Depois que
(Marina Colasanti)
Carregava consigo um vasto cemitério. Amigos, parentes haviam se deitado ao longo dos anos aumentando a carga, tumba a tumba. Ora com um ora com outro, conversava em silêncio ou em voz baixa, sorridente, mantendo atualizada a relação, embora à distância.
Breve, chegaria a sua vez. Mas não se incorporaria ao seu próprio cemitério. Seria carregado por alguém, filho ou mulher, passando a fazer parte de outro repertório. E inquietava-se menos consigo do que com o silêncio que, como uma hera, tomaria as lápides com as quais havia dialogado tão longamente.
Os vocábulos “cemitério” e “repertório”, no texto, podem ser entendidos simbolicamente, apontando, assim, para um conjunto de: