As medidas de saúde pública envolvendo rastreamento de diversas neoplasias são cruciais na prevenção e tratamento precoce de vários cânceres. Um dos mais importantes para o sexo feminino é o rastreamento do câncer de colo de útero. Por ser uma das principais neoplasias de mulheres, seu rastreamento e medidas associadas reduziram, e muito, a mortalidade nessa condição! Venha conosco no texto a seguir e iremos destrinchar todos os aspectos dessas intervenções.
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O câncer de colo uterino
O colo uterino é uma região de transição entre a vagina, útero e cavidade endometrial. Tal região de transição impõe-se em uma área, na qual há uma zona com diferentes tipos de epitélio presente. Nessa área denominada zona de transformação há tanto epitélio escamoso, que é característico do epitélio vaginal, quanto há epitélio colunar característico do endométrio. Trata-se de uma região em que há elevada multiplicação celular, portanto, está sujeita a erros na divisão celular principalmente quando sujeitas a insultos infecciosos como a presença do vírus HPV.
Universalmente, a infecção pelo vírus HPV é o principal fator de risco ao desenvolvimento do câncer de colo de útero. Os principais subtipos associados são: HPV subtipo 16 e HPV subtipo 18, de alto risco oncogênico. Outros subtipos que merecem destaque são os subtipos 6 e 11, de baixo risco oncogênico e responsáveis pelas verrugas genitais ou condilomas.
A infecção crônica pelo HPV gera alterações microscópicas no epitélio. Dividimos essas alterações a depender da profundidade de acometimento do epitélio, sendo a classificação histológica de Richart a principal para descrever essas displasias, denominadas neoplasias intraepiteliais cervicais (NIC):
- NIC I: acometimento de ⅓ do epitélio
- NIC II: acometimento de ⅔ do epitélio
- NIC III: acometimento de todo epitélio
- Carcinoma invasor: atipias ultrapassam a membrana basal
A história natural da invasão do HPV é de clareamento na maioria dos casos, principalmente se pacientes imunocompetentes. Dessa forma, já podemos deduzir que outro fator de risco importante é a imunodeficiência que permite a perpetuação da infecção possibilitando maior grau de displasia até desenvolvimento de neoplasia.
Rastreamento do câncer de colo de útero
O rastreamento do câncer de colo de útero é realizado no Brasil por meio da colpocitologia oncótica, também conhecida como papanicolau. O exame é destinado a ulheres sexualmente ativas com idade igual ou superior a 25 anos. Os dois primeiros exames devem ser anuais, em caso de dois resultados normais, o rastreamento pode ser realizado a cada três anos.
Populações específicas:
- Em pacientes imunossuprimidas, o rastreio deve ser feito com início da vida sexual de maneira semestral. Em caso de dois testes normais, o rastreio passa a ser anual.
- Em pacientes que vivem com HIV, e níveis de CD4+ inferiores a 200 o rastreio persiste semestral.
- O rastreio é realizado até 64 anos de idade e deve ser interrompido caso a paciente já tenha dois exames negativos nos últimos cinco anos.
- Pacientes histerectomizadas estão excluídas do rastreio se o motivo da cirurgia for uma doença benigna.
Após a coleta do material, podemos dividir o resultado ainda por outra classificação que não a de Richart. A classificação brasileira vem sendo mais empregada nas provas de residência, então a seguir citaremos os principais diagnósticos citopatológicos e as condutas pertinentes:
- Células escamosas atípicas de significado indeterminado:
– Possivelmente não neoplásicas (ASC-US):
. <25 anos: repetir em três anos
. entre 25-29 anos: repetir em 12 meses
. >= 30 anos: repetir em 6 meses
– Não se podendo afastar lesão de alto grau (ASC-H): colposcopia - Células glandulares atípicas de significado indeterminado (AGUS): colposcopia
- Células atípicas de origem indeterminada (AOI): colposcopia
- Lesão de baixo grau (LSIL/LIEBG):
– <25 anos: repetir em 3 anos
– >= 25 anos: repetir em 6 meses - Lesão de alto grau (HSIL/LIEAG): colposcopia
- Carcinoma invasor/Adenocarcinoma in situ: colposcopia
Importante falarmos aqui da colposcopia que se trata de um exame complementar crucial após a visualização de lesões potencialmente graves. A colposcopia consiste em uma técnica, na qual avaliamos regiões para realização de biópsia por intermédio de dois corantes:
– Ácido acético = regiões com alta atividade mitótica irão se apresentar brancas
– Lugol = células com baixo nível de glicogênio ficarão amarelo mostarda (iodo negativo)
Em algumas referências, devemos citar que o teste com lugol é denominado teste de Schiller. E a relação que temos é: se teste de Schiller positivo, temos o lugol negativo e vice-versa. Não se confunda, candidato!
Evidenciamos aqui que células potencialmente neoplásicas são aquelas com alta atividade mitótica e baixo nível de glicogênio, dessa forma, são as áreas a serem biopsiadas durante a realização do procedimento.
Em situações que colocamos acima s iremos repetir a citologia se existe repetição do mesmo achado, devemos encaminhar a paciente para colposcopia após dois resultados alterados para melhor avaliação.
Tratamento
O objetivo do tratamento das lesões pré-neoplásicas é impedir a progressão para o câncer de colo de útero. A maioria das lesões de baixo grau tendem a regressão, porém, por outro lado as de alto grau apresentam real chance de evolução para neoplasia maligna.
A população alvo de tratamento será:
- Pacientes com lesão intraepitelial de alto grau;
- Histopatológico de baixo grau persistente (por tempo superior a 24 meses); e
- Discordância colpo-cito-histológica (casos nos quais há exames citológicos alterados, contudo com colposcopias normais).
O tratamento será feito com excisão, ou seja, retirada da lesão e potencial região de lesão. O procedimento padrão é a Exérese de Zona de Transformação (EZT). Outras opções de tratamento são a Cirurgia de Alta Frequência (CAF) ou conização.
Após o tratamento, o seguimento indicado depende muito das margens cirúrgicas.
- Margens cirúrgicas livres ou NIC1: realizamos citologia dentro de 6 a 12 meses após o procedimento. Após o primeiro ano, a citologia anual até completar cinco anos de tratamento.
- Margens cirúrgicas comprometidas por NIC2 ou NIC3: devemos realizar citologia e colposcopia semestralmente por dois anos. Após, citologia anual até completar cinco anos do tratamento.
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