Vamos falar de prevenção de quedas, Estrategistas.

A ocorrência de quedas é um sério problema de saúde pública na população geriátrica. Além de ser bastante comum, as quedas estão associadas aos seguintes desfechos: risco de morte, de traumatismo crânio-encefálico, de fraturas, de perda de autonomia e de institucionalização. A ocorrência de uma queda pode ser tão amedrontadora, que alguns indivíduos podem evoluir para o que chamamos de síndrome pós-queda, na qual o indivíduo passa a se limitar funcionalmente por receio de apresentar novas quedas.

A causa mais comum de quedas em idosos é a multifatorial. Na abordagem das quedas, o principal passo é realizar uma avaliação geriátrica ampla (AGA), uma avaliação ambiental e um exame físico direcionado. A AGA é uma avaliação multidimensional da pessoa idosa, possuindo componentes variáveis na literatura, mas que mais classicamente avalia: polifarmácia, multimorbidade, quedas, dificuldades na mobilidade, funcionalidade, cognição, humor, sono, disfunções sensoriais, distúrbios do trato gastrointestinal, distúrbios do trato urinário e nutrição. Falaremos da avaliação ambiental um pouco mais adiante. Em relação ao exame físico, algumas etapas importantes são: exame neurológico (especialmente avaliação de força, parkinsonismo, marcha, equilíbrio, provas vestibulares, sensibilidade tátil, sensibilidade proprioceptiva, acuidade visual, acuidade auditiva e cognição), exame ortopédico (em busca de sinais de osteoartrite e deformidades) e exame cardiopulmonar (incluindo a avaliação de hipotensão ortostática).

É importante realizar a diferenciação de quedas e síncopes. Por definição, as síncopes envolvem a perda transitória da consciência o que não ocorre em quedas (a não ser que apresente TCE associado). Quedas inexplicadas devem ser submetidas a avaliação de síncope como diagnóstico diferencial.

O objetivo primordial da AGA e do exame físico é identificar fatores de risco intrínsecos para o aumento do risco de quedas. Alguns dos principais fatores são:

Por sua vez, a avaliação do ambiente que envolveu a queda serve para a identificação de fatores de risco extrínsecos. Essa tarefa pode ser realizada pelo médico, fisioterapeuta, enfermeiro ou, idealmente, pelo terapeuta ocupacional. Pode ser feito por meio de questionamento ao paciente ou por visitas domiciliares. Alguns dos principais fatores de risco extrínsecos são:

- Calçados inadequados (como chinelas de dedo, pantufas ou sapatos escorregadios);

- Presença de tapetes;

- Ausência de corrimãos;

- Presença de escadas;

- Ambientes mal iluminados (especialmente à noite);

- Animais de estimação;

- Pisos irregulares, escorregadios ou molhados;

- Mudança dos móveis de lugar.

O manejo clínico para a prevenção de quedas envolve, de forma didática, quatro elementos:

1. Avaliação clínica multidimensional (geralmente envolvendo pelo menos AGA e exame físico) para a identificação de fatores de risco intrínsecos e sua correção - por exemplo, se identificada uma síndrome parkinsoniana ou uma vertigem posicional paroxística benigna o seu tratamento pode auxiliar na prevenção de quedas. Uma das etapas mais importantes aqui é a avaliação de medicamentos, com desprescrição, se possível, daqueles associados ao aumento do risco de quedas.

2. Avaliação ambiental para a identificação de fatores de risco extrínsecos e sua correção - alguns exemplos de correção de fatores extrínsecos são: colocação de barras em corredores e banheiros; troca de calçado para um com fixação no calcâneo; troca para pisos antiderrapantes; elevação do assento do vaso sanitário ou de camas (que facilita com que o paciente com fraqueza muscular consiga se levantar); retirada de tapetes ou obstáculos à caminhada; melhora de iluminação; troca de escadas por rampas; contratação de cuidador; uso de dispositivos auxiliares de marcha; etc.

3. Exercícios físicos e/ou fisioterapia - ensaios clínicos randomizados bem desenhados e metanálises apontam que a realização de atividade física reduz o risco de quedas em idosos. A evidência é mais robusta para exercícios anaeróbicos com componente de equilíbrio, como Tai Chi, yoga e pilates. Pacientes mais frágeis podem se beneficiar de um acompanhamento especializado com fisioterapêutas para reabilitação física, fortalecimento muscular, treinos de equilíbrio e marcha e avaliação quanta à necessidade, treinamento e adaptação de dispositivos auxiliares de marcha (como bengalas e andadores).

4. Vitamina D - estudos mostram que o consumo de 800 ui/d de vitamina D está associado à redução no risco de quedas em idosos.