Resumo sobre dopamina: indicações, farmacologia e mais!

Resumo sobre dopamina: indicações, farmacologia e mais!

A dopamina (DA) é um neurotransmissor, reconhecido na década de 50, precursora da noradrenalina e adrenalina na cascata de produção das catecolaminas. Desta forma, a DA foi inicialmente utilizada para tratamento no estado de choque circulatório. 

No entanto, os estudos sobre este neurotransmissor intensificaram-se com a descoberta do seu importante papel na patogênese de algumas doenças neurodegenerativas, como na esquizofrenia e na doença de Parkinson. 

De onde vem a dopamina? 

A DA compartilha a mesma via biossintética da noradrenalina e a adrenalina, que começa com o aminoácido tirosina. A cascata catecolaminérgica: 

  1.  A tirosina é convertida em L-dopa pela enzima tirosina hidroxilase 
  2.  A L-dopa é convertida em dopamina. (nesta etapa que termina a via nos neurónios dopaminérgicos). 
  3. A dopamina convertida em noradrenalina 
  4. Na medula supra-renal é adicionado um radical metilo à noradrenalina para produzir o hormônio adrenalina
Biossíntese das catecolaminas
Biossíntese das catecolaminas

Mecanismo de ação da dopamina

Ação periférica 

A dopamina desempenha um papel importante no sistema nervoso autônomo, dose-dependente, sobre os receptores alfa e beta e sua infusão estimula a síntese de noradrenalina. Ele também atua em receptores dopaminérgicos periféricos, resultando em vasodilatação de artérias renais, mesentéricas, coronárias e cerebrais. 

A dopamina é efetiva no aumento da pressão arterial sem agravar as arritmias pré-existentes. Esse aumento da PA parece ser devido mais a um aumento no débito cardíaco (inotrópico positivo) e menos à vasoconstrição periférica, não tendo nenhum efeito adverso no pulmão ou na hemodinâmica pulmonar. No entanto, em altas doses aumenta a resistência vascular pulmonar e periférica. 

#Ponto importante: Parte da resposta inotrópica da dopamina depende da liberação endógena de noradrenalina o que limita sua eficiência em estados de depleção de catecolaminas, como ocorre na insuficiência cardíaca crônica.

Ação central

Os receptores de dopamina são membros da família de proteínas receptoras acopladas à proteína G. A classe D1 contém dois receptores de dopamina (D1 e D5), enquanto a classe D2 contém três receptores (D2, D3 e D4). 

Ambos receptores D1 e D2 são distribuídos no núcleo estriado, nucleus accumbens, tonsila do cerebelo, no tubérculo olfatório e no hipocampo. Especificamente, receptores D1 são encontrados no córtex cerebral, enquanto os D2 estão presentes na substância negra, na área tegmental ventral e no hipocampo. 

Localização dos cinco subtipos de receptores de dopamina no cérebro humano
A localização dos cinco subtipos de receptores de dopamina no cérebro humano, determinada pela localização dos mRNA dos receptores em regiões correspondentes do cérebro do rato, é mostrada em azul em corte coronal. Abreviaturas: ATV = área tegmentar ventral, C = núcleo caudado, Cx = córtex cerebral, H = hipotálamo, HIPP = hipocampo, nAc = nucleus accumbens, P = putâmen, SN = substância negra, TC = tonsila do cerebelo, TO = tubérculo olfatório

No SNC, a coexpressão de tipos diferentes de receptores em células heterogêneas ainda torna mais complexo o processo de sinalização, e pequenas alterações no estado do receptor/proteína G associada, durante o desenvolvimento ou já em adultos pode resultar em alterações da sinalização presente em doenças tais como esquizofrenia, doença de Parkinson e a hiperactividade que leva ao déficit de atenção. 

Dopamina para estado de choque

A dopamina pode ser utilizada em pacientes com disfunção sistólica grave com diminuição da perfusão de órgãos-alvo, associada ao uso de dobutamina e/ou noradrenalina, com o objetivo de aumentar o fluxo hepático, esplâncnico e renal. Também pode ser utilizada em pacientes oligúricos não hipovolêmicos, com o propósito de incremento do fluxo sanguíneo renal e aumento do volume urinário.

Doses mais baixas, como 5 a 15 mcg/kg/minuto, são preferidas, pois as ações inotrópicas predominam em doses mais baixas e as ações vasoconstritoras predominam em doses mais altas. 

#Ponto importante: A dopamina não deve ser utilizada em casos de choque séptico, exceto como alternativa à noradrenalina em pacientes com bradicardia e com baixo risco de taquiarritmias.  

Nas bradiarritmias a dopamina também tem papel como droga secundária, em casos que não respondem a atropina. A dose inicial é 5 mcg/kg/minuto, aumentar em 5 mcg/kg/minuto a cada 2 minutos até o efeito desejado, com dose máxima de 20 mcg/kg/minuto. No entanto, na prática, o marcapasso transcutâneo é o tratamento mais utilizado em casos refratários. 

Dopamina na esquizofrenia 

A partir de uma observação empírica de que o tratamento com antagonistas dos receptores de D2 alivia vários sintomas da esquizofrenia, determinou a hipótese da dopamina como mais aceita, segundo a qual a doença é causada por níveis elevados ou desregulados de neurotransmissão DA no cérebro. Os antipsicóticos, fármacos com capacidade de abolir a psicose e aliviar a desorganização do processo mental nos pacientes esquizofrênicos, são basicamente antagonistas de D2. 

Os antipsicóticos podem ser divididos em antipsicóticos típicos, isto é, fármacos mais antigos com ações proeminentes no receptor D2, e antipsicóticos atípicos, que constituem uma geração mais nova de fármacos com antagonismo D2 menos proeminente e, conseqüentemente, com menos efeitos extrapiramidais. 

A clorpromazina é o protótipo das fenotiazinas, enquanto o haloperidol é a butirofenona mais amplamente utilizada. Os cinco principais antipsicóticos atípicos são a clonazina, a olanzapina, a quetiapina, a ziprasidona e a risperidona. 

Dopamina no Parkinson 

A doença de Parkinson ocorre devido a perda seletiva de neurônios dopaminérgicos na parte compacta da substância negra. Quando os sintomas aparecem pela primeira vez, mais de 70% dos neurônios nessas regiões estão afetados, muitas vezes só perceptível em análises necropsiais. 

A destruição desses neurônios resulta nas características fundamentais da doença: 

  • Bradicinesia, ou lentidão anormal dos movimentos; 
  • Rigidez, uma resistência ao movimento passivo dos membros; 
  • Comprometimento do equilíbrio postural, que predispõe a quedas; e 
  • Tremor, característico quando os membros estão em repouso. 
Comprometimento postural de paciente com doença de Parkinson.
Comprometimento postural de paciente com doença de Parkinson.

A levodopa foi utilizada pela primeira vez no tratamento da doença de Parkinson há mais de 30 anos e continua sendo o tratamento mais efetivo para a doença.

#Ponto importe: A dopamina é incapaz de atravessar a barreira hematoencefálica. Entretanto, seu precursor, a L-dopa, tem livre e rápida passagem. Uma vez no SNC, a L-dopa é convertida em dopamina. 

O tratamento ideal deve começar com pequenas doses, como carbidopa-levodopa 25/100 mg, meio comprimido duas a três vezes ao dia com as refeições. A tolerância para a dose inicial apropriada deve ser avaliada individualmente. Se o paciente tolerar bem os efeitos colaterais, pode-se aumentar ao longo de várias semanas para um comprimido completo de 25/100 mg três vezes ao dia ou conforme tolerado. 

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Veja também:

Referências bibliográficas:

Brunton, L.L. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 12ª ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2012.

 GOLAN, David E. et al. Princípios de farmacologia: a base fisiopatológica da farmacoterapia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara. Koogan, 2014.

Miranda, Milena Penteado Ferraro, Soriano, Francisco Garcia e Secoli, Silvia Regina. Efeitos de dopamina e noradrenalina no fluxo sangüíneo regional no tratamento do choque séptico. Revista Brasileira de Terapia Intensiva [online]. 2008, v. 20, n. 1. pp. 49-56. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-507X2008000100008>. 

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