Olá, querido doutor e doutora! A Anomalia de Pelger-Huët é uma alteração hematológica rara, caracterizada por neutrófilos com núcleo hipossegmentado e cromatina condensada. Geralmente se apresenta de forma benigna e assintomática, sendo identificada em exames laboratoriais de rotina.
Sua principal relevância clínica está no diagnóstico diferencial com a pseudo-Pelger-Huët, observada em síndromes mielodisplásicas e outras condições adquiridas.
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Conceito
A Anomalia de Pelger-Huët (PHA) é uma alteração hematológica hereditária rara, transmitida de forma autossômica dominante, caracterizada por hipossegmentação nuclear dos neutrófilos e por uma cromatina nuclear mais condensada do que o habitual. Essas células apresentam morfologia típica em forma de “pince-nez” (óculos de aro redondo) ou de halteres, distinguindo-se das formas imaturas por possuírem cromatina madura.
Embora chame atenção nos exames laboratoriais, a PHA na maioria dos casos não se associa a repercussões clínicas significativas, sendo considerada um achado morfológico benigno. Entretanto, sua importância reside no diagnóstico diferencial, pois pode ser confundida com alterações adquiridas observadas em síndromes mielodisplásicas e em processos infecciosos ou induzidos por drogas.
Genética e etiologia
A Anomalia de Pelger-Huët tem origem em mutações do gene do receptor da laminina B (LBR), localizado no cromossomo 1q41–43. Esse gene codifica uma proteína integral da membrana nuclear interna, com funções ligadas à organização da cromatina, à ligação da heterocromatina ao envelope nuclear e também ao metabolismo do colesterol.
Na forma heterozigótica, há produção reduzida do LBR, o que resulta em neutrófilos com núcleo hipossegmentado, geralmente bilobulado. Já na forma homozigótica, a ausência quase completa da proteína leva a núcleos arredondados ou pouco segmentados e pode estar associada a malformações do desenvolvimento.
Além da forma congênita, existem situações denominadas pseudo-Pelger-Huët, em que a hipossegmentação nuclear surge de maneira adquirida, geralmente relacionada a síndromes mielodisplásicas, leucemias, infecções ou uso de determinados medicamentos.
Epidemiologia
A Anomalia de Pelger-Huët é considerada rara, com prevalência estimada entre 0,01% e 0,1% da população mundial. Apesar da baixa frequência, há relatos de agrupamentos familiares e regionais devido a efeito fundador, como descrito em comunidades da Suécia (condado de Västerbotten) e da Alemanha (vila de Gelenau), onde a prevalência pode ultrapassar 0,6% em determinados grupos.
Por ser geralmente assintomática e detectada apenas em análises hematológicas, acredita-se que a condição possa estar subdiagnosticada, especialmente em locais onde exames morfológicos detalhados dos leucócitos não são rotina.
Avaliação clínica
Forma heterozigótica
Na maioria dos indivíduos heterozigotos, a anomalia de Pelger-Huët se apresenta de forma benigna e assintomática. O achado principal é a alteração morfológica dos neutrófilos, que exibem núcleos bilobulados ou em forma de “óculos pince-nez”. Nesses casos, a função leucocitária é preservada, e não há maior risco de infecções ou manifestações clínicas sistêmicas.
Forma homozigótica
Nos pacientes homozigotos, a alteração é mais expressiva. Além da hipossegmentação nuclear acentuada, descrita como núcleos arredondados ou pouco segmentados, podem surgir anormalidades do desenvolvimento. Entre elas, destacam-se retardo psicomotor, alterações esqueléticas (como polidactilia e encurtamento de metacarpos), macrocefalia com fronte proeminente e, em alguns relatos, cardiopatias congênitas, como o defeito do septo ventricular.
Gravidade clínica
Enquanto os heterozigotos mantêm uma condição limitada a achados hematológicos, a forma homozigótica pode se associar a fenótipos variáveis, que vão desde quadros discretos até síndromes malformativas complexas. Essa heterogeneidade reforça a necessidade de avaliação clínica individualizada nos casos confirmados.
Diagnóstico
Morfologia no esfregaço periférico
O diagnóstico da anomalia de Pelger-Huët é realizado principalmente por meio da análise de esfregaços de sangue periférico. Os neutrófilos apresentam núcleos bilobulados ou em forma de pince-nez, com cromatina densa e madura, o que os diferencia das formas jovens da série granulocítica. Em indivíduos heterozigotos, até 90% dos neutrófilos podem ter esse padrão nuclear. Já nos homozigotos, predominam células com núcleos arredondados ou pouco segmentados, podendo simular mielócitos, mas mantendo cromatina condensada.
Achados laboratoriais complementares
O número total de leucócitos geralmente é normal, e não há evidência de alterações citoplasmáticas significativas. O exame de medula óssea, quando realizado, mostra maturação granulocítica preservada até a fase de mielócito, reforçando a natureza morfológica e não proliferativa da anomalia.
Diagnóstico diferencial
É fundamental distinguir a forma hereditária da pseudo-Pelger-Huët, que surge em contextos adquiridos. Esta pode ocorrer em associação a síndromes mielodisplásicas, leucemias, infecções virais ou bacterianas, doenças autoimunes e até pelo uso de certos fármacos (quimioterápicos, antivirais, imunossupressores). Diferentemente da forma congênita, a pseudo-Pelger-Huët costuma vir acompanhada de citopenias, disgranulopoiese e envolvimento de outras linhagens hematopoiéticas, sendo considerada marcador morfológico de síndromes mielodisplásicas.
Integração clínica e familiar
Para confirmar a natureza benigna da alteração, a história familiar e a ausência de sintomas sistêmicos são informações valiosas. Em casos duvidosos, estudos genéticos do gene LBR podem esclarecer se se trata de mutação hereditária.
Prognóstico
Forma hereditária
Na anomalia de Pelger-Huët de origem genética, o prognóstico é benigno. Indivíduos heterozigotos apresentam expectativa de vida normal e não apresentam predisposição a infecções graves ou complicações hematológicas. O achado costuma permanecer apenas como curiosidade morfológica nos exames laboratoriais, sem necessidade de intervenção terapêutica.
Forma homozigótica
Nos raros casos homozigóticos, o prognóstico é variável, pois pode haver associação com alterações do desenvolvimento e malformações congênitas. A gravidade depende da expressão fenotípica, que pode ir de manifestações discretas até síndromes complexas. Ainda assim, a anomalia por si só não compromete diretamente a sobrevida, sendo os desfechos determinados pelas malformações associadas.
Pseudo-Pelger-Huët
Na forma adquirida, o prognóstico está diretamente relacionado à condição de base. Quando associado a síndromes mielodisplásicas, leucemias ou outras doenças hematológicas, a presença de neutrófilos pelgeroides é considerada um marcador de displasia e pode indicar pior evolução clínica. Nesses cenários, o achado não é benigno e deve levar à investigação detalhada do paciente.
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Referências Bibliográficas
- SPEECKAERT, M. M. et al. Pelger-Huët Anomaly: A Critical Review of the Literature. Acta Haematologica, v. 121, p. 202-206, 2009.
- DYNAMED. Myelodysplastic Syndrome (MDS). Ipswich, MA: EBSCO Information Services, 2024.