ResuMED de acidentes com animais peçonhentos

ResuMED de acidentes com animais peçonhentos

A ocorrência de acidentes com animais peçonhentos como cobras, escorpiões e aranhas está crescendo recentemente e é papel do médico saber como diagnosticá-las e tratá-las adequadamente! Nós iremos, no texto a seguir, falar e sanar todas as dúvidas que nos deparamos quando estamos trabalhando e vemos um acidente com animal peçonhento. Venha conosco!

Acidentes com cobras

Os acidentes com animais peçonhentos que ocorrem com cobras são denominados de acidentes ofídicos. 

São diversas as espécies de cobras peçonhentas, por isso iremos abordar a conduta pertinente para cada subtipo de acidente. Porém, devemos sempre ressaltar que, não obstante o tipo de acidente observado, há condutas gerais que devem ser realizados em todos e quaisquer acidentes: 

  • Lavar a ferida com água e sabão;
  • Deixar o paciente deitado; 
  • Manter o paciente euvolêmico; 
  • Procurar atendimento médico; e 
  • Quando possível, garantindo a própria segurança, levar o animal ao serviço de saúde.

E, obviamente, iremos ressaltar aqui as medidas que NÃO devem ser tomadas. Pode parecer bobo, mas muitas delas são feitas e acabam acarretando desfechos desfavoráveis e graves: 

  • NÃO fazer torniquete;
  • NÃO cortar o local da ferida; 
  • NÃO colocar pó de café ou outras substâncias na ferida; e 
  • NÃO oferecer bebidas alcoólicas.

Acidente botrópico

O acidente botrópico é aquele causado pela cobra Bothrops jararaca e é conhecida no jargão popular como a jararaca. Trata-se do principal acidente ofídico no Brasil, responsável por 90% deles. 

Seu veneno apresenta três principais ações: coagulante, hemorrágica e proteolítica. 

Dessa forma, observamos que os pacientes com acidente botrópico nos mostram importantes complicações locais associados também a complicações sistêmicas. 

As principais manifestações locais são: dor, edema, bolhas e sangramentos. Como complicações mais graves podemos observar a presença de Síndrome compartimental. Já as complicações sistêmicas mais associadas ao acidente botrópico são: sangramentos, insuficiência renal aguda, choque hemodinâmico e alteração no tempo de coagulação. 

O tratamento consiste em estabilização hemodinâmica e soroterapia com soro antibotrópico. 

Acidente crotálico

O acidente crotálico é causado pela cobra Crotalus durissus, conhecida no jargão popular como cobra cascavel. Trata-se de um importante acidente ofídico, o qual não apresenta reação local de relevância clínica. 

Seu veneno apresenta principalmente ação neurotóxica, miotóxica e anticoagulante. 

Dessa forma, observamos o seguinte quadro clínico: 

  • Fácies miastênicas (ptose palpebral, flacidez da musculatura da face);
  • Oftalmoplegia; 
  • Turvação visual e diplopia; e
  • Insuficiência renal aguda em decorrência de importante rabdomiólise. 

Vale ressaltar que diversas bancas adoram colocar que o paciente apresenta urina escura sem evidência de hematúria, já que o pigmento observado é consequência da mioglobinúria gerada pela rabdomiólise. 

O tratamento consiste em estabilização clínica, hidratação venosa e soroterapia com soro anticrotálico. 

Acidente laquético

O acidente laquético é causado por cobras do gênero Lachesis que são conhecidas no jargão popular como surucucu. Semelhante ao acidente botrópico, temos importante ação local o que gera bastante dor e edema local, com possível necrose e síndrome compartimental. 

Porém, ela se diferencia com sua ação neurotóxica com grande estímulo vagal. Portanto, observamos: hipotensão arterial, tontura, bradicardia, cólicas abdominais e diarreia. 

O tratamento consiste em estabilização clínica e soroterapia com soro antilaquético. 

Acidente elapídico

O acidente elapídico será nosso último acidente ofídico, mas não menos importante ele é causado por serpentes do gênero Micrurus que são conhecidas no jargão popular como cobras corais. 

Seu veneno apresenta apenas ação neurotóxica e, dessa forma, o paciente pode evoluir com fraqueza muscular progressiva. Em seus estágios mais graves podemos observar pacientes com insuficiência respiratória aguda do tipo 2. 

Ela se assemelha ao acidente elapídico, mas lembre-se da ausência de referência a insuficiência renal ou rabdomiólise. Esse é o principal ponto de diferenciação. 

O tratamento consiste em estabilização clínica, uso de antimuscarínicos se insuficiência respiratória (como atropina) e soroterapia com soro antielapídico. 

Acidentes com animais peçonhentos : escorpionismo

Os acidentes com escorpião estão aumentando em número e em gravidade na cidade de São Paulo, apresentando maior relevância clínica. Além disso, não podemos esquecer que no ano de 2019 na questão prática do processo seletivo ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) uma questão inteira foi a respeito de escorpionismo. Dessa forma, anote e preste atenção ao tema.

As principais espécies de escorpião envolvidas em acidentes com animal peçonhento são o Tytus serrulatus, T. bahiensis e T. stigmurus. Observamos que a maioria dos acidentes ocorre em membros superiores e em população infantil.  

O veneno do escorpião apresenta principalmente ação neurotóxica levando a possíveis quadros de disautonomia. Pela possibilidade de acometimento tanto simpático quanto parassimpático, o quadro clínico é diverso e flutuante. Pode ser leve, moderado ou grave. Em decorrência desse quadro amplo com possibilidade de insuficiência cardíaca aguda com edema agudo de pulmão, pacientes com acometimento sistêmico devem ser internados e submetido a exames diagnósticos como RX tórax e eletrocardiograma, além de soroterapia com soro antiescorpiônico. 

Acidentes com animais peçonhentos : araneísmo

Há três principais aranhas as quais devemos saber o funcionamento, diagnóstico e tratamento do acidente com animais peçonhentos. Iremos falar agora delas e de seus principais quadros clínicos. 

Acidente com Phoneutria

Popularmente conhecida como aranha armadeira, elas são responsáveis por quase a metade dos acidentes com aranhas em nosso país. Seu veneno tem ação principalmente neurotóxica com ação de disautonomia. 

Além de sua ação sistêmica, temos uma ação local importante e que também é bastante cobrada em concursos de residência. Dor, eritema e edema que aparecem de forma imediata após a picada. 

O tratamento consiste em estabilização clínica e nos casos graves soroterapia com soro antiaracnídico. 

Acidente com Loxosceles

Acidente causado pela aranha-marrom. O seu veneno tem principalmente uma ação local formando a famosa placa mármorea, hemorragias focais com áreas pálidas, que ocorrem de 24 a 72 horas após a picada. E também observamos quadros de hemólise intravascular também mais tardiamente. 

Acidente com Latrodectus

Acidente causado pela viúva-negra. Seu veneno apresenta principalmente ação neurotóxica com relatos de tremores e contraturas já que sua ação também acontece na junção neuromuscular. 

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Referências bibliográficas

Governo do Paraná – Acidentes com animais peçonhentos

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