Luana é a única médica da cidade de Tapuarã, um município brasileiro que é classificado como “rural remoto” pelo IBGE. Ela atua na Unidade Básica da região e, como não existem outros serviços de saúde na localidade, é comum que os habitantes procurem a UBS para resolver todas as urgências e emergências que surgem.
A cidade apresenta uma população com baixo nível socioeconômico e tem a agricultura familiar como sua principal atividade econômica. Entre as festas populares, destacam-se as festas juninas, onde os habitantes constroem barraquinhas na praça principal e se reúnem para comer carne de sol, paçoca e canjica.
Justamente no mês de junho, em uma manhã de segunda-feira, Luana atendeu Dona Deolina, uma simpática senhora de 65 anos que compareceu na unidade sem hora marcada.
— Dona Deolinda, o que houve para a senhora aparecer tão cedo aqui e sem hora marcada?
— Ah, dôtora Luana! É que eu não tô bem... eu vim aqui para a senhora me ver! Eu ando sentindo umas coisas esquisitas...
— Coisas esquisitas? Como o quê?
— Olha, dôtora, eu num sei explicar direito... mas eu sinto meus buchos mexendo, eles estão revirando aqui dentro, e sai tudo no vaso, líquido, bem líquido...
— Isso significa o quê? A senhora está com diarreia?
— É diarreia, sim, senhora! Mas isso nem incomoda tanto, é bom que limpa tudo por dentro! O que tá me dando gastura é essa coisa mexendo muito aqui dentro! Minha vizinha disse que é a mãe do corpo. Aí eu vim aqui para a senhora tirar!
Durante o exame físico, Luana percebe que Dona Deolina está com abdômen distendido e hipertimpânico. Além disso, verifica no prontuário as anotações do médico anterior:
“Paciente relata que foi em um gastroenterologista na capital, que informou que ela não pode tomar leite e derivados. No entanto, não sabe dizer precisamente qual foi o seu diagnóstico”.
Ao questionar a paciente sobre a alimentação, Dona Deolina informa que vem comendo muita canjica.
— Dona Deolinda, o problema é que a senhora não pode comer nada que tenha lactose! E essa canjica que vocês fazem por aqui é cheia de leite!
— Mas e a mãe do corpo? A senhora não vai tirar?
— Mãe do corpo? Eu não tenho ideia do que é isso, mas certamente é mais uma das crendices que vocês inventam por aqui e que só atrapalham os tratamentos! O que tem que tirar da senhora é o leite! Vou encaminhá-la para o gastroenterologista novamente para ver o que ele pode fazer pela senhora!
— Dôtora, mas esse doutor eu já fui e é muito longe! É lá na capital! A senhora não pode resolver isso para mim?
— Dona Deolinda, infelizmente não tem esse profissional aqui na cidade e se foi ele quem mandou a senhora parar de tomar leite, ele quem tem que lhe orientar. Eu não tenho nada a ver com isso. A regulação deve marcar a consulta para a senhora daqui a uns 30 dias e vai ser na capital! Até lá, programe-se para não faltar, hein!
Considerando o diálogo anterior, responda: