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Visão geral
A curetagem é um procedimento ginecológico cirúrgico em que a porção endometrial do útero é raspada ou esvaziada por meio de uma cureta ou dispositivo de aspiração, que pode ser terapêutico e/ou diagnóstico.
No Brasil, seu principal uso é em pacientes com aborto espontâneo incompleto, visto que nossa legislação não permite abortamento provocado, exceto em casos bem restritos, como fetos com anencefalia.
Indicações e dosagem
Aborto incompleto
A perda gestacional espontânea e retida é definida como a visualização do saco gestacional vazio até a 12ª semana de gestação, gestação intrauterina no 1º trimestre com perda da atividade cardíaca ou a estabilização da medida comprimento crânio-nádega (CCN) em avaliações ecográficas sucessivas.
Em alguns casos, os tecidos de uma gravidez com aborto espontâneo são expelidos completamente, principalmente quando idade gestacional menor que 8 semanas. Em outros casos, a curetagem é necessária para remover esse tecido ou para garantir que ele tenha sido eliminado completamente.
#Ponto importante: A curetagem com esvaziamento cirúrgico é realizada preferencialmente até idade gestacional de 12 semanas, visto que fetos acima disso já possuem espículas ósseas, aumentando o risco de lesão uterina durante o procedimento.
Outras indicações terapêuticas
Outras indicações terapêuticas de curetagem incluem gravidez molas, no qual o tumor se forma no lugar da placenta normal. Além disso, é utilizada no tratamento de sangramento uterino prolongado ou excessivo que não responde ao tratamento médico. Além disso, é utilizada para esvaziamento pós-parto de restos placentários, um dos principais motivos de hemorragia pós-parto.
Diagnóstica
É utilizada na avaliação diagnóstica de:
- Estenose cervical e sangramento anormal persistente ou sangramento pós-menopausa após uma biópsia benigna do consultório.
- Exclusão de câncer de endométrio em mulheres diagnosticadas com neoplasia intraepitelial endometrial.
- Avaliação das vilosidades coriônicas em uma paciente com gravidez de localização desconhecida.
A técnica
Equipamentos
Para realização da curetagem é necessário espéculo, dilatadores e curetas, todos materiais esterilizados. Uma pinça de Pozzie é utilizada para pinçar o colo do útero e facilitar o manuseio dos dilatadores.
Os três tipos mais comuns de dilatadores são dilatadores Pratt de aço, dilatadores Hank e velas de Hegar. A maioria das referências preferem o uso de dilatadores cônicos Hanks ou Pratt em comparação com dilatadores de ponta romba, como o Hegars, por causa do feedback tátil aprimorado durante a dilatação. Além disso, Hanks e Pratts têm intervalos menores entre cada tamanho em comparação com Hegars padrão.
Curetas são de metal ou plástico. As de metal maleável normalmente possuem cabo longo e formato de lágrima aberta, selecionadas para procedimentos diagnósticos, permitindo ao operador ajustar a curvatura do dispositivo para facilitar o acesso ao fundo no caso de flexão uterina intensa. Curetas de metal vêm em vários tamanhos correspondentes ao maior diâmetro na ponta.
As curetas de plástico, também chamadas de cânulas, podem ser retas ou curvas e rígidas ou flexíveis e são normalmente usadas em pacientes grávidas, com sangramento ativo intenso ou coágulo retido conhecido, onde grandes quantidades de tecido endometrial são esperadas.
Preparação
A devida dilatação do colo do útero é necessária para passagem dos instrumentos de esvaziamento intrauterino. O principal método utilizado para amadurecimento é o misoprostol, 200-800 mcg, via vaginal. Dilatadores osmóticos (laminaria ou Dilapan-S) são outro método de preparação cervical que são usados principalmente para aborto induzido.
#Ponto importante: Para pacientes pré-cesaredas ou com história de cirurgias e que possuem cicatrizes uterinas as doses devem ser menores, geralmente metade da dose cheia, para evitar ruptura uterina.
As taxas gerais de infecção são baixas e as diretrizes não apoiam o uso rotineiro de antibióticos profiláticos em pacientes não grávidas. No entanto, em pacientes grávidas, as taxas de infecções são ligeiramente maiores, sendo recomendado o uso de antibióticos profiláticos.
A curetagem
Após anestesia, geralmente raquianestesia, a paciente é posicionada em litotomia dorsal (posição ginecológica) e aplicado técnicas de assepsia e antissepsia.
- Um espéculo ou afastadores vaginais anteriores e posteriores é passado em busca do posicionamento do colo do útero.
- Após localizado, com o colo é pinçado com a Pozzie e tracionado em direção ao intróito com a mão não dominante.
- A dilatação do colo do útero é realizada inicialmente com o menor dilatador que passar e aumentado sequencialmente o tamanho do dilatador até alcançar a dilatação necessária para passagem do conteúdo a ser esvaziado.
- Para uma cureta afiada nº 2 comumente usada, você precisará de um diâmetro de 8 mm.
- A cureta é aplicada nas paredes do útero e puxada do fundo para o colo do útero, enquanto gira a cureta a 360°.
- Continue com o esvaziamento até perceber uma textura arenosa, indicando remoção completa da gravidez ou amostragem adequada do endométrio para diagnóstico.
O ultrassom pode ser usado para visualizar diretamente o útero durante a realização do procedimento, muito útil nos casos de estenose cervical.
Cuidados pós curetagem
As principais complicações relacionadas em pacientes grávidas e não grávidas são infecção, hemorragia, lacerações cervicais, perfuração uterina e aderências uterinas pós-operatórias.
Os anti-inflamatórios não esteroides (AINES), geralmente são utilizados no pós-cirúrgico para evitar controle da dor. O sangramento leve é comum após o procedimento e pode persistir por alguns dias.
Não existem evidências suficientes sobre um resguardo específico após curetagem, mas a maioria dos ginecologistas recomendam repouso pélvico por algum tempo, variando de três dias a duas semanas, para evitar sangramento e/ou infecção.
Veja também:
- Resumo de vitalidade fetal: principais métodos de avaliação
- Resumo de abortamento de repetição e insuficiência istmocervical
- Ginecologia e Obstetrícia
- Resumo de diabetes gestacional: diagnóstico, tratamento e mais!
- Resumo sobre misoprostol: indicações, farmacologia e mais!
- Resumo sobre partograma nas distócias: diagnóstico, tratamento e mais!
Referências bibliográficas:
- Camayo FJA, Martins LAB, Cavalli RC. Perda gestacional retida: tratamento baseado em evidência. FEMINA | Janeiro 2011 | vol 39 | nº 1.
- Cooper DB, Menefee GW. Dilation and Curettage. [Updated 2022 Mar 9]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK568791/
- Dilation and curettage. https://www.uptodate.com/contents/dilation-and-curettage?
- Guia do Episódio de Cuidado Curetagem Pós Aborto. Albert Einstein
- Crédito da imagem em destaque: Pexels