GABARITO: ALTERNATIVA C.

Estrategista,

Apesar do enfraquecimento da pandemia de COVID-19, é possível que você ainda encontre questões sobre os processos epidêmicos e endemia na sua prova de residência médica.

O primeiro ponto fundamental é entendermos a diferença entre os processos epidêmicos e a endemia.

Processos epidêmicos, também conhecidos genericamente como epidemias, são fenômenos onde há o aumento súbito e inesperado da incidência de uma determinada doença ou agravo. Esse aumento é tal que provoca um excesso de casos.

Veja o diagrama de controle abaixo e observe como o coeficiente de incidência da doença "X" estava praticamente estável ao longo do tempo, até que, de repente, ele aumentou de forma inesperada. Observe também que existia um limite máximo de casos que eram esperados para aquele período, chamado limiar epidêmico, mas com o aumento súbito do coeficiente, ele foi ultrapassado. Esse aumento é a própria epidemia (ou processo epidêmico).

Resumindo: epidemia é o aumento súbito e inesperado do coeficiente de incidência de uma doença ou agravo, ultrapassando o limite máximo permitido para aquele período, gerando um excesso de casos.

Felizmente, esse aumento de casos é temporário, isto é, em algum momento o coeficiente de incidência voltará a "normalidade". Quando? Não é possível saber, mas o que se sabe é que toda epidemia passa... Não é à toa que o termo epidemia significa "aquele que visita", evidenciando o caráter passageiro desse fenômeno.

De acordo com a extensão geográfica, os processos epidêmicos podem ser classificados em surtos, epidemias propriamente ditas ou pandemias.

1. Surto: quando o excesso de casos ocorre em uma área geograficamente bem definida (um bairro, por exemplo) ou em uma população específica (creche, quartel, festa de casamento...).

2. Pandemia: quando o excesso de casos ocorre em diversos países ou continentes ao mesmo tempo, ou em intervalos de tempo próximos. O exemplo mais atual é a pandemia de COVID-19.

3. Epidemia propriamente dita: quando o excesso de casos ocorre em uma área geográfica intermediária entre um surto e uma pandemia.

Veja, portanto, que o termo epidemia pode ser usado tanto como sinônimo de processo epidêmico (ou seja, como um termo genérico) ou como o processo intermediário entre um surto e uma pandemia.

-- E um surto pode se transformar em uma epidemia, e esta em uma pandemia?

Sim! Tomemos novamente como exemplo a COVID-19. A hipótese principal é a de que a doença tenha surgido como um surto em um mercado de peixes em Wuhan, na China, mas alastrou-se por toda a China, tornando-se uma epidemia propriamente dita. Infelizmente, a doença ultrapassou os limites daquele país e atingiu todos os continentes, transformando-se em pandemia.

Em contrapartida, uma endemia é uma doença típica de uma localidade. Pode ser definida também como a presença usual (ou habitual) de um determinado agente infeccioso em determinado lugar (Rouquayrol et al, 2017). O que isso significa? Que é uma doença que acomete sistematicamente a população de um determinado local ao longo do tempo... ela é tão habitual e tão corriqueira que se comporta como uma moradora daquela localidade... não é a toa que o termo "endemia" significa "aquele que reside"...

Agora vem o voo da coruja: se a endemia é a presença típica da doença em uma determinada região, pressupõe-se que ela “não vai” embora e que produzirá novos casos naquela localidade de forma contínua. Por isso, dizemos que a endemia apresenta coeficiente de incidência praticamente constante ao longo do tempo (ou por tempo ilimitado), ao contrário dos processos epidêmicos, que são aumentos súbitos desse coeficiente e de forma temporária.

Porém, apesar de a endemia ter um coeficiente de incidência praticamente constante ao longo do tempo, é normal que esse coeficiente apresente pequenos aumentos em algumas épocas do ano. É o que chamamos de sazonalidade. Para não confundir com as epidemias, basta lembrar que as variações sazonais são pequenos aumentos que acontecem sempre em determinada época do ano. Portanto, são previsíveis e não ultrapassam o limite máximo permitido de casos... mas se ultrapassarem, não teremos mais uma variação sazonal, e sim uma epidemia...

-- Ué, Bárbara, mas uma endemia pode "se transformar" em uma epidemia?

Sim, pode! É o que acontece com a dengue no Rio de Janeiro. Sabe-se que a doença é endêmica naquele estado e que naturalmente o coeficiente de incidência aumenta no verão. Logo, existe sazonalidade. No entanto, se a população se descuidar e começar a produzir focos de água parada, o número de casos subirá mais do que o esperado e teremos uma epidemia. Como vimos acima, felizmente toda epidemia é temporária. Após o período chuvoso, a tendência é que o coeficiente de incidência retorne aos patamares anteriores e que a doença saia do período epidêmico e volte a apresentar comportamento endêmico, acometendo a população sistematicamente ao longo do ano, mas com um número menor de casos.

Voltando para a questão, veja que o examinador deseja o nome da "elevação acima do esperado do número de casos de determinada doença ou evento em uma região específica". Ora, se é em uma região específica, é um surto, como vimos acima.