Olá, querido doutor e doutora! O eletroencefalograma (EEG) é um exame que revela a atividade elétrica cerebral, permitindo compreender o funcionamento do cérebro em diferentes estados, vigília, sono, crises epilépticas ou alterações metabólicas. Sua execução simples e não invasiva o torna uma ferramenta valiosa tanto no diagnóstico quanto no acompanhamento de diversas condições neurológicas.
Mesmo diante de exames de imagem sofisticados, o EEG permanece como uma das formas mais diretas de observar a atividade cerebral em tempo real.
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O que é Eletroencefalograma
O eletroencefalograma (EEG) é um exame que permite observar a linguagem elétrica do cérebro. Por meio de pequenos sensores colocados sobre o couro cabeludo, o aparelho capta as variações de voltagem geradas pela atividade dos neurônios do córtex cerebral, transformando-as em traçados que representam o ritmo e a organização das ondas cerebrais.
Fisiologia e bases eletrofisiológicas
Atividade elétrica cerebral e origem do sinal
O eletroencefalograma traduz a atividade elétrica que ocorre entre os neurônios do córtex cerebral, especialmente os neurônios piramidais. Essas células estão dispostas em camadas e se comunicam por meio de impulsos elétricos, que geram pequenas variações de carga conhecidas como potenciais pós-sinápticos. Quando um grande número dessas descargas ocorre de forma sincronizada, o EEG capta o somatório desses sinais e os transforma em ondas visíveis, revelando o funcionamento coletivo do cérebro em tempo real.
Ritmos cerebrais e significados clínicos
As ondas captadas pelo EEG são classificadas de acordo com sua frequência e amplitude. As ondas alfa predominam no repouso e relaxamento; as beta, durante atenção e raciocínio ativo; as teta, na transição entre vigília e sono; e as delta, no sono profundo ou em estados de lentificação cerebral. Esse equilíbrio de ritmos reflete a comunicação constante entre o córtex e o tálamo, que modulam o ritmo dominante do cérebro.
Mudanças durante ativação e crises
Quando o cérebro é estimulado — por atividade mental, sensorial ou emocional — há uma dessincronização das ondas, que se tornam mais rápidas e de menor amplitude. Já nas crises epilépticas, ocorre uma descarga elétrica hiperssincronizada, originada em uma rede neuronal anômala, gerando picos e complexos que aparecem de forma abrupta no traçado do exame. Essas alterações ajudam a compreender tanto o funcionamento normal quanto as disfunções cerebrais observadas em diferentes condições clínicas.
Indicações clínicas
Avaliação de crises epilépticas
O eletroencefalograma (EEG) é amplamente utilizado para investigar e classificar crises epilépticas, permitindo identificar o tipo de epilepsia e a localização da descarga elétrica no cérebro. O exame auxilia tanto no diagnóstico inicial quanto no acompanhamento de pacientes em tratamento, além de ser essencial na avaliação pré-cirúrgica de casos refratários à medicação.
Alterações de consciência e encefalopatias
Em pacientes com confusão mental, coma ou redução do nível de consciência, o EEG ajuda a diferenciar causas metabólicas, tóxicas ou estruturais. Ele pode demonstrar padrões específicos de encefalopatia, como lentificação difusa ou descargas periódicas, orientando o diagnóstico e o prognóstico. Também é útil no monitoramento de pacientes internados em terapia intensiva, especialmente aqueles sob sedação ou em ventilação mecânica.
Prognóstico pós-parada cardíaca e morte encefálica
Após uma parada cardiorrespiratória, o EEG é usado para avaliar a atividade cerebral residual e estimar o potencial de recuperação neurológica. Em situações de suspeita de morte encefálica, o exame pode ser um dos métodos complementares para confirmar a ausência de atividade elétrica cortical.
Investigação de síncope e distúrbios do sono
O EEG pode ser solicitado em casos de episódios de perda transitória da consciência, quando há dúvida entre crise epiléptica e síncope de origem cardíaca ou vasovagal. Também é aplicado na análise de distúrbios do sono, como parassonias, apneia e narcolepsia, por meio de registros prolongados e polissonografia.
Outras aplicações neurológicas
O exame também auxilia no monitoramento da profundidade anestésica durante cirurgias, na avaliação de delírio, demências e sequelas de AVC, além de servir como ferramenta de pesquisa em neurociência e psiquiatria. Trata-se, portanto, de um exame versátil, capaz de traduzir alterações funcionais do cérebro mesmo quando as imagens estruturais se mostram normais.
Contraindicações e precauções
Ausência de contraindicações absolutas
O eletroencefalograma (EEG) é um exame seguro e não invasivo, sem contraindicações absolutas. Ele pode ser realizado em pacientes de todas as idades, inclusive em recém-nascidos e em pessoas em estado crítico. No entanto, alguns cuidados são necessários para garantir a segurança do paciente e a qualidade do registro.
Situações que exigem cautela
Em casos de ferimentos abertos no couro cabeludo, pós-craniotomia ou presença de lesões infecciosas, a colocação dos eletrodos pode ser dificultada ou apresentar risco de contaminação. Nesses casos, o exame deve ser adiado ou realizado com materiais estéreis e técnicas adaptadas. Pacientes com agitação psicomotora intensa também podem exigir contenção física leve ou sedação mínima para evitar artefatos e garantir a integridade do equipamento.
Cuidados com procedimentos de ativação
Alguns estímulos utilizados durante o EEG, como hiperventilação e estimulação luminosa intermitente, podem representar risco em situações específicas. A hiperventilação, por exemplo, deve ser evitada em pacientes com doença cerebrovascular, infarto recente, asma, anemia falciforme ou síndrome de Moyamoya, pois pode precipitar hipóxia ou isquemia cerebral. Já a estimulação luminosa deve ser cuidadosamente aplicada em indivíduos com epilepsia fotossensível, utilizando protocolos controlados e supervisão médica.
Preparo e segurança do paciente
Antes do exame, recomenda-se que o paciente evite produtos capilares que dificultem a aderência dos eletrodos e que seja feita uma limpeza adequada do couro cabeludo para reduzir a impedância elétrica. Em ambiente hospitalar, é importante minimizar interferências de aparelhos eletrônicos e garantir uma monitorização contínua durante o procedimento, especialmente em pacientes críticos.
Preparação do paciente
Orientações prévias e higiene do couro cabeludo
Antes da realização do eletroencefalograma (EEG), o paciente deve receber orientações claras sobre o exame. É recomendado lavar o cabelo na véspera, evitando o uso de cremes, géis ou condicionadores, pois essas substâncias aumentam a resistência elétrica (impedância) e prejudicam o contato dos eletrodos com o couro cabeludo. O objetivo é garantir uma condução elétrica eficiente e um traçado limpo, sem ruídos artificiais.
Uso de medicações e sono
Em geral, o paciente deve manter o uso habitual de medicações anticonvulsivantes ou neurológicas, salvo orientação médica contrária. Em alguns casos, o exame pode ser realizado com privação parcial do sono, especialmente quando há suspeita de epilepsia, pois o cansaço aumenta a probabilidade de surgirem descargas elétricas anormais. Quando necessário, o paciente é instruído a dormir menos horas na noite anterior.
Cuidados durante o exame
Durante o procedimento, o ambiente deve ser tranquilo, silencioso e com iluminação controlada. O paciente é posicionado confortavelmente em uma cadeira reclinável ou maca, e o técnico realiza a fixação dos eletrodos conforme o sistema internacional 10–20. É importante que o paciente permaneça relaxado e imóvel, evitando movimentos bruscos que possam gerar artefatos no registro.
Pacientes hospitalizados e em UTI
Em pacientes internados, especialmente em unidades de terapia intensiva, são adotadas medidas adicionais para reduzir interferências de monitores, bombas de infusão e ventiladores. Nesses casos, a equipe pode optar por eletrodos descartáveis ou eletrodos secos, diminuindo o risco de infecção. O uso de contenções físicas leves pode ser necessário para evitar deslocamento dos sensores, priorizando sempre o conforto e a segurança do paciente.
Técnica e tipos de montagens
Ambiente e posicionamento dos eletrodos
O eletroencefalograma (EEG) é realizado em uma sala silenciosa, com iluminação controlada e temperatura agradável, para evitar estímulos externos que possam interferir no traçado. O paciente é acomodado em posição confortável, geralmente reclinado, e instruído a permanecer imóvel e relaxado. A colocação dos eletrodos segue o sistema internacional 10–20, que padroniza a distância entre os pontos de fixação sobre o couro cabeludo, garantindo uma cobertura uniforme das áreas cerebrais. Em adultos, são utilizados pelo menos 21 eletrodos, além de um de referência e um de aterramento. Após a fixação, verifica-se a impedância elétrica, que deve ser inferior a 5 kΩ, assegurando boa qualidade do sinal.
Etapas e calibração do exame
Antes do início do registro, o aparelho é calibrado por meio de um sinal padrão de onda quadrada e uma verificação biológica, assegurando a fidelidade das medições. Durante o exame, podem ser realizados procedimentos de ativação — como abertura e fechamento dos olhos, hiperventilação e estimulação luminosa intermitente — para provocar alterações fisiológicas que facilitem a detecção de descargas epileptiformes. Quando indicado, a privação de sono é utilizada como estímulo adicional para aumentar a sensibilidade do exame.
Montagens de registro
As montagens correspondem à forma como os canais do EEG exibem as diferenças de potencial entre os eletrodos. A escolha da montagem depende do objetivo clínico e da região cerebral a ser analisada. Os principais tipos são:
- Montagem referencial: compara a atividade elétrica de cada eletrodo com um ponto de referência comum (por exemplo, orelha ou média de todos os eletrodos). É útil para identificar descargas focais.
- Montagem bipolar: registra a diferença de potencial entre dois eletrodos vizinhos, dispostos de forma longitudinal (frontal a occipital) ou transversa (de um hemisfério ao outro). Permite detectar assimetria entre os hemisférios e localizar melhor o foco epileptiforme.
- Montagem laplaciana: utiliza uma média ponderada das atividades ao redor de um eletrodo específico, destacando descargas focais de pequena extensão com maior precisão espacial.
Interpretação e ajustes digitais
Com o avanço tecnológico, os registros digitais permitem reformatar e reconfigurar as montagens conforme a necessidade do neurofisiologista. Essa flexibilidade facilita a localização de áreas anormais e a comparação entre regiões cerebrais, otimizando a interpretação diagnóstica.
Complicações possíveis
Segurança e natureza não invasiva do exame
O eletroencefalograma (EEG) é um procedimento seguro, indolor e não invasivo, com baixíssimo risco de complicações. A maioria dos pacientes realiza o exame sem qualquer intercorrência, podendo retomar suas atividades logo após o término. No entanto, determinadas situações clínicas e técnicas exigem atenção da equipe para evitar desconfortos ou eventos adversos.
Reações durante os testes de ativação
Durante os procedimentos de hiperventilação ou estimulação luminosa intermitente, podem ocorrer tontura, formigamento, cefaleia ou mal-estar transitório, principalmente em pacientes sensíveis. Em indivíduos predispostos, esses estímulos podem desencadear crises epilépticas reflexas, o que, embora raro, requer preparo do profissional para interromper imediatamente o teste e oferecer suporte.
Complicações cutâneas e locais
Nos registros prolongados, como em monitorização contínua em unidades de epilepsia ou terapia intensiva, pode surgir irritação ou lesão na pele devido ao contato prolongado dos eletrodos e da pasta condutora. Para minimizar o risco, é fundamental realizar inspeções periódicas do couro cabeludo, alternar pontos de fixação e manter a higiene adequada do local.
Riscos em pacientes críticos
Em ambientes hospitalares, especialmente na UTI, o uso de múltiplos cabos e dispositivos pode aumentar o risco de tração acidental dos eletrodos ou interferência com outros equipamentos. Além disso, pacientes com instabilidade clínica podem necessitar de contenção leve para evitar movimentações bruscas. Mesmo nesses casos, o risco é considerado muito baixo quando há supervisão contínua e equipe treinada.
Significado clínico e aplicações atuais
Ferramenta funcional de avaliação cerebral
O eletroencefalograma (EEG) é uma das principais formas de avaliar a função elétrica do cérebro em tempo real, sendo capaz de detectar alterações que não aparecem em exames de imagem estrutural. Ele reflete o equilíbrio entre atividade cortical e subcortical, ajudando a identificar distúrbios que afetam o funcionamento neuronal, como epilepsias, encefalopatias e distúrbios de consciência.
Epilepsia e monitorização contínua
No contexto da epilepsia, o EEG é essencial para diagnosticar o tipo de crise, localizar o foco epileptogênico e orientar o tratamento. Registros prolongados, com vídeo sincronizado, permitem correlacionar manifestações clínicas e descargas elétricas, sendo decisivos na avaliação pré-cirúrgica de pacientes refratários. Além disso, o uso de EEG contínuo em UTI auxilia na detecção de crises subclínicas e estado de mal não convulsivo, condições frequentemente silenciosas, mas com alto impacto prognóstico.
Alterações metabólicas, tóxicas e estruturais
Em pacientes com encefalopatias metabólicas ou tóxicas, o EEG mostra padrões característicos de lentificação e ondas trifásicas, contribuindo para a diferenciação entre causas neurológicas e sistêmicas de confusão mental. Também é útil na avaliação de traumatismos cranianos, AVC e anóxia cerebral, ajudando a estimar o grau de comprometimento e a evolução neurológica.
Prognóstico e diagnóstico diferencial
O exame é amplamente utilizado na avaliação do coma e no prognóstico pós-parada cardiorrespiratória, permitindo distinguir atividade cerebral residual de ausência completa de resposta elétrica. Em casos de morte encefálica, pode servir como teste complementar, conforme a legislação e os protocolos institucionais. Além disso, o EEG auxilia no diagnóstico diferencial entre crises psicogênicas, síncope e distúrbios do sono, orientando condutas mais precisas.
Uso ampliado e integração tecnológica
Com os avanços digitais, o EEG tornou-se mais portátil, sensível e integrado a softwares de análise automatizada, ampliando seu uso em telemedicina e em pesquisas de neurociência. Essa evolução permite monitorar a atividade cerebral em tempo real, favorecendo intervenções precoces em pacientes críticos e contribuindo para uma medicina mais personalizada e dinâmica.
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Referências Bibliográficas
- RAYI, Appaji; MURR, Najib I. Electroencephalogram. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK563295/.