A questão nos pergunta sobre o tratamento da gota no período intercrítico da doença. A gota é uma artropatia inflamatória causada pela deposição de cristais de monourato de sódio nos tecidos articulares e extra-articulares.

A melhor forma de prevenir crises agudas é o controle da hiperuricemia a longo prazo. Com isso, conseguimos evitar a precipitação e, em alguns casos, induzir a reabsorção dos cristais de monourato de sódio já depositados.

O alvo terapêutico para a uricemia deve ser inferior a 6 mg/dL nos pacientes em geral. Naqueles com tofos, para que o processo de reabsorção ocorra de forma mais rápida, o alvo terapêutico é abaixo de 5 mg/dL.

As orientações quanto às modificações de estilo de vida devem envolver uma dieta hipocalórica com baixo teor de purinas e redução no consumo de álcool, refrigerantes e bebidas energéticas com alto teor de frutose. Os medicamentos que têm ação hiperuricemiante e que são utilizados no manejo de comorbidades, se possível, devem ser evitados.

A terapia de manutenção será realizada com drogas que tenham a capacidade de reduzir a concentração de ácido úrico, seja reduzindo a produção, seja aumentando a excreção.

Os pacientes que devem ser tratados com medicações uricorredutoras são aqueles com ataques recorrentes de gota (≥2 episódios ao ano), aqueles com tofo detectado clinicamente, presença de lesão articular e/ou nefrolitíase.

Os pacientes com hiperuricemia assintomática podem ser tratados se:

- o ácido úrico for maior do que 13 mg/dL em homens e 10 mg/dL em mulheres;

- caso tenham alguma neoplasia que demande radioterapia ou quimioterapia e apresentem grande probabilidade de desenvolver síndrome de lise tumoral e nefropatia aguda por ácido úrico; ou

- uricosúria maior do que 1100 mg/24h pelo risco de litíase urinária e nefropatia por urato.

Duas classes de drogas estão disponíveis para uso como agentes hipouricemiantes: os inibidores da xantina oxidase, que bloqueiam os passos metabólicos da síntese de ácido úrico, e os uricosúricos, que aumentam a excreção de ácido úrico. Os uricolíticos não estão disponíveis no Brasil para uso.

Idealmente, devemos analisar o principal mecanismo envolvido na origem da hiperuricemia do paciente e, a partir dos dados obtidos, escolhemos a medicação. Observe este fluxograma:

Entretanto, ainda que essa seja uma etapa importante, no Brasil, a droga utilizada para o tratamento inicial dos pacientes é unânime: alopurinol.