Resumo de Hipotensão Permissiva: indicações e mais!
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Resumo de Hipotensão Permissiva: indicações e mais!

Olá, querido doutor e doutora! A hipotensão permissiva é uma estratégia de ressuscitação em trauma que propõe a manutenção intencional da pressão arterial em níveis inferiores ao normal até o controle definitivo da hemorragia. Essa abordagem surgiu como alternativa ao modelo clássico de reposição agressiva com cristaloides, associado à piora da coagulopatia, acidose e hipotermia.

Conceito 

Hipotensão permissiva é uma estratégia de ressuscitação voltada para pacientes com trauma hemorrágico, em que a pressão arterial é mantida intencionalmente abaixo dos valores fisiológicos normais até que o controle definitivo do sangramento seja alcançado.

Na prática clínica, utiliza-se como alvo uma pressão arterial sistólica de 80 a 90 mmHg ou uma pressão arterial média de 50 a 60 mmHg. O objetivo é assegurar perfusão adequada dos órgãos vitais sem provocar aumento da pressão que possa romper coágulos frágeis, agravar a hemorragia ou induzir coagulopatia dilucional decorrente de infusões excessivas de fluidos.

Bases fisiopatológicas  

A hipotensão permissiva fundamenta-se na interação entre pressão arterial, formação do coágulo e perfusão orgânica em contextos de sangramento ativo.

  • Manutenção do coágulo: o aumento abrupto da pressão arterial pode romper o tampão hemostático recém-formado, resultando em ressangramento. Ao manter níveis pressóricos mais baixos, preserva-se a estabilidade do coágulo.
  • Prevenção da coagulopatia dilucional: grandes volumes de cristaloides diluem fatores de coagulação e plaquetas, favorecendo distúrbios hemostáticos. A restrição hídrica reduz esse risco.
  • Controle da tríade letal: hipotermia, acidose e coagulopatia tendem a ser agravadas pela reposição excessiva de fluidos. Ao limitar a ressuscitação volêmica, busca-se minimizar essa cascata de complicações.
  • Perfusão orgânica seletiva: a resposta simpática endógena promove vasoconstrição periférica e preserva fluxo sanguíneo para órgãos vitais como coração e cérebro, mesmo em níveis pressóricos reduzidos.
  • Redução do estresse vascular: a reposição agressiva eleva a pressão hidrostática, podendo ampliar lesões endoteliais e favorecer edema tecidual, enquanto a estratégia permissiva limita esse efeito.

Indicações

A hipotensão permissiva é recomendada em cenários de trauma com hemorragia ativa, nos quais a ressuscitação agressiva com fluidos pode agravar o sangramento. Entre as principais indicações estão:

  • Trauma penetrante de tronco: evidências mais consistentes apontam benefício em pacientes com ferimentos penetrantes, especialmente quando há necessidade de controle cirúrgico imediato.
  • Choque hemorrágico grave: pacientes instáveis, com sinais de hipoperfusão, em que a prioridade é manter perfusão mínima até o controle da hemorragia.
  • Situações de atendimento pré-hospitalar: quando não há possibilidade de reposição sanguínea precoce, pequenas infusões de cristaloide podem ser usadas apenas para evitar colapso circulatório, mantendo alvos pressóricos reduzidos.
  • Trauma em ambiente militar ou massivo: utilizada em contextos de combate e catástrofes, nos quais o tempo até a intervenção definitiva é prolongado e os recursos limitados.
  • Casos selecionados de hemorragias não traumáticas: como ruptura de aneurisma de aorta abdominal ou sangramentos digestivos graves, em que a estratégia pode reduzir perdas sanguíneas até o reparo definitivo.

Contraindicações

Apesar de seus benefícios, a hipotensão permissiva não deve ser aplicada em todos os pacientes, pois pode agravar a hipoperfusão em contextos específicos. As principais contraindicações incluem:

  • Traumatismo cranioencefálico (TCE): nesses casos é necessário manter a pressão arterial média ≥ 80 mmHg para assegurar perfusão cerebral adequada, evitando isquemia secundária.
  • Lesões medulares: a manutenção de níveis pressóricos normais é importante para garantir oxigenação adequada da medula espinhal.
  • Idosos e hipertensos crônicos: esses pacientes apresentam autorregulação cerebral e renal alterada, com risco aumentado de hipoperfusão se a pressão cair abaixo do habitual.
  • Trauma contuso extenso: a eficácia da hipotensão permissiva é menos clara, podendo associar-se a acidose grave e falência orgânica em cenários de lesão difusa.
  • Intervalo prolongado até o controle da hemorragia: quanto maior o tempo em que o paciente permanece hipotenso, maior o risco de disfunção orgânica irreversível.

Técnica e metas hemodinâmicas

Alvos de pressão arterial

Na hipotensão permissiva, a pressão arterial sistólica deve ser mantida entre 80 e 90 mmHg, enquanto a pressão arterial média deve permanecer em torno de 50 a 60 mmHg. Em casos de trauma penetrante, alguns protocolos admitem níveis ainda mais baixos, como uma PAS próxima de 70 mmHg, desde que a perfusão mínima de órgãos vitais seja preservada.

Reposição volêmica

A administração de fluidos deve ser feita em pequenos bolus de 100 a 250 mL de solução cristalóide isotônica, apenas quando necessário para evitar colapso circulatório. Sempre que possível, a preferência é pelo uso de hemocomponentes, em especial concentrado de hemácias, plasma e plaquetas em proporções equilibradas, integrados a protocolos de transfusão maciça.

Transfusão sanguínea

A transfusão deve ser considerada quando há hemoglobina abaixo de 7 g/dL ou diante de sangramento ativo não controlado. Evidências do estudo PROPPR reforçam a utilização de uma proporção 1:1:1 de plasma, hemácias e plaquetas, estratégia que contribui para prevenir coagulopatia e melhorar desfechos em pacientes com choque hemorrágico.

Monitorização clínica e laboratorial

O acompanhamento do paciente deve incluir avaliação de nível de consciência, perfusão periférica, diurese e outros sinais clínicos de hipoperfusão. Além disso, exames como gasometria, coagulograma e lactato sérico são úteis para orientar a ressuscitação e verificar a resposta terapêutica.

Momento de aplicação

A hipotensão permissiva deve ser utilizada apenas no período pré-hospitalar e durante a fase inicial intraoperatória, devendo ser interrompida assim que a hemorragia for controlada. Manter essa estratégia por tempo prolongado aumenta o risco de lesão orgânica irreversível.

Limitações e efeitos adversos 

Risco em traumatismo cranioencefálico (TCE)

A aplicação da hipotensão permissiva em pacientes com TCE é contraindicada, pois a manutenção de pressões sistólicas abaixo de 90 mmHg reduz a perfusão cerebral, aumentando o risco de lesão secundária e mortalidade.

Hipertensão crônica e idade avançada

Indivíduos idosos ou com hipertensão arterial crônica apresentam limiares de autorregulação cerebral e renal mais altos, o que torna a hipotensão permissiva perigosa nesses casos. A redução da pressão pode precipitar isquemia miocárdica, renal ou cerebral.

Trauma contuso difuso

Embora haja benefícios comprovados em traumas penetrantes, a eficácia em traumas contusos extensos é incerta. Em tais situações, a estratégia pode acentuar acidose metabólica, agravar hipoperfusão e acelerar a falência de múltiplos órgãos.

Tempo prolongado de hipotensão

O uso prolongado da técnica, principalmente quando há demora para o controle cirúrgico do sangramento, aumenta a chance de hipoperfusão tecidual irreversível. O método deve ser visto como medida temporária, até que a hemostasia definitiva seja obtida.

Eventos adversos associados

Entre os possíveis efeitos negativos estão a exacerbação de coagulopatia, hipoperfusão renal levando a injúria renal aguda, aumento do risco de acidose lática e falência orgânica múltipla. Além disso, existe o perigo de margens pressóricas mal definidas, já que não há consenso absoluto sobre o ponto seguro de redução da pressão.

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Referências Bibliográficas 

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  1. DAS, J. M.; ANOSIKE, K.; WASEEM, M. Permissive Hypotension. StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2024.

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