por Luiz Fujita Jr
Diferentemente da doação de órgãos, a doação de corpos é pouco conhecida no Brasil. Anatomistas cada vez mais dão preferência para usar somente corpos de pessoas que demonstraram o desejo de doar, e lutam para divulgar a prática essencial para a formação de médicos e pesquisa em saúde.
O quadro “A lição de anatomia do dr. Tulp” retrata uma aula na Holanda. O palestrante era considerado um dos mais brilhantes anatomistas da época, com prestígio suficiente para ter o nome eternizado no título da obra pintada por Rembrandt, em 1632. O cadáver retratado não era nenhuma celebridade, mas sabe-se um pouco de sua história.
Aris Kindt era um ladrão com histórico de entradas e saídas de cadeias da Holanda. Em janeiro daquele ano, ele se encontrava detido por assalto, e se tivesse sido preso em outra época, talvez não estivesse hoje eternizado na pintura. O mês de janeiro é um dos mais frios do inverno holandês, o que tornava a época ideal para a Associação de Cirurgiões de Amsterdã realizar sua dissecação anual, visto que a baixa temperatura é mais favorável à preservação dos cadáveres.
O evento já se tornara tradicional, atraindo não só estudantes de medicina, mas também um público pagante e membros da elite holandesa. A Igreja torcia o nariz para a conspurcação de um corpo humano, mas era mais tolerante se o cadáver usado fosse o de um criminoso. Kindt acabou enforcado em 31 de janeiro, e no mesmo dia seguiu para as mãos do dr. Tulp.
Por cerca de três séculos, anatomistas dependeram de criminosos e indigentes para realizar seus estudos. Atualmente, utilizar cadáveres de criminosos é raro. Um estudo de março de 2018, publicado no “Journal of the Association of American Medical Colleges”, compilou dados obtidos desde 2002 sobre qual a fonte de corpos usados em escolas de medicina por todo o globo. Foi necessário realizar pesquisas extras para reunir números de países que tinham pouca informação disponível sobre o tema. No final, conseguiram dados de 71 países de todos os continentes, exceto a Antártida. Desses, somente a Nigéria fazia uso de corpos de pessoas executadas.
A maior parte dos países pesquisados (54,9%) usa exclusivamente, ou na maioria das vezes, corpos não reclamados, ou seja, de pessoas sem familiares ou qualquer ente que reivindicasse seu cadáver para enterros ou outros rituais. Sem números oficiais próprios, o Brasil integra essa maioria, segundo o estudo.
Embora esse uso cause menos desconforto que o de pessoas executadas, há uma tendência da classe médica em promover o uso de corpos que foram doados à ciência, com o desejo expresso pela própria pessoa durante a vida. “Por questões éticas, preferimos usar corpos de pessoas que queriam estar ali após sua morte. Não há um impedimento legal para usar corpos não reclamados, é somente uma questão ética”, diz o dr. Marcelo Cavenaghi, vice-chefe da disciplina de Anatomia Descritiva e Topográfica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
https://drauziovarella.uol.com.br/reportagens/escolas-de-medicina-precisam-de-doacao-de-corpos/
No trecho "A maior parte dos países pesquisados (54,9%) usa exclusivamente, ou na maioria das vezes, corpos não reclamados...", a concordância verbal está correta. No entanto, a concordância verbal também poderia ser realizada utilizando o verbo "usam". Assinale a alternativa em que a concordância verbal permite o uso do verbo tanto no singular quanto no plural, assim como ocorre no trecho mencionado.