Resumo sobre Lecamenabe: definição, uso e mais!
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Resumo sobre Lecamenabe: definição, uso e mais!

E aí, doc! Vamos explorar mais um tema essencial? Hoje o foco é o Lecanemabe, um anticorpo monoclonal desenvolvido para o tratamento da doença de Alzheimer, atuando na redução das placas de beta-amiloide no cérebro.

O Estratégia MED está aqui para descomplicar esse conceito e ajudar você a aprofundar seus conhecimentos, promovendo uma prática clínica cada vez mais eficaz e segura.

Vamos nessa!

Definição de Lecamenabe

O lecanemabe é um anticorpo monoclonal humanizado direcionado ao beta-amiloide agregado. Foi aprovado pela FDA para o tratamento da doença de Alzheimer em estágio inicial (comprometimento cognitivo leve ou demência leve) com patologia amiloide cerebral confirmada. 

Administrado por infusão intravenosa a cada duas semanas, o lecanemabe demonstrou reduzir a carga de placas amiloides e retardar a progressão da doença em aproximadamente 25 a 30%.  No entanto, sua eficácia clínica é considerada modesta, e seu uso está associado a riscos significativos, como reações à infusão e anormalidades de imagem relacionadas ao amiloide (ARIA), incluindo edema cerebral e micro-hemorragias.

Doença de Alzheimer e o Lecamenabe

A doença de Alzheimer (DA) é uma condição neurodegenerativa crônica e a forma mais comum de demência relacionada à idade, caracterizada pela perda progressiva da memória e do funcionamento cognitivo. 

Um dos principais mecanismos envolvidos na patogênese da DA é o acúmulo de placas de beta-amiloide (Aβ) no cérebro, resultante da clivagem da proteína precursora de amiloide (APP) por β- e γ-secretases. 

Esses depósitos de Aβ, especialmente as formas Aβ40, Aβ42 e Aβ43, promovem danos estruturais e funcionais às sinapses, levando à atrofia neuronal e ao declínio cognitivo. Além disso, a inflamação tem sido considerada um fator relevante na progressão da doença.

Os tratamentos atualmente disponíveis para a DA, como os inibidores da acetilcolinesterase e os antagonistas do receptor N-metil-D-aspartato (NMDA), têm efeito apenas paliativo e não impedem a progressão da doença. Nesse contexto, novas terapias têm sido desenvolvidas para modificar a progressão da DA, com foco na remoção das placas de beta-amiloide.

O lecanemabe surge como uma dessas abordagens inovadoras, atuando diretamente na redução da carga de beta-amiloide no cérebro. Sua ação se dá pela ligação às protofibrilas, uma fase intermediária na formação das placas amiloides, contribuindo para sua eliminação. 

Esse efeito foi demonstrado por meio de exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET), que evidenciaram a redução da carga amiloide em pacientes tratados com o medicamento. 

Mecanismo de ação do Lecamenabe

O mecanismo de ação do lecanemabe baseia-se na sua capacidade de se ligar às protofibrilas de beta-amiloide, que representam uma fase intermediária na formação das placas amiloides no cérebro. 

Como um anticorpo monoclonal humanizado, o lecanemabe atua especificamente na redução da carga de amiloide, promovendo a eliminação dessas protofibrilas antes que elas se agreguem em placas insolúveis.

A beta-amiloide é gerada a partir da clivagem da proteína precursora de amiloide (APP) pelas enzimas β- e γ-secretases, resultando em fragmentos como Aβ40, Aβ42 e Aβ43, que podem se acumular no cérebro. Esses agregados são neurotóxicos, causando disfunção sináptica, inflamação e degeneração neuronal, especialmente no hipocampo e em regiões corticais envolvidas na cognição.

Ao se ligar seletivamente às protofibrilas, o lecanemabe facilita a sua depuração, impedindo sua progressão para formas mais tóxicas e reduzindo a deposição de placas amiloides. Estudos de neuroimagem, como a tomografia por emissão de pósitrons (PET), demonstraram que pacientes tratados com lecanemabe apresentam uma diminuição significativa na carga de amiloide cerebral.

Esse mecanismo de ação posiciona o lecanemabe como uma terapia modificadora da doença de Alzheimer, pois interfere diretamente na patogênese da DA ao reduzir os depósitos de beta-amiloide. 

No entanto, sua eficácia clínica é considerada modesta, retardando a progressão da doença em cerca de 25 a 30%, e seu uso está associado a possíveis efeitos adversos, como anormalidades de imagem relacionadas ao amiloide (ARIA), incluindo edema cerebral e micro-hemorragias.

Dosagem e monitoramento do Lecamenabe

A dosagem e o monitoramento do lecanemabe seguem um protocolo rigoroso devido aos riscos associados ao tratamento. O medicamento é administrado por infusão intravenosa (IV) a cada duas semanas, na dose de 10 mg por kg do peso do paciente.

Monitoramento

Devido aos potenciais efeitos adversos, especialmente as anormalidades de imagem relacionadas ao amiloide (ARIA), o tratamento exige acompanhamento contínuo, incluindo:

  • Ressonância Magnética (RM) periódica: deve ser realizada antes das infusões 5, 7 e 14 para detectar possíveis sinais de ARIA, como edema cerebral ou micro-hemorragias. Além disso, uma nova RM deve ser feita na semana 52, especialmente em pacientes portadores do alelo APOE ε4, que apresentam maior risco de complicações.
  • Avaliação clínica em cada infusão: os pacientes devem ser monitorados para sinais de reações adversas, incluindo sintomas neurológicos como dor de cabeça, confusão ou tontura, que podem indicar ARIA.
  • Observação após cada infusão: durante as primeiras administrações, os pacientes devem ser observados por um período variável:
    • Primeira infusão: observação por quatro horas;
    • Segunda infusão: observação por três horas;
    • Terceira infusão: observação por duas horas;
    • Infusões subsequentes: observação por 30 minutos, caso não haja reações prévias.

Se forem identificadas ARIA moderadas ou graves na RM, ou se o paciente apresentar sintomas clínicos significativos, a administração do lecanemabe pode ser suspensa temporariamente.

Essas medidas visam garantir maior segurança no uso do medicamento, reduzindo o risco de eventos adversos graves.

Contraindicações de Lecamenabe

O uso do lecanemabe apresenta contraindicações e restrições que devem ser consideradas antes do início do tratamento, especialmente devido ao risco de anormalidades de imagem relacionadas ao amiloide (ARIA) e outras complicações. As principais contraindicações incluem:

  • Homozigotos para o alelo APOE ε4
    • Pacientes com duas cópias do alelo APOE ε4 possuem um risco significativamente aumentado de desenvolver ARIA grave.
    • Alguns especialistas evitam tratar esses pacientes, enquanto outros optam por discutir individualmente os riscos e benefícios.
  • Risco elevado de hemorragia intracraniana
    • Pacientes com histórico de macro-hemorragia (>10 mm), mais de 4 micro-hemorragias cerebrais ou siderose superficial na ressonância magnética não devem ser tratados com lecanemabe.
    • Indivíduos com angiopatia amiloide cerebral também apresentam maior risco de sangramento e devem evitar o uso do medicamento.
  • Uso concomitante de anticoagulantes
    • O uso de anticoagulantes pode aumentar significativamente o risco de hemorragia intracerebral em pacientes tratados com lecanemabe.
    • A orientação atual sugere que esses pacientes não devem ser tratados, embora alguns especialistas considerem o tratamento em casos específicos.
  • Demência moderada a grave
    • O lecanemabe foi aprovado apenas para casos iniciais da doença de Alzheimer (comprometimento cognitivo leve ou demência leve).
    • Pacientes com demência moderada ou grave (pontuação MMSE < 22, MoCA < 17 ou CDR > 1) não devem ser tratados, pois não há evidências suficientes de benefício nessa fase da doença.
  • Patologias cognitivas não relacionadas à doença de Alzheimer
    • Pacientes com diagnóstico de demência de corpos de Lewy, demência vascular ou outras doenças neurodegenerativas não devem ser tratados com lecanemabe.
  • Condições médicas instáveis
    • Pacientes com doenças autoimunes não controladas, infecções graves ou que estejam em terapia imunomoduladora não devem receber o medicamento.
    • Indivíduos com depressão grave (GDS-15 > 8) ou histórico de convulsões recentes também podem não ser candidatos ideais ao tratamento.
  • Outras contraindicações
    • Idade acima de 90 anos (segurança não estabelecida).
    • Índice de Massa Corporal (IMC) < 17 ou > 35 (segurança não estabelecida).
    • Gravidez e amamentação (não há dados sobre segurança).
    • Falta de um parceiro de cuidados – Recomenda-se que o paciente tenha um cuidador responsável para monitoramento contínuo.

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Referências

PRESS, Daniel; BUSS, Stephanie S.; DEKOSKY, Steven T.; WILTERDINK, Janet L. Terapias direcionadas a amiloides para o tratamento da doença de Alzheimer. UpToDate, 2025. Disponível em: https://www.uptodate.com

MARQUES, V. S. et al. Lecanemabe no tratamento da Doença de Alzheimer: uma revisão integrativa. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 8, n. 9, p. 2022-2031, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2024v6n9p2022-2031.

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