à preservação ou não da válvula ileocecal e à capacidade de adaptação do intestino residual. 

Após a perda de parte do intestino, o organismo passa por um processo de adaptação estrutural e funcional, no qual o segmento remanescente tenta compensar a redução da área absortiva por meio de alterações morfológicas e fisiológicas. Esse processo é variável entre os indivíduos e exerce papel fundamental na evolução da condição.

Etiologia da Síndrome do intestino curto

A etiologia da síndrome do intestino curto está associada a condições que resultam em perda extensa ou redução funcional do intestino delgado, geralmente após ressecções cirúrgicas amplas ou em decorrência de doenças congênitas ou adquiridas.

Em adultos, as causas mais frequentes incluem a doença de Crohn, devido à necessidade de ressecções repetidas, a isquemia mesentérica, que pode levar à necrose intestinal extensa, além da enterite por radiação, das aderências pós-cirúrgicas e de complicações pós-operatórias que comprometem grandes segmentos do intestino.

Na população pediátrica, a síndrome está mais relacionada a condições congênitas ou eventos do período neonatal, destacando-se o volvo intestinal, as malformações intestinais e a enterocolite necrosante, especialmente em recém-nascidos prematuros.

Fisiopatologia da Síndrome do intestino curto

A fisiopatologia da síndrome do intestino curto decorre principalmente da perda extensa da superfície absortiva intestinal associada ao aumento da velocidade do trânsito intestinal, o que compromete a absorção adequada de nutrientes, água e eletrólitos e pode levar à insuficiência intestinal crônica. A condição pode ser compreendida a partir de aspectos anatômicos e evolutivos do período pós-operatório.

Anatomicamente, a síndrome apresenta três configurações principais: jejunoestomia terminal, anastomose jejunocólica e anastomose jejunoileal. A presença ou ausência do cólon em continuidade exerce influência central na fisiopatologia, modulando a capacidade absortiva e o potencial de adaptação do intestino remanescente.

A evolução fisiopatológica ocorre em três fases. A fase aguda, que dura cerca de três a quatro semanas, é caracterizada por importantes alterações metabólicas, grandes perdas intestinais e hipersecreção gástrica, relacionadas à ausência de hormônios inibitórios normalmente produzidos pelo íleo terminal. 

Em seguida, desenvolve-se a fase de adaptação, que pode se estender por um a dois anos e envolve modificações estruturais e funcionais do intestino residual, como aumento da área absortiva, desaceleração do trânsito intestinal e maior ingestão alimentar compensatória. Esses mecanismos são estimulados pela presença de nutrientes no lúmen, pelas secreções pancreáticas e biliares e por hormônios produzidos pelo íleo e pelo cólon.

Quando a adaptação é inadequada, estabelece-se a insuficiência intestinal crônica, cuja reversibilidade depende do comprimento do intestino remanescente e do tipo de anastomose. A fase de manutenção representa o estágio final, refletindo o equilíbrio funcional alcançado após o período adaptativo.

Manifestações clínicas da Síndrome do intestino curto

A desnutrição é uma das manifestações centrais, frequentemente associada à perda ponderal progressiva, refletindo a incapacidade do intestino remanescente de suprir as necessidades metabólicas do organismo. 

A diarreia crônica é comum e está relacionada tanto à absorção inadequada quanto ao tempo reduzido de contato do conteúdo intestinal com a mucosa. Em muitos casos, observa-se esteatorreia, consequência da absorção deficiente de gorduras.

A perda excessiva de líquidos pelo trato gastrointestinal pode levar à desidratação, frequentemente acompanhada de distúrbios hidroeletrolíticos, como alterações nos níveis de sódio, potássio e magnésio. 

Além disso, são frequentes as deficiências vitamínicas, especialmente de vitaminas lipossolúveis e de micronutrientes essenciais, em razão da absorção intestinal insuficiente.

Tratamento da Síndrome do intestino curto

O tratamento da síndrome do intestino curto tem como objetivos centrais manter o estado nutricional adequado, potencializar a adaptação do intestino remanescente e prevenir ou tratar complicações associadas à insuficiência intestinal e à nutrição parenteral.

Abordagem nutricional inicial

No período pós-operatório imediato, o manejo inclui:

  • Introdução precoce de nutrição parenteral para garantir aporte adequado de energia, proteínas, líquidos e eletrólitos
  • Transição gradual para nutrição enteral assim que o íleo paralítico se resolve
  • Estímulo à presença de nutrientes no lúmen intestinal, fator fundamental para promover a adaptação intestinal e melhorar a absorção ao longo do tempo

Pacientes com falência intestinal irreversível podem necessitar de nutrição parenteral domiciliar por tempo prolongado. Em situações específicas, especialmente diante de complicações graves, o transplante intestinal pode ser considerado.

Prevenção e manejo das complicações associadas

Grande parte do tratamento envolve o controle das complicações decorrentes da síndrome ou da nutrição parenteral prolongada.

Doença hepática associada à insuficiência intestinal

O manejo inclui manutenção de alguma alimentação oral, tratamento precoce de infecções ou inflamações, otimização da nutrição parenteral e modificação das emulsões lipídicas, com redução das à base de soja ou substituição por emulsões à base de óleo de peixe.

Colelitíase

Pacientes com intestino delgado curto ou ausência da válvula ileocecal apresentam maior risco. A prevenção envolve manutenção da alimentação enteral, redução de períodos de jejum oral e limitação do uso de medicamentos que reduzem a motilidade intestinal.

Distúrbios hidroeletrolíticos e renais

Desidratação, hiponatremia, insuficiência renal crônica e nefrolitíase são manejadas com reposição intravenosa de líquidos, visando manter hidratação adequada, débito urinário em torno de 800 mL por dia e sódio urinário maior que 20 mmol/L.

Hipomagnesemia

Decorre da má absorção intestinal e da quelação por ácidos graxos. O tratamento inclui hidratação adequada e suplementação de magnésio para níveis séricos acima de 1,5 mg/dL.

Acidose láctica por D lactato

Relaciona-se à fermentação de carboidratos não absorvidos pela microbiota colônica. O manejo consiste na suspensão temporária de dietas ricas em carboidratos, antibioticoterapia direcionada, hidratação adequada e suplementação de tiamina.

Doença óssea metabólica

Frequentemente observada em pacientes em nutrição parenteral prolongada. O tratamento envolve ajustes dietéticos, correção de deficiências vitamínicas, otimização da nutrição parenteral e, em casos selecionados, uso de medicamentos específicos para a saúde óssea.

Tratamento cirúrgico

A abordagem cirúrgica é reservada para casos selecionados e tem como objetivos reduzir o trânsito intestinal, melhorar a absorção ou tratar complicações anatômicas. As opções incluem procedimentos de reconstrução intestinal, técnicas de alongamento ou, em situações específicas associadas a complicações graves da nutrição parenteral, o transplante intestinal.

Veja também! 

Referências

Guillen B, Atherton NS. Short Bowel Syndrome. [Updated 2023 Jul 17]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www-ncbi-nlm-nih-gov.translate.goog/books/NBK536935/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt&_x_tr_pto=tc

John K DiBaise, MD. Pathophysiology of short bowel syndrome. UpToDate,  2025. Disponível em: UpToDate

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