Foi lançado ontem (10) o estudo Demografia Médica do Estado de São Paulo 2026 (DMSP), conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM) e a Secretaria de Estado da Saúde (SES-SP). Trata-se de um levantamento inédito que aprofunda o perfil, a distribuição e as tendências da força de trabalho médica nos 17 Departamentos Regionais de Saúde (DRS).
“A Demografia Médica de São Paulo surge com o propósito de fornecer evidências científicas para orientar políticas públicas. Com isso, busca aproximar os médicos das necessidades da população e dos serviços existentes, considerando as características sociais, econômicas e sanitárias singulares de cada região do estado”
Mário Scheffer, professor da FMUSP e coordenador do estudo
De acordo com o secretário-geral da AMB, Florisval Meinão, em publicação oficial da Associação, o estudo aponta que, dentro de dez anos, o estado poderá chegar a cerca de dez médicos para cada mil habitantes. Ele ressalta que não haverá trabalho para todos e que a entidade terá de defender esses profissionais e buscar soluções para um mercado que não conseguirá absorvê-los integralmente.
Confira o documento completo da Demografia Médica do Estado de São Paulo 2026 e siga no texto para conhecer os principais dados.
Crescimento acelerado no número de médicos
A quantidade de médicos em São Paulo vem avançando em ritmo acelerado. O estado deve encerrar 2025 com cerca de 197 mil profissionais; em comparação, em 2015 o total era de 118 mil. As projeções indicam que esse número pode chegar a 235 mil em 2030 e alcançar aproximadamente 340 mil em 2035. Isso representa um aumento de 72% em apenas dez anos, enquanto a população paulista deve crescer menos de 1,2% no mesmo período.
A densidade médica também vem crescendo de forma expressiva: a razão passou de 2,22 médicos por mil habitantes em 2005 para 4,28 em 2025. Mesmo assim, a distribuição permanece desigual entre os Departamentos Regionais de Saúde. Em 2025, Ribeirão Preto apresenta a maior concentração, com 5,07 médicos por mil habitantes, enquanto Registro tem a menor, com apenas 2,13. A maior parte dos 645 municípios paulistas (564 deles) possui menos de 3 médicos por mil habitantes, evidenciando disparidades regionais persistentes.
Em comparação com outras unidades da federação, São Paulo tem uma das maiores densidades médicas do país e fica atrás apenas do Distrito Federal, que registra 6,28 médicos por mil habitantes. O Rio de Janeiro apresenta razão semelhante à paulista, em torno de 4,2 médicos por mil habitantes.
Confira abaixo a projeção do número de médicos, da população geral e da razão de médicos por 1.000 habitantes no estado de São Paulo nos próximos 10 anos (2025–2035):
| Ano | Médicos | População | Razão médicos por 1.000 habitantes |
|---|---|---|---|
| 2025 | 197.265 | 46.081.801 | 4,28 |
| 2026 | 204.794 | 46.159.850 | 4,44 |
| 2027 | 212.323 | 46.238.020 | 4,59 |
| 2028 | 219.851 | 46.316.310 | 4,75 |
| 2029 | 227.380 | 46.394.740 | 4,90 |
| 2030 | 234.909 | 46.473.352 | 5,05 |
| 2031 | 255.909 | 46.580.870 | 5,50 |
| 2032 | 279.920 | 46.583.504 | 6,00 |
| 2033 | 302.940 | 46.587.070 | 6,50 |
| 2034 | 318.908 | 46.640.932 | 6,84 |
| 2035 | 339.908 | 46.836.153 | 7,29 |
Perfil dos médicos em São Paulo
Em 2025, as mulheres já representam 52,2% dos profissionais, uma inversão consistente em relação a 2015, quando eram 42,7%. As projeções indicam que esse movimento se intensificará: em 2035, elas deverão somar 226,4 mil médicas, correspondendo a 66,6% do total estimado para o estado. Em várias especialidades essa predominância já é evidente, especialmente em Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia e Medicina de Família e Comunidade, todas com mais de 60% de presença feminina.
A idade também é um fator a se observar. A idade média dos médicos em 2025 é de 44,5 anos, mas há diferenças entre os sexos: 47,3 anos entre os homens e 41,8 anos entre as mulheres. A estrutura etária evidencia uma categoria em renovação:

O estudo destaca que essa combinação de rejuvenescimento da categoria e feminização da profissão deve se consolidar ao longo da próxima década.
Especialistas x generalistas
Em 2025, 59,7% dos médicos atuavam como especialistas em São Paulo, cerca de 117,7 mil profissionais, enquanto 40,3% (79,5 mil) trabalhavam como generalistas. A Região Metropolitana concentra quase metade do contingente de especialistas, reunindo 63.630 e o maior percentual proporcional entre todos os DRS, com 63,8% dos médicos da região titulados em alguma especialidade.
Outras áreas com forte presença de especialistas incluem Barretos, Campinas e Ribeirão Preto. Já Araçatuba, Baixada Santista, Marília e Presidente Prudente apresentam distribuição equilibrada entre especialistas e generalistas, enquanto Registro é a única região onde os generalistas são maioria, com 56,3%.
Confira abaixo a distribuição dos médicos no estado de São Paulo, segundo formação generalista ou especialista, em 2025:
| Município | Generalistas (N) | % | Especialistas (N) | % | Total de médicos | Razão E/G |
|---|---|---|---|---|---|---|
| I – Grande São Paulo | 36.131 | 36,2 | 63.630 | 63,8 | 99.761 | 1,76 |
| II – Araçatuba | 1.001 | 49,2 | 1.035 | 50,8 | 2.036 | 1,03 |
| III – Araraquara | 1.195 | 41,7 | 1.672 | 58,3 | 2.867 | 1,40 |
| IV – Baixada Santista | 3.105 | 48,9 | 3.251 | 51,1 | 6.356 | 1,05 |
| V – Barretos | 732 | 47,2 | 818 | 52,8 | 1.550 | 1,12 |
| VI – Bauru | 2.472 | 43,3 | 3.235 | 56,7 | 5.707 | 1,31 |
| VII – Campinas | 7.715 | 41,9 | 10.693 | 58,1 | 18.408 | 1,39 |
| VIII – Franca | 1.089 | 44,9 | 1.334 | 55,1 | 2.423 | 1,23 |
| IX – Marília | 1.884 | 50,0 | 1.883 | 50,0 | 3.767 | 1,00 |
| X – Piracicaba | 2.098 | 43,5 | 2.723 | 56,5 | 4.821 | 1,30 |
| XI – Presidente Prudente | 1.192 | 47,9 | 1.298 | 52,1 | 2.490 | 1,09 |
| XII – Registro | 335 | 38,2 | 540 | 61,8 | 875 | 1,61 |
| XIII – Ribeirão Preto | 3.903 | 39,3 | 6.022 | 60,7 | 9.925 | 1,54 |
| XIV – São João da Boa Vista | 897 | 45,4 | 1.079 | 54,6 | 1.976 | 1,20 |
| XV – São José do Rio Preto | 3.011 | 39,3 | 4.651 | 60,7 | 7.662 | 1,54 |
| XVI – Sorocaba | 4.624 | 43,4 | 6.028 | 56,6 | 10.652 | 1,30 |
| XVII – Taubaté | 2.086 | 42,4 | 2.841 | 57,6 | 4.927 | 1,36 |
| Sem informação* | 7.647 | 57,8 | 5.597 | 42,2 | 13.244 | 0,73 |
| Total | 79.540 | 40,3 | 117.725 | 59,7 | 197.265 | 1,48 |
A série histórica nos registros também mostra mudanças importantes: entre 2000 e 2025, o número de generalistas cresceu 335,8%, saltando de 18.252 para 79.540 profissionais. No mesmo período, o total de especialistas aumentou 95,9%, indo de 60.082 para 117.725 médicos.
Esse avanço acelerado dos generalistas está fortemente associado à expansão do ensino privado e ao déficit de vagas de Residência Médica, que concentra 66,4% das titulações, enquanto 33,6% são obtidas via sociedades de especialidade. Mais da metade dos especialistas (50,4%) possui ambos os títulos.
Distribuição e perfil nas especialidades médicas
O levantamento mostra que a distribuição por sexo nas especialidades médicas de São Paulo segue padrões marcantes. Os homens são maioria em 33 das 55 especialidades, com destaque para Urologia (95,9%), Ortopedia e Traumatologia (90,1%) e Cirurgia Cardiovascular (88,8%). Já as especialidades com maior presença feminina incluem Dermatologia (80,6%), Alergia e Imunologia (77%) e Pediatria (76,3%).
Entre as áreas com maior número absoluto de profissionais no estado estão Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral e Ginecologia e Obstetrícia. Confira a lista completa abaixo:
| Especialidade | N especialistas | % | % acumulado | ||||
| Clínica Médica | 18.660 | 11,9 | 11,9 | ||||
| Pediatria | 15.238 | 9,7 | 21,6 | ||||
| Cirurgia Geral | 12.264 | 7,8 | 29,4 | ||||
| Ginecologia e Obstetrícia | 11.281 | 7,2 | 36,6 | ||||
| Anestesiologia | 6.936 | 4,4 | 41,0 | ||||
| Ortopedia e Traumatologia | 6.697 | 4,3 | 45,3 | ||||
| Cardiologia | 6.377 | 4,1 | 49,3 | ||||
| Radiologia e Diagnóstico por Imagem | 5.671 | 3,6 | 52,9 | ||||
| Oftalmologia | 5.396 | 3,4 | 56,4 | ||||
| Medicina do Trabalho | 5.096 | 3,2 | 59,6 | ||||
| Psiquiatria | 4.687 | 3,0 | 62,6 | ||||
| Dermatologia | 4.100 | 2,6 | 65,2 | ||||
| Medicina de Família e Comunidade | 3.749 | 2,4 | 67,6 | ||||
| Medicina Intensiva | 3.337 | 2,1 | 69,7 | ||||
| Medicina do Tráfego | 3.086 | 2,0 | 71,7 | ||||
| Otorrinolaringologia | 2.847 | 1,8 | 73,5 | ||||
| Cirurgia Plástica | 2.716 | 1,7 | 75,2 | ||||
| Endocrinologia e Metabologia | 2.304 | 1,5 | 76,7 | ||||
| Urologia | 2.156 | 1,4 | 78,1 | ||||
| Neurologia | 2.114 | 1,3 | 79,4 | ||||
| Cirurgia Vascular | 2.001 | 1,3 | 80,7 | ||||
| Infectologia | 1.867 | 1,2 | 81,9 | ||||
| Nefrologia | 1.830 | 1,2 | 83,1 | ||||
| Cirurgia do Aparelho Digestivo | 1.810 | 1,2 | 84,2 | ||||
| Oncologia Clínica | 1.763 | 1,1 | 85,3 | ||||
| Endoscopia | 1.759 | 1,1 | 86,5 | ||||
| Patologia | 1.502 | 1,0 | 87,4 | ||||
| Acupuntura | 1.422 | 0,9 | 88,3 | ||||
| Gastroenterologia | 1.407 | 0,9 | 89,2 | ||||
| Hematologia e Hemoterapia | 1.389 | 0,9 | 90,1 | ||||
| Neurocirurgia | 1.363 | 0,9 | 91,0 | ||||
| Pneumologia | 1.288 | 0,8 | 91,8 | ||||
| Geriatria | 1.224 | 0,8 | 92,6 | ||||
| Reumatologia | 1.148 | 0,7 | 93,3 | ||||
| Mastologia | 889 | 0,6 | 93,9 | ||||
| Alergia e Imunologia | 803 | 0,5 | 94,4 | ||||
| Homeopatia | 766 | 0,5 | 94,9 | ||||
| Medicina Preventiva e Social | 683 | 0,4 | 95,3 | ||||
| Medicina Legal e Perícia Médica | 657 | 0,4 | 95,7 | ||||
| Nutrologia | 625 | 0,4 | 96,1 | ||||
| Coloproctologia | 580 | 0,4 | 96,5 | ||||
| Cirurgia de Cabeça e Pescoço | 547 | 0,3 | 96,8 | ||||
| Medicina Esportiva | 533 | 0,3 | 97,2 | ||||
| Cirurgia Pediátrica | 526 | 0,3 | 97,5 | ||||
| Cirurgia Cardiovascular | 487 | 0,3 | 97,8 | ||||
| Cirurgia Oncológica | 484 | 0,3 | 98,1 | ||||
| Cirurgia da Mão | 446 | 0,3 | 98,4 | ||||
| Medicina Física e Reabilitação | 416 | 0,3 | 98,7 | ||||
| Medicina de Emergência | 411 | 0,3 | 98,9 | ||||
| Cirurgia Torácica | 407 | 0,3 | 99,2 | ||||
| Radioterapia | 323 | 0,2 | 99,4 | ||||
| Medicina Nuclear | 313 | 0,2 | 99,6 | ||||
| Angiologia | 304 | 0,2 | 99,8 | ||||
| Patologia Clínica/Medicina Laboratorial | 167 | 0,1 | 99,9 | ||||
| Genética Médica | 158 | 0,1 | 100,0 |
Dos 157.010 títulos de especialidades existentes no estado de São Paulo, 104.200 (66,4%) pertencem a médicos que concluíram programas de Residência Médica, enquanto 52.810 (33,6%) foram obtidos diretamente nas sociedades de especialidades por profissionais que não realizaram residência.
Além disso, 79.069 títulos (50,4%) aparecem simultaneamente nas bases da AMB e da CNRM, indicando médicos que concluíram a RM e também obtiveram o título pela sociedade correspondente. Há ainda um grupo menor, formado por 25.131 especialistas (16%), que completou a residência, mas não buscou o título junto à sociedade de especialidade.
Residência Médica em São Paulo
A oferta, a ocupação e a distribuição das vagas de Residência Médica (RM) no estado compõem um dos eixos centrais do estudo. Em 2025, São Paulo contava com 15.524 médicos residentes, o que representa 31% de todos os residentes do país. Esses profissionais estavam distribuídos em 1.447 programas de especialidades, mantidos por 202 instituições credenciadas pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM).
A evolução recente mostra crescimento expressivo: o número de residentes no estado aumentou 21% desde 2018, passando de 12.791 para 15.524. A concorrência também se intensificou, com a relação candidato/vaga subindo de 9,63 em 2018 para 13,19 em 2025. Entre as especialidades mais disputadas estão:
- Otorrinolaringologia – 54,07 candidatos por vaga;
- Oftalmologia – 48,05;
- Dermatologia – 44,97;
- Neurologia – 41,42; e
- Neurocirurgia – 41,33.
Quanto à distribuição territorial, apenas 57 dos 645 municípios paulistas ofertam programas de RM, e 53% dos residentes estão concentrados na Grande São Paulo. Em relação às áreas escolhidas, 51,7% dos residentes se concentram em apenas seis especialidades, sendo as mais frequentes Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Anestesiologia e Ortopedia e Traumatologia.
Um ponto crítico destacado pelo estudo é a diferença entre vagas ofertadas e ocupadas. Em 2025, havia 21,2% de vagas credenciadas ociosas, enquanto a taxa de ocupação das vagas oferecidas ficava com 5,8% de ociosidade.
Saiba mais em: Quase 30% das vagas de residência médica no Brasil estão ociosas; confira a relação de vagas autorizadas e ocupadas
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