E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é a Tenossinovite de De Quervain, uma condição inflamatória que acomete os tendões do abdutor longo e extensor curto do polegar à medida que passam pelo primeiro compartimento dorsal do punho.
O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.
Vamos nessa!
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Definição de Tenossinovite De Quervain
A tenossinovite de De Quervain é definida como um processo inflamatório e degenerativo que acomete o primeiro compartimento dorsal do punho, onde passam os tendões abdutor longo do polegar e extensor curto do polegar.
Nessa condição, ocorre espessamento e degeneração mixoide das bainhas que envolvem esses tendões, levando ao seu deslizamento dificultado dentro do túnel fibro-ósseo situado ao longo da estiloide radial.
Esse ambiente restrito favorece o entrave mecânico dos tendões durante seus movimentos habituais, tornando a afecção uma das principais causas de dor relacionada à sobrecarga funcional do polegar.
A doença foi originalmente descrita pelo cirurgião suíço Fritz de Quervain em 1895 e apresenta maior prevalência em mulheres, especialmente no final da gestação e no período pós-parto, sugerindo possível influência de fatores hormonais, biomecânicos e ocupacionais em sua origem e evolução.
Fisiopatologia da Tenossinovite De Quervain
A fisiopatologia da tenossinovite de De Quervain envolve um processo mecânico e degenerativo que afeta especificamente o primeiro compartimento dorsal do punho. Esse compartimento, formado pelo retináculo extensor, abriga os tendões abdutor longo do polegar e extensor curto do polegar, revestidos por uma bainha sinovial que os separa dos demais compartimentos extensores.
Ao atravessarem um túnel fibroso de cerca de 2 cm sobre a estiloide radial, esses tendões ficam suscetíveis ao atrito e ao entrave, especialmente em situações de sobrecarga repetitiva ou trauma agudo.
O estresse contínuo sobre a bainha tendínea desencadeia uma resposta adaptativa com formação de fibrocartilagem, resultando em espessamento progressivo da bainha. Esse processo leva ao estreitamento do compartimento, produzindo uma tenossinovite estenosante. Paralelamente, ocorre neovascularização e degeneração mixoide, alterações que reforçam o caráter crônico e degenerativo da condição.
Em muitos casos, existe um septo anatômico separando os dois tendões dentro do próprio compartimento, o que reduz ainda mais o espaço disponível e influencia tanto a manifestação da doença quanto a abordagem terapêutica, já que esse septo pode dificultar a mobilidade dos tendões e deve ser considerado nas intervenções clínicas e cirúrgicas.
Manifestações clínicas da Tenossinovite De Quervain
O quadro costuma iniciar com dor na face radial do punho, acentuada por movimentos do polegar ou pela mobilização do punho. Essa dor pode dificultar atividades simples, como abrir a tampa de frascos ou segurar objetos. À palpação, observa-se sensibilidade evidente sobre a estiloide radial e, quando presente, o edema tende a localizar-se na região imediatamente proximal a essa estrutura.
O perfil típico de pacientes envolve mulheres no terceiro trimestre de gestação ou no período de amamentação, muitas vezes expostas a movimentos repetitivos ao carregar o bebê. Além da avaliação clínica, testes provocativos ajudam a reforçar a suspeita diagnóstica. Dentre eles, destacam-se: o teste de Finkelstein, que desencadeia dor aguda no primeiro compartimento dorsal ao desviar o punho com o polegar em flexão; o teste de Eichhoff, que reproduz o desconforto ao fechar o punho sobre o polegar e desviá-lo em direção à ulna; e o teste WHAT, que combina hiperflexão do punho com abdução do polegar, também gerando dor típica.
Diagnóstico de Tenossinovite De Quervain
O diagnóstico da tenossinovite de De Quervain é essencialmente clínico, fundamentado na história típica relatada pelo paciente e nos achados do exame físico. A reprodução da dor em testes provocativos e a sensibilidade localizada no primeiro compartimento dorsal do punho constituem os principais elementos para confirmação diagnóstica.
Exames de imagem, embora não necessários para estabelecer o diagnóstico, podem ter utilidade complementar. Radiografias simples não confirmam a doença, mas ajudam a excluir outras causas de dor no punho radial, como osteoartrite da articulação carpometacarpal do polegar.
Já a ultrassonografia pode ser valiosa ao identificar a presença de um septo dentro do primeiro compartimento dorsal, informação que auxilia no planejamento terapêutico. No tratamento conservador, o conhecimento desse septo aumenta a precisão das infiltrações com corticosteroides.
Quando há indicação cirúrgica, a detecção pré-operatória do septo torna-se relevante, pois ambos os subcompartimentos precisam ser adequadamente liberados para garantir alívio eficaz da dor.
Tratamento da Tenossinovite De Quervain
A condição pode ser autolimitada e resolver espontaneamente, mas pacientes com sintomas persistentes geralmente recorrem a medidas conservadoras. Entre elas, o uso de órtese do tipo thumb spica pode proporcionar alívio temporário, embora apresente alta taxa de falha e baixa adesão.
A imobilização rígida não é recomendada, pois pode acentuar a degeneração mixoide dos tendões; por isso, prefere-se imobilização com tala semirrígida removível, especialmente em quadros leves. Outras modalidades descritas incluem laser, ultrassom terapêutico e acupuntura, mas sem evidências robustas de eficácia.
Infiltração com corticosteroides
A infiltração no interior da bainha tendínea é uma das estratégias mais eficazes, oferecendo alívio quase completo com uma ou duas aplicações em grande parte dos pacientes. A técnica deve ser realizada cerca de 1 cm proximal à estiloide radial, buscando infiltrar as bainhas do abdutor longo e extensor curto do polegar no túnel fibro-ósseo, minimizando riscos como atrofia subcutânea e hipopigmentação. O uso de ultrassonografia melhora a precisão, especialmente quando há septações no compartimento, e aumenta as taxas de sucesso. Uma única infiltração pode aliviar aproximadamente metade dos pacientes, enquanto uma segunda aplicação pode beneficiar até 45% deles. Injeções múltiplas em curto período, entretanto, podem enfraquecer os tendões.
Tratamento cirúrgico
A cirurgia é indicada quando não há melhora após duas infiltrações ou quando os sintomas recidivam. Geralmente realizada em regime ambulatorial, com anestesia local, regional ou geral, a técnica envolve incisão transversal sobre o primeiro compartimento dorsal, identificação cuidadosa dos ramos do nervo radial superficial e abertura da bainha tendínea.
Caso existam subsheaths ou septações, elas também devem ser liberadas. Após a liberação completa, a ferida é fechada e o paciente recebe curativo simples, retornando precocemente às atividades leves. Diversas variações técnicas são descritas, incluindo abordagem endoscópica, todas com altas taxas de alívio sintomático e baixa incidência de complicações.
Cuidados pós-operatórios e complicações
O período pós-operatório costuma ser simples, com curativos básicos e retorno às atividades cotidianas assim que o desconforto permitir. Os pontos são retirados em cerca de duas semanas, e a recuperação funcional é geralmente rápida.
Complicações são incomuns, mas podem incluir infecção local, deiscência de ferida, lesão do nervo radial superficial e subluxação dos tendões liberados, além de cicatriz hipertrófica. A maioria é manejada de forma conservadora, embora casos raros de neuropatia dolorosa exijam intervenção adicional.
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Referências
Satteson E, Tannan SC. De Quervain Tenosynovitis. [Updated 2023 Nov 22]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK442005/



