GABARITO: CERTO

Discussão da questão

O que o examinador quer saber com esta pergunta?

Conhecimentos sobre pé torto congênito

O que você precisa saber para responder a esta pergunta?

Pé torto congênito

Definição: O pé torto congênito é uma doença que afeta, na realidade, a perna da criança, levando a uma deformidade do pé. Como o próprio nome diz, o pé se encontra torto já ao nascimento.

Etiologia: Não temos um fator causal específico para o pé torto congênito, talvez apenas alguma associação a tabagismo materno e infecções. Há, porém, evidências claras de origem genética, provavelmente de múltiplos genes, e um componente familiar importante (o risco se torna maior, conforme o número de irmãos com a doença).

Fisiopatologia: Do ponto de vista fisiopatológico, sabemos que a doença afeta a perna. Há um depósito inadequado de colágeno na sua face posteromedial, que leva o pé a se “torcer” para dentro. A perna afetada é menor e mais fina, o que pode levar a criança a necessitar de compensações no calçado, e o pé pode ser tão menor, que se torne necessário usar calçados de números diferentes.

Epidemiologia: A doença afeta entre um e quatro a cada 1000 nascidos vivos, é duas vezes mais comum em meninos e bilateral na metade dos casos. Há uma associação relevante com metatarso aduto e torcicolo muscular congênito.

Apresentação clínica: A doença apresenta quatro deformidades básicas, que são lembradas pelo mnemônico CAVE:

Cavo do mediopé (aumento do arco longitudinal medial).

Aduto do antepé (o antepé aponta em direção à linha média, para dentro).

Varo do retropé (o calcâneo aponta para a linha média, para dentro).

Equino do tornozelo (o pé fica apontado para baixo, como se estivesse na ponta do pé). Diagrama

Descrição gerada automaticamente O pé se torna progressivamente mais torto, conforme a criança cresce; quando atingem a fase de deambulação, elas andam apoiando-se totalmente na face lateral dos pés, de forma que ele se torna completamente invertido.

Diagnóstico: O diagnóstico da doença é clínico. Sua suspeita, contudo, já pode ser feita a partir da 16ª semana de gestação, por meio do ultrassom morfológico. Na janela de avaliação da perna, de perfil, observa-se o pé na posição que seria considerada como anteroposterior (portanto, a 90 graus do que seria esperado nesta posição de avaliação); isto é um indicativo do pé em posição invertida, que sugere o diagnóstico de pé torto.

Diagnóstico diferencial: o posicionamento do pé pode se dever a duas doenças distintas:

O pé torto congênito, que pode ser tanto idiopático, como teratológico (associado a alguma doença neurológica, como mielomeningocele ou paralisia cerebral), no qual a deformidade não é corrigível sem o tratamento gessado; e
O pé torto posicional, que tem apresentação exatamente igual ao pé torto congênito. Contudo, a deformidade é totalmente ou quase totalmente redutível por manobras de posicionamento, tem regressão completa em poucas semanas e não afeta a perna como um todo, pois é resultado de uma postura viciosa intraútero, somente.

É importante reiterar que tanto o diagnóstico definitivo quanto o diagnóstico diferencial são clínicos. Não é necessário realizar exames complementares, como radiografia ou ultrassonografia, especialmente porque, em recém-nascidos, há poucos ossos calcificados e os exames de imagem não agregarão nenhuma informação relevante.

Classificação e tratamento: O melhor tratamento para o Pé Torto Congênito é feito por meio da técnica de Ponseti, que consiste em gessos inguinopodálicos com trocas semanais. Existem algumas peculiaridades na técnica:

Antes de se iniciar o gesso, faz-se uma manipulação de partes moles para posicionamento do pé.
É passada apenas uma camada de algodão na perna e malha e algodão na coxa.
O gesso é de distal para proximal, e o joelho deve ficar em 90 graus de flexão.
A manipulação é com apoio do polegar no primeiro raio do pé, com fulcro na cabeça do tálus.
No primeiro gesso, corrige-se o cavo por meio da elevação (supinação) do primeiro raio.
Nos gessos subsequentes, o pé é gradativamente abduzido, fazendo a correção do aduto e do varo.
Por fim, quando o pé atinge 60 graus de abdução, a deformidade está praticamente corrigida. Neste ponto, a única deformidade que necessita ainda de correção é o equino. Em apenas 5% dos pacientes, o pé atinge mais de 20 graus de dorsiflexão neste momento. Os outros 95% estão abaixo deste valor, que é o ponto de corte para indicar a tenotomia percutânea do tendão de Aquiles. Desta forma, a imensa maioria completará o tratamento com a tenotomia.

Ao longo do tratamento, usa-se o escore de Pirani. Ele é composto por seis itens, sendo três do antepé e três do retropé; cada item é pontuado em 0 (o melhor), 0,5 e 1 (o pior). Portanto, ao longo do tratamento, o escore diminui. Contudo, o escore por si só não indica conclusão do tratamento ou realização da tenotomia, sendo apenas um direcionador de progresso. Estudos mostram que pacientes com Pirani inicial alto (5 a 6) necessitarão de mais gessos e terão maior risco de recidiva ao longo da vida.

Após a tenotomia, um último gesso em abdução e dorsiflexão é mantido por três semanas. Na sequência, indica-se o uso da órtese de Dennis-Browne, que mantém abdução e dorsiflexão dos pés. Nos primeiros três meses, ela é mantida por 23 horas por dia, sendo retirada apenas para banho e exercícios de alongamento. Depois, o uso é por 14 a 16 horas por dia, até os quatro anos de idade.Discussão da resposta:

A afirmação está correta, sem ressalvas.