Olá, querido doutor e doutora! A plaquetopenia assintomática é um achado laboratorial frequente que, na maioria das vezes, não representa uma condição grave. Sua detecção exige uma avaliação criteriosa para diferenciar causas benignas transitórias de doenças subjacentes. A abordagem clínica deve ser baseada na confirmação do achado, exclusão de causas secundárias e seguimento individualizado.
Mesmo valores levemente abaixo do normal podem não ter implicações clínicas, mas merecem uma abordagem estruturada e racional.
Navegue pelo conteúdo
Conceito
A plaquetopenia assintomática refere-se à redução da contagem de plaquetas no sangue periférico para valores abaixo de 150.000/mm³, sem que o paciente apresente sinais ou sintomas relacionados a sangramentos ou distúrbios hematológicos. Na maioria das vezes, esse achado é identificado de maneira incidental durante exames laboratoriais de rotina. Embora possa refletir desde variações fisiológicas até doenças hematológicas complexas, sua simples presença, sem manifestações clínicas, requer uma abordagem cautelosa e individualizada, evitando tanto alarmismos quanto negligências.
Fisiopatologia
A diminuição da contagem de plaquetas pode resultar de três mecanismos principais: produção insuficiente, destruição aumentada ou sequestro periférico.
- Na produção diminuída, o comprometimento da medula óssea por infecções virais, deficiências nutricionais (como folato e vitamina B12), uso de fármacos mielotóxicos ou doenças como síndromes mielodisplásicas reduz a liberação de plaquetas ao sangue periférico.
- Já a destruição aumentada ocorre quando há resposta imune contra plaquetas, como na púrpura trombocitopênica imune (PTI), ou em condições como lúpus eritematoso sistêmico, infecções crônicas (HIV, hepatite C) e uso de medicamentos que induzem formação de autoanticorpos.
- No caso do sequestro esplênico, frequentemente associado a doenças hepáticas com hipertensão portal, há retenção de plaquetas no baço aumentado, o que reduz a fração circulante.
Mesmo na ausência de sintomas, esses mecanismos podem estar ativos, tornando fundamental uma avaliação clínica e laboratorial minuciosa para definir a origem do distúrbio.
Epidemiologia e fatores de risco
A plaquetopenia assintomática é um achado relativamente comum em exames laboratoriais de rotina, especialmente em contextos ambulatoriais. Estima-se que uma proporção significativa dos casos de contagem plaquetária reduzida ocorra sem associação com doenças graves, sendo muitas vezes transitória ou relacionada a variações fisiológicas.
Certos grupos populacionais apresentam maior predisposição, como:
- Gestantes, em razão de alterações fisiológicas da gestação, como hemodiluição e hiperesplenismo leve;
- Idosos, pela maior prevalência de doenças hepáticas, deficiências nutricionais e uso crônico de medicamentos;
- Pacientes com doenças autoimunes, como lúpus eritematoso sistêmico e síndrome antifosfolípide;
- Indivíduos em uso de medicamentos associados à supressão medular ou destruição imunomediada de plaquetas;
- Pessoas com infecções virais recentes, como dengue, mononucleose, varicela e hepatite C, nas quais a plaquetopenia pode surgir como manifestação transitória;
- Etilistas crônicos, que podem apresentar redução plaquetária por deficiência de nutrientes, toxicidade medular ou hiperesplenismo.
Além disso, é importante considerar que variações laboratoriais ou técnicas de coleta inadequadas podem gerar resultados falsamente baixos, reforçando a necessidade de confirmação antes de qualquer intervenção.
Causas comuns
Diversos fatores podem levar à redução da contagem de plaquetas sem manifestar sintomas clínicos. Entre as principais causas de plaquetopenia assintomática, destacam-se:
- Pseudoplaquetopenia: resultado de aglutinação plaquetária no tubo de coleta com EDTA, levando a falsa redução da contagem. Deve ser descartada por meio de nova coleta com anticoagulante citrato ou contagem manual em lâmina.
- Gestação: a plaquetopenia gestacional é geralmente leve e benigna, decorrente de diluição plasmática e aumento da captação esplênica. Costuma se resolver espontaneamente após o parto.
- Uso de medicamentos: uma ampla variedade de fármacos pode interferir na produção ou destruição das plaquetas. Entre os mais implicados estão:
- Anti-inflamatórios não esteroides (como ibuprofeno, naproxeno, diclofenaco);
- Antibióticos (sulfas, betalactâmicos, vancomicina);
- Anticonvulsivantes (carbamazepina, ácido valproico);
- Antipsicóticos (haloperidol, quetiapina);
- Outros: paracetamol, heparina, quimioterápicos, imunobiológicos.
- Infecções virais e bacterianas: muitas infecções cursam com plaquetopenia autolimitada, como dengue, chikungunya, zika, rubéola, mononucleose, hepatite C, citomegalovírus, entre outras.
- Doenças hepáticas com hiperesplenismo: condições como cirrose promovem sequestro esplênico de plaquetas, reduzindo sua presença na circulação periférica.
- Deficiências nutricionais: baixos níveis de vitamina B12 e ácido fólico podem afetar a hematopoese e ocasionar plaquetopenia isolada ou associada a outras citopenias.
- Doenças autoimunes: lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide e síndrome antifosfolípide estão entre as causas imunológicas associadas à destruição plaquetária.
- Consumo de substâncias naturais: chás de bardana, suco de cranberry, bebidas com quinino e alimentos como tahine e nozes podem estar associados a casos isolados de plaquetopenia.
Abordagem diagnóstica
Diante de uma plaquetopenia detectada em paciente sem sintomas, o primeiro passo é confirmar a veracidade do achado laboratorial, já que erros de coleta ou interferências analíticas podem simular uma baixa contagem.
- Repetir o hemograma em até 1 a 2 semanas é recomendado para excluir variações transitórias.
- Quando houver suspeita de pseudoplaquetopenia, deve-se realizar nova coleta com anticoagulante citrato ou fazer contagem manual por esfregaço de sangue periférico.
Se a redução persistir, o passo seguinte é a investigação de causas secundárias, que inclui:
- Esfregaço de sangue periférico para avaliar morfologia das células sanguíneas;
- Sorologias para HIV e hepatite C, especialmente em populações de risco;
- Função hepática: AST, ALT, GGT, bilirrubinas, albumina e tempo de protrombina;
- Dosagem de vitamina B12 e ácido fólico, sobretudo em etilistas, veganos, pacientes pós-bariátricos ou com má absorção;
- Ultrassonografia abdominal, indicada quando há suspeita de esplenomegalia ou doença hepática;
- Autoanticorpos, como FAN e anticorpos antifosfolípides, em casos com suspeita de doença autoimune;
- TSH, se houver sintomas de distúrbios tireoidianos.
Conduta clínica e seguimento
Na maioria dos casos, a plaquetopenia assintomática leve não exige intervenções imediatas, mas sim uma abordagem cautelosa e sistemática, com foco na confirmação diagnóstica e monitoramento clínico.
- Se a contagem estiver entre 100.000 e 150.000/mm³, sem outras alterações hematológicas, costuma-se apenas repetir o hemograma após 1 a 2 semanas.
- Para valores entre 50.000 e 100.000/mm³, recomenda-se investigação das causas secundárias, mantendo o seguimento ambulatorial com intervalos definidos conforme o contexto clínico.
- Contagens abaixo de 50.000/mm³ já exigem maior atenção, mesmo na ausência de sintomas, e podem demandar exames adicionais, como mielograma, avaliação da função hepática detalhada ou encaminhamento precoce à hematologia.
Durante o seguimento, é fundamental:
- Reavaliar periodicamente os hemogramas, acompanhando a tendência da contagem plaquetária;
- Orientar a suspensão de medicamentos potencialmente relacionados à plaquetopenia, quando aplicável;
- Evitar o uso de fármacos que interfiram com a função plaquetária, como AAS e anti-inflamatórios não esteroidais, até que o quadro esteja esclarecido;
- Esclarecer o paciente quanto ao baixo risco de sangramento em plaquetopenias leves, reforçando os sinais de alerta (petéquias, sangramentos gengivais, hematomas espontâneos);
- Evitar procedimentos invasivos desnecessários sem avaliação adequada da função plaquetária ou risco hemorrágico.
Pacientes com plaquetopenia persistente, com contagem inferior a 20.000/mm³ ou com associação a outras citopenias, devem ser encaminhados ao especialista para investigação aprofundada.
Em situações com plaquetopenia isolada leve, sem outros achados clínicos ou laboratoriais, pode-se optar por conduta expectante e acompanhamento. Contudo, a presença de outras citopenias, alterações no esfregaço ou suspeita de doença sistêmica exige avaliação mais aprofundada.
Venha fazer parte da maior plataforma de Medicina do Brasil! O Estratégia MED possui os materiais mais atualizados e cursos ministrados por especialistas na área. Não perca a oportunidade de elevar seus estudos, inscreva-se agora e comece a construir um caminho de excelência na medicina!
Veja Também
- Resumo de Embolia Gordurosa: sintomas, tratamento e mais!
- Resumo de Embolia Gasosa: definição, quadro clínico e mais!
- Embolia Pulmonar: causas, sintomas e muito mais!
- ResuMED de tromboembolismo pulmonar – parte 3: estratificação de risco, tratamento, profilaxia e embolia gordurosa
- Pneumologia: o que é, doenças, residência médica, salário e mais!
- Resumo de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica): fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico, tratamento e mais
- Pulmão: anatomia, função e muito mais
Canal do YouTube
Referências Bibliográficas
- UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. Quais são as causas e qual é a investigação inicial de plaquetopenia (trombocitopenia) assintomática? TelessaúdeRS-UFRGS, 2023.
- JINNA, Sruthi; KHANDHAR, Paras B. Thrombocytopenia. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025.